quinta-feira, 28 de junho de 2012

27ª Semana do Migrante: conquistar Direitos é defender a Saúde!


Com este lema, a Igreja está celebrandoa 27ª Semana do Migrante, com o tema “Migração e Saúde”(17-24/06/2012). Inspirada na Campanha da Fraternidade deste ano, a Semana do Migrante teve por finalidade motivar as comunidades cristãs e amplos setores da sociedade civil a refletirem, celebrarem e se mobilizarem sobre o direito à saúde de diferentes categorias de milhares de migrantes.
Frequentemente ignorados e vivendo com frequência nos espaços segregados das nossas cidades, trabalhando e morando em condições insalubres, os migrantes são vítimas potenciais de várias doenças. Nas periferias das cidades são atingidos pelos problemas de saneamento básico, e convivem com a precariedade do atendimento público à saúde. Os trabalhadores rurais temporários, no isolamento das fazendas, sob um trabalho estafante, sofrem com o descaso dos seus empregadores, que em vários casos os leva à morte ou à invalidez precoce.
Os imigrantes hispano-americanos, nas grandes metrópoles, clandestinos em sua maioria, são vítimas de doenças respiratórias como a tuberculose. Mais grave é a situação em que se encontram os membros mais frágeis das famílias migrantes, as mulheres, os idosos e as crianças.
O presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes, dom José Luiz Salles, destaca que para viver com intensidade a temática proposta pela Semana do Migrante, temos que ter “diante dos olhos e do coração a atitude do Bom Samaritano que nos mostra a importância de cuidar da vida mais frágil, em situação de vulnerabilidade, machucada, abandonada à beira do caminho, e sermos agraciados com a alegre descoberta de que Cristo está presente neles e nos diz: ‘Fui estrangeiro e me acolheste’ (Mt 25, 35)”.
“Frente a essa realidade é que surge o clamor pelo respeito dos direitos fundamentais de toda pessoa humana, também dos migrantes, deslocados e estrangeiros, que vivem e trabalham precariamente em nosso país. O atendimento da saúde do migrante é uma expressão de fraternidade para com aqueles que são diferentes de nós, mas gozam da mesma dignidade de filhos de Deus” (C.Scapini).
A migração internacional é considerada um dos maiores desafiosda Saúde Pública em nível mundial. Atualmente há umareconhecida necessidade de compreensão da movimentação dapopulação e do seu impacto na saúde, quer para os países deacolhimento, trânsito e origem, quer para as populações locais ou migrantes.
Foi em 1969 que o Papa Paulo VI estabeleceu a Celebração anual do Dia do Migrante. A data passou a ser celebrada anualmente, sem receber ainda o destaque que lhe é devido. Praticamente até a Campanha da Fraternidade de 1980, que teve como lema “Para onde Vais?” pouco se fez em torno do Dia do Migrante.
Em 1985 foi fundado o Serviço Pastoral dos Migrantes e em 1986 passou-se a celebrar a Semana do Migrante, que se tornou um momento privilegiado de mobilização, sensibilização, conscientização e de acolhida aos migrantes. Afinal, “para o Migrante a Pátria é a terra que lhe dá o pão, trabalho e acolhida”(Scalabrini).
Hoje, as migrações apontam para a necessidade de mudanças em profundidade, para que o mundo se torne de novo habitável. Pelos mais diferentes motivos, o cenário mundial encontra-se fortemente marcado pelo fenômeno das migrações. Estas se tornam cada vez mais intensas, diversificadas e complexas. Simultaneamente ao crescimento dos deslocamentos humanos, multiplicam-se também os movimentos de discriminação, preconceito e xenofobia. Este é também o retrato da mobilidade humana no conjunto de nosso país e da América Latina.
Porto Velho abriga vários bolsões periféricos, muitos moradores são migrantes, com a vida e a dignidade ameaçadas por todos os lados. Nossa missão evangelizadora não pode ignorar essa realidade migratória, se quiser responder de forma eficaz aos desafios que a região apresenta.
O Papa Bento XVI em sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2012, que tem como tema: “Migrações e nova evangelização”, afirma que as migrações produziram uma mistura de pessoas e de povos sem precedentes, com novos desafios do ponto de vista não só humano, mas também ético, religioso e espiritual. A comunidade cristã deve estar preparada para acolher os migrantes e suas famílias, os jovens que aqui chegam para estudar, para que não percam o sentido da fé e se sintam parte integrante da Comunidade Eclesial, tornando-se “anunciadores da Palavra de Deus e testemunhas do Senhor Ressuscitado, esperança do mundo” (VD 105).

A Comunidade Eclesial é nossa casa!

Marcam o mês de junho em nossas Comunidades Eclesiais as festas juninas, que expressam a espiritualidade encarnada na cultura de nosso povo. Destacamos as Festas de Santo Antônio, São João, São Pedro e São Paulo.
Com Santo Antônio, aprendemos a melhorar as relações na família, no trabalhoe na comunidade. Com São João, que estamos celebrando hoje, aprendemos as lições de autenticidade, a coragem da denúncia, o vigor da ética. É o santo que deveria ser seguido pelos políticos, na retidão, coragem, desprendimento.
No próximo domingo (01/07) a Igreja celebra São Pedro e São Paulo, Apóstolos. Pedro, “pescador de homens”, pedra sob a qual Cristo edificou a sua Igreja, exerceu a primazia sobre o grupo dos apóstolos, na condição de primeiro Papa, primazia que se estende àqueles que o sucederam.
As festas que celebramos são expressões de convivência, de vida e de esperança cristã. São maneiras de expressar a fé presente de diversas formas na Rede de Comunidades Eclesiais de Base de nossas Paróquias e refletem “a sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer”(DAP 258-265).
Estas e outras expressões depiedade popular são“uma síntese entre as culturas e a fé cristã”, modos de se sentir parte da Igreja, uma poderosa confissão do Deus vivo que atua na história e um canal de transmissão da fé.
“O povo é o mestre de minha caminhada”, afirmava um grande amigo jesuíta,Pe. Claudio Perani, que faleceu em 2008, tendo vivido a maior parte de seus 55 anos de vida religiosana Amazônia.
Após três anos da realização do 12º Intereclesial das CEBs de Porto Velho (21-25/07/2009), posso também dizer que o povo das CEBs tem sido o mestre de minha trajetória nesta região. São milhares de comunidades espalhadas na Amazônia, sinais da presença de uma Igreja viva, encarnada na realidade, levando a mensagem centrada no Reino de Deus.
As Cebs, como nos disse PePossidonio,estão vivas na sua variedade de rostos, realidades, situações”. Tendo a encarnaçãocomo método, assumido na Assembléia de Santarém (1972), a Igreja amazônica avançou no que hoje se denomina de inculturação. E plenificou sua presença neste chão quando em Manaus (1997) se declarou como a Igreja que armou sua tenda na Amazônia, ensejando a declaração de uma Igreja com rosto amazônico.
E é nesse contexto que as Comunidades eclesiais de base vão se consolidando, pois, nascendo nessa realidade buscam ser a resposta de fé que as pessoas precisam dar às situações humanas concretas. Fé e Vida tornam-se um binômio inseparável. Nasce aqui a espiritualidade do seguimento, que tornou a Igreja missionária e solidária com as dores e angústias daqueles que não podem sentar-se à mesa da fartura e da dignidade.
A Comunidade Eclesial é originária da nossa região, portanto,é nossa casa, casa de comunhão.Estou convencido de que uma Paróquia que quer enfrentar a realidade urbana com seus desafios precisa tornar-se uma rede de comunidades.
A espiritualidade das Cebs, nascida fundamentalmente da Bíblia, permitiu ao povo reassumir de forma criadora as tradições religiosas e a devoção popular, dando a essas expressões um critério evangélico, centrando-as no seguimento de Cristo e forjando uma vivência mais ética de ser cristão e ajudando muitos pobres a manter viva sua esperança de dias melhores. A religiosidade popular, com sua diversidade, é de uma riqueza extraordinária, que continua sendo cultivada nas CEBs.
É nesta caminhadade discípulos missionário que nos fazemos peregrinos irmãos e irmãs dos migrantes, cuja semana estamos encerrando hoje.

O Paraguai: de tropéis e tropelias

No dia em que Fernando Lugo foi deposto da presidência, ninguém ouviu, pelas ruas de Assunção, os tropéis da cavalaria. Mas todos, em Assunção e no resto do mundo, constataram as tropelias do Congresso, que, em exatas 30 horas, fulminou o sonho fugaz de resgatar um país. No lugar de taques e canhões, sabidos e vendilhões. Nada mudou: quem de novo leva a melhor é a mesma súcia de sempre. Tentou governar com um Congresso hostil, que impediu que seu governo avançasse um passo sequer rumo à prometida ruptura com o passado.

