“Não são os grandes projetos que dão certo, mas os pequenos detalhes”
(Pe. Cícero)
Nessa motivação advinda do patriarca do
Nordesta Pe. Cicero o Secreteariado de CEBs prepara neste próximo final
de semana o encontro das equipes de serviços para o acolhimento do
Encontro Nacional de CEBs que acontecerá em 2014 no Regional Nordeste I -
CE, especificamente na cidade de Juazeiro do Norte / Diocese de Crato.
A proposta de Evangelização de Jesus Cristo passa necessariamente
pela acolhida de todos e todas. Temos a missão de ser uma Igreja
diocesana hospitaleira e acolhedora, acolhendo a Igreja do Brasil que
participará da festa do centenário da nossa Diocese no 13º Intereclesial
das CEBs de 7 a 11 de janeiro de 2014.Historicamente os romeiros sempre contaram com a ajuda e o acolhimento das famílias. Em comunidades menores, tais como as Primeiras Comunidades Cristãs e as CEBs hoje, há uma efetiva aproximação entre as pessoas e o convívio humano. A acolhida é a virtude evangélica que coloca em contato muita gente com Jesus. Nesta preparação rumo ao 13º Intereclesial, queremos preparar bem as pessoas que estão se engajando nas paróquias para acolher os delegados missionários que participarão deste grandioso encontro das CEBs do Brasil em Juazeiro do Norte. São romeiros das CEBs, chamados de discípulos missionários de Jesus que buscam ouvir a voz de Deus, se penitenciar e assumir uma atitude de obediência a Deus para viverem na dinâmica dos pobres. Convocamos as paróquias da Forania I para o encontro de preparação da hospitalidade dos romeiros das CEBs, no dia 24 as 14h00m, no auditório da Escola Madre Ana Couto (Pequeno Príncipe) em Crato. Pauta do encontro: . Reflexão sobre acolhida e hospitalidade; . Campanha “minha casa é casa de missão”, entrega das fichas para o cadastro das famílias e critérios para esta tarefa; . Relembrar quais regionais a paróquia acolherá e quantas pessoas serão hospedadas. Consciente desta nossa tarefa diocesana e a pedido de Dom Fernando, esperamos contar com a presença de todas as paróquias. Deve participar as pessoas que já estão fazendo parte deste trabalho nas COMIPAS junto com os demais membros da equipe dos 72 missionários. Fraternalmente, Pe. Vileci Basílio Vidal – Coordenação do 13º Intereclesial. Crato, 19 de novembro de 2012. |
sábado, 24 de novembro de 2012
Partilhando: construindo o 13º Intereclesial
CEBs Sul 1 - Carta Colegiada Estadual novembro de 2012
Nos dias 17 e 18 de novembro de 2012,
a Colegiada das CEBs do Regional Sul1 da CNBB esteve reunida na sub região de
Campinas, cidade de Ipeúna, acolhidos pelo casal Edgard e Clélia numa
chácara no Portal dos Nobres.
Estiveram
presentes representantes das oito sub-regiões do Sul1; contamos com a presença
de Dom José Luiz Bertanha.
Foram
momentos de partilha, compromisso, reflexão e oração. Discutimos sobre conjuntura
política ocorridos neste ano eleitoral.
Feito a partilha do Encontro de
Liturgia em Crato, construindo o 13º
Intereclesial; Dom José Bertanha e
Edmundo Monteiro partilharam sobre a Assembleia das Igrejas do Regional Sul1.
Partilhamos e encaminhamos sobre a Jornada
Mundial da Juventude no Brasil em 2013. Neste encontro definimos datas e temas para
atividades da caminhada das CEBs para o
ano de 2013. Destacamos algumas de nosso calendário: 18 de maio o 4º Encontro de Assessores CEBs Sul1; 19 de maio a 13 ª Romaria CEBs Sul1 à
Aparecida; 09 a 11 de julho o 11º Encontro de Ordenados, Seminaristas e Religiosos(as)
das CEBs; 21 e 22 de setembro o Encontro
de Delegados e Delegadas do 13º Intereclesial do Regional Sul1.
Diante da violência que a princípio
começou na capital e se espalhou para cidades do interior e outros estados, nos
solidarizamos com as famílias das vítimas, REPUDIAMOS
o discurso das autoridades que insistem dizer que são casos isolados e pedimos aos
responsáveis que não meçam esforços para restabelecer a segurança publica e que
a insegurança que ameaça a vida de toda comunidade possa ser restabelecida, com
segurança e paz.
Manifestamos nossa veemente
indignação e repúdio ao descaso do Estado brasileiro com a situação de extrema
violação dos direitos humanos dos índios e índias guarani kaiowás, acirrada
pela situação intolerável e alarmante de genocídio dessa etnia e exigimos
providências urgentes diante de tal situação.
As Comunidades Eclesiais de Base são assim,
fonte da qual brota Água Viva, elas como água viva, dão vida, são a fonte para
enfrentar as dificuldades encontradas na vida, como a água, elas são discretas,
estão sempre presentes e nos fortalecem na caminhada.
Celebramos com a comunidade que nos
acolheu.
Finalizamos nossa reunião com a partilha
dos sub regionais, informes e encaminhamentos para a próxima colegiada e
agradecimentos finais.
CEBs CNBB Sul1 novembro de 2012
CEBs - Carta do III Oestão - Dourados - MS
CARTA DAS CEBS AO POVO DE DEUS
III OESTÃO, DOURADOS (MS)
“CEBs: JUSTIÇA E PROFECIA A SERVIÇO DA VIDA”
“Não são os grandes planos que
dão certos, mas os pequenos detalhes” (Pe. Cícero)
Nós, Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs), num total de 347 ( trezentos e quarenta e sete) pessoas, entre
elas leigas, leigos, religiosas, religiosos e alguns padres, pessoas vindas dos
estados: Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estivemos
reunidas/os no III Oestão em Dourados-MS nos dias 15 a 18 de novembro de 2012.
O encontro foi enriquecido com
a presença de índias/os, afro-descendentes, trabalhadoras e trabalhadores do
campo e da cidade, juventude e crianças. Partilhamos nossas lutas, sonhos e
esperanças.
No primeiro dia tivemos a
presença do bispo de Dourados, Dom Redovino, que confirmou e valorizou nossa
vocação de Igreja viva presente na sociedade. Assim, ele reafirmou o nosso
compromisso de comunidades cristãs a serviço das pessoas excluídas da sociedade,
algo que já celebramos na mística de
abertura, cheia de unção e alegria. Em seguida, Pe. Adriano fez uma breve
memória histórica dos encontros chamados o “Oestão” que ajudaram reviver momentos
fortes de recordações em preparação aos Intereclesiais das CEBs.
No segundo dia, na metodologia das
CEBs, aprofundamos o VER da nossa realidade. Depois de uma rica celebração
orante, agradecendo os 25 anos de CEBs
no Mato Grosso, Pe. Benedito Ferraro, nosso assessor, resgatou a identidade das
CEBs na nossa história e nos Intereclesiais. Seguidamente Flávio Vicente
Machado do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) abordou os vários tipos de realidades
e violações dos direitos indígenas. Vivenciar estes fatos foi um dos pontos
altos do encontro, que nos ofereceu um maior conhecimento da questão indígena
no Brasil e principalmente no Mato Grosso do Sul. A presença dos índios Kaiowá Guarani e
Terenas com seus depoimentos confirmou em
nós uma atitude de indignação contra o capitalismo que fortalece o agronegócio
e a injustiça, ceifando muitas vidas.
