terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Rumo ao 13º Intereclesial: Frei Gilvander Luiz Moreira

Frei e padre carmelita; mestre em Exegese Bíblica; professor no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA/BH e no Seminário da Arquidiocese de Mariana, MG; assessor da CPT, CEBI, SAB e Via Campesina

No ano dos 50 anos do Concílio Vaticano II, rumo ao 13º Intereclesial das CEBs - Comunidades Eclesiais de Base - no Ceará, em Crato, atual estação central do trem das CEBs, aconteceu de 23 a 26 de janeiro de 2012 mais um Seminário Nacional das CEBs, com o tema: Justiça e Profecia a serviço da vida, e o lema: CEBs, romeiras do reino no campo e na cidade.

Foi uma beleza a convivência fraterna, a reflexão, a visita ao Caldeirão do beato Zé Lourenço e os fachos de luzes acesos para guiar a marcha do trem das CEBs rumo ao 13º Intereclesial de CEBs que acontecerá de 7 a 11 de janeiro de 2014 em Juazeiro do Norte, CE, terra do padre Cícero e do povo resistente como juazeiro e mandacaru.

Do Seminário das CEBs participaram mais de 100 assessores/ras e representantes das CEBs de todos os estados do Brasil. Durante o Seminário, vi e ouvi muitas belezas espirituais e proféticas. Abaixo, farei referências a algumas.

Em 1984, enquanto eu fazia o noviciado dos frades Carmelitas, no Pernambuco, fomos de pau-de-arara, de Camocim de São Félix, PE, ao Juazeiro do Norte, CE, para conviver com o povo devoto do Padre Cícero durante uma semana. Foi um banho de religião popular que mexe nas cordas mais profundas do humano do povo simples. Passaram-se 28 anos e, eis-me, novamente passando por Juazeiro do Norte. A primeira coisa que me chamou a atenção é o quanto a cidade cresceu e está em franco desenvolvimento, "só para uma minoria”, me alertaram. Transito já ficando caótico. Carretas lotadas de automóveis, faculdades, lojas de transnacionais, shopping etc.

Lá na região do Cariri, Dioceses de Crato e Iguatu, além de automovelatria, eu vi motolatria, ou seja, idolatria de motocicletas. Parece que há mais moto circulando do que automóveis. Jumentos e cavalos estão sendo aposentados. Até para tanger o gado no pasto se usa moto. Geralmente duas ou três pessoas em cada moto, às vezes, uma criança prensada entre dois adultos. Nas cidades menores, vi muitos motoqueiros circulando sem capacete. Muitos me disseram que as UTIs dos hospitais de Fortaleza estão ficando lotadas de motoqueiros acidentados. Um jovem me disse: "Uma mãe aposentada, pegou dinheiro emprestado no banco e comprou uma moto. Pagou 400 reais de transportadora para levar a moto até São Paulo. O filho, de 19 anos, 15 dias após receber a moto, na capital de São Paulo, bateu a moto e morreu. A mãe perdeu o filho, ficou com uma dívida de 5 mil reais que será descontada na sua aposentadoria de salário-mínimo durante uns 3 anos. E mais, ficou com sentimento de culpa por ter, segundo ela, contribuído para a morte do filho. Ela queria ajudar o filho a sobreviver na capital, mas ...” Motolatria! Eis uma questão de saúde pública que deve ser abraçada pela Campanha da Fraternidade de 2012.

Na Abertura do Seminário Nacional das CEBs foi reconfortante ver e ouvir o bispo da Diocese do Crato, dom Fernando Panico, em uma alocução de várias páginas, defender com firmeza a grandeza espiritual e profética das CEBs. "Não podemos aceitar que as CEBs sejam reduzidas a um movimento ou a uma pastoral. As CEBs são um jeito de ser igreja que testemunha a luta pela justiça e profecia no campo e na cidade”, afirmou com firmeza dom Fernando.

Na manhã do dia 24, ao refletir sobre Justiça e Profecia no campo, Roberto Malvezzi, o Gogó, com clareza de sol ao meio-dia, fez uma retrospectiva dos problemas e desafios que temos a partir do campo, hoje. "Estamos vivendo uma mudança de época. Compreendemos que o nosso planeta se comporta como um ser vivo, Gaia. A capacidade cientifica nos permite ver o planeta como nunca vimos antes. A terra é dinâmica e não estática, passou por várias etapas, por eras glaciais e atualmente tem os oceanos e atmosfera. Temos que defender os seres vivos e não a vida em abstrato. O aprisionamento da terra é o pecado original brasileiro. Nascemos com as capitanias hereditárias, impostas pelos portugueses. Fomos organizados no tripé: a grande propriedade da terra, as grandes monoculturas e o trabalho escravo. Isso pressupõe ataque aos territórios indígenas, importação de milhões de escravos da África. A CPT tem um carinho especial por padre Cícero, o cearense do século XX (nasceu em 24/03/1844 e morreu em 20/07/1934, aos 90 anos) e por padre Ibiapina (1806-1883). Este nasceu no sertão, o pai foi morto, o irmão preso, foi seminarista, advogado, deputado, delegado, juiz, se ordenou padre, tornou-se missionário, organizador dos pobres - Casas de Caridade, Beatos, Movimentos Sociais – teve as Primeiras Comunidades cristãs como referência. Assim, Ibiapina foi precursor e pioneiro do extenso Projeto de Convivência como Semiárido, em construção há décadas pelo povo pobre das CEBs, das pastorais sociais e por centenas de movimentos populares”.

Exemplo vivo de Convivência com o Semiárido vimos no Projeto Solari que está sendo implementado pela Cáritas, CEBs e vários outros movimentos populares em cinco comunidades rurais do município de Crato: mandalas, hortas comunitárias, quintais produtivos, rádios comunitárias, energia solar, resgate da cultura camponesa, teatro popular... Que beleza!

Na tarde do dia 24, ao refletir sobre Justiça e Profecia na cidade, Alba Carvalho, socióloga da UFC, abordou o desafio de compreender o panorama urbano hoje: a exigência de atualização da questão urbana no Brasil do século XXI. O processo de urbanização aconteceu muito rápido e aprofundou a desigualdade e exclusão nas cidades. Há segregação socioterritorial, "duas cidades”: a) oficial – produzida a partir das imposições do capital fundiário e imobiliário: bairros nobres, shoppings e condomínios de luxo; b) real - imposta e desprotegida; ocupação inadequada. "Vivemos um novo momento de expansão sem limites do sistema do capital, de mercantilização exacerbada, de consumismo sem medidas, nos marcos da chamada "mundialização com dominância financeira, em meio ao furacão de uma crise estrutural do capital”, advertiu Alba.