E como o que aconteceu de novo em uma das nossas comarcas, apesar de todos os esforços e esperanças, acontecido está, me resta roubar o título de um livro de meu bom amigo, o escritor nicaragüense Sergio Ramírez, para falar do Paraguai: De tropéis e tropelias.

No dia em que Fernando Lugo foi deposto da presidência, ninguém ouviu, pelas ruas de Assunção, os tropéis da cavalaria. Mas todos, em Assunção e no resto do mundo, constataram as tropelias do Congresso, que, em exatas 30 horas, fulminou o sonho fugaz de resgatar um país. No lugar de taques e canhões, sabidos e vendilhões. Nada mudou: quem de novo leva a melhor é a mesma súcia de sempre.

Quando foi eleito, Fernando Lugo, bispo militante da Teoria da Libertação, tinha 57 anos. Sim: era e é mais um dos milhões de paraguaios nascidos debaixo de seis décadas do jugo cruel do Partido Colorado, da ditadura sanguinária e corrupta de Alfredo Stroessner e seus herdeiros. E que agora vê como tudo pode voltar ao que era.

O que aconteceu, acontecido está, porque a queda de Fernando Lugo, mais do que irreversível, foi calculada com a meticulosidade de um cirurgião hábil, que sabe o momento exato da amputação.

Pois esse cirurgião atende por um nome tão amplo como dúbio: sistema.
E, em se tratando do Paraguai, o sistema é complicado. Significa interesses que vão do uso descontrolado de agrotóxicos ao tráfico de armas e drogas, da ocupação de terras públicas à corrupção mais desavergonhada, do controle do poder pelas Forças Armadas ao poder de controlar as próprias Forças Armadas.

Enfim, tudo que pode dominar, e domina, um país que vem de uma tenebrosa trajetória de barbáries e espoliações.

A nove meses da eleição que definiria o sucessor de Fernando Lugo, os limites de tolerância do sistema de sempre se esgotaram.

As forças de domínio desse país sacrificado e sufocado – o Partido Colorado e suas ramificações de um lado, e de outro seus adversários reunidos debaixo de um nome pomposo e mais extenso que seu caráter, o Partido dos Liberais Radicais Autênticos – se uniram para extirpar a figura incômoda de um presidente eleito por 41% dos paraguaios, e que reuniu punhados de sonhos e esperanças. E que em boa medida não cumpriu porque, como dizia em uma canção outro bom amigo, o uruguaio Alfredo Zitarroza, ‘quis querer, mas não pôde poder.’

Não se trata – esse desfiladeiro entre querer e poder – de algo novo na história da América Latina. Ainda assim, o processo que se iniciou com a candidatura de Fernando Lugo, sua eleição, seu governo, e sua deposição, surge como alerta exemplar para todos – todos – os países da região.
Por exemplo: por que fulminá-lo agora, quando faltavam nove meses para o fim de seu mandato? E por que de maneira tão precipitada?

Houve quem dissesse que a rapidez era necessária para impedir que colunas de camponeses sem terra se mobilizassem, no interior, rumo a Assunção. Pode ser que tivessem razão. Pode ser.

Outro exemplo: por que agora, faltando nove meses para o processo eleitoral que definiria o sucessor de Lugo?

Há quem diga que para que as forças de sempre, os colorados e os liberais, se reorganizem para repartir o butim. Pode ser.

Existem questões, porém, que pairam sobre esses aspectos, e que dizem respeito direto ao Brasil.

O Paraguai é hoje o quarto ou quinto maior exportador de soja do planeta. E cerca de 70% dessa soja é plantada por brasileiros que, ao longo de trinta ou quarenta anos, se afincaram no país. A imensa maioria desses brasileiros comprou títulos altamente duvidosos, sabendo que eram duvidosos. Durante décadas a ditadura de Stroessner vendeu e revendeu terras públicas de maneira ilegal. Afastado o verdugo, fatiada sua herança, essas terras continuaram sendo negociadas de maneira ilegal.

E quem julgava a legalidade ou ilegalidade? Um poder judiciário imposto por Stroessner ou seus herdeiros. E julgava com base numa legislação, feita por um poder legislativo criado e cevado pelo mesmo sistema.

Para entender a queda de Lugo, é importante recordar que ele se elegeu pelo voto de quem nunca teve voz, e jamais teve a própria existência reconhecida. Foi eleito, além do mais, com o apoio de uma rede de partidos e interesses que correspondia a qualquer coisa – menos ao que ele se propunha a fazer.

Tentou governar com um Congresso hostil, que impediu que seu governo avançasse um passo sequer rumo à prometida ruptura com o passado.
Um governo erguido sobre raízes tão frágeis poderia reagir à tentação de permanecer nas mãos dos mesmos de sempre?

E daí vem outra pergunta: um Estado tão frágil poderá sobreviver sem o apoio decidido de seus vizinhos? Acho que não.

Ontem, sem querer, ao escrever sobre o Paraguai, mencionei o novo presidente Francisco Franco. Erro evidente: o Franco em questão é Federico, não Francisco.

Francisco Franco foi aquele espanhol baixinho e barrigudo que imperou sobre a Espanha, a sangue e fogo, durante quase quatro décadas, e, alucinado pelo próprio poder, isolou a Espanha do mundo.

Agora, depois de anos de isolamento e asfixia, o Paraguai merece ao menos a chance de tentar mudar. E nos resta ver até que ponto existem diferenças entre Federico Franco e Francisco Franco, entre a Espanha das trevas e o Paraguai entrevado.

Diante da Espanha de Francisco Franco, a Europa se calou.

Diante do Paraguai de Federico Franco, a América Latina seguirá o exemplo?

É de se esperar que não. 


Eric Nepomuceno

Fonte: Carta Maior

Eleições Municipais - Novas leis aperfeiçoam a democracia, mas não dispensam a participação consciente

