quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Carta das CEBs Ampliada Nacional - janeiro de 2016

Desde as terras vermelhas do norte do Paraná, na cidade de Londrina, os 70 participantes da Ampliada Nacional das CEBs, entre os que destacamos a presença de Dom Orlando Brandes, arcebispo da arquidiocese que nos acolhe, Dom Giovane Pereira de Melo, bispo referencial do Setor CEBs na Comissão para o laicato na CNBB e Dom Manoel João Francisco, que acompanha as CEBs no estado do Paraná, Regional Sul II, celebrada entre os dias 29 a 31 de janeiro de 2016, queremos comunicar os passos dados para avançar no processo de construção conjunta do 14º Intereclesial das CEBs, que será realizado de 23 a 27 de Janeiro de 2018, com o tema “CEBs e os desafios no mundo urbano” e o lema “Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex. 3,7).
A discussão sobre a construção do Texto Base foi o ponto de partida do debate entre os membros da Ampliada, aspecto que foi retomado em diferentes momentos do nosso encontro. A partir do método ver, julgar e agir, se pretende elaborar um texto de fácil compreensão que possa ajudar às lideranças das comunidades, partindo do que foi refletido no Seminário, que aconteceu nos dias 27 e 28 de Janeiro e que colocou em nosso meio 8 desafios: moradia, mobilidade, violência, sustentabilidade, trabalho, saúde, educação e tecnologias. O Texto Base quer mostrar a realidade do mundo urbano, seus processos históricos e os desafios que hoje devem ser enfrentados, tudo isso iluminado desde a reflexão bíblico-teológica e concretizado em experiências reais que mostram a historia e realidade das CEBs do Brasil.
Fomos enviados para conhecer diferentes comunidades da arquidiocese, o que nos ajudou a colocar os pés neste chão vermelho, olhar a realidade sócio-eclesial local e nos animar mutuamente com a caminhada de cada um. Nesse sentido fomos impactados pela chacina acontecida nos dias da Ampliada, na cidade de Londrina, sinal da violência que assola o mundo urbano. Também tentamos ser divulgadores entre o povo londrinense do Intereclesial e o que isso pode significar para eles.
O Secretariado do 14º Intereclesial mostrou os passos dados até hoje, partindo da história local e socializando os objetivos, metodologia, equipes, planejamento e os efeitos do projeto, assim como as possíveis fontes de financiamento do nosso encontro.
Igualmente foram encaminhados outros aspectos que formam parte do Intereclesial, como o cartaz, a oração, o cancioneiro, assim como o Seminário de Assessores e diferentes oficinas que serão realizadas. A reunião por grandes regiões foi momento para partilhar a caminhada dos diferentes regionais, organizar calendários conjuntos e distribuir as vagas para o Encontro Latino Americano a ser celebrado no Paraguai em setembro de 2016. A confraternização e partilha na noite cultural ajudou a estreitar os laços de amizade.
Junto com isso foram abordadas diferentes questões ao longo da Ampliada como a pesquisa sobre as CEBs no Brasil, o Projeto Memória e Caminhada, as vagas para o Intereclesial, o acontecido no encontro do Cone Sul, a composição da Ampliada, a comunicação e o site cebsdobrasil.com.br.
Não podemos esquecer os momentos de oração e celebração vividos nestes dias e que nos ajudaram a ver e ouvir os clamores do povo, a partilhar a vida das comunidades londrinenses e trazer para o nosso meio a vida e memória de tantos mártires que deram a vida pelo Reino.
Amem, Axé, Auêre, Aleluia

“Casa comum, nossa responsabilidade”

Esse é  o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica que, em todo o Brasil, será aberta pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) nessa quarta feira, 10 de fevereiro ou, no próximo domingo, o 1o da Quaresma. De fato, desde o ano 2000, essa será a 4a Campanha da Fraternidade Ecumênica. Reúne cinco Igrejas cristãs e diversas organizações interconfessionais. Dessa vez, além das Igrejas, essa Campanha da Fraternidade envolve também a Misereor, organização dos bispos católicos da Alemanha. O tema geral é o cuidado com a Terra, especialmente no que diz respeito ao saneamento básico que inclui o abastecimento de água urbano e rural; a coleta e tratamento de esgoto; o manejo adequado dos resíduos sólidos (lixo) e a drenagem das águas de chuva. Certamente, na realidade que, nesses dias, enfrentamos no Brasil, não podemos esquecer o combate a mosquitos que transmitem doenças que assolam a nossa população e provocam tantos males.  