Ainda no dia 24, diante da crise ética, padre Manfredo Oliveira, refletiu sobre o desafio de articulação de uma nova ética. "O ser humano perdeu a capacidade de agir por si mesmo. A modernidade é firmada por uma trindade: a Ciência, Tecnologia e o Capitalismo. Estamos vivendo uma época de apocalipse ecológico e apocalipse social. Um modelo econômico baseado no lucro é completamente antiético”, disse Manfredo conclamando todos/as para um esforço de tradução das exigências éticas na esfera da vida coletiva. Defendeu, enfim, uma ética da integração universal.

Na manhã do dia 25, padre Marins e Irmã Teolide Maria partilharam conosco um pouco dos 40 anos de trabalho pastoral na Equipe das CEBs "Missão na América Latina e Caribe”. São itinerantes, vão conhecendo as realidades convivendo com as famílias, vivendo os imprevistos, convivendo com os pobres, passando por tudo o que eles passam, compreendendo a mística de cada realidade e cada momento. "Cada pessoa é uma palavra de Deus que não se repete!”

Na parte da tarde do dia 25, Rafael Rodrigues e Irmã Mercedes refletiram conosco sobre Profecia na Bíblia: justiça e profecia a serviço da vida. O que é profecia e ser profeta/isa? O que é justiça e ser justo? Profetas e profetisas, na Bíblia, foram mulheres e homens em um lugar concreto, em um determinado contexto, foram intérpretes da situação sociopolítica e religiosa do seu tempo; convidam à agir; apresentam um projeto: volta ao modelo tribal, a uma vida de partilha; aparecem como porta-vozes da comunidade.

Após uma belíssima retrospectiva sobre a Profecia na Bíblia, com destaque para Raab (Js 2,1-24), Rafael e Mercedes terminaram alertando: "Vejamos o que está por trás da palavra escrita! Perder a memória é perder a identidade. Não deixemos cair a peteca da profecia.”

Na manhã do dia 26, visitamos o Caldeirão, palco de uma comunidade que resistiu de 1926 a 1936, sob a liderança do beato Zé Lourenço. Tudo em comum, portas abertas aos flagelados da seca e da cerca, orar e trabalhar, fé em Deus e amor ao próximo. Eis alguns dos valores proféticos vivenciados no Caldeirão que chegou a ter uma população de cinco mil pessoas. No Caldeirão, os famintos eram acolhidos, enquanto o governo do Ceará construía campos de concentração para prender os flagelados da seca/cerca. Mas ao despontar-se como um "Novo Canudos”, Caldeirão foi reprimido pelas forças militares, "inclusive com bombardeio aéreo”, muitos denunciam.

Sob as bênçãos de padre Cícero, padre Ibiapina, beato Zé Lourenço e do povo resistente do Cariri, encerramos o Seminário das CEBs. Voltamos para nossas bases com a tarefa de ajudar na caminhada das CEBs e na preparação para o 13º Intereclesial das CEBs, que, como eu disse no início, acontecerá de 7 a 11 de janeiro de 2014, em Juazeiro do Norte, no Ceará. Eis, assim, as CEBs nos trilhos da profecia e da justiça, no campo e na cidade.

Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2012.

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Como complemento ao exposto, acima, segue, abaixo, 9 vídeos gravados por Gilvander Moreira e 2 vídeos-documentários assistidos durante o Seminário Nacional das CEBs, em Crato, Ceará, de 23 a 26 de janeiro de 2012.

1) Caldeirão do beato Zé Lourenço - Documentário da TV Assembleia do Ceará


2) No Caldeirão, Ceará, Padre Vilecy: memória da luta e da resistência do Caldeirão - 26/01/2012 -


3) Caldeirão de Zé Lourenço: nova Canudos? Pe. Anastácio, Nininha e Júlio - 26/01/2012 -


4) Projeto Solari - Cáritas da Diocese de Crato, no Ceará - 04/02/2012 -


5) Roberto Malvezzi fala sobre Justiça a partir da terra em Seminário Nac das CEBs - 24/01/2012 -


6) Roberto Malvezzi reflete no Seminário Nac das CEBs rumo ao 13o Intereclesial - 24/01/2012 -


7) Dom Fernando Panico fala sobre a Importância das CEBs - Rumo ao 13o Intereclesial - 24/01/2012 -


8) Entrevista com Dom João Costa, bispo de Iguatu, CE - Igreja povo de Deus - 22/01/2012 -


9) Noite cultural no Seminário Nac das CEBs rumo ao 13o Intereclesial - Crato, CE - 25/01/2012 -


10) Roberto Malvezzi canta no Seminário Nac das CEBs rumo ao 13o Intereclesial - 24/01/2012 -


11) Rumo ao 13o Intereclesial de CEBs Crato, CE Música Romeiro de verdade vive na fraternidade 24 01 -

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ficha Limpa


Companheiros e companheiras:

No último dia 16 de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal "determinou" que a Lei da Ficha Limpa é constitucional e deverá ser aplicada nas eleições deste ano. Isso significa que os pretendentes a prefeitos e prefeitas, vereadores e vereadoras de nossas cidades devem ter um passado que não os condene.

A Lei sancionada em 2010 no meu entender é clara e obvia: quem cometeu alguma infração não pode concorrer a um trabalho tão importante e sério como deveria ser o nosso executivo e legislativo.

Mas tudo isso, deve nos levar a uma reflexão mais profunda:

Nosso supremo é composto por 11 ministras e ministros, o final da votação foi o seguinte: 6 votos a favor e 4 contra. Até então tudo bem, quem quer ser contra está em seu direito de opininar desfavoravelmente a uma questão tão simples e importante. Mas também é importante saber que essa decisão é contrária ao povo que está farto da falta de vergonha que acontece em prefeituras, câmaras, nossas casas de legislação, execução e administração de leis e dos bens dos municipios, estados e da nação e também do distrito federal que às vezes parece uma exceção de regra, mas deveria ser exemplo.

No meu ver os 4 votos contra e suas explicações são bastante confusos, dá entender que fazer coisas erradas não significa nada, que responsabildiade e seriedade não são quesitos para representar o povo nessas instâncias de decisão. Soa estranho essa posição contrária a uma lei tão obvia. Como se diz popularmente parece que tem gente com o "rabo preso".

A demora na aplicação de uma coisa tão simples e primária, no sentido de que deveria ser o primeiro quesito para alguém que pretende a concorrer, é muito estranho.