Para um cristão, as eleições não são apenas uma questão de cidadania. São, antes, uma forma especial de viver a fraternidade e praticar a caridade. Escolher candidatos que vão agir com justiça, administrar com honestidade, defender os mais pobres, lutar pela dignidade da vida humana em todas as etapas, isto é um dever cristão, uma oportunidade de implantar o Reino de Cristo, em meio à sociedade dos homens. Um cristão, não pode deixar essa oportunidade passar.
Neste ano, teremos novamente eleições. E desta vez, elegeremos prefeitos e vereadores, gente próxima de nós, que bate à nossa porta pedindo votos. Eles vão às festas da Igreja, cumprimentam as pessoas com sorrisos, fazem promessas, distribuem santinhos, querem apoio. Há pessoas que discutem apaixonadamente, criam conflitos, fazem da eleição uma guerra.
Outros tratam com indiferença, desfazem a importância das eleições dizendo “é sempre a mesma coisa”, “ninguém presta”, “não adianta fazer nada”. E se enchem de razão apontando para Brasília: “lá o dinheiro corre solto como uma cachoeira”, “uma CPI atrás da outra, e ninguém atrás das grades”. Pois têm uma certa razão essas pessoas. São muitos anos de impunidade.
Tanto a discussão acalorada quanto a indiferença favorecem exatamente aqueles maus políticos, que não querem mudar. O que resolve é trocar ideias, informações, conhecer melhor as leis, os candidatos, e fazer boas escolhas que nos levem a um futuro melhor. O voto consciente é o melhor meio para conseguir mudanças neste triste cenário.
Cartilha de Orientação Política
“Bons ou maus governantes, é a gente que escolhe!”. Esta é a afirmação da Cartilha de Orientação Política preparada pela CNBB Regional Sul 2, que começa a ser distribuída às paróquias e comunidades. Gostaria de convidar a nossa gente, os Conselhos Paroquiais, Capelas, Movimentos e Grupos organizados: vamos dedicar um tempo, entre o mês de julho e outubro, e fazer uma leitura em conjunto deste texto, para participar com muita consciência do processo eleitoral. A nossa Igreja não tem candidatos nem partidos, mas tem princípios, tem espaço para um diálogo sereno e esclarecedor. O cenário eleitoral mudou bastante nos últimos anos. Há novas leis, que estão valendo para estas eleições, como é o caso da Lei da Ficha Limpa, e também a recente Lei de Acesso à Informação Pública, e ainda a Lei que pune a Compra de Votos, que já vigora há mais de 10 anos. O desafio é divulgar ao máximo essas leis, para que não fiquem no papel.
Há motivos de esperança?
A Lei 9840, que pune a compra de votos, nasceu na reunião dos Bispos, e foi imediatamente apoiada por muitas organizações da sociedade, sendo aprovada em 1999. Em 2010 foi aprovada a Lei da Ficha Limpa, também nascida na Assembleia dos Bispos, e que recolheu milhões de assinaturas em nossas igrejas. Essas leis foram muito questionadas na Justiça, exatamente porque contrariavam interesses poderosos. Mas foram reconhecidas pelo Judiciário e, sem dúvida, vão cumprindo o seu papel de afastar os políticos oportunistas, aqueles que buscam o bem próprio, deixando de lado o que é direito dos pobres. O mesmo acontece agora com a recente Lei de Acesso à Informação Pública: há questionamentos na Justiça mas, aos poucos, os seus efeitos serão notáveis. A Cartilha da CNBB Regional Sul 2 apresenta essas leis com clareza, diz exatamente qual o papel do Prefeito e do Vereador, dá dicas para as pessoas distinguirem os bons candidatos, mas também desenha o perfil do bom eleitor, que todos nós queremos ser.
“Aproveitar” as eleições
A palavra “aproveitar”, aqui, está entre aspas porque tem sentidos diversos: é hora, sim, de aproveitar a ocasião das eleições para conhecer mais, ter mais consciência, usar os recursos da democracia para melhorar a convivência humana. Mas há entre as nossas lideranças quem diga assim: a Festa da Capela vai ser boa porque vamos “aproveitar” as eleições. Falam isso pensando em trocar votos por doações, consertos na estrada, um boi para o churrasco, promessas diversas. É bom saber que o errado na compra de votos não é só quem compra votos, mas também quem oferece o voto. Precisamos começar a mudar a mentalidade dentro de casa. Assim teremos condições de denunciar e provar o crime de quem compra votos.
Peço que todas as Paróquias e comunidades utilizem a Cartilha de Orientação Política da CNBB para a leitura em grupos, troca de ideias, e mantenham-se informados para acompanhar os mandatos, como bons cidadãos. Cito alguns pontos que podem servir para o diálogo e aprofundamento:
1.      Ainda há muita gente que prefere anular o voto por achar que “nada muda” ou que “não vale a pena votar”. O que a comunidade pode fazer para o voto seja levado a sério?
2.      Em alguns municípios a disputa é tão acirrada que pode criar inimizades e dividir as pessoas até mesmo em nossas comunidades. Passadas as eleições os candidatos fazem as pazes e na comunidade permanecem os ressentimentos. O que fazer para manter a paz, na liberdade de opiniões e propostas?
3.      A Igreja não tem partido, nem candidato. A liberdade de consciência é um direito de todos. Como evitar que a comunidade seja manipulada pelos interesses de políticos e lideranças?
4.      As dependências da Igreja, salões, pátios, podem ser utilizados para fins de campanha? Em que condições?
5.      O que fazer quando há provas concretas de corrupção e fraude eleitoral?
Estas e outras perguntas podem ser respondidas em grupos, à luz da Cartilha da CNBB Regional Sul 2. Espero que as nossas comunidades sejam esse “espaço de diálogo, de esclarecimento, de liberdade de expressão e de consciência”, como diz o texto. Que haja paz e operosa colaboração com aqueles que vierem a ser os servidores do povo, nos próximos quatro anos. Peço ao bom Deus que nos conceda crescer em consciência, fraternidade e liberdade

O que ficou da Igreja na Rio+20: 1º) Cardeal Scherer discursa na Rio+20


No Rio de Janeiro para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, o cardeal dom Odilo Scherer, legado pontifício e chefe da Delegação da Santa Sé, discursou em 19 de junho, em um evento paralelo à Rio+20, sobre Agricultura e Sociedades sustentáveis: segurança alimentar, terra e solidariedade.

O evento foi uma iniciativa da Cáritas Internacional, CIDSE e organização Franciscana Internacional. Também participaram do evento o arcebispo de Dioulasso, em Burkina Fasso, dom Paul Yembuado Ouédraogo, e o observador permanente da Santa Sé na ONU, arcebispo Francis Chullikatt.

Em seu discurso, o cardeal ressaltou que “a centralidade da pessoa humana no Princípio 1º da Conferência de 1992 é um lembrete de que o desenvolvimento sustentável não é alcançado através do desenvolvimento econômico, ambiental ou político isoladamente, mas antes, e acima de tudo, deve ser medido pela sua capacidade de promover e salvaguardar a dignidade da pessoa humana”.

Dom Odilo recordou a responsabilidade da sociedade para com o meio ambiente e ressaltou, porém, que não se pode tirar a dignidade humana e nem deixar de lado o direito a vida “a centralidade da pessoa humana requer que a sociedade meça o progresso econômico sobretudo pela capacidade de promover a pessoa humana. Isso requer que a ética não seja separada das tomadas de decisões econômicas, mas sim que seja reconhecida”.

Ao finalizar seu discurso, o arcebispo reforçou que a Santa Sé tem procurado “promover um desfecho que respeite a dignidade da pessoa humana”, e que o maior recurso do planeta é o ser humano. E este está “no centro do desenvolvimento sustentável”.

Leia a íntegra do discurso, em tradução cedida pela Arquidiocese de São Paulo.
Pontos de discussão de Sua Eminência, Cardeal Scherer
AGRICULTURA & SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS: Segurança alimentar, Terra e Solidariedade


Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
Rio de Janeiro
Centro de Conferência


Excelências, Senhoras e Senhores,

É uma honra e um grande prazer estar aqui hoje como enviado Especial de Sua Santidade o Papa Bento XVI à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Primeiramente, gostaria de agradecer Sua Excelência Arcebispo Francis Chullikatt por sua dedicação permanente, tanto nas Nações Unidas, quanto nesta Conferência.

Ainda, gostaria de agradecer Sua Excelência Arcebispo Paul Ouedraogo, Senhora Gisele Henriques, Senhora Cristina Dos Anjoys e Senhora Maria Elena Aradas por terem se juntado a nós neste dia. O trabalho, a nível base, da CARITAS Internationalis, CIDSE e da  Franciscans International, é uma grande contribuição para a promoção do ser humano centrado no desenvolvimento sustentável.

Vinte anos atrás, líderes do mundo vieram para o Rio de Janeiro para estabelecer um novo modelo e estrutura para promoção do desenvolvimento sustentável. Nessa reunião, eles reconheceram que, na da promoção de uma nova e mais justa parceria para o desenvolvimento sustentável, o princípio básico que deve orientar o desenvolvimento global exige colocar a pessoa humana no centro das preocupações para o desenvolvimento sustentável. A centralidade da pessoa humana no Princípio 1 da Conferência de 1992 é um lembrete de que o desenvolvimento sustentável não é alcançado através do desenvolvimento econômico, ambiental ou político isoladamente, mas antes, e acima de tudo, deve ser medido pela sua capacidade de promover e salvaguardar a dignidade da pessoa humana.

Agora, vinte anos depois, nós continuamos a ver as consequências para o desenvolvimento humano quando a pessoa humana não é colocada no centro desenvolvimento político, ambiental ou social, mas é bastante colocado à sua mercê. A contínua promoção das abordagens neo-malthusianas para o desenvolvimento, que veem o ser humano como obstáculo para o desenvolvimento, em vez de um benefício para este, levou à adoção de programas que promovem a destruição da vida humana e desenvolveu uma cultura hostil à vida. Os efeitos de uma abordagem não centrada no ser humano pode ser verificada no envelhecimento de comunidades ao redor do mundo hoje e nos milhões de órfãos que nunca tiveram a aportunidade de nascer e cujas contribuições graduais para o nosso planeta, portanto, ficarão para sempre em falta.

A centralidade da pessoa humana requer que a sociedade meça o progresso econômico sobretudo pela capacidade de promover a pessoa humana. Isso requer que a ética não seja separada das tomadas de decisões econômicas, mas sim que seja reconhecida. A ética da justiça e da solidariedade serve como a fundação de uma eficiência social e econômica, crucial para reparar injustiças e reformar instituições fundadas para perpetuar a pobreza, o subdesenvolvimento e a degradação ambiental, permitindo a todos o direito de participar na vida econômica para o progresso de suas comunidades e sociedades. Quando a dimensão ética é negligenciada na elaboração de políticas econômicas, podemos facilmente ver os efeitos desumanizantes e desestabilizantes resultantes de um crescimento econômico realizado à custa do detrimento dos seres humanos.