As estatísticas mostram que, no Brasil, apesar dos esforços do governo nos últimos dez anos, ainda temos um longo caminho a percorrer no cuidado com a terra e com os nossos rios. É difícil compreender como um país que produz até aviões comerciais de grande porte não consegue solucionar os problemas de saneamento nem em cidades centrais como São Paulo e Rio de Janeiro. Os centros metropolitanos de médio e de grande porte enfrentam cada vez mais problemas relacionados à poluição da água.
 
Nas cidades, a maior parte do esgoto residencial e industrial contamina todas as águas superficiais, como rios, lagos, e o próprio oceano. Nos grandes rios brasileiros, ainda se veem esgotos serem jogados in natura.

É uma graça divina que, no Brasil, ao menos as cinco Igrejas que participam do Conselho Nacional de Igrejas (CONIC) tenham um desafio tão concreto e urgente para ligar com a celebração da Quaresma e da Páscoa. De fato, a responsabilidade pela Terra como causa comum tem de unir dois aspectos: o cuidado ambiental e a ecologia social. Tanto o Conselho Mundial de Igrejas, em seus documentos, como  o papa Francisco, na sua encíclica Laudatum sii, têm insistido: não se pode separar o equilíbrio ambiental e o cuidado com a justiça. Por isso, nessa CF 2016, o lema é a palavra bíblica: “Quero ver a justiça brotar como fonte e o direito correr como riacho que não seca” (Am 5, 24). Essa profecia confirma: O que para Deus é mais importante não é o culto e nem atos de devoção individual e sim que todos cuidem da justiça social e trabalhem para que, no país e no mundo, todos tenham respeitados os seus direitos  individuais, sociais e de saúde. Só assim, as celebrações se tornarão profundas e chegarão aos ouvidos de Deus.

Ao falar em saneamento básico, muita gente dirá que isso é obrigação do governo e que, sobre isso, os cidadãos comuns podem fazer pouco. De fato, em termos estruturais, é verdade: a primeira obrigação é do governo. No entanto, a tarefa dos cidadãos é velar e exigir que os seus direitos sejam respeitados. O trabalho das autoridades deve ser complementado pelo cuidado de toda a população. A limpeza de córregos e rios feita pelas autoridades públicas só funciona se a população colabora e não joga lixo nas ruas. Nessa linha, o texto-base da CF 2016, dirigido aos cristãos de todas as Igrejas e pessoas de boa vontade, sugere várias ações simples e cotidianas.
 
O objetivo é criar uma nova consciência de cuidado com a terra e com a água, assim como uma maior solidariedade social. O texto propõe que as comunidades cristãs estimulem as pessoas a fazerem a coleta seletiva do lixo caseiro e a tratar a rua como espaço coletivo a ser cuidado por todos. Além disso, como gesto comum, nessa Quaresma, pede que evitemos o consumismo. Como, em muitas Igrejas, o jejum é um costume tradicional do tempo da Quaresma, a CF 2016 propõe que façamos um dia de jejum, repartindo com uma família mais pobre o alimento daquele dia. Que essa CFE nos ajude a aprofundar a unidade das Igrejas que Deus quer e pede que vivamos.
 
“Ó Deus da vida, da justiça e do amor, Tu fizeste com ternura o nosso planeta, morada de todas as espécies e povos. Dá-nos assumir, na força da fé e em irmandade ecumênica (com as outras Igrejas cristãs), a corresponsabilidade na construção de um mundo sustentável e justo para todos. No seguimento de Jesus, com a alegria do Evangelho e com a opção pelos pobres. Amém”. (oração da CFE – Texto base, p. 73).