À tarde tivemos um rico painel
que nos convidou a uma reflexão sobre a ligação fé e vida nos temas indígenas,
quilombolas, economia solidaria, ecologia, terra, política, juventude e mulher.
Na continuação aprofundamos em
20 grupos e cinco mini-plenárias os assuntos: JUSTIÇA, PROFECIA, SERVIÇO, VIDA
E ROMARIA. Concluímos com uma grande plenária e uma síntese de nosso assessor
que nos indicou a leitura do Documento de Aparecida nos números 365 a 367 para
refletir sobre nossa conversão pessoal e no número 385 sobre nossa conversão
social.
O início do terceiro dia foi
marcado pela celebração da Paz como suplica a Deus para nossos povos, pais e
mães do Brasil e para o mundo todo. Aprofundamos nosso JULGAR a partir do Documento
da 5ª Semana Social Brasileira, ressaltando os valores da Sociedade do Bem Viver
e Pertencimento, enriquecido pelos depoimentos dos nossos irmãos índios, o cacique
Valério Vera Gonçalves e Oriel Benites e o negro Pedro Batista Nery. Partilhamos ainda a reflexão teológica sobre o
“Reino de Deus”, conduzida pelo Pe. Gabriel e sobre os Direitos Humanos com a assessoria
do professor Robson Santos, membro da Igreja Batista, que nos levaram a
discutir, nos grupos, pistas concretas de
AGIR nas diversas áreas: luta sindical, economia solidária, política, ecologia,
organização das CEBs, indígenas, mulher e juventude.
À tarde, depois da partilha das
nossas reações na fila do povo e diante
da riqueza destes dias, fomos novamente
aos grupos para sinalizar dois compromissos a partir de diversos assuntos
refletidos.
Na Romaria dos Mártires rumo a
Paróquia Santa Terezinha, assumimos nosso compromisso com a VIDA, como supremo
valor da nossa fé. Lembramos e fizemos memória de nossas/os mártires que
derramaram seu sangue por amor ao Reino de Deus. Celebramos a Eucaristia,
irmanadas/os na fé e na luta por um mundo novo. A partilha do alimento e a
festa confirmaram nosso compromisso com o amor e a vida.
No ultimo dia,
a nossa celebração e a síntese do vivido e refletido neste encontro, nos deram
forças para voltar às nossas famílias e comunidades, cheias/os de entusiasmo de
continuar a caminhada das CEBs, este nosso jeito de ser Igreja. Finalmente, o
Pe. Vileci, coordenador do 13º grande Encontro Intereclesial das Comunidades
Eclesiais de Base do Brasil, a ser realizado em janeiro de 2014 em Juazeiro do
Norte-CE, fez uma bela reflexão sobre a mística da/o romeira/o.
Saímos do nosso encontro, ungidas/as
com o óleo e fortalecidas/os pela palavra “Faço de você uma luz para as nações!”.
Fazemos nossas as palavras de nossas/os irmãs/ãos da Amazônia:
“As CEBs constituem-se em família das famílias, onde todos se conhecem e
querem bem, mas são também centro de oração e meditação da Palavra de Deus,
para nutrir a mística profunda da vivência na proximidade de Deus” (Igreja na
Amazônia – Memória e compromisso – Conclusões do encontro de Santarém 2012 –
página 31).
Este é nosso compromisso de
vida como CEBs!
Amém,
Axé, Awere, Aleluia.
Participantes do III Oestão
Dourados-MS,
18 de novembro de 2012
CEBs Curitiba, PR - realizam Assembleia
Curitiba,
PR, 23 nov (SIR) – As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da
Arquidiocese de Curitiba realizam sua Assembleia dias 23 e 24 deste mês,
no Convento Sagrado Coração do Verbo Encarnado. A Assembleia visa
promover uma reflexão, a partir do Documento de Aparecida, sobre os
desafios e as perspectivas das Comunidades Eclesiais de Base na
Arquidiocese. O convite para a Assembleia é destinado a duas pessoas por
paróquia/comunidade. O início está previsto às 19 horas do dia 23 e o
encerramento às 17 horas do dia 24. Como CEBs romeiras do Reino no campo
e na cidade, na formação de comunidades de fé e vida, as comunidades
seguem a opção pelo Reino, denunciando as injustiças sociais e
anunciando o Evangelho. “As Comunidades Eclesiais de Base têm sido
escolas que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé,
discípulos e missionários do Senhor...Elas abraçam a experiência das
primeiras comunidades, como estão descritas nos Atos dos Apóstolos (At
2,42-47)” (D.A. 178). O Convento Sagrado Coração do Verbo Encarnado fica
na rua Pe. Rafael José Kalinowski, 756, Pinheirinho - Curitiba. O
valor da inscrição é R$ 60,00 por pessoa (inclusivo alimentação e
pouso). Inscrições e informações com a Dimensão Social da
Arquidiocese: (41) 2105-6326; ou com a equipe de coordenação das
CEBs: Leonel (9988-9660), Jardel (9173-5760), Rosalba (9914-3865),
Salete (8453-5329) ou Cláudio (9948-5777).
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
A guerra em que os que morrem são os mais pobres
Falta identificar as forças beligerantes na guerra que se trava em
São Paulo, com baixas diárias que se aproximam das registradas em
conflitos internacionais. Aparentemente e convém desconfiar das
aparências o confronto se dá entre os bandidos e a polícia.
Os bandidos, na versão oficiosa, vingam-se da sociedade que os confina ao “executar” policiais militares em emboscadas. Há, no entanto, a denúncia de que os policiais militares estão assassinando pequenos bandidos, mas também pessoas trabalhadoras, a fim de atemorizar as organizações criminosas dos presídios.
Não há policiais perfeitos, a não ser na ficção, mas sem dúvida a Polícia Militar, pela sua natureza, é muito mais violenta do que as corporações civis. O uniforme, os aquartelamentos, as formações e os treinamentos semelhantes aos que se submetem as forças armadas destinadas à hipótese da guerra contra os inimigos externos condicionam esses homens ao ato de matar sem a inibição do sentimento de culpa. Isso não inocenta os policiais civis, muitos deles tão violentos ou ainda mais violentos do que os uniformizados.
Organizações brasileiras denunciaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em Washington, que só em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre 2003 e 2009 (não há estatística mais recente), a polícia matou 11.000 pessoas – mais de vinte vezes as baixas das tropas brasileiras em combate na Itália. Na quase totalidade dos casos, os próprios matadores redigem um “auto de resistência”, embora nunca possam provar que os mortos tiveram a iniciativa do tiroteio.
Isso, apenas nas duas capitais brasileiras mais populosas. No interior do país, a situação é semelhante. Ainda agora, acabam de ser identificadas três milícias em João Pessoa, compostas de policiais militares e civis, acusadas de constituir um grupo de extermínio, de oferecer proteção a homens de negócios e de extorquir os traficantes de drogas na Paraíba. Foram presos 56 suspeitos, entre eles soldados e oficiais da PM, além de carcereiros e policiais civis. A operação foi realizada por 400 agentes da Polícia Federal, com o apoio das autoridades estaduais, e sob mandato judicial.