A atual crise financeira e econômica atesta os perigos do desenvolvimento econômico que desdenha imperativos éticos e morais e demonstra que o interesse próprio e a ganância apenas fomentam o agravamento da desigualdade social e da divisão. A consequência de uma ordem econômica ambivalente com os imperativos morais e éticos pode ser visto nos rostos das mulheres e homens desempregados que lutam para sustentar suas famílias, na agitação política crescente que assola o mundo, enquanto os líderes políticos tentam estabilizar a sistemas econômicos, na brutalmente verificada nas vidas dos mais pobres da sociedade, cujos filhos morrem de fome ou sucumbidos por doenças facilmente tratáveis e controladas. Estas realidades emergem onde as políticas econômicas não conseguem reconhecer o vínculo essencial entre a moralidade e a vida econômica.

A centralidade da pessoa humana no desenvolvimento sustentável deve orientar não só o trabalho dos gestores políticos, mas também do setor privado. Embora o desenvolvimento da riqueza seja um objetivo da economia, a criação de riqueza deve se concentrar no progresso em qualidade e da moralidade, e não apenas na quantidade de riqueza gerada. Quando a acumulação de riqueza for valorizada como um bem social em si, ciclos insustentáveis de produção e consumo vão continuar a provocar o esgotamento inexorável de recursos, deixando as pessoas e as comunidades ansiosas por uma felicidade autêntica. O que é necessário, antes, é o meio para a promoção do desenvolvimento humano integral, que reconhece que o real desenvolvimento solicita mais que o simples desenvolvimento econômico, social ou políticos, mas exige, acima de tudo, que o desenvolvimento da pessoa humana seja mantido na frente e no centro de tudo.

A encíclica do Papa Bento XVI, Caritas in veritate, elabora as necessidades da promoção do desenvolvimento integral, a fim de estimular o verdadeiro desenvolvimento humano e, portanto, o desenvolvimento sustentável. Tal desenvolvimento integral requer o reconhecimento que abordagens puramente institucionais para o desenvolvimento não podem ser suficientes para o genuíno desenvolvimento, mas que cada membro individual da sociedade é dotado de uma atitude vocacional que livremente assume a responsabilidade, na genuína solidariedade para com o outro e toda criação.

O reconhecimento de uma dimensão ética para o desenvolvimento não se limita apenas à criação de riqueza, mas também é relevante para o nosso papel como administradores da criação. Nós não somos chamados para subjugar e dominar a criação (cf. Gn 1:28) sem referência a quaisquer critérios determinados . Em vez disso, estamos a exercer este mandato numa gestão responsável da criação para o florescimento da geração atual e as futuras gerações. Isso requer o reconhecimento de uma responsabilidade primordial para com o meio ambiente para a melhora de o nosso futuro e que de todo o planeta.

A gestão adequada da criação reconhece a importante contribuição que a ciência e a tecnologia trazem para a proteção ambiental e fornece os recursos necessários para a sobrevivência humana. No entanto, os avanços tecnológicos e científicos devem ser sempre prudentes e responsáveis, para que seus reais objetivos sejam servir toda a humanidade. Os avanços científicos e tecnológicos não podem, portanto, tornarem-se um novo meio para a criação de barreiras para os pobres, nem podem ser permitir provocar novos, longos e duradouros detrimentos que ferem o delicado equilíbrio de vários ecossistemas nossos.

O direito à alimentação e à água potável continua a ser dois dos mais elementares direitos humanos que ainda não foram cumpridos em tantas partes do nosso planeta. Os avanços científicos e tecnológicos certamente tornaram possíveis que toda a comunidade internacional pudesse se beneficiar da generosidade de criação para o bem de toda a humanidade, mas milhões de pessoas ainda vivem sem esses direitos mais básicos. Uma ordem internacional mais eficaz requer mais solidariedade e maior responsabilização perante os nossos irmãos e irmãs, especialmente os mais necessitados. As crianças que passam fome e morrem de disenteria são nossas crianças: isso não é problema local, mas é um problema que requer que toda a comunidade internacional se una para trabalhar para cumprir o mais básico dos direitos humanos.

O progresso tecnológico, científico e humano tornou-se de vital importância se quisermos abordar a segurança alimentar e a promoção de produtos agrícolas saudáveis e boa gestão da terra.  Como o Papa Bento XVI tem sublinhado recentemente, “a fome não é muito dependente da falta de coisas materiais como na escassez de recursos sociais”. Para resolver esta falta de recursos sociais é imperativo máximo que os líderes da sociedade tomem as medidas necessárias para resolver as causas estruturais da insegurança alimentar e promovam um maior investimento no desenvolvimento agrícola nos países pobres.

Com o acesso maior e mais equitativo às mercadorias e às tecnologias agrárias, como a irrigação e o eficiente armazenamento e transporte de mercadorias e de transporte e a remoção de programas do mercado distorcidos, podemos fazer uma contribuição substancial para a resolução da segurança alimentar  e erradicação da pobreza.

No desenvolvimento de tais políticas, temos de assegurar que a cooperação, em conformidade com o princípio da subsidiariedade, oriente nossos esforços para garantir estas escolhas das comunidades locais e precisam ser tratadas de forma adequada e tidas em consideração. Assim, a agricultura, a assistência ao desenvolvimento e os programas de reforma agrária não deveriam ser implementados de cima para baixo, mas deveriam sim ativamente ser levados em consideração e cooperar com as comunidades locais.

Um dos primeiros passos a serem tomados no tratamento a reforma agrária é resolver a falta de direitos de terra e propriedade por marginalizados dentro da sociedade. A crescente concentração da propriedade da terra e produção agrícola por poucos apresentam uma obrigação moral para os líderes políticos e sociais para encontrar meios equitativos e justos para uma reforma agrária em longo prazo. Em particular, maiores investimentos em agricultura familiar e pequenas propriedade proporcionam uma oportunidade única, tanto para apoiar a família e quanto para apoiar um futuro mais sustentável para a agricultura em longo prazo.

O destino universal dos bens da terra também se aplica à água, esse elemento vital, essencial para nossa sobrevivência e para a agricultura. A Sagrada Escritura tem também a água como um símbolo de vida, sustento e purificação. Por sua própria natureza, a água nunca pode ser tratada como mais uma mercadoria, mas deve sim ser reconhecida como um direito inalienável de ser compartilhada em solidariedade e generosidade com os outros. A água é um bem público, o que significa que é da responsabilidade da liderança política garantir que todas as pessoas tenham acesso à água potável, especialmente os pobres. O descumprimento de obrigações tais resultados em sofrimento, conflitos e doenças e, portanto, prejudica o direito inerente à vida.

Ao redor do mundo, graves problemas ecológicos e humanos exigem uma mudança fundamental no estilo de vida se quisermos ser melhores administradores da criação e promover uma mais justa comunhão econômica internacional. Métodos de produção de alimentos, portanto, demandam análise atenta para garantir o direito a alimentos suficientes, saudável e nutritiva e água, e para alcançar esse direito, de forma a reconhecer as nossas obrigações de proteger o meio ambiente como uma herança compartilhada para as gerações atuais e futuras.

Isto exige romper com o longo ciclo de mais de consumo e produção, de pobreza e de degradação ambiental. Aqui, devemos reconhecer que todas as decisões econômicas têm implicações morais que exigem de nós redescobrir os valores de longa data da sobriedade, da temperança e auto-disciplina. Um mundo no qual os ricos consomem uma percentagem esmagadora de recursos humanos e naturais é escandaloso e chama para uma renovada disposição para se tornar mais consciente da interdependência de todos os habitantes da terra. A autêntica solidariedade global deve motivar indivíduos e líderes políticos a reavaliar suas escolhas de estilo de vida, a fim de fazer escolhas que promovam a dignidade humana e a solidariedade global. A este respeito, devemos reconhecer o papel fundamental que a família desempenha na aprendizagem e ensino dos valores necessários para se formarem cidadãos responsáveis que fazem escolher responsáveis de estilo de vida.

Antes de concluir, eu gostaria de tocar em algumas das preocupações constantes da Santa Sé no processo de negociações. Enquanto a Santa Sé tem procurado promover um desfecho que respeite a dignidade da pessoa humana, nós continuamos a ver algumas delegações tentando promover estas questões como "dinâmica populacional" ou "direitos reprodutivos", como uma forma de desenvolvimento sustentável. Estas propostas são baseadas em uma noção errada de que o desenvolvimento sustentável e a proteção ambiental só podem ser alcançados através da garantia de que haja menos pessoas em nosso planeta. Sublinhada por uma hermenêutica da suspeita que fere profundamente a solidariedade humana, tal ideologia levou a um alarmante destruição na família e, fundamentalmente, priva o planeta de seu maior recurso, a pessoa humana, que está no centro do desenvolvimento sustentável.