Sabemos que daqui a pouco alguém manobra a coisa daqui, de lá e em breve rostos familiares com o passado bastante conhecido e sujo estarão novamente dando um jeito de entrar, temos que estar de olho também para que mesmo que a lei falhe ou alguém encontre um baraco ou brecha pra driblar a lei o povo não deixe se representar por gente suja.

A lei é bastante aberta, a pessoa precisa estar julgada e punida por um colegiado, a punição tem um prazo e tudo mais. São brechas para quem renunciou para não perder os direitos politicos voltar. Mas nós devemos ter bem claro que para certas coisas não tem volta. Quem roubou não pode voltar depois de oito anos para roubar novamente.

Este ano elegeremos os vereadores e vereadoras, são as pessoas mais próximas a nós ou deveriam ser. Mesmo que não tenham sido julgadas, temos que conhecer o passado e presente dessas pessoas para não colocarmos oportunistas em nossas câmaras. Essas pessoas são de nossos bairros, temos que conhece-las para depois votar. A conduta delas em nossas comunidades já dão uma idéia se irão nos representar ou só irão se utilizar desse poder para benefício próprio.

É momento de refletir, ontem mesmo era Natal, daqui uns dias Páscoa, logo será e outubro.
Abraços

Éder Aono
20/02/2012

Vaticano: Paraíso Fiscal?! Vaticano, dinheiro e guerra

Amigos (as),

Posto resportagem do jornal italiano L'Espresso, com tradução de Ranusia Barboza (uma amiga que vive em Turin). Tirem suas prórpias conclusões. Depois culpam Dan Brown por desacreditar a Santa Sé. OREMOS!!!




Vaticano, dinheiro e guerra
de Tommaso Cerno e Marco Damilano

"Entramos no IOR ('Istituto per le Opere di Religione / Instituto para as Obras de Religião), o banco da Santa Sé, que tem um patrimônio de 5 bilhões de euros e está de volta no olho do furacão. Como todos os líderes da Igreja, está em curso em uma batalha incrível entre os cardeais. Essa é uma antecipação da ampla investigação nas bancas em Espresso
(17 de fevereiro de 2012)

Publicamos abaixo um trecho da ampla pesquisa sobre o IOR e sobre os bastidores da luta em curso no Vaticano, Espresso nas bancas hoje.

Una jogada financeira crucial para o Vaticano e para o IOR. Convencer a Europa a inserir o pequeno Estado e o "banco de Deus" na "white list " dos países virtuosos. Mas também um jogo de poder entre os cardeais que tem como alvo Tarcisio Bertone, o poderoso secretário de Estado que alguém no Vaticano gostaria de substituir. Um jogo feito de documentos oficiais e arquivos secretos, de consultores financeiros e figuras estranhas se movendo nas sombras.

Por um lado, o papa e Bertone tentam na realidade apagar as sombras que encobrem o IOR por mais de trinta anos, aquele Instituto para as obras de religião terminou em muitos escândalos, que todos se lembram por Sindona, Calvi e Marcinkus e que muitos ainda consideram um "paraíso fiscal", sem controles. Enquanto à Secretaria de Estado reiterou que "não, disso no IOR não sobrou nada, nem mesmo um único empregado. Tudo é moderno e transparente". Por outro lado, sempre nos escalões superiores da Igreja, pesos pesados como o Cardeal Attilio Nicora, presidente dell'Aif (Autoridade de Informação Financeira do Vaticano), a autoridade de informação financeira do Vaticano, denunciam, no entanto, o contrário uma espécie de um sagrado golpe: a tentativa, ou seja, do Vaticano de esconder um golpe de esquecimento por trás das novas regras sobre lavagem de dinheiro do banco solicitadas pela Europa para inserir o Vaticano na chamada "white list" que daria ao IOR o status de instituição 'segura'. Para colocar uma pedra sobre o desconfortável passado. Um jogo não só financeira, portanto, dividido entre paraísos religiosos e os paraísos fiscais, onde está em jogo não apenas uma certificação europeia, mas a própria imagem de Ratzinger e do poder dos cardeais que aspiram para o seu trono.

A última palavra é do Moneyval committee. A comissão, que opera no âmbito do Conselho Europeu, decidirá em junho se o Vaticano poderá fazer parte dos países virtuosos que respeitam os procedimentos de transparência, ou será classificada como um paraíso fiscal. Os comissários chegaram à Santa Sé, e foram embora com milhares de documentos. Estão vasculhando tudos as entidades do Vaticano, com particolar atenção aos procedimentos anti-lavagem de dinheiro do IOR. O dossiê sobre a instituição tem mais de 250 páginas. E lá estão as respostas oficiais com o qual o Estado Pontifício vai tentar demonstrar que o IOR é transparente. "O Expresso" entrou no Instituto e ver os documentos.

Nesse dossiê há muitos novos dados, informações sobre as contas e procedimento que demonstrariam o esforço de Ratzinger no sentido da transparência. Mas também nós que permanecem não resolvidos. E que dividem os santos banqueiros, os técnicos e, especialmente, os cardeais, já na luta entre si na guerra acontecendo por trás das paredes leoninas, vindo à tona violentamente com o documento anônimo da suposta morte dentro de um ano do papa publicada pelo “Fatto”.

Um evento que a muitos relembrou as palavras incomuns e muito humana ditada por Bento XVI no livro-entrevista com Peter Seewald, em 2010: "Quando um papa chega à clara consciência de não ser mais capaz fisicamente e espiritualmente de desenvolver as funções lhes atribuída, então ele tem o direito e, em algumas circunstâncias, o dever de renunciar".

Joseph Ratzinger completará 85 anos em 16 de abril. Três dias mais tarde completará sete anos de pontificado.

Em público, parece lúcido e em forma, está se preparando para visitar o México e Cuba. Quem está próximo a ele repete: "Ele vai chegar ao menos à idade de Leão XIII, o papa que mais viveu do século XX, morreu aos 93 anos". No entanto, a sensação de fraqueza e vulnerabilidade que tomou conta das lideranças da Igreja não diz respeito apenas à saúde física do papa, ma a sua capacidade de guiar o leme do barco de Pedro, atingida nas últimas semanas por uma cadeia misteriosa de escândalos, cartas anônimas, até mesmo - de fato – pré-anúncios de morte.

Tudo acontece na véspera do consistório de 18 de fevereiro para a nomeação de 22 novos cardeais, entre eles 18 eleitores (com menos de 80 anos) que serão determinantes quando se votará para eleger o papa. Os homens da Cúria são 10, sete italianos, aqueles mais próximos ao secretário de Bertone Estado são ao menos três: Giuseppe Versaldi e Giuseppe Bertello, piemonteses como o número dois do Vaticano e ordenados padres pelo monsenhor Albino Mensa, que ordenou bispo Bertone, e da Ligúria Domenico Calcagno. Nesta prevalência dos bertoniani no Sagrado Colégio alguém quis ver um desafio que merecia uma resposta.