Nessa guerra os que morrem são sempre os mais pobres, e não beligerantes diretos. Raramente um oficial é executado por bandidos. Em algumas vezes são soldados desprotegidos, alvejados quando chegam do trabalho. Da mesma forma, não são os capitães do PCC e de outras organizações semelhantes os mortos, mas delinqüentes menores ou apenas trabalhadores inocentes, como parecem ser os últimos fuzilados em São Paulo por um soldado que passeava com a sua família e alegou haver respondido à ameaça dos mortos. Testemunhas afirmam que se tratou apenas de uma disputa de trânsito as vítimas teriam “fechado” o carro do policial. Por terem assim agido, de acordo com as testemunhas, os rapazes foram fuzilados pelo militar.
Quando alguém importante é vítima de um criminoso comum, a sociedade se mobiliza. Quando os mortos são trabalhadores das favelas ou pequenos criminosos levados ao tráfico pela falta de educação, de estrutura familiar sadia, e de empregos normais a reação é quase nenhuma. Aqui e ali se manifestam alguns altruístas, e, pouco depois, as execuções deixam de ser notícia.
Quando houve, há seis anos, uma insurreição aberta de bandidos em São Paulo, o então governador Cláudio Lembo colocou o dedo na ferida, ao culpar pela calamidade “a elite branca e perversa” de seu Estado. É certo que a desigualdade social não é a única responsável pela violência urbana a cultura da violência, importada dos EUA pela televisão, tenha muito dessa culpa- nem pelos crimes brutais que conhecemos. Bandidos há em todas as classes e, provavelmente, os mais cruéis sejam os mais dissimulados, como os que atuam em Wall Street.
Onde há mais justiça social há menos medo nas ruas.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
Os bandidos, na versão oficiosa, vingam-se da sociedade que os confina ao “executar” policiais militares em emboscadas. Há, no entanto, a denúncia de que os policiais militares estão assassinando pequenos bandidos, mas também pessoas trabalhadoras, a fim de atemorizar as organizações criminosas dos presídios.
Não há policiais perfeitos, a não ser na ficção, mas sem dúvida a Polícia Militar, pela sua natureza, é muito mais violenta do que as corporações civis. O uniforme, os aquartelamentos, as formações e os treinamentos semelhantes aos que se submetem as forças armadas destinadas à hipótese da guerra contra os inimigos externos condicionam esses homens ao ato de matar sem a inibição do sentimento de culpa. Isso não inocenta os policiais civis, muitos deles tão violentos ou ainda mais violentos do que os uniformizados.
Organizações brasileiras denunciaram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em Washington, que só em São Paulo e no Rio de Janeiro, entre 2003 e 2009 (não há estatística mais recente), a polícia matou 11.000 pessoas – mais de vinte vezes as baixas das tropas brasileiras em combate na Itália. Na quase totalidade dos casos, os próprios matadores redigem um “auto de resistência”, embora nunca possam provar que os mortos tiveram a iniciativa do tiroteio.
Isso, apenas nas duas capitais brasileiras mais populosas. No interior do país, a situação é semelhante. Ainda agora, acabam de ser identificadas três milícias em João Pessoa, compostas de policiais militares e civis, acusadas de constituir um grupo de extermínio, de oferecer proteção a homens de negócios e de extorquir os traficantes de drogas na Paraíba. Foram presos 56 suspeitos, entre eles soldados e oficiais da PM, além de carcereiros e policiais civis. A operação foi realizada por 400 agentes da Polícia Federal, com o apoio das autoridades estaduais, e sob mandato judicial.
Nessa guerra os que morrem são sempre os mais pobres, e não beligerantes diretos. Raramente um oficial é executado por bandidos. Em algumas vezes são soldados desprotegidos, alvejados quando chegam do trabalho. Da mesma forma, não são os capitães do PCC e de outras organizações semelhantes os mortos, mas delinqüentes menores ou apenas trabalhadores inocentes, como parecem ser os últimos fuzilados em São Paulo por um soldado que passeava com a sua família e alegou haver respondido à ameaça dos mortos. Testemunhas afirmam que se tratou apenas de uma disputa de trânsito as vítimas teriam “fechado” o carro do policial. Por terem assim agido, de acordo com as testemunhas, os rapazes foram fuzilados pelo militar.
Quando alguém importante é vítima de um criminoso comum, a sociedade se mobiliza. Quando os mortos são trabalhadores das favelas ou pequenos criminosos levados ao tráfico pela falta de educação, de estrutura familiar sadia, e de empregos normais a reação é quase nenhuma. Aqui e ali se manifestam alguns altruístas, e, pouco depois, as execuções deixam de ser notícia.
Quando houve, há seis anos, uma insurreição aberta de bandidos em São Paulo, o então governador Cláudio Lembo colocou o dedo na ferida, ao culpar pela calamidade “a elite branca e perversa” de seu Estado. É certo que a desigualdade social não é a única responsável pela violência urbana a cultura da violência, importada dos EUA pela televisão, tenha muito dessa culpa- nem pelos crimes brutais que conhecemos. Bandidos há em todas as classes e, provavelmente, os mais cruéis sejam os mais dissimulados, como os que atuam em Wall Street.
Onde há mais justiça social há menos medo nas ruas.
Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.
Até quando vai durar o silêncio cumplice?
ATÉ QUANDO VAI DURAR O SILÊNCIO CÚMPLICE SOBRE A MATANÇA DE JOVENS POBRES, PRETOS E PERIFÉRICO EM SP?!?!
Já são mais de 170 mortes (oficialmente), ao longo dos últimos 25 dias, no estado de São Paulo. Cerca de 20 agentes do estado, frente a cerca de 150 seres humanos civis - em sua maioria jovens pobres, negros e periféricos.
O movimento Mães de Maio tem demonstrado pesar e solidariedade a TODAS as famílias de vítimas desse período terrível. Solidariedade às famílias de civis, como as do MC Daniel Gabú, do jovem Pedro e do jovem Caíque, e de tantos outros mais, que tombaram nas últimas semanas. Solidariedade às famílias de agentes do estado, como a filha (que testemunhou sua morte), à família e a@s amig@s s da agente Sra. Marta Umbelina, assassinada no último feriado por autores e razões desconhecidas. Dor de Filha, Dor de Mãe, de Familiares e Amig@s é A MESMA, em qualquer lugar!
Até aqui houve comoção, por parte das autoridades e da grande imprensa, APENAS em relação às mortes de agentes do estado, PORÉM NÃO HOUVE NENHUMA DECLARAÇÃO SEQUER, DE "PESAR E SOLIDARIEDADE", ÀS CENTENAS DE FAMÍLIAS DE CIVIS DESTRUÍDAS POR ESTAS MATANÇAS. Por que as famílias de jovens pobres e negros assassinados, além de destruídas, insistem em ser desconsideradas, ou simplesmente humilhadas moralmente como se fossem "famílias de bandidos e marginais", e isso supostamente justificasse todo o sofrimento?!?! Que se relembre a tod@s: no Brasil e em São Paulo, pelo menos na letra da Lei, não existe pena de morte...