Além disso, um grande volume de trabalho continua em busca um olhar para o futuro consciente, ciente que o documento resultante é de responsabilidade de todos os países. Os esforços para assegurar que os países em desenvolvimento tenham acesso à tão necessária amigável tecnologia ecológica, e financeira para a transição para um futuro mais sustentável são apenas dois dos muitos exemplos em que uma maior solidariedade entre países em desenvolvimento e nas economias desenvolvidas é necessária, se quisermos fazer uma diferença duradoura no mundo. Da mesma forma, maior solidariedade é necessária para promover o acesso a empregos decentes e cuidados básicos de saúde, bem como os direitos dos migrantes. Essa é a nossa esperança, que o texto final do documento seja satisfatório na abordagem destas questões para que possa ser dito de contribuir para o bem-estar material e espiritual de todas as pessoas, suas famílias e suas comunidades.

Obrigado.

Cardeal Odilo Scherer
Arcebispo de São Paulo
Legado Pontifício para a Conferência Rio+20

Retiro das Pastorais Sociais, CEBs e Organismos do Regional Nordeste 1


Espaço especial para alimentar a esperança e fortalecer a caminhada será um dos pontos que o retiro das pastorais sociais pretende alcançar. Em sintonia com o 13º Intereclesial e a 5ª Semana Social Brasileira, os participantes querem construir metas de participação, organização para melhor organizar as lutas em prol da vida. Nesse sentido o assessor do retiro, o monge beneditino Marcelo Barros, fará sua contribuição refletindo a temática “Justiça e Profecia a Serviço da Vida”.
Em entrevista a Cáritas Regional, ele fala sobre a importância do tema, Rio+20, código florestal, cuidado com a vida, entre outras questões. “Todas as pessoas cidadãs têm de assumir a preocupação e o cuidado com esse caminho novo que a humanidade tem de tomar. Como pessoas humanas e também a partir da fé, como expressão de uma espiritualidade amorosa e de solidariedade entre nós e com a natureza criada por Deus”.
Marcelo Barros, 67 anos, é monge beneditino, teólogo e biblista. Foi um dos fundadores do CEBI (Centro de estudos bíblicos), junto com frei Carlos Mesters e desde os anos 70, é assessor da pastoral da terra e das comunidades eclesiais de base (CEB’s). Atualmente é coordenador da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT) que reúne homens e mulheres que fazem teologia na América Latina, na África, Ásia e ainda nos meios indígenas e negros da América do Norte. Trabalha especialmente em favor de uma teologia da libertação pluralista (que dialogue com outras religiões) e inserida no novo processo social e político da América Latina (o bolivarianismo).
O tema do retiro “Justiça e Profecia a Serviço da Vida” faz sintonia com o tema do 13º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Bases (Ceb’s). Que importância tem essa reflexão para os tempos de hoje?
O que mais nos chama a atenção na Bíblia é a revelação de um projeto divino para o mundo. Nos evangelhos, Jesus o chamou de “reino de Deus”. Esse projeto divino é mostrado pelos profetas como a realização da justiça libertadora para os pobres. Por isso, esse tema “justiça e profecia a serviço da vida” é à base da espiritualidade e a Igreja como um todo e cada cristão/ã tem sempre de voltar a esse assunto como sendo sua vocação básica: testemunhar e anunciar pela vida o reino de Deus, ou seja, o projeto divino para o mundo.
A vida foi ponto chave no processo de participação da Cúpula dos Povos, da qual você esteve presente recentemente. Que significado isso tem e que esperanças o evento trás para a vida dos povos e para a construção de um mundo justo e de paz?
A Cúpula dos povos, assim como os diversos fóruns sociais, foi um encontro da sociedade civil. Revelou que não podemos deixar esses grandes temas (ecologia, economia, etc) apenas nas mãos dos governos e dos técnicos. Todas as pessoas cidadãs têm de assumir a preocupação e o cuidado com esse caminho novo que a humanidade tem de tomar. Como pessoas humanas e também a partir da fé, como expressão de uma espiritualidade amorosa e de solidariedade entre nós e com a natureza criada por Deus.
A Rio+20 e o novo Código Florestal. O que você pensa á respeito?
Se a humanidade não muda esse caminho da sociedade (o capitalismo) que é essencialmente depredador e injusto, não há como fazer ecologia, nem respeitar a natureza. A Rio 92 + 20 mostrou isso. Os governos quiseram parecer ecológicos, mas salvando o sistema capitalista. Fracassaram. Ninguém acredita na tal economia verde que eles pregaram. E o novo Código anti-florestal é a prova de que quem manda no Brasil não é a presidente nem o governo. São os grandes proprietários rurais e as empresas multinacionais como a Monsanto que dizem ter comprado os deputados no Congresso do Paraguai e pago para derrubar o presidente da República daquele país que favorecia os lavradores. O novo código anti-florestal brasileiro é mau, mas temos ainda de lutar para reformá-lo. A luta não acabou.
Como teólogo, de que modo você acha que a teologia da libertação dialoga ou poderia melhorar o diálogo entre as diferentes culturas?
Toda verdadeira teologia reflete não somente sobre a pessoa ou a natureza de Deus, mas sua revelação e seu projeto de vida e justiça para todos. Por isso, de certo modo, toda teologia judaica e cristã teria de ser uma teologia da libertação. Hoje para realizar sua missão em um mundo muito diversificado e pluralista, a teologia tem de dialogar com as mais diversas expressões culturais e se inserir nas diferentes culturas. Hoje, a teologia da libertação se expressa nas diversas teologias negras, índias e feministas. E estamos também refletindo sobre a espiritualidade ecumênica inerente ao novo processo social e político emergente em vários países da América do Sul, o bolivarianismo. Meu livro mais recente se chama “Para onde vai Nuestra América” (Propostas de uma nova espiritualidade socialista para o século XXI), São Paulo, Ed. Nhanduti, 2011.
Por Jeane Freitas, assessora de Comunicação da Cáritas Regional Ceará



As Pastorais Sociais, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e Organismos do Regional Nordeste 1 da CNBB (Ceará) promovem nos dias 28 a 30 de junho, na Casa de Encontro da irmã Iolanda, em Fortaleza, Ceará, seu retiro anual com a presença do Monge Beneditino Marcelo Barros. As pastorais irão refletir o tema “Justiça e Profecia a Serviço da Vida”, que faz sintonia com o tema do 13º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs).
O retiro iniciará na noite do dia 28 de junho com um momento celebrativo tendo como objetivo fortalecer a esperança, a fé e a profecia no serviço da vida. Durante o retiro, as Pastorais Sociais, CEBs e Organismos irão discutir a participação das dioceses na construção da 5ª Semana Social Brasileira, iniciada no último dia 18 de maio.
Regilvânia Matheus, integrante da coordenação Regional das Pastorais Sociais, CEBs e Organismos, disse que o retiro é um momento de parada e reflexão, sendo um espaço para alimentar a esperança e fortalecer a caminhada em defesa e cuidado com a vida. Regilvânia destacou também que a presença de Marcelo Barros “faz diferença por todo seu testemunho e compromisso com a defesa da vida e com um novo jeito de nossa Igreja ser”.
Cada participante deve contribuir com R$ 60,00 e preencher uma ficha de inscrição que está disponível na Cáritas Ceará. Outras informações com Regilvânia Matheus no telefone (85) 9934 3903 ou Jeane Freitas (Assessora de Comunicação da Cáritas Regional Ceará) (85) 8768 9865