Porque tem um não dito que circula no Vaticano: é desde 1978 que sobre o trono de reina um estrangeiro, agora é a vez novamente de um italiano.

Uma situação que excita os animos, provoca os venenos, acende as aleanças. O documento publicado pelo 'Fatto' foi entregue à comitiva papal do cardeal colombiano Dario Castrillon Hoyos, o inimigo de Romeo desde quando o cardeal de Palermo foi núncio na Colômbia. "Com este documento foram atingidos três: Bertone, Scola, Romeo e mais Castrillon", raciocinam na Cúria. "Quem podia ter interesse nesta obra-prima?».

Entre os homens de Bertone um nome é sussurrado: Giovanni Battista Re, de Brescia, nascido em 1934, como Bertone, o último dos wojtylas que permaneceu em circulação, sem não mais atribuições mas ainda poderoso e com a possibilidade de acessar a eleição do novo papa. Amigo de políticos italianos de todos as vertentes, ainda hohe os freqüenta em almoços e jantares privados, no interior aos segredos vaticanos, hostil, aliás, a Bertone, mas também a Romeo, Scola e ao cardeal colombiano chamado Pasticciòn Hoyos.

Mas essa de Rei seria imprevesível reação de uma geração que desapareceu. Enquanto isso tem aquela nova que pressiona para subir na hierarquia, ambiciosa, sem escrúpulos. Representada por Mauro Piacenza, nascido em 1944, um dos mais jovens cardeais italianos, prefeito da Congregação para o Clero. Chefe do consórcio genovês, os discípulos do lendário Cardeal Giuseppe Siri, três conclaves para candidato papal parou em um passo após a eleição.

Piacenza foi seu aluno. Tem sido um amigo de Don Gianni Baget Bozzo, é um tradicionalista que celebra a Missa com as freiras de Balduina, o bairro de Roma, onde viveu um longo tempo, segundo o rito tridentino de São Pio V favorecido por Lefebvre. Um lutador prelado, que há mais de vinte anos de trabalho na Cúria do Vaticano, subiu todos os degraus, conhece todos os segredos. Recentemente, ele teve a nomeação do novo Patriarca de Veneza Moraglia Francis, outro ex-seminarista de Siri.

E em assuntos mundanos Piacenza recebe a ajuda de seu discípulo, o emergente neste nunca Roma católica e, portanto, mais sensível ao Vaticano altos e baixos: a Sanremo Mark Simeão, presidente da estrutura do Vaticano Rai, um candidato a participar do governo como subsecretário de Montanhas apenas 33 anos. Quanto Bertone ao lado, tem a sua do grupo de Genova, os discípulos do legendário cardeal Giuseppe Siri, por três vezes no conclave papal e ficou a um passo da eleição.

Piacenza era o seu pupílo, Foi amigo de don Gianni Baget Bozzo, é um tradicionalista que celebra a missa con as freiras da Balduina, bairro de Roma onde viveu por muito tempo, seguindo o rito tridentino de São Pio V predileto dos seguidores de Lefebvre. Um prelado lutador, que há mais de vinte anos trabalha na Cúria vaticana, escalou todos os degraus, conhece todos os segredos. Recentemente colocou em evidencia a nomeação do novo patriarca de Veneza Francesco Moraglia, outro ex-seminarista de Siri.

E nos negócios mundanos que Piacenza recebe a ajuda de seu discípulo, um dos emergentes nesta Roma eternemanete católica e, portanto, sempre sensível aos altos e baixos vaticanos: Marco Simeon, de Sanremo, chefe da estrutura Rai no Vaticano, candidato a entrar no governo Monti (primeiro ministro italiano) como subsecretário com apenas 33 anos. Considerado próximo a Bertone, deve a sua ascensão prodigiosa ao cardeal Piacenza, às suas bênçãos e às suas orações. Simeon foi secretário da fundação para os bens e as atividades artísticas da Igreja, que estava vinculada à Pontifícia Comissão para os Bens culturais liderada pelo Piacenza. Juntos, o monsenhor eo jovem adepto, em 2005 doaram a Bento XVI, a Rosa Mystica, uma rosa especial dedicada à Nossa Senhora e produzida na Liguria. "Olhando as rosas", Piacenza se esaltou pela ocasião, "nos parece estar vendo as igrejas decoradas, as luzes, os cantos e todo um clima verdadeiramente" católico ", de um povo que ama os sentimentos fortes tanto quanto comoventes". Sentimentos fortes, rosas místicas. E dossier terrenos: Simeon é o seu cultivador?

Piacenza é o mais forte candidato à secretaria de Estado se os escândalos continuarem a florescer e se Bertone for forçado a sair. Ele se tornaria o papa-maker do conclave, em um futuro não muito distante. Como demonstram os jogos em torno de um homem aos 85 anos, que já declarou que pretende renunciar se fosse impossível ir adiante "fisicamente e espiritualmente". Que pediu ajuda, "que alguém esteja com ele". E que nestes dias de miséria, pelo contrário, se sente mais sozinho. Ele, Joseph Ratzinger, o papa


http://espresso.repubblica.it/dettaglio/vaticano-i-soldi-e-la-guerra/2174247//0


Noticia por email : Graça Ribeiro

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

São Sepé Tiaraju e os Sete Povos das Missões ressuscitam no coração do povo

"São Sepé Tiaraju com seus mil e quinhentos mártires guarani, junto com as Missões Jesuíticas dos Sete Povos do Rio Grande, ressuscitaram definitivamente no coração e na alma de nosso povo sul-riograndense".

O testemunho desta ressurreição é a "verdadeira catadupa de fatos reveldores" que o Irmão Cechin narra.



Nos últimos dias houve verdadeira catadupa de fatos reveladores incontestes de que São Sepé Tiaraju com seus mil e quinhentos mártires guarani, junto com as Missões Jesuíticas dos Sete Povos do Rio Grande, ressuscitaram definitivamente no coração e na alma de nosso povo sul-riograndense. Senão, vejamos:

Nos dias 26 e 27 de novembro de 2011, na cidade de Canoas, um grupo de uns 30 ciclistas fizeram "o Caminho de São Sepé Tiaraju". Entenderam como tal, o percurso realizado em transporte ecológico por excelência que é a bicicleta, percorrendo centro e periferias da cidade, detendo-se em pontos estratégicos e significativos, sempre propícios para desenvolver temas ecológicos. Aqui o local de recuperação de uma nascente de água, ali um lugar público a exigir despoluição através de uma coleta do lixo que foi jogado a esmo por uma população ainda analfabeta em termos de meio-ambiente saudável, acolá o plantio de alguma árvore e assim por diante.