Enquanto um movimento popular pacífico que somos, uma rede de Mães e Familiares em busca do Direito à Verdade, à Justiça e à Transformação Social, sempre fomos e seremos solidári@s frente a Dor gerada a tod@as envolvid@as involuntariamente nessa guerra orquestrada por meia dúzia de colarinhos brancos nos altos cargos e altos escalões da elite. Eles seguem intocáveis e impunes, aprofundando esta barbárie, sem sofrer esta nossa Dor, muito menos sujar as suas mãos – a não ser com o dinheiro gerado por esta guerra. Até quando tantos agentes trabalharão para eles, arriscando inclusive suas próprias vidas cotidianamente, oprimindo seus iguais, matando-se muitas vezes até mesmo vizinhos e vizinhas das mesmas comunidades, é o que nos perguntamos todos os dias.
Que haja uma trégua de todas as partes envolvidas nessa carnificina, pois todo mundo está perdendo nessas matanças cotidianas aí, as Mães, Famílias e Amig@as que choram são, a grande maioria, oriundas da mesma classe social (trabalhadora), da mesma cor (negra, principalmente), e do mesmo território (pobre e periférico). O mesmo território, os mesmos bairros e comunidades que estão sofrendo cotidianamente com o pânico dos toques de recolher - muitos determinados pela própria polícia, a proibição de simplesmente transitar pelas ruas com liberdade, sequer, de ir e vir tranquilamente.
Já são mais de 170 mortos (oficialmente) apenas nos últimos 25 dias no estado de São Paulo, repitimos, dentre policiais e sobretudo civis, e dezenas de bairros sitiados e "recolhidos" na Grande SP, Baixada Santista e interior, sobretudo nas regiões periféricas – alvos preferenciais do chamado “combate ao tráfico”, uma verdadeira militarização de comunidades inteiras e "matança dos 'suspeitos'". Paraisópolis, Heliópolis, Capão Redondo, Brasilândia que o digam?! Por que nada se comenta sobre a pacificação de Higienópolis?!
Desde os Crimes de Maio de 2006, pelo menos, já assistimos matanças de centenas de jovens serem utilizadas política e eleitoralmente, e as verdadeiras vítimas fomos nós que perdemos nossos filhos e filhas, amigos e amigas, mort@as ou desaparecido@s, sem ter tido qualquer reparação ou justiça até os dias de hoje. E não tem faltado Luta para tanto...
Até quando os pilantras de colarinho branco lá de cima vão seguir assistindo, ordenando (com muitos dos nossos obedecendo cegamente), aparelhando e incentivando essa matança generalizada, cujo sangue escorrendo na calçada tem quase sempre a mesma origem social e racial?! Quem é que está mesmo lucrando com essa matemática terrível das chacinas sem fim?!
Esta madrugada foram, ao menos, mais 12 vidas ceifadas, mais 12 famílias destruídas...
#AS MÃES, FAMILIARES, FILHOS E FILHAS SÃO AS PRINCIPAIS VÍTIMAS: DE AGENTES E DE CIVIS, EM QQ LUGAR!
#PAZ URGENTE NAS PERIFERIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO E DE TODO BRASIL!
MÃES DE MAIO DA DEMOCRACIA BRASILEIRA
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Juventude é destaque no 18° Encontrão das CEBs - CNBB NORTE 2 - A IGREJA DA AMAZÔNIA NO PARÁ E AMAPÁ!
As
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Arquidiocese de Belém, realizaram domingo, 11/11, o 18º Encontrão das CEBs, com o tema “CEBs, Juventude e
Vida” e lema “A juventude clama por vida. Basta de extermínio”. O
objetivo principal é refletir a realidade dos(as) jovens, com foco na
violência, propondo estratégias de combate ao genocídio juvenil pelo
qual estes(as) vem sendo vitimizados(as).
A
atividade também quer aquecer as comunidades para a Campanha da
Fraternidade 2013 que tem a juventude como tema. Para Vaulene Monteiro,
secretária regional da Pastoral da Juventude (CNBB/Norte 2), este é um
momento de reafirmar ainda mais o compromisso da Igreja com os(as)
jovens. “As CEBs são felizes em trazer um tema de grande importância na
sociedade: a juventude. Mais do que isso, reafirma a opção preferencial
pelos jovens, necessária e urgente”.
Para
este encontrão, foram mobilizados(as) integrantes de comunidades,
pastorais e movimentos, além de religiosos(as) que trabalham com a
juventude. A participação ilimitada, onde cada participante foi
convidado(a) a levar alimento para compartilhar com as demais pessoas
durante o almoço, além de pratos, talheres e copo não descartável para
uso pessoal.
13° INTERECLESIAL DE CEBs
A abertura do
evento está previsto para às 19h00m do dia 07 de
janeiro de 2014 na praça da Igreja Santuário de São Francisco da
Chagas.
A Diocese de Crato acolherá as liderança de CEBs dos
quatro cantos do Brasil, América Latina e Caribe, como também de outros
continentes.
A cidade anfitrião é Juazeiro do Norte que nestes últimos
dias, 30 de outubro à 02 de novembro acolheu 500 mil Romeiros
advindos de todo o Nordeste brasileiro. Os mesmos
participaram da tradicional Romaria da Esperança (Romaria de
Finados).
Juazeiro do Norte tem uma população estimada de 250 mil
habitantes, situada no extremo sul do Ceará próximo aos estados
da Paraíba, Pernambuco e Piauí.
Nesta terra quente por natureza
a expressão primária da Igreja do Brasil será visibilizada com
momentos de celebração, partilha, reflexão e convivência. Por
estar na base as lideranças de CEBs são as primeiras
a perceberem a situação social e eclesial do povo brasileiro.
INTER: Entre (Interestadual, intermunicipal, internacional) significa
relação; ECLESIAL: Igreja, Igreja Católica. O INTERECLESIAL é o
encontro da Igreja de Base do Brasil, Igreja povo de Deus, cada Diocese do
Brasil é uma Igreja particular nisto os representantes das comunidades em
cada Diocese organizam-se e participam diretamente como
delegados do evento.
O 13° Intereclesial tem a objetividade de
fortalecer a experiência Romeira no Campo e na Cidade tendo como tema para
essa edição: Justiça e Profecia a Serviço da Vida. O evento está
organizado no tripé: SENSIBILIZAÇÃO (2011), APROFUNDAMENTO (2012),
VIVÊNCIA (2013), encerrando toda essa liturgia da vida das comunidades no
ano celebrativo de 2014 - Ano centenário da Diocese de
Crato.
Batista - CEBs Ceara
Ampliada das CEBs do Regional Nordeste III da CNBB
Aconteceu entre dias 02 a 04 de novembro de 2012, na Paróquia Nossa Senhora da Luz em Simões Filho, Diocese de Camaçari-BA, a Ampliada das CEB’s do Regional Nordeste III da CNBB. Com o objetivo de avaliar a caminhada 2012, em especial o 6º Nordestão das CEBs, ocorrido em 19 a 22 julho de 2012 na Diocese de Itabuna; Bem como continuar a preparação para o 13º Intereclesial das CEBs a ser realizado em 2014, na Diocese do Crato/CE, teve também como tarefa a escolha da nova coordenação reg
Quase todas as Dioceses se fizeram presentes, apenas 09 não compareceram. Estavam presentes a atual coordenação; Dom Ricardo Brusati, Bispo de Caitité e referencial das CEBs; os assessores e delegados das CEBs das dioceses do Regional Nordeste III (Bahia/Sergipe).