Sociólogo resgata a trajetória da juventude católica no Brasil

Surgido em meados dos anos 1960, o movimento social denominado Cristianismo da Libertação ultrapassa os limites da Igreja como instituição e reúne milhões de cristãos que partilham a opção prioritária pelos pobres. Em outras palavras, consideram que o pobre não é objeto de caridade cristã e sim sujeito histórico de sua própria libertação. Munido de grande bagagem teórica e vasta documentação, o sociólogo Flávio Munhoz Sofiati convida o leitor a conhecer, em 'Juventude católica: o novo discurso da Teologia da Libertação', lançamento da EdUFSCar, a formação e o desenvolvimento da Pastoral da Juventude, uma das comissões pastorais comprometidas com o Cristianismo da Libertação, num mergulho em sua pedagogia e opções políticas.
Com um tema pouco estudado pelas Ciências Sociais no Brasil, o livro aborda de forma contundente a evolução da Igreja no Brasil e desvenda o surgimento da teologia da libertação. Sofiati estabelece uma linha do tempo em que narra a trajetória da Pastoral da Juventude, desde sua origem até a última Assembleia Nacional, com o objetivo de investigar através do contexto histórico as transformações ocorridas ao longo de 40 anos na instituição.
O livro é dividido em três partes: Gênese do Cristianismo da Libertação, em que são analisadas as mudanças ocorridas na Igreja Católica entre as décadas de 1950 e 1970; O método da formação da PJB, decorrentes da década de 1980 e As mudanças na Teologia da Libertação, que permitem ao leitor entender os fatores que levaram a PJB a reavaliar seus métodos de trabalho com a juventude.
Segundo Michael Löwy, que assina o prefácio, a história deste movimento, “seus conflitos internos e seus problemas de orientação pedagógica, religiosa e política são o tema deste apaixonante livro”.
Sobre o autor - Flavio Munhoz Sofiati é professor adjunto de Sociologia da Universidade Federal de Goiás – UFG (Faculdade de Ciências Sociais, Curso de Especialização em Políticas Públicas e Programa de Pós-Graduação em Sociologia). Formado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp (2001), com mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (2004) e doutorado na École de Hautes Études em Sciences Sociales – EHESS (França) em 2007/2008. Atualmente se dedica aos temas: Juventude e Religião, Catolicismo Contemporâneo, Movimento Carismático e Teologia da Libertação. É autor do livro Religião e juventude: os novos carismáticos.

Maledicências Pe. Zezinho, scj


 

É fácil falar contra nossos desafetos.
Se sua fama ou posição nos incomoda,
diminuí-los ajuda a derrubá-los e o espaço passa a ser nosso...

É fácil omitir-nos quando deveríamos falar.
Passamos por legais e o erro continua, graças à nossa covardia.
É fácil falar quando deveríamos ter calado.
É fácil lançar suspeitas, fácil falar sem provas.
É fácil tornar-se cúmplice de uma calunia
e acreditar sem exigir provas.

É fácil esquecer o quanto devemos à pessoa
de quem acabamos ou acabaram de falar mal.
Basta que um pouco a mais de mesquinhez.

Por causa de fofocas e maledicências
muitos grupos se desfizeram,
amigos se calaram e sumiram,
benfeitores se cansaram de ajudar,
vizinhos não mais se visitaram,
relacionamentos se desfizeram
até mortes aconteceram.

Por maledicências
famílias se desintegraram,
igrejas se estranharam,
e quem ajudava perdeu a motivação.
Retirou-se na sua dor.

Estava certo São Tiago quando falou sobre a língua:
é um pequeno órgão que se gloria de grandes coisas,
pequeno fósforo que põe fogo numa floresta.(Tiago 3,5)
Se alguém pretende ser religioso refreie sua língua.
É pavio aceso pelo inferno! (Tiago 3,6)
Aquele que controla a língua tem as rédeas da sua alma.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

11º Encontro Estadual de CEBs - Santa Catarina


Caçador, 09 de junho de 2012.

“Eu ponho minhas palavras na tua boca” (Jr1,9)

CONVITE

Estimados Padres,
Paz e Alegria no Senhor!

As Comunidades Eclesiais de Base da Diocese de Caçador estão empenhadas em preparar-se bem para o seu 11º Encontro Estadual. O êxito desta atividade dependerá de estudo e reflexão sobre a realidade atual, escuta da Palavra de Deus, oração, abertura às novidades do Espírito Santo e colaboração mútua.
O Profeta Jeremias, em cujo livro se buscou o lema “Eu ponho minhas palavras na tua boca” (Jr 1,9b), viveu a sedução da fé no Deus Vivo. Em Aparecida, Bento XVI perguntava: “O que nos dá a fé nesse Deus?” E respondeu: “Dá-nos uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos leva à comunhão: o encontro com Deus é, em si mesmo e como tal, encontro com os irmãos, um ato de convocação, de unificação, de responsabilidade para com o outro e para com os demais”.
Também as CEBs, em sua trajetória de 50 anos, marcam a história com um rasto de fé. Daí vem sua capacidade de gerar família de irmãos e irmãs, de libertar do isolamento, de promover comunhão; também de convocar, de unificar e de responsabilizar em relação ao outro e aos demais. Comunidades de fé têm o dinamismo da “justiça e da profecia a serviço da vida”.
Com esta motivação, convidamos para participar do Encontro Diocesano em preparação ao 11° Estadual das CEBs e Encontro Diocesano dos Alunos das Escolas.
 Local: Comunidade São José – Fraiburgo
Início: Dia 14 de julho, às 8h.
Término: Dia 15 de julho, às 16h.
Investimento: R$ 10,00 (a diária)
 Devem participar deste encontro: agentes de pastoral, lideranças de comunidades, animadores de grupos de reflexão, catequistas, enfim, pessoas responsáveis e comprometidas com a vida e animação das comunidades de fé. Caso alguém se encontre impedido de participar da atividade no sábado, poderá fazê-lo, sem restrições, no domingo.
Para melhor organização deste encontro, pedimos que o número dos participantes de cada paróquia seja confirmado até o dia 6 de julho junto ao Secretariado Diocesano de Pastoral.
 Desde já agradecemos a sua presença e participação.
Atenciosamente,

III Seminario das CEBs de Goiás e Tocantins




Aconteceu nos dias 01 a 03 de junho, em Miracema do Tocantins, no Centro de Treinamento de Lideranças Dom Jaime Collins – CTL – representantes das CEB’s do Tocantins e Goiás para a realização do III Seminário da CEB’s. Na certeza de que as Ceb’s devem ser o lugar não só da vivência, aprofundamento e celebração da fé, mas o lugar onde se confrontam Vida e prática com a Palavra de Deus, um grupo de mais de oitenta participantes, teve assessoria de Frei José Fernandes e Mercedes para refletir sobre a questão da justiça, profecia.
O Assessor Nacional da Ceb’s Dom Giovane Pereira de Melo, Bispo de Tocantinópolis, também se fez presente contribuindo neste Seminário. Dom Giovane retomou as palavras de Igreja em relação a Cebs presente nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora do Brasil.
Para abrir o Seminário, o grupo contou com a ajuda representante da CPT, Silvano Lima Resende que apresentou uma análise de conjuntura da realidade do Tocantins. No contexto de globalização neoliberal o Tocantins vem assistindo a consolidação de um modelo econômico que aprofunda as desigualdades econômicas, sociais. O modelo econômico do Tocantins tem provocado a implementação de uma estrutura política que acentua as desigualdades e transforma o Estado em grande produtor de produtos primários.
Sensibilizados, grupo buscou aprofundar a temática justiça e profecia com assessoria de Frei José. Ele levou o grupo a questionar-se sobre o seu posicionamento cristão questionando: Pode misturar Fé e Política? Pode separar Fé e Política? Retomando os documentos da Igreja e palavra dos últimos papas salientou a importância da vivência política cristã. O exercício da Política é excelente obra de caridade” (Paulo 6º); A Solidariedade é o novo nome da palavra caridade” (João Paulo II). “A sociedade justa, sonhada por todos, deve ser realizada pela Política e a Igreja não pode nem deve ficar à margem na luta pela Justiça” (Bento 16); “A educação para a cidadania é processo permanente. Para ela contribuem as Escolas e os Grupos de Fé e Política que se multiplicam pelas dioceses do Brasil” (CNBB, 2012).
Em seguida, a assessoria de Mercedes, aprofundou a partir da Palavra de Deus questão da profecia olhando duas figuras bíblicas: Amós e Isaias. Um o profeta rural e outro urbano. “Reconhecemos que na Bíblia a profecia é consequência direta de um evento social, político, cultural e religioso na de história de Israel. E é a resposta de um povo, de homens e mulheres que se deixaram interpelar por Deus. Como deve ser até hoje!”
Este momento de aprofundamento são passos em vista do 13º Intereclesial de CEBS – que será na Diocese de Cratós. Ao final de encontro, os participantes saíram animados, Frei Marcos Belei, Aragominas, TO, salientou “Levo para minha comunidade alegria de saber que muitos estão caminhando nas comunidades eclesiais de base e que este é o rumo para termos uma igreja renovada e profética.” O jovem Josué Pereira da Silva Santos, Goiânia, GO, que pela primeira vez participa de um encontro disse: “Participar deste encontro trouxe para mim uma experiência espetacular da simplicidade das comunidades eclesiais de bases. Sai com desejo de conhecer e a vontade de participar da CEBs no dia-a-dia na comunidade.”