A si mesmos, os corredores se auto-denominaram "Herdeiros de Sepé Tiaraju" tal a maneira com que haviam sido conscientizados pela anterior geração, a que pertencem seus progenitores e seus educadores, sobre preservação do planeta, hoje convertido em Terra de Todos os Males, em contraposição ao verdadeiro Paraíso Terrestre que nos foi legado pelo herói-santo, o prefeito de São Miguel das Missões e comandante do exército guarani, iluminado pelo projeto social, político e econômico de uma Terra Sem Males, utopia dos Sete Povos das Missões.

No dia 14 de dezembro último, foi realizado um treino, nas Ilhas do Guaíba, da grande "bicicletada" estadual, a ser desenvolvida por ocasião do dia de São Sepé e companheiros mártires. Foram escolhidas as ilhas do Guaíba, especialmente a ilha Grande dos Marinheiros, pelo simples fato de serem cenário do mais escrachado contraste entre as comunidades mais pobres de toda a região metropolitana face às mais ricas mansões dos nababos da capital dos pampas.

O treino no lugar mais pobre, preparou com perfeição a ida ao encontro de Quilombolas, Índios, Sem Terra, Catadores, Pequenos Agricultores recém-assentados e Comunidades Eclesiais de Base interioranas.

Nos dias 23 a 27 de dezembro realizamos, em Porto Alegre, o Fórum Social Temático ano-2012. Como todos os Fóruns Sociais Mundiais, o deste ano teve novamente como mote "um novo mundo é possível se a gente quiser". Além de oficinas, conferências de painelistas etc. os companheiros “bicicleteiros” criaram uma oficina coordenada pela CUT, pela Federação das Associações de Recicladores do RS (FARRGS) e pela Associação Caminho das Águas, sobre Políticas Públicas: Recursos Hídricos e Reciclagem de Resíduos Sólidos. Duas frentes nevrálgicas para a despoluição do Planeta, que funcionam casadas: os mananciais hídricos e os resíduos sólidos. Estes sendo reciclados por mais de um milhão de Catadores no Brasil a fim de acabar com a perversa tradição no Brasil e no mundo de lançar tudo o que é lixaredo dentro dos rios. É a famosa operação transformadora dos pseudo párias da civilização urbana, assim apelidados os carroceiros, carrinheiros e pepeleiros, pelos civilizados urbanos, nos autênticos Profetas da Ecologia, reconhecidos como tais pela teologia da libertação.

Findo o Fórum Social Mundial tomamos a resolução de, no próximo Fórum em Porto Alegre, montaremos uma oficina a fim de comunicar a quantos vierem participar que o Novo Mundo não é somente possível. Muito mais do que isso queremos provar a todos que ele já existiu há quatrocentos anos atrás aqui no Rio Grande do Sul, nas Missões Jesuíticas nas Missões dos Sete Povos, na Terra Sem Males dos Guarani onde imperava o princípio "de cada um de acordo com suas possibilidades para cada um de acordo com suas necessidades". Foi a rica experiência da República "Comunista" Cristã do Povo Guarani.

No dia 2 de fevereiro, véspera do grande evento anual em honra de São Sepé, realizamos ainda, como aperitivo à bicicletada, a Procissão Fluvial de Nossa Senhora dos Navegantes. Neste ano, na marcha triunfal da Rainha da Ecologia e padroeira principal de Porto Alegre, lá estavam nossos bicicleteiros disseminados entre o grupo de teimosos devotos que, desde o ano de 1989 em que os navegantes foram transformados em caminhantes, rezamos e cantamos à Rainha das Águas ao mesmo tempo "madrinha dos que não têm madrinha" nas súplicas do mártir quilombola Negrinho do Pastoreio, amparo e proteção ao longo dos 250 quilômetros de percurso da nossa maratona estadual.

Dia 3 de fevereiro, desde as 8 horas da manhã até dia 7 às 22 horas, realizamos então "o Caminho de São Sepé Tiaraju" que também designamos como a "Nona Peregrinação em Busca da Terra Sem Males". Desde 2004 até 2012, sem solução de continuidade, a cada ano que passa, estamos nós, tendo como símbolo o meio de transporte que além de mais ecológico é o mais saudável, visitando os mais excluídos e deserdados de nosso Rio Grande. Pobres visitando pobres a fim de conhecer sofrimentos, problemas, carências desses nossos irmãos para lhes servirmos de porta-vozes e apoiadores em suas lutas por melhores condições de vida.

O Caminho de São Sepé é uma réplica da Via Sacra que os cristãos costumamos realizar no contexto da Semana Santa em seguimento do Senhor dos Passos ou seja, a caminhada final do Homem Jesus de Nazaré sofrendo Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão aos céus. Através desta Caminhada dolorosa Jesus deu demonstração plena de que é autenticamente Caminho, Verdade e Luz para a humanidade inteira.

De Rio Pardo a São Gabriel, São Sepé Tiaraju e seus mil e quinhentos companheiros mártires guarani sofreram também sua paixão, morte, ressurreição e ascensão aos céus, numa demonstração de que "não há maior prova de amor do que dar a vida por seus irmãos" segundo a palavra canonizadora de Jesus, de todo aquele que morre mártir. São Sepé definitvamente disse ao mundo a que vinha, segundo o nome que lhe deram. Tiaraju em guarani quer dizer "Facho de Luz" a iluminar todos os riograndenses do sul.

O primeiro ato da Peregrinação foi a meio caminho da estrada asfaltada que liga Pantano Grande com a cidade de Rio Pardo. Ali existe um lindo local onde uma fonte de água límpida jorrava dia e noite para gozo de viajantes de todo tipo: gente a pé e a cavalo mais antigamente, gente embarcada em carroças, depois em automóveis, ônibus, motos e bicicletas. Muros elegantes enquadram a bica da água. Três filas de cinamomos fornecem sombra fechada para viajantes em dias caniculares. A estrada caprichosamente duplicada num trecho de 50 metros, a fim de facilitar o estacionamento de pessoas e carros, Qualquer ser vivo, pessoa ou animal, necessitado de matar a sede, de se refrescar, de encher radiadores. Tudo muito limpo e bem sombreado. Junto à fonte, até uma tabuleta marcando parada do ônibus de passageiros a fim de que eles próprios como viandantes, tenham ocasião de espichar as pernas e sorver do rico manancial. Uma linda pintura em azulejos, de paisagem familiar e campestre em cores vivas, dando o tom de total acolhimento.