O tema: “Igreja, comunidade de comunidades”, uma da quarta urgência das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (2011-2015), foi aprofundada, pelo Pe. Laudelino Neto, que ainda contou com as contribuições dos Padres Ademir Amaral e Paulo Souza, da Diocese de Ilhéus. Foi abordado: “As comunidades articuladas entre si, na partilha da fé e na missão, elas se unem, dando lugar a verdadeiras redes de comunidades. E entre estas experiências encontram-se as Comunidades Eclesiais de Base e outras formas de novas comunidades, cada uma vivendo o seu carisma, assumindo a missão evangelizadora de acordo com a realidade local e se articulando de modo a testemunhar a comunhão na pluralidade”.
Uma profunda e rica avaliação foi realizada com a participação de todos os presentes, ressaltando o importante momento vivenciado durante o 6º Nordestão, mas também o enorme trabalhorealizado pelas equipes locais e assessores. Se levantou a necessidade de uma maior participação e envolvimento do Regional Nordeste III como um todo no processo de construção. Mas por fim todos reconheceram a riqueza do encontro.
Dentro dos objetivos estabelecidos para esta Ampliada foi realizada a eleição da nova coordenação regional. Ana Maria Santos a atual coordenadora conduziu os trabalhos durante este período de maneira muito organizada e com muito afinco e responsabilidade, e agora chega a vez de novas pessoas assumirem a tarefa. Ela ainda lembra que não é trabalho só da coordenação animar e dinamizar a caminhada, mas é todos aqueles que sonham e vivenciam o espírito das CEBs.
A nova coordenação do Regional Nordeste ficou assim definida:
Coordenador: Tiago Santos de Aragão – Diocese de Ruy Barbosa/BA;
Vice Coordenadora: Irenir de Jesus – Arquidiocese de Aracajú/SE;
1ª Secretária: Valdenilza Marques da Silva – Diocese de Bom Jesus da Lapa/BA;
2ª Secretária: Iône Silva dos Santos – Arquidiocese de São Salvador/BA;
Tesoureira: Ana Maria dos Santos Santos – Diocese de Ilhéus/BA.
A equipe de Assessores:
Mônica Maria Muggler – Diocese de Barra/BA;
Pe. José Carlos SDV – Diocese de Irecê/BA;
Pe. Luís Miguel – Diocese de Ruy Barbosa/BA;
Pe. Paulo Silva – Diocese de Jequié/BA;
Pe. Vicente Nascimento – Diocese de Bom Jesus da Lapa/BA.
Por fim definiu-se que a próxima reunião da Ampliada Regional acontecerá nos dias 22 a 24 de fevereiro de 2013 na Arquidiocese de Feira de Santana-BA, com local a definir.
Ao final do encontro foi importante perceber que mesmo diante de muitas dificuldades, desafios, ainda conseguimos nos animar e manter o espírito de solidariedade e a bandeira de luta das CEBs erguida e conduzida com muita esperança rumo a uma Nova Sociedade possível.
Todas e Todos rumo ao 13º Intereclesial. Crato que nos aguarde, e como nos diz Dom Pedro Casaldáliga: “Mãe das Dores e das Alegrias, ensinai-nos a sermos CEBs romeiras do Reino, no campo e na cidade, fermento de justiça, de profecia e de esperança pascal”.
Texto: Haroldo Heleno – Assessor Diocesano das CEBs/Itabuna
México, um país traumatizado à espera de uma saída
As imagens de cadáveres decapitados, incendiados, de
corpos mutilados dependurados em pontes e viadutos principalmente das
cidades do norte continuam se sucedendo. Os mexicanos esperam, sem muita
esperança, que alguma coisa mude. Esse é o México – um país
profundamente traumatizado pela maré de sangue, e que continua tão
desigual como sempre, com abismos sociais profundos – que Calderón deixa
a Peña Nieto
Cidade do México - Faltando poucos dias para passar a presidência
ao sucessor, Felipe Calderón trata de mostrar os bons números obtidos
durante os seis anos de seu governo. Segunda economia e segunda maior
população da América Latina, o México de Calderón – segundo ele –
cresceu e melhorou. No seu governo foram criados dois milhões e 200 mil
empregos. Só este ano, entre janeiro e outubro foram criados 865 mil
empregos formais. No mesmo período, o país produziu dois milhões e 400
mil automóveis, e exportou um milhão e 900 mil. É a maior marca
alcançada em dez meses. A economia terá crescido, em 2012, entre 3,5 e
4%. A inflação prevista é de 4%. As projeções do Banco Central mexicano
para o ano que vem indicam um crescimento de entre 3 e 4% na economia, e
uma inflação que rondará a casa dos 3%.
Calderón diz que está deixando a presidência ‘muito contente’, entre outras razões por ter construído e modernizado 21 mil quilômetros de estradas. Aumentou as exportações para a América Latina (embora o mercado norte-americano continue consumindo 80% de tudo que o México exporta), além de melhorar e ampliar a capacidade de geração de energia elétrica. Menciona tudo isso e vai somando um sem-fim de outros resultados formidáveis.
Até aí, e considerando que sejam números reais, tudo bem. Mas convém lembrar outros dados. O preço dos alimentos, por exemplo, subiu em média 15,6% este ano. A qualidade da educação, avaliada por especialistas mexicanos, caiu. A dependência do comércio com os Estados Unidos – e, portanto, da economia norte-americana – aumentou. E o peso político do país na América Latina continuou caindo.
Tudo isso é, certamente, parte importante das preocupações de Enrique Peña Nieto, que assume a presidência levando de volta o PRI – o Partido Revolucionário Institucional – ao poder, depois de doze anos de governos do PAN, o Partido de Ação Nacional, com vasta e profunda tradição conservadora.
Peña Nieto, que ora parece um boneco falante, ora um bobalhão de topete engomado, promete surpreender. Diz que representa o ‘novo PRI’, mas todos no México sabem que o PRI é, além de uma federação de interesses regionais, nem sempre dos mais nobres, um emaranhado de raízes profundas e poderes muito poderosos.
Nada, porém, se equipara ao legado mais marcante e visível que Felipe Calderón deixa ao sucessor: a violência incontrolável, que nasceu com sua esdrúxula decisão de declarar guerra aberta aos cartéis que controlam o maior negócio do país, o tráfico de cocaína para o maior mercado consumidor do mundo, os Estados Unidos.
Não há certeza sobre os números, mas se dá por descontado que nessa guerra entre forças armadas e quadrilhas de traficantes, e que acabou abrindo espaço para outra, paralela, entre os próprios cartéis, foram mortos, em seis anos, pelo menos 60 mil mexicanos. Dez mil por ano. Por dia, 27. Mais de um por hora. Calderón nega, de pés juntos, que seu ‘plan anti-narco’ tenha causado a morte de inocentes. Não reconhece que, na maré da guerra contra os narcotraficantes, grupos paramilitares aproveitaram para liquidar dirigentes camponeses, dirigentes indígenas, dirigentes sociais – pelo menos dois mil, que não entram na conta dos mortos da guerra aberta do governo contra os cartéis.