CEBs capixabas irão promover seminário estadual




As dioceses do Espírito Santo se uniram para promover o “Seminário Estadual de Comunidades Eclesiais de Base (Cebs)”. O evento acontece de 20 a 22 de julho, em Jerônimo Monteiro, sul do estado. A Diocese de Colatina estará representada por 30 pessoas, uma de cada paróquia.

“Cebs Capixabas: Justiça e Profecia à luz do Vaticano II” é o tema a ser discutido no seminário, que contará ainda com a participação de diversos assessores. “Somos chamados a sermos discípulos missionários em nossas Comunidades Eclesiais de Base, lugar privilegiado de experiência concreta com Cristo e encontro com os irmãos”, destacou o padre Roberto Marcelino de Oliveira, coordenador de Pastoral da Diocese de Colatina.

Este é o primeiro de três encontros de grande importância para as Cebs. O segundo é o 10º Encontro Estadual de Cebs, que acontece em junho de 2013, também no sul do estado. O terceiro é em nível nacional e está marcado para janeiro de 2014, no Ceará.



5º Encontro de CEBs dos Jovens da Diocese de Garanhuns

O Recanto Franciscano ficou ainda mais lindo com a presença de 70 jovens vindos de: Saloá, Paranatama, Caetés, Garanhuns, Jurema, São Bento do Una, Correntes, Calçado, Santa Cruz do Capibaribe e do Sítio Cruz para realizar o 5º Encontro de Jovens das CEBs.
A Comissão Diocesana de CEBs se preparou para receber 40 jovens, para nossa surpresa e alegria chegaram 70 representando diversas comunidades. Corremos para completar a feira e fazer adaptações para a nova realidade.

O assunto tratado foi "Políticas Públicas para os jovens" com assessoria de Rubens que ilustrou a temática com diversos clips de música popular que muito ajudaram na reflexão da temática.




O Recanto Franciscano as espera dos Jovens

Acolhida feita por Frei Juvenal

O momento de oração foi conduzido por Cida 

Num cartaz os jovens expressaram seus sonhos

Dançaram a Ciranda

E agradeceram

Dinâmica de Apresentação 


Assessoria: Rubens

Trabalhos em grupo

Banda "Pior sem nós" na noite de confraternização

Foto oficial do encontro 

Celebração Eucarística

JOVENS DAS CEBS DA DIOCESE DE GARANHUNS SE ENCONTRAM PELA 5ª VEZ 

Fonte: Santuário das Comunidades

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Participação social avança, mas mecanismos decisórios seguem distantes da sociedade civil

Segundo Sergio Haddad, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e da ONG Ação Educativa, diferentes modalidades de participação da sociedade civil podem ser identificadas na Rio+20. Entretanto, espaços de delibração são limitados. Pnuma é criticado por vínculo com corporações.

Rio de Janeiro - A debilidade da participação social na tomada de decisões é um dos principais problemas identificados nos debates em torno da Rio+20. De acordo com a representante do Departamento de Assuntos Econômico e Social das Nações Unidas Chantal Line Carpentier, a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável apresentou avanços nesse sentido.

O documento-base de discussão da Rio+20, o Rascunho Zero, foi formulado levando em consideração seis mil páginas de contribuições enviados à organização, sendo 80% delas oriundas da sociedade civil. “Estima-se que 30% deste documento foram resultado dessa contribuição”, afirmou ela, durante debate promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) do Brasil nesta terça-feira (19).

Segundo Sergio Haddad, membro do CDES e da ONG Ação Educativa, diferentes modalidades de participação da sociedade civil podem ser identificadas na Rio+20. A mais antiga delas, mas nem por isso mais visível, é o lobby exercido majoritariamente por grandes corporações.

Outro modelo, com forte presença organizadora do Estado, se dá via os nove grupos idealizados na Eco-92, os major groups, divididos em: Negócios e Indústrias, Crianças e Jovens, Agricultores, Povos Nativos, Autoridades Locais, ONGs, Comunidade Científica e Tecnológica, Mulheres e Trabalhadores e Sindicatos. Fora dos muros da conferência da ONU, há o espaço “Humanidades 2012”, organizados por entidades empresariais no Forte de Copacabana, e a Cúpula dos Povos, compostas por sindicatos, movimentos sociais, mulheres, rede de movimentos dos direitos humanos, ONGs e pessoas que não pertencem às organizações também, lembra Haddad.

Para o especialista, os impactos positivos da participação social são seu efeito educativo, com o aumento de consciência sobre os limites do planeta e do atual modelo de desenvolvimento, além de dar mais um passo na articulação global de movimentos sociais. O crescimento de articulações deste porte tem como marco o enfrentamento aos mecanismos de Bretton Woods iniciados em Seattle, em 1999, e continuados em cada reunião do FMI, do Banco Mundial ou da OMC.

“Outra mobilização global dessa natureza foi o Fórum Social Mundial, começado no Brasil [em 2001], se expandindo para outros continentes, mostrando a força da sociedade civil global”, resgatou Haddad. Em sua opinião, movimentos como o Occuppy nos Estados Unidos, os Indignados na Espanha, a Primavera Árabe, no Oriente Médio, e os recentes levantes estudantis no México e no Chile dão mostras de que a sociedade civil está viva, mas segue distante de espaços de deliberação como a ONU.

De acordo com o especialista, há muito receio sobre o modelo de governança do órgão. “Há desconfiança, por exemplo, do Pnuma [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente], o espaço que produziu a ideia de economia verde com presença muito grande do setor coorporativo, o que afasta muitos setores da sociedade civil”, concluiu.

Vinicius Mansur

Conselhos da sociedade civil de Brics e Europa exigem plano de ação da Rio+20

Conselhos Econômicos e Sociais e instituições similares dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e da União Europeia “instam os líderes mundiais a comprometer-se a levar a cabo um plano de ação concreto que possibilite o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza, respeitando os limites do planeta”. É o que consta em declaração conjunta entregue aos governos de cada um dos países.

Profecia: a partir dos pobres.



Palavra de Javé: consolai os aflitos e afligi os consolados! Ninguém pode tocar o corpo dos escritos proféticos sem sentir a batida do coração divino.