Mas e a água? Cadê a água?... se perguntam imediatamente todos os bicicleteiros estacionados. Acontece então a desilusão total. A água tão deliciosa de antanho se acabou. Nem mais torneira existe. A causa? Logo atrás do lindo muro azulejado, com sua tão linda pintura, uma imensa plantação de eucaliptos, a perder de vista. Essa verdadeira floresta da planta exótica vinda do continente australiano, acabou com todas as fontes da região. Não estranha portanto que o Rio Grande do Sul esteja vivendo terríveis tempos de seca.

Estamos em pleno coração do latifúndio. De chofre somos mergulhados na história. Morto São Sepé Tiaraju, defenestrado o povo guarani e destruiídos os Sete Povos das Missões, os senhores oficiais militares receberam em recompensa, nestes mesmos lugares em que se deu a guerra guaranítica, as sesmarias prometidas. O latifúndio ocupou absolutamente tudo. A Terra Sem Males do Povo Guarani, abençoada por Deus e seu Arcanjo São Miguel virou a atual terra de todos os males. A mentalidade cultural que impera em toda a região que atravessamos em nossa peregrinação é a dos grandes fazendeiros, totalmente insensíveis diante dos pobres e diante dos males que infligem ao meio-ambiente. Oprimem ao mesmo tempo pobres e natureza. Não é por mero acaso que a ocupação da Fazenda Southal produziu ultimamente mais um mártir de nome Élton, da estirpe de São Sepé Tiaraju.

Entrando na cidade de Rio Pardo, o foco principal de nossas atenções, além da Tranqueira onde Sepé esteve preso, foram os quilombolas, pelo fato de Rio Pardo durante longos anos ter tido escravos que foram os reais construtores da cidade, principalmente dos principais monumentos e ruas tais como a Igreja Matriz, a calçada do imperador, etc. Também continua de pé uma senzala, lugar obrigatório para quem quer conhecer o apartheid reinante em nosso Brasil que foi o último país do mundo a abolir a escravatura.

Na Tranqueira portuguesa, Sepé esteve preso, porém conseguiu se evadir num golpe de inaudita coragem. O nome Tranqueira foi dado porque o forte tinha a finalidade de servir de estorvo ao povo guarani em sua vigilância permanente sobre estranhos que viessem do lado do mar. Não somente para fazer escravos para os bandeirantes, mas também para roubar gado das estâncias guarani que se estendiam até as "vaquerias del mar".

Neste local da antiga fortaleza, fizemos um ato soleníssimo em homenagem a Sepé, contando com a presença de mais de mil jovens do movimento "Levante da Juventude", que, vindos de todo o Brasil, estavam reunidos em Santa Cruz do Sul debatendo seus problemas.

Entretanto a maior emoção que tivemos em Rio Pardo aconteceu na visita que fizemos à Comunidade quilombola do Rincão dos Negros. O calor humano com que fomos acolhidos, jamais poderemos esquecer. As lágrimas nos vieram aos olhos enquanto nos contavam a própria história, particularmente as lutas do presente, pelo simples fato do direito que adquiriram a partir da constituição brasileira do ano de l988, a cidadã.

Nada menos que uma extensão de terra de 1.500 hectares é a terra a que tem direito a comunidade sobrante de 30 famílias que ainda resistem à ocupação branca de latifundiários. Correm risco de vida no local. Qualquer movimentação que façam ou visita que recebam não escapa da observação dos olheiros de mau olhado porque não admitem devolução de apenas 500 hectares, ou seja um terço das terras a que teriam direito.

Aí também aparece sem rebuços o apartheid histórico de nossa própria igreja até o Concílio Ecumênico Vaticano II: duas capelas católicas, a primeira bem pobrinha e a outra flamante, distanciadas apenas de 20 metros, ladeadas dos respectivos locais de festa num aberrante contraste. O orago de ambas é Nossa Senhora da Conceição. O sacerdote rezando missa de um lado e de outro, e em 8 de dezembro que é dia da padroeira, a procissão dos negros indo para o lado esquerdo e a dos brancos, colonos imigrantes europeus, do lado direito. Podemos imaginar o que poderá ter sido a alimentação festiva de um lado e do outro. Hoje devido ao problema terra, só os negros continuam fazendo sua festa anual na capela. Os brancos, em guerra aberta, não conseguem sopitar o próprio racismo.

Na cidade de São Sepé nossa atenção se concentrou numa Comunidade Eclesial de Base da periferia da cidade. Depois de trocarmos experiências entre nossas Cebs urbanas e rurais, o que mais nos impressionou na comunidade sepeense, foi sua abertura ecumênica e ecológica. Junto com esta Comunidade, recolhemos o lixo deixado pela população num parque campestre. Também juntos visitamos um terreiro de umbanda vivendo em comunhão com a comunidade nas duas dimensões: a religiosa e a ecológica.

Em São Gabriel já estavam os índios guarani do Rio Grande do Sul à nossa espera no parque tradicionalista. Durante dois dias estavam planejando suas ações para o ano todo de 2012. Aprofundamos nosso relacionamento com os dois povos presentes: os guarani e os kaingang.

Dia 7 de fevereiro, data do martírio de Sepé Tiaraju, fomos todos à grande celebração guarani na Sanga da Bica, o lugar histórico em que o grande guerreiro e prefeito da cidade de São Miguel embebeu a terra com seu precioso sangue. Dentro de uma oca construída especialmente para o ato, não faltaram orações, discursos, cantos e danças típicas do povo guarani em memória de seu grande herói-santo.

No caminho de volta para Porto Alegre, ainda demos uma entrada na cidade de Caçapava, sendo acolhidos por pessoas e órgãos da administração municipal. Os ciclistas aproveitaram para uma viagem de 8 quilômetros até a famosa Pedra do Segredo. Se hoje, na rua, qualquer caçapavano for interrogado sobre qual o segredo da Pedra do Segredo, ele imediatamente responderá: "É que lá, na gruta existente, o grande Prefeito São Sepé Tiaraju foi sepultado. Foi daqui desta nossa região que nosso santo com seus 1.500 companheiros também mártires, "tomou no céu posição. Sepé é hoje o Cruzeiro do Sul."

