Para
um cristão, as eleições não são apenas uma questão de cidadania. São,
antes, uma forma especial de viver a fraternidade e praticar a caridade.
Escolher candidatos que vão agir com justiça, administrar com
honestidade, defender os mais pobres, lutar pela dignidade da vida
humana em todas as etapas, isto é um dever cristão, uma oportunidade de
implantar o Reino de Cristo, em meio à sociedade dos homens. Um cristão,
não pode deixar essa oportunidade passar.
Neste
ano, teremos novamente eleições. E desta vez, elegeremos prefeitos e
vereadores, gente próxima de nós, que bate à nossa porta pedindo votos.
Eles vão às festas da Igreja, cumprimentam as pessoas com sorrisos,
fazem promessas, distribuem santinhos, querem apoio. Há pessoas que
discutem apaixonadamente, criam conflitos, fazem da eleição uma guerra.
Outros
tratam com indiferença, desfazem a importância das eleições dizendo “é
sempre a mesma coisa”, “ninguém presta”, “não adianta fazer nada”. E se
enchem de razão apontando para Brasília: “lá o dinheiro corre solto como
uma cachoeira”, “uma CPI atrás da outra, e ninguém atrás das grades”.
Pois têm uma certa razão essas pessoas. São muitos anos de impunidade.
Tanto
a discussão acalorada quanto a indiferença favorecem exatamente aqueles
maus políticos, que não querem mudar. O que resolve é trocar ideias,
informações, conhecer melhor as leis, os candidatos, e fazer boas
escolhas que nos levem a um futuro melhor. O voto consciente é o melhor
meio para conseguir mudanças neste triste cenário.
Cartilha de Orientação Política
“Bons
ou maus governantes, é a gente que escolhe!”. Esta é a afirmação da
Cartilha de Orientação Política preparada pela CNBB Regional Sul 2, que
começa a ser distribuída às paróquias e comunidades. Gostaria de
convidar a nossa gente, os Conselhos Paroquiais, Capelas, Movimentos e
Grupos organizados: vamos dedicar um tempo, entre o mês de julho e
outubro, e fazer uma leitura em conjunto deste texto, para participar
com muita consciência do processo eleitoral. A nossa Igreja não tem
candidatos nem partidos, mas tem princípios, tem espaço para um diálogo
sereno e esclarecedor. O cenário eleitoral mudou bastante nos últimos
anos. Há novas leis, que estão valendo para estas eleições, como é o
caso da Lei da Ficha Limpa, e também a recente Lei de Acesso à
Informação Pública, e ainda a Lei que pune a Compra de Votos, que já
vigora há mais de 10 anos. O desafio é divulgar ao máximo essas leis,
para que não fiquem no papel.
Há motivos de esperança?
A
Lei 9840, que pune a compra de votos, nasceu na reunião dos Bispos, e
foi imediatamente apoiada por muitas organizações da sociedade, sendo
aprovada em 1999. Em 2010 foi aprovada a Lei da Ficha Limpa, também
nascida na Assembleia dos Bispos, e que recolheu milhões de assinaturas
em nossas igrejas. Essas leis foram muito questionadas na Justiça,
exatamente porque contrariavam interesses poderosos. Mas foram
reconhecidas pelo Judiciário e, sem dúvida, vão cumprindo o seu papel de
afastar os políticos oportunistas, aqueles que buscam o bem próprio,
deixando de lado o que é direito dos pobres. O mesmo acontece agora com a
recente Lei de Acesso à Informação Pública: há questionamentos na
Justiça mas, aos poucos, os seus efeitos serão notáveis. A Cartilha da
CNBB Regional Sul 2 apresenta essas leis com clareza, diz exatamente
qual o papel do Prefeito e do Vereador, dá dicas para as pessoas
distinguirem os bons candidatos, mas também desenha o perfil do bom
eleitor, que todos nós queremos ser.
“Aproveitar” as eleições
A
palavra “aproveitar”, aqui, está entre aspas porque tem sentidos
diversos: é hora, sim, de aproveitar a ocasião das eleições para
conhecer mais, ter mais consciência, usar os recursos da democracia para
melhorar a convivência humana. Mas há entre as nossas lideranças quem
diga assim: a Festa da Capela vai ser boa porque vamos “aproveitar” as
eleições. Falam isso pensando em trocar votos por doações, consertos na
estrada, um boi para o churrasco, promessas diversas. É bom saber que o
errado na compra de votos não é só quem compra votos, mas também quem
oferece o voto. Precisamos começar a mudar a mentalidade dentro de casa.
Assim teremos condições de denunciar e provar o crime de quem compra
votos.
Peço
que todas as Paróquias e comunidades utilizem a Cartilha de Orientação
Política da CNBB para a leitura em grupos, troca de ideias, e
mantenham-se informados para acompanhar os mandatos, como bons cidadãos.
Cito alguns pontos que podem servir para o diálogo e aprofundamento:
1. Ainda
há muita gente que prefere anular o voto por achar que “nada muda” ou
que “não vale a pena votar”. O que a comunidade pode fazer para o voto
seja levado a sério?
2. Em
alguns municípios a disputa é tão acirrada que pode criar inimizades e
dividir as pessoas até mesmo em nossas comunidades. Passadas as eleições
os candidatos fazem as pazes e na comunidade permanecem os
ressentimentos. O que fazer para manter a paz, na liberdade de opiniões e
propostas?
3. A
Igreja não tem partido, nem candidato. A liberdade de consciência é um
direito de todos. Como evitar que a comunidade seja manipulada pelos
interesses de políticos e lideranças?
4. As dependências da Igreja, salões, pátios, podem ser utilizados para fins de campanha? Em que condições?
5. O que fazer quando há provas concretas de corrupção e fraude eleitoral?
Estas
e outras perguntas podem ser respondidas em grupos, à luz da Cartilha
da CNBB Regional Sul 2. Espero que as nossas comunidades sejam esse
“espaço de diálogo, de esclarecimento, de liberdade de expressão e de
consciência”, como diz o texto. Que haja paz e operosa colaboração com
aqueles que vierem a ser os servidores do povo, nos próximos quatro
anos. Peço ao bom Deus que nos conceda crescer em consciência,
fraternidade e liberdade
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