A Bíblia, se interpretada com sensatez e a partir dos pobres, nos educa para a vivência profética, o que passa necessariamente por construir uma convivência humana e ecológica onde o bem comum seja um princípio básico seguido.
Os grandes desafios da realidade social, eclesial e eclesiástica para as pessoas cristãs que se engajam nas lutas sociais e na construção de uma sociedade justa, solidária, ecumênica e sustentável, - também construção de uma igreja Povo de Deus -, me fazem recordar também os desafios de muitos profetas e profetisas da Bíblia e de suas profecias.
Quando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST – ou os movimentos populares que fazem ocupações urbanas realizam ações radicais – não extremistas, mas aquelas que, de fato, vão à raiz dos problemas e, por isso, ferem o coração da idolatria do capital - o ódio dos poderosos despeja-se sobre os militantes dos movimentos populares. Isso faz acordar em mim profecias bíblicas, como das parteiras do Egito, dos profetas Elias, Amós, Miqueias e do galileu de Nazaré.
Quantos de nós já nos dispusemos a fazer a experiência de viver sob lonas pretas e gravetos – em condições similares aos animais no meio do mato, ou em condições piores do que nas favelas? Quem de nós já viveu à beira das estradas, em lugares ermos e remotos, sujeitos aos ataques noturnos repentinos? Quantos já permaneceram em um acampamento do MST por mais de um dia, observando o que comem (e, sobretudo, o que deixam de comer), o que lhes falta, como são suas condições de vida? Quantos já viram o desespero das mães procurando, aos gritos, pelos filhos enquanto o acampamento arde em fogo às 3 da madrugada, atacado por jagunços?
 Sentindo-me na pele dos sem-terra e dos sem-casa, convido você para visitar algumas profecias bíblicas das parteiras, de Elias, Amós, Miqueias e Jesus de Nazaré, na esperança de que possam iluminar nossas consciências e aquecer nossos corações para discernirmos o que é preciso fazer, como fazer e comprometermo-nos de fato com a causa dos pobres que, com fé libertadora, lutam por direitos humanos, por uma terra sem males.
Uma premissa básica: nosso Deus é transdescendente. Muitos perguntam: se Deus existe e é todo poderoso, por que permite tanta dor, tanta violência e sofrimento no mundo? Deus é sádico? Está sentado na arquibancada, de braços cruzados, vendo o sangue do inocente verter na arena da vida? Deus não faz nada? Um sábio, ao ouvir essas interpelações, respondeu: Deus fez e faz todos nós para sermos no mundo expressão do Deus que é infinito amor. A única força que Deus tem é o amor, que aparenta ser a realidade mais frágil, mas é a mais poderosa do mundo. Só o amor constrói.
JESUS se tornou tão humano que acabou se divinizando. Pelo seu relacionamento íntimo com o Pai, ao qual chamava de papai (abbáh, em hebraico), Ele nos revela uma característica fundamental que perpassa toda a experiência do povo de Deus da Bíblia: o Deus comprometido com os pobres é um Deus transdescendente, não apenas transcendente - sua transcendência se esconde na imanência, o divino no humano. A partir do Êxodo, constatamos como Javé é um Deus que ouve os clamores dos oprimidos e desce para libertá-los (Êxodo 3,7-9). No início do Gênesis, o Espírito está nas águas, permeia e perpassa tudo (Gênesis 1,2). Em Jesus de Nazaré, tendo “nascido de mulher” (Gálatas 4,4), Deus se encarna, descendo e assumindo a condição humana. No Apocalipse, Deus larga o céu, desce, arma sua tenda entre nós e vem morar conosco definitivamente (Apocalipse 21,1-3). Logo, um movimento de transdescendência perpassa toda a Bíblia. Esta característica se reflete em Jesus e continua nas pessoas cristãs de verdade.
Profecia é sussurro de Deus. Os oráculos proféticos, normalmente, são introduzidos com uma fórmula característica: “Assim disse Javé....” ou “Oráculo de Javé” (Jr 9,22-23). A expressão “ne’m YAHWEH”, em hebraico, geralmente traduzida por “oráculo de Javé” ou “Palavra de Javé”, significa "sussurro, cochicho de Deus no ouvido do profeta ou da profetisa". Para entender um cochicho, um sussurro, é preciso fazer silêncio, prestar muita atenção, estar em sintonia, ter proximidade, ser amiga/o. Logo, Deus não falava claramente aos profetas, como nós, muitas vezes pensamos. Deus fala hoje para – e em - nós do mesmo modo que falava aos profetas e às profetisas. Deus cochicha (sussurra) em nossos ouvidos, sempre a partir da realidade do pólo enfraquecido, na trama complexa das relações e estruturas humanas.
Precisamos colocar nossos ouvidos e nosso coração pertinho do coração dos violentados, para que nossas palavras possam refletir algo da vontade do Deus da vida. Mais que fazer cursos de oratória, precisamos de cursos de “escutatória”. Para ouvir os clamores mais profundos dos empobrecidos é necessário conviver com eles.

 Gilvander Luís Moreira

CEBs Rio Branco

09/06 - ASSEMBLÉIA DAS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
REUNE 70 DE TODA A DIOCESE EM PREPARAÇÃO AO XIII INTERECLESIAL EM JUAZEIRO DO NORTE.

terça-feira, 19 de junho de 2012

IX Encontro de CEBs Latino-americano e Caribenho




Iniciou dia 16 em San Pedro Sula, Honduras, o 9º encontro de CEBs latino-americano e caribenho. No primeiro momento, houve uma análise da realidade da América Centra. Destacaram-se alguns pontos em comum entre os países Centro América: desigualdade social, concentração de riqueza, drogas e armas são situações que contribuem para a violência organizada que desemborca em guerras civil. América Central é considerada o corredor da migração das Américas e Honduras o país de maior concentração de armas na região por terem sido base militar dos Estados Unidos. Isso contribuiu para uma delinquência armada geradora de empobrecimento, conflitos sociais e um modelo político autoritário e concentrador, tendo como consequência controle territorial por parte do crime organizado, aumento do fenômeno da migração, aumento da vulnerabilidade, deterioração ambiental e exploração dos recursos naturais; mas também se enfoca no atual período promover investigação na busca de modelos alternativos, destacando a pressão dos movimentos sociais por demandas de poder, debates, buscas e construção de propostas alternativas. Luta-se por uma institucionalidade política e jurídica que ajude a recuperar os espaços públicos e uma sociedade do bem viver com estratégia de não violência.
Frente a esta situação que desafia a nossa América se destacou os seguintes elementos relevantes que marcam este encontro: o Espírito de Jesus que nos guia e nos acompanha nas CEBs, as dificuldades de nossas fronteiras, a diversidade como riqueza, a defesa da vida ameaçada, a complexidade do mundo em que vivemos, perguntas pelas raízes da violência, dois modelos de Igreja, o trabalho com os jovens na opção política. Sete grupos de estudo ajudaram a dar um panorama da realidade da América Latina na dimensão político, econômico, social, educação, ecologia, pluralismo religioso e eclesial. Frente aos aspectos relevantes apresentados destacou-se que devemos está atento ao sistema ECOBIOPOLÍTICO como fluxo de vida donde se define o alimento com a presença de três elementos necessários agua, ar e energia.
O pão de cada dia é resultado da relação corpo e terra que dimensiona a presença de uma população e um território gerando trabalho que por sua vez dar sentido a uma comunidade. Isto nos proporciona uma sintonia muito forte com a eucaristia e nos faz compreender que se não há pão não há comunidade e sem território não somos nada. Portanto, a luta ecológica se iguala a economia que tem o mesmo significado de cuidar da casa. Esta desatenção ecológica tem gerado crises nos diversos setores políticos, econômicos, ecológico e social. E que na América Latina fez gerar novos processos políticos no Brasil, Chile, Equador, Bolívia, Paraguai, Argentina e Venezuela. Observam-se, neste novo processo político, que os países mais impactados pelas crises são os da América Central, próximos aos Estados Unidos e os menos impactados são os da América do Sul.
Frente a estas questões são ameaças para as CEBs do continente a perca da identidade e a indiferença da Igreja hierárquica a estas causas. Resta às comunidades reafirmar-se no modelo de Jesus a partir da experiência das primeiras comunidades cristãs, se articularem com outras religiões, culturas e movimentos populares na defesa dos direitos da terra, direitos sociais e ecológicos. Mas, também, não se pode duvidar da mensagem dos bispos que se sentem unidos as CEBs e entendermos a ecologia como um grito da terra que expressa o grito dos pobres; e que o homem é uma expressão da crise ecológica e civilizatória; que a água é um recurso vital, valor simbólico que expressa a nossa sede de justiça, amor e paz. O desafio maior para as comunidades é resgatar a eucaristia da cultura do pão, devido está em jogo o atual modelo econômico e excludente. Mas ainda resta a esperança de que outro mundo é possível, outra Igreja é possível. Pois, as raízes de uma nova eclesiologia que brota do Vaticano II aponta para um novo kairós, um novo paradigma de uma Igreja apostólica, servidora, profética e missionária do Reino.
A assembleia frisou bem as conclusões do relançamento das CEBs na América Latina que, nestes quatros anos, fortaleceu a formação, a articulação, a missão, a presença dos jovens, os movimentos sociais e a luta pela questão ecológica que nos últimos anos tem sido causa de martírio nesta América sofrida. No Brasil, foram lembrados os mártires da ecologia: Chico Mendes, Irmã Dourath, o casal José Claudio e Maria do Pará, Zé Maria do Ceará. A assembleia prossegue até o dia 21 na busca de afirmação de compromisso frente às diferentes lutas iluminada pela reflexão bíblico-teológica. Estão presentes na assembleia cerca de 200 delegados vindos das seguintes regiões: Brasil; Cone Sul – Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai; Andina – Equador, Colômbia e Bolívia; Caribe – Venezuela, República Dominicana e Haiti; Centro América – Panamá, Nicarágua, Guatemala, El Salvador e Honduras; Norte – México e Estados Unidos; e uma representante das Filipinas. Destacamos que o relançamento no Brasil se deu com o documento 92 da CNBB que veio ajudar na revitalização e fortalecimento das CEBs através dos encontros das grandes regiões, encontros regionais e diocesanos, rumo ao 13º Intereclesial. Assembleia em Honduras está sendo uma riqueza pela sua diversidade cultural, a presença de representantes das comunidades indígenas e afro americanas. Destacamos a festa da noite cultural do dia 18, como um momento de partilhar e nutrir nossas raízes e identidade latino-americana.
Pe. Vileci Basílio Vidal – Coord. 13º Intereclesial