Como conclusão de nossa 9ª Peregrinação em busca da Terra Sem Males, legado de São Sepé, participaremos em Porto Alegre, do 1° Congresso Internacional de Ciclismo, a realizar-se entre os dias 23 e 26 deste mês de fevereiro. Fomos convidados a organizar uma das oficinas do evento pelos "bicicleteiros da Massa Crítica". Com o imbroglio que arrumaram com seus passeios ciclísticos pela cidade quando da arremetida daquele estranho cidadão que com seu automóvel quis dar "lições", o grupo "Massa Crítica" colocou o ciclismo porto-alegrense no mapa mundial. O resultado está aí: Não bastasse ser cidade do Fórum Social Mundial, nossa capital também será sede de congressos internacionais de ciclismo.


Antonio Cechin

Fonte: CEBI

CEBs - Diocese Campo Mourão - PR

As CEBs - Comunidades Eclesiais de Base da diocese de Campo Mourão estiveram reunidas no dia 11 de fevereiro, no Centro Catequético Dom Virgílio de Pauli, em Campo Mourão (foto).

Dezessete paróquias estiveram presentes, representadas por 47 participantes.

O encontro foi conduzido pela coordenadora diocesana Ir. Helena Makiyama, que promoveu a espiritualidade inicial centrada no Evangelho de Jo 4, 1-26. Ela entregou, aos participantes, uma pequena garrafa contendo água benta, como símbolo do encontro.

O Pe. Raimundo Santana dos Reis trabalhou o tema da Campanha da Fraternidade 2012: "Fraternidade e a Saúde Pública", enfatizando a importância da participação dos leigos junto aos Conselhos Municipais.

O Pe. Clauber Magela Freire Krieck disse que os Grupos de Reflexão são o poço, como o lugar de encontro com Jesus

Participantes

Ambientação do espaço

Pequenas garrafas contendo água benta


O coordenador paroquial dos Grupos de Reflexão da paróquia Santa Rita de Cássia - Campo Mourão, Sebastião, recebendo a garrafa com água benta das mãos de Pe. Clauber e Ir. Helena


Homenagem à coordenadora Ir. Helena, pelo seu aniversário dia 23 de fevereiro




pe. Raimundo Santana dos Reis

"... eu amo as CEBs porque tem o coração no
céu e os pés no chão...", disse Pe. Clauber Magela Freire Krieck

CEBs em Jacarezinho preparam o 6º Intereclesial do Parana

Reunião da Ampliada das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs ) do Regional Sul II (Paraná), realizado sexta 10/02 e sábado 11)/02 na cidade de Jacarezinho, em preparação do 6º Intereclesial do Paraná que será realizado de 28 a 30 de abril

10 pontos sobre as CEBs


1. A semente é uma árvore em síntese e promessa. Se a semente de larfanja laranja, não vai produzir mangas. Tudo que sera, já está presente, mesmo que ainda não se desenvolveu completamente. Um embrião é uma pessoa humana em potencia. Já leva no seu ser, tudo o que mais tarde vai ser. A passagem dos anos não muda a sua identidade fundamental: não será uma águia ou leão, mas pessoa humana (Não estamos falando do sentido metafórico). Assim, a CEB já é a Igreja, na sua menor expressão. Ela se define pelo que a Constituição Lumen Gentium diz no seu n.1: é Sacramento de Cristo, como Cristo é sacramento de Deus. E o documento de Medellín: “A CEB é a célula fundamental de estruturação eclesial” (Med 15,10).

2. Pelo negativo, talvez se possa entender melhor. A CEB não é um método, uma ONG, um programa, um movimento, mera comunidade de amigos/as, um grupo de oração, uma célula social de militância política. Poderá apresentar qualquer dessas características, mas não é o seu constitutivo fundamental. Não basta ser comunidade pequena para ser CEB. Tem que ser o primeiro nível da Igreja como tal e não uma área de ação eclesial como seria a catequese, a liturgia, a ação social, etc. A CEB não é uma pastoral da Igreja, nem se reduz a uma das ações pastorais.

3. A base bíblica das CEBs é a mesma da Igreja. Com o específico que elas retomam o modelo eclesial das primeiras comunidades do Novo Testamento (Atos 2,42 e 4,36), com um mínimo de estruturas e máximo de vida. São essencialmente missionarias e se configuram primeiro como Igreja doméstica, formando com as demais CEBs, uma rede de comunidades dentro da Igreja local. Necessitam de um mínimo de autonomia para anunciar a fe em cada realidade e para configurar a uma, santa, católica e apostólica Igreja do Senhor, em diferentes situações culturais e históricas (LG 26)
4. Os elementos essenciais de uma CEBs são, a realidade comunitária, na linha da “koinonia”, quer dizer, no modelo da Trindade: por Jesus, no Espírito, anunciando e vivendo o Reinado de Deus; a fidelidade à Palavra (Sensus Fidelium LG 12, a “totalidade dos fieis não pode equivocar-se”); o culto, o serviço aos mais necessitados, a missão.

5. A participação vital das CEBs se faz pelo sacramento do batismo. Por isso mesmo é uma realidade que transforma completamente a vida de uma pessoa, em membro do Cristo Ressuscitado, Trata-se de uma realidade para sempre. Essa adesão configura cada membro, no Corpo de Cristo, com a responsabilidade de continuar em comunidade, sua missão.

6. O Método usado pelas CEBs é o que foi lançado pela ação católica e completado pela experiência pastoral latino americana: ver, julgar, agir, avaliar, celebrar constantemente e como comunidade.
7. As CEBs, como Igreja são coordenadas pelos ministros ordenados da Igreja Particular, diretamente ou por “missões canônicas” dadas a ministros extraordinários que exerçam essa tarefa de assessorar as comunidades e expressem visivelmente a comunhão católica com os apóstolos e seus sucessores. Os ministros ordenados não são capelães ou meros assessores das CEBs, mas têm a responsabilidade de presidi-las em nome de Cristo, na mesma linha que presidem uma paróquia, em comunhão com o Bispo.
8. Uma CEB não é somente uma Pequena Comunidade Eclesial, nem um grupo pastoral dependendo da livre escolha de cada membro da Igreja. Ao contrario, só é possível ser membro da Igreja, participando vitalmente de uma comunidade visível-missionaria na qual acontece a sacramentalidade do único mediador, Jesus. Na prática, são os movimentos eclesiais como Cursillo, Renovação, Foccolare que formam Pequenas comunidades Eclesiais...A CEB mais do que experiência grupal em pequeno grupo, é de uma expressão da Igreja Sacramento e não um mero carisma na Igreja.

9. As CEBs são diferente da estrutura paroquial, porque expressam outro modelo eclesial (mantendo essencialmente a mesma fé eclesial). São comunidades missionarias, em diáspora, participativas... Já não são um modelo de “cristiandad”, patriarcal, centralizador, clerical...