É verdade que importantes chefões foram abatidos ou presos. Mas também é verdade que em seguida foram substituídos por outros, cada vez mais violentos. E a melhor prova de que essa ação não prejudicou em nada o tráfico de drogas é que, no mercado norte-americano, o preço da cocaína não subiu. Ou seja, o mercado não deixou de ser abastecido com a regularidade de sempre.
Esse é o México – um país profundamente traumatizado pela maré de sangue, e que continua tão desigual como sempre, com abismos sociais profundos – que Calderón deixa a Peña Nieto.
O novo presidente, que assume no primeiro dia de dezembro, até agora não esclareceu o que pretende fazer com a frustradíssima e bárbara política de segurança pública que vai herdar.
Já com relação ao que pretende fazer com a PEMEX, a estatal de petróleo, foi furtivo e melífluo. Primeiro, insinuou que poderia abrir parte do capital da empresa à iniciativa privada. Depois, a investidores estrangeiros. Roçou a possibilidade de privatizar parte dos ativos da empresa. E no final, disse que estava estudando uma estratégia adequada para dinamizar esse mastodonte estacionado no tempo, eterna fonte de desvios e negociatas, e preservar da melhor maneira possível um patrimônio que é de todos os mexicanos. Entre uma declaração e outra, não disse o que pretende fazer.
Com os Estados Unidos haverá uma aproximação mais forte e fecunda. Ou seja, a dependência vai aumentar. Com o resto da América Latina, vai fortalecer os laços com a Colômbia, com o Chile e com o Peru. Ou seja, vai tentar isolar o Mercosul e ajudar Washington a se fortalecer diante das pressões de países como o Brasil.
Tudo isso começa a acontecer no dia primeiro de dezembro, num país sacudido por uma violência bárbara, que parece cada dia mais longe do fim. As imagens de cadáveres decapitados, incendiados, de corpos mutilados dependurados em pontes e viadutos principalmente das cidades do norte continuam se sucedendo. Os mexicanos esperam, sem muita esperança, que alguma coisa mude.
Calderón diz que está deixando a presidência ‘muito contente’, entre outras razões por ter construído e modernizado 21 mil quilômetros de estradas. Aumentou as exportações para a América Latina (embora o mercado norte-americano continue consumindo 80% de tudo que o México exporta), além de melhorar e ampliar a capacidade de geração de energia elétrica. Menciona tudo isso e vai somando um sem-fim de outros resultados formidáveis.
Até aí, e considerando que sejam números reais, tudo bem. Mas convém lembrar outros dados. O preço dos alimentos, por exemplo, subiu em média 15,6% este ano. A qualidade da educação, avaliada por especialistas mexicanos, caiu. A dependência do comércio com os Estados Unidos – e, portanto, da economia norte-americana – aumentou. E o peso político do país na América Latina continuou caindo.
Tudo isso é, certamente, parte importante das preocupações de Enrique Peña Nieto, que assume a presidência levando de volta o PRI – o Partido Revolucionário Institucional – ao poder, depois de doze anos de governos do PAN, o Partido de Ação Nacional, com vasta e profunda tradição conservadora.
Peña Nieto, que ora parece um boneco falante, ora um bobalhão de topete engomado, promete surpreender. Diz que representa o ‘novo PRI’, mas todos no México sabem que o PRI é, além de uma federação de interesses regionais, nem sempre dos mais nobres, um emaranhado de raízes profundas e poderes muito poderosos.
Nada, porém, se equipara ao legado mais marcante e visível que Felipe Calderón deixa ao sucessor: a violência incontrolável, que nasceu com sua esdrúxula decisão de declarar guerra aberta aos cartéis que controlam o maior negócio do país, o tráfico de cocaína para o maior mercado consumidor do mundo, os Estados Unidos.
Não há certeza sobre os números, mas se dá por descontado que nessa guerra entre forças armadas e quadrilhas de traficantes, e que acabou abrindo espaço para outra, paralela, entre os próprios cartéis, foram mortos, em seis anos, pelo menos 60 mil mexicanos. Dez mil por ano. Por dia, 27. Mais de um por hora. Calderón nega, de pés juntos, que seu ‘plan anti-narco’ tenha causado a morte de inocentes. Não reconhece que, na maré da guerra contra os narcotraficantes, grupos paramilitares aproveitaram para liquidar dirigentes camponeses, dirigentes indígenas, dirigentes sociais – pelo menos dois mil, que não entram na conta dos mortos da guerra aberta do governo contra os cartéis.
É verdade que importantes chefões foram abatidos ou presos. Mas também é verdade que em seguida foram substituídos por outros, cada vez mais violentos. E a melhor prova de que essa ação não prejudicou em nada o tráfico de drogas é que, no mercado norte-americano, o preço da cocaína não subiu. Ou seja, o mercado não deixou de ser abastecido com a regularidade de sempre.
Esse é o México – um país profundamente traumatizado pela maré de sangue, e que continua tão desigual como sempre, com abismos sociais profundos – que Calderón deixa a Peña Nieto.
O novo presidente, que assume no primeiro dia de dezembro, até agora não esclareceu o que pretende fazer com a frustradíssima e bárbara política de segurança pública que vai herdar.
Já com relação ao que pretende fazer com a PEMEX, a estatal de petróleo, foi furtivo e melífluo. Primeiro, insinuou que poderia abrir parte do capital da empresa à iniciativa privada. Depois, a investidores estrangeiros. Roçou a possibilidade de privatizar parte dos ativos da empresa. E no final, disse que estava estudando uma estratégia adequada para dinamizar esse mastodonte estacionado no tempo, eterna fonte de desvios e negociatas, e preservar da melhor maneira possível um patrimônio que é de todos os mexicanos. Entre uma declaração e outra, não disse o que pretende fazer.
Com os Estados Unidos haverá uma aproximação mais forte e fecunda. Ou seja, a dependência vai aumentar. Com o resto da América Latina, vai fortalecer os laços com a Colômbia, com o Chile e com o Peru. Ou seja, vai tentar isolar o Mercosul e ajudar Washington a se fortalecer diante das pressões de países como o Brasil.
Tudo isso começa a acontecer no dia primeiro de dezembro, num país sacudido por uma violência bárbara, que parece cada dia mais longe do fim. As imagens de cadáveres decapitados, incendiados, de corpos mutilados dependurados em pontes e viadutos principalmente das cidades do norte continuam se sucedendo. Os mexicanos esperam, sem muita esperança, que alguma coisa mude.
Eric Nepomuceno
Fonte: Carta Maior
Por obra da Copa, Metrô derruba parte de favela e deixa 200 famílias vivendo entre escombros
Moradores das favelas Buraco Quente e Comando estão sendo removidos para dar lugar a obra da Copa
Cerca de 200 famílias estão vivendo há pouco mais de dois meses entre escombros de casas demolidas, entulho e lixo gerados pela derrubada de casas desapropriadas na zona sul de São Paulo pelo Metrô. As demolições estão sendo feitas na margem da avenida Jornalista Roberto Marinho, para limpar um terreno que será ocupado pela Linha 17-Ouro do Metrô, obra que faz parte do planejamento do governo paulista para a Copa do Mundo de 2014.
De acordo com o plano de trabalho da obra, serão removidas do local cerca de 400 famílias das favelas Buraco Quente, Comando e Buté. O terreno, ocupado por seus residentes há 40 anos, é público. Por tratarem-se de famílias em condição de vulnerabilidade social, o governo paulista oferece uma indenização para quem for removida. O valor vai de R$ 43 mil a R$ 85 mil, de acordo com o Metrô.
OBRA PRONTA NO MEIO DA COPA
-
O contrato firmado entre o governo do Estado de São Paulo e o
consórcio responsável pela construção da Linha 17 do metrô, prevista
para fazer a ligação entre o aeroporto de Congonhas e a rede CPTM de
trens metropolitanos, determina que a obra tem que ser entregue até o
dia 27 de junho de 2014, ou seja, 15 dias após o início da Copa do Mundo
de 2014.
Assim, as cerca de 200 famílias que ainda habitam o local, ou por não terem concordado com a indenização proposta, ou por aguardarem a sua vez no processo de desapropriação, estão vivendo entre escombros que remetem a um bairro sob bombardeio. Na região, crianças estão circulando entre vigas metálicas retorcidas e paredes parcialmente demolidas.
É o caso da aposentada Teresinha Alves dos Santos, 63, que mora em um pequeno cômodo com seus três netos. Todas as casas em volta da sua foram demolidas. Teresinha ainda não deixou o imóvel onde mora há 30 anos porque, apesar de ser separada há 25 anos, ainda é oficialmente casada, e seu (ex-) marido, com quem não tem qualquer contato, possui um imóvel no Estado de Pernambuco.
"Então, quando vieram aqui falar para as pessoas saírem, me disseram que eu não teria direito a indenização, porque eu tenho uma casa em Pernambuco, mas eu nem sei que casa é essa", conta a aposentada, que recebe um salário mínimo por mês após trabalhar no setor de limpeza por 30 anos. "Então, quem morava do meu lado foi embora, e quebraram todas as casas. Eu fiquei sozinha, com as crianças".
Teresinha não teria outra alternativa a não ser ir morar na rua com seus três netos, não fosse a atuação do líder comunitário Geílson Sampaio, que nasceu e cresceu no Buraco Quente, e está ajudando a aposentada a concretizar oficialmente seu divórcio para, assim, poder pleitear a indenização. "Estamos tentando ajudar as pessoas nessa e em outras condições semelhantes, porque quem não souber quais são seus direitos vai acabar na rua, sem nada", diz Sampaio.
Outro que ainda não abandonou sua casa é o vigilante Josivaldo José da Silva, 35, pai de um menino de 10 anos. Segundo ele, a indenização que foi oferecida à família não é suficiente para adquirir um imóvel na região. mas meu filho estuda aqui, como que eu vou sair e ir pra outro lugar da cidade no meio do ano escolar dele?", indaga o vigilante, que mora no Buraco Quente há 15 anos.
O Metrô informa que a Coordenadoria de Atendimento à Comunidade-CAC está à disposição das famílias que necessitarem de acompanhamento ou apoio durante o processo de desapropriação..
A Coordenadoria atende nos telefones 11 3111-8555/ 8559/ 8742 e 8565, no horário comercial, e pelo site www.metro.sp.gov.br/fale conosco.
Vinícius Segalla
Do UOL, em São Paulo
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Só o PCC ameaça São Paulo?
Breve dossiê revela: onda de assassinatos que
apavora Estado foi iniciada e radicalizada pela PM. Governo Alckmin
omite-se. Mídia silencia
I.
Ao descrever, num ensaio recente (breve em português, em Outras Palavras),
a situação tormentosa vivida pela Grécia, o jornalista Paul Mason, da
BBC, recorre à história da Alemanha, às portas do nazismo. Só uma
sucessão de erros crassos, mostra ele, pôde permitir que Hitler chegasse
ao poder. Mas havia algo sórdido por trás destes enganos. Embora não
fosse conscientemente partidária do terror, a maior parte das elites
alemãs desejava o autoritarismo, pois já não conseguia tolerar o ambiente democrático da república de Weimar.
As circunstâncias são distintas: não há risco de fascismo no cenário
brasileiro atual. Mas é inevitável lembrar de Mason, e de sua observação
sobre a aristocracia alemã, quando se analisa a espiral de violência
que atormenta São Paulo há cinco meses. Em guerra com a facção criminosa
Primeiro Comando da Capital (PCC), parte da Polícia Militar está
envolvida numa onda de assassinatos que já fez dezenas de vítimas, elevou em quase 100% o índice de homicídios no Estado e aterroriza as periferias. Pior: a escalada foi iniciada (e é mantida e aprofundada) por integrantes da própria PM, a força que deveria garantir a segurança e o cumprimento da lei no Estado. Mas apesar de inúmeras evidências, o governo do Estado não age para refrear tal atitude. E a mídia omite, ao tratar da onda de mortes, a participação e responsabilidade evidentes da polícia. É como se tivessem interesse em manter, em São Paulo, um corpo armado, imune à lei e ao olhar da opinião pública, capaz de se impor à sociedade e diretamente subordinado a um governador cujos laços com a direita conservadora são nítidos.
Para ocultar o papel de parte da PM na avalanche de brutalidade, a mídia criou um padrão de cobertura. As mortes de autoria do PCC são noticiadas, corretamente, como assassinatos de PMs. Informa-se que o número de crimes deste tipo cresce de modo acelerado — já são 90 vítimas, este ano. Mas se associa a insegurança que passou a dominar o Estado apenas a estes atos. Também informa-se sobre parte das mortes praticadas pela PM — seria impossível escondê-las por completo. No entanto, aceita-se, sempre sem investigação jornalística alguma, a versão da polícia: morreram “em confronto”, depois de terem reagido.
Este estratagema permite silenciar sobre três fatos essenciais e gravíssimos: a) parte da PM abandonou seu compromisso com a lei e a ordem pública e passou a agir à moda de um grupo criminoso, colocando em risco a população e a grande maioria dos próprios policiais, honestos e interessados em cumprir seu papel; b) diante desta subversão do papel da PM, o comando da corporação e o governo do Estado estão, ao menos, omissos; c) procura-se preservar este estado, evitando, recorrentemente, caracterizar a atitude do setor criminoso da polícia e, muito menos, puni-lo.
II.
Algumas iniciativas permitiram, nos últimos dias,
começar a quebrar a cortina de silêncios e omissões. O jornalista Bob
Fernandes, editor-chefe do Terra Magazine, sustentou, num comentário corajoso,
em noticiário da TV Gazeta, que havia algo além do crime organizado,
por trás da onda de assassinatos. “Rompeu-se um pacto entre polícia
militar e PCC”, frisou Fernandes — e atribuiu a esta ruptura tanto a
“guerra” entre os dois grupos como a espiral de morte que se seguiu. “Criminosos
matam de um lado? Vem a resposta: alguns, quase sempre em motos, com
munição de uso exclusivo de forças policiais, dão o troco e também
matam.”
A fala do editor do Terra Magazine teve o mérito de romper o consenso
que a mídia fabricava, até então, em torno de uma explicação
inconsistente. Mas a que se referiria ele, ao mencionar, em linguagem
quase enigmática, a ruptura de um pacto?Uma das pistas, para encontrar a resposta, é seguir o fio da meada da onda criminosa. Quando ela teria começado? Por quais motivos? Entre o final de maio e o presente, os jornais estão fartos de notícias sobre os assassinatos, sempre no padrão descrito acima. Mas não é difícil encontrar um ponto de inflexão, o momento a partir do qual o cenário se transforma.
Ele situa-se precisamente em 29 de maio. Nesta data, quando ainda não adotava a confirmação sem checagem das versões da Polícia Militar, O Estado de S. Paulo registra um massacre. Seis pessoas foram mortas pela ROTA, uma unidade da PM conhecida pela truculência. Estavam num estacionamento, próximo à favela da Taquatira, Zona Leste da capital. Foram vítimas de um comando constituído por 26 policiais. A própria PM afirmou, na ocasião, que eram integrantes do PCC. Alegou-se que estariam reunidas (num estacionamento?) para “traçar um plano de resgate de um preso”. Segundo as primeiras versões, teriam “atirado contra os policiais”. Apesar de numerosas (segundo a PM, 14 pessoas, das quais três foram capturadas e cinco fugiram), e “fortemente armadas”, nenhum soldado sequer se feriu.
Esta versão fantasiosa foi desmentida logo em seguida. Pouco depois da ação policial, um dos mortos “em confronto” seria executado a sangue frio, por parte dos PMs que haviam participado da operação. Os assassinos agiram em pleno acostamento da rodovia Ayrton Senna, e em área habitada. Uma testemunha presenciou o crime e o denunciou, enquanto acontecia, pelo telefone 190. A sensação de impunidade dos assassinos levou-os a ser fotografados pela próprias câmeras de vigilância da estrada. Nove dos 26 policiais foram presos, horas depois. Destes, seis foram soltos em dois dias. Três — apenas os que teriam praticado diretamente a execução — permaneceram detidos. Não é possível encontrar, nos jornais, informações sobre sua situação atual.
Atingido, o PCC reagiu recorrendo, embora em escala limitada, ao método que marcou sua atuação em 2006. Na região de Cidade Tiradentes, uma das mais pobres da cidade e local de moradia de um dos mortos, o grupo obrigou a população a um toque de recolher no dia do enterro do comparsa, 31 de maio. Tiveram de fechar as portas, entre outras, as escolas municipais Adoniran Barbosa e Wladimir Herzog… Mas, também repetindo o que fizera em 2006, a facção não se limitou a isso. Começaria, logo em seguida, a longa série de assassinatos de policiais militares.
No ano passado, 47 PMs paulistas foram mortos, em serviço ou suas folgas. Não é um número excepcional, para uma corporação que reúne quase 100 mil soldados, exerce atividade de risco e vive sob tensão permanente (o índice anual de suicídios é muito próximo ao das vítimas de homicídio). Em 2012, tudo mudou. Até o incidente fatídico de 29/5, haviam sido contabilizadas 29 mortes de PMs — pouco acima da média registrada no ano anterior. Entre 29/5 e 4/11, os ataques disparam. São 61 novos assassinatos, em apenas cinco meses. Há casos dramáticos: uma policial morta diante de sua filha; um garoto assassinado apenas por ser filho de policial, ocasiões em que as próprias bases da PM são atacadas. Inúmeros relatos narram a situação de pânico vivida por milhares de soldados honestos, cuja vida foi subitamente colocada em risco numa “guerra” provocada por uma minoria.
Mas aos poucos — e aqui começa um dos pontos mais obscuros de todo o episódio –, a PM parece inclinar-se em favor de sua banda violenta. Além de ter provocado o PCC à luta no final de maio, num ataque cujo caráter criminoso está demonstrado, a polícia paulista empenhou-se, nos meses seguintes, em tornar a disputa cada vez mais sangrenta e mais letal para a população civil.
Alguns episódios são emblemáticos desta tendência e da barbárie produzida por ela. Em 10 de outubro, por exemplo, um soldado de 36 anos foi executado em Taboão da Serra, oeste da Grande São Paulo. Dois homens dispararam seis tiros em seu corpo. Nas horas seguintes, no mesmo município, nove pessoas foram assassinadas. Duas delas foram vítimas da ROTA — execuções, segundo testemunhas. As sete outras, em circunstâncias nunca esclarecidas, mas muito assemelhadas às descritas por Bob Fernandes, em seu comentário recente. Poucos dias antes, na Baixada Santista, um outro episódio, em condições muito semelhantes, deixou, em cinco dias, um rastro de quinze mortos. Em nenhum destes casos houve investigações sobre o comportamento dos policiais — nem por parte de seus pares, nem da mídia…
A esta altura é perturbador, porém inevitável, traçar um paralelo. Radicalizar ao máximo a guerra contra o PCC; afogar o “inimigo” em sangue, sem se importar com o risco de atingir a população como um todo, foi a estratégia que prevaleceu na PM em 2006, quando a força enfrentou pela primeira vez o grupo criminoso. Entre 12 e 20 de maio daquele ano, mais de 500 pessoas foram assassinadas em chacinas e execuções na capital, região metropolitana, interior e litoral de São Paulo. A grande maioria não tinha relação alguma com o PCC, como denunciam, desde então, as Mães de Maio. Adotou-se aparentemente a ideia de que deflagrar terror indiscriminado contra a população forçaria o grupo criminoso a recuar, temeroso de perder apoio de suas bases sociais.
III.
Um personagem destacado é comum aos episódios de 2006 e
aos de hoje: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Não estava
diretamente à frente do Palácio dos Bandeirantes, durante a primeira
rebelião do PCC (deixara o posto um mês antes, para concorrer à
presidência da República). Mas havia governado o Estado nos seis anos
anteriores e executara uma política de segurança considerada ao mesmo
tempo brutal e ineficiente. Sua ligação com os acontecimentos ficou
patente ao abandonar, de modo abrupto, uma entrevista em que jornalistas
britânicos (ao contrário da grande mídia brasileira) questionaram-no
sobre o ocorrido.
Apontado como membro da organização ultra-direitista Opus Dei, até mesmo por integrantes de seu partido (o PSDB), Alckmin é visto, por parte da elite brasileira, como uma liderança importante a preservar. As declarações que tem dado, desde maio, em favor das posições mais belicosas e agressivas, no interior da PM, são eloquentes.
Falta muito a apurar, na trilha tenebrosa e caótica para a qual descambou a segurança (?) pública em São Paulo, desde maio. Por que, após uma tentativa fugaz de investigar ações ilegais e criminosas de parte de seus integrantes, a PM desistiu do esforço? Que levou a imprensa — que também denunciou a truculência, num primeiro momento — a silenciar e a repetir, desde junho, uma versão insustentável? Um setor de policiais especialmente violento terá conseguido impor sua postura? De que forma estarão envolvidos o governador e a imprensa?
O certo é que, para interromper a escalada sangrenta, a sociedade precisa agir — o quanto antes
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