10.O magistério eclesial, tanto pontifício como episcopal, dedicou muitos documentos para afirmar a importância e oportunidades das CEBs. Concilio LG 1 – Igreja Sacramento: primícia, sinal, acontecimento. LG 26, nela acontece a uma, santa católica, apostólica comunidade de Jesus.
Documentos Papais: Dei Verbum 58; Redemptoris Missio 51; Christifideles laici, 26; Cateqluesi Tradendae, 47; Familiaris Consortio, 85; Ecclesia in Asia, 132; in Africa, 89; in America, 73.
As Assembleias Gerais do Episcopado Latino Americano: Medellin 15,10, Puebla, Santo Domingo, Aparecida se manifestam positivamente sobre as mesmas. “As CEBs não são só o futuro da Igreja. Sem elas a Igreja não terá futuro em muitos lugares”.


Episcopado Filipinas

Equipe Pe. José Marins - CEBs Mundial

CEBs Provinciasia Eclesiastica de Maringa - PR

A/C
Assessores/as e coordenadores/as das CEBs da Província Eclesiástica de Maringá


Favor mobilizar sua diocese para a visita pastoral de Dom Getúlio Teixeira Guimarães, assessor das CEBs no Regional Sul II.
A visita na Província Eclesiástica de Maringá será no dia 17 de março de 2012.
Horário: das 9h30 até as 16h.
O local é a cidade de Maringá, em breve estaremos confirmando o endereço.
Quem deve participar:
- O bispo
- O coordenador da Ação Evangelizadora
- O assessor diocesano das CEBs
- A equipe de coordenação diocesana das CEBs
- Com abertura para a importante presença de padres e outras lideranças.
Obs.:
- Entre em contato com o bispo e o coordenador da Ação Evangelizadora de sua diocese e motive-os a participar.
- Entre em contato com as pessoas que compõem a equipe de coordenação das CEBs de sua diocese e motive-os a participar.
- Convidem também padres e outras lideranças que vocês acharem que convém.
Não esqueçam
Até o dia 10 de março, confirmar o número de pessoas que viram para a visita de dom Getúlio. Precisamos saber o número de participantes para providenciarmos o almoço e o café da tarde

Assembleia CEBs Regional Oeste II - em Cuiabá - MT

“Nós somos aquilo que fazemos e aquilo que queremos ser”. (Pe. Luis Mosconi) As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) do Regional Oeste II reuniram-se em assembleia entre os dias 10 a 12 de fevereiro de 2012, no CENE, Cuiabá, MT, para celebrar seus vinte e cinco anos de caminhada. Participaram aproximadamente 60 pessoas, vindas das dioceses e prelazias do nosso regional. A assembleia teve como tema: “CEBs em sua Eclesialidade Profética Missionária, celebrando 25 anos de caminhada em Mato Grosso”.

Nesses dias também fomos acolhidos e celebramos juntos com a Comunidade São Pedro, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, os 25 anos das CEBs do Regional Oeste 2. Em clima de festa e comunhão fraterna, renovamos nosso compromisso com a causa do Reino de Deus. Esse compromisso foi firmado e simbolizado com o anel de tucum, entregue para cada participante.

Fazendo memória dos doze encontros regionais realizados nesses 25 anos de existência, refletimos com o assessor padre Luis Mosconi as três palavras-chave do encontro: Eclesialidade, Profecia e Missão.

Nesse sentido, concebemos que a Igreja é a comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus de Nazaré, o Cristo. Por isso, conhecer o Evangelho é de vital importância para entender a Igreja de Jesus, que tem como missão fazer acontecer o Reino de Deus. A Igreja não é o Reino de Deus, mas ela está a serviço do Reino.

Os verdadeiros profetas falam em nome de Deus, anunciam a Boa Notícia e denunciam as injustiças. O falso profeta é aquele que está a favor do poderoso e de seus interesses. O profeta comprometido é aquele que é a boca e o coração do verdadeiro Deus, que tem os pés no chão e consciência crítica, é coerente, tem paixão pelo Evangelho e faz opção pelos pobres.

A profecia está intimamente ligada à missão. E a missão é resposta à vida, ao chamado, é algo que nos é confiado e assumimos com amor e ternura. Somos missionários e missionárias porque a vida chama e grita para darmos um verdadeiro sentido a ela.

Animamos as Comunidades e todo o Povo de Deus a assumir com alegria a missão profética e missionária, como Igreja comprometida com o Reino de Jesus de Nazaré. Somos interpelados a retomar, numa perspectiva missionária, os compromissos assumidos no 12º encontro regional das CEBs, realizado em Juína, em junho de 2011: Promover a formação e capacitação de lideranças, crianças, jovens e adultos, numa perspectiva humana e ecológica, fundamentada na Espiritualidade encarnada, iluminada pela Palavra de Deus; Promover a leitura orante da Palavra de Deus em grupos de reflexão, na família e na comunidade, valorizando a família como um lugar de cuidado; Fortalecer a Democracia, articulando-se eticamente com os movimentos sociais, populares, organizações, sindicatos, associações, conselhos municipais, conferências, audiências públicas, câmaras municipais; Incentivar a participação dos jovens na proposição de projetos para a Igreja e para a sociedade; Educar as crianças para uma vida participativa; Participar da discussão e da proposição das políticas públicas; Defender o meio ambiente.

Também discutimos e sugerimos, enquanto povo reunido em assembleia, o tema para o 13º Grito do Excluídos. Considerando sete lemas sugeridos, a assembleia indicou o que segue: Com Saúde e Igualdade Queremos Outro Estado, no Campo e na Cidade.

Definimos também que o 13º Encontro Regional das Comunidades Eclesiais de Base será sediado pela diocese de Rondonópolis, em julho de 2013.

Com a intercessão de São Pedro e as bênçãos de Nossa Senhora Aparecida desejamos um abençoado ano para todas as comunidades do Regional Oeste 2.

Amém! Axé! Awire! Aleluia!

Igreja Católica realizará 1ª caminhada da Mãe de Deus, pela Paz e pela Vida no Planeta

Com o objetivo de promover uma reflexão acerca das questões de paz, meio-ambiente, reanimação da fé católica e organização das comunidades eclesiais de base e pastoral da juventude, tendo como ponto de partida a fé como compromisso com a vida e a dignidade da pessoa humana. A Igreja Católica de Paulistana, realiza a caminhada da Mãe de Deus, pela Paz e pela Vida no Planeta. O evento contará com participação de 42 municípios do Piauí e 10 cidades dos Estado do PE, BA e CE. E será realizado dia 30/06/2012, iniciando na Praça da Igreja Matriz, seguido por procissão até a Praça de eventos encerrando com um grande show com o cantor Zé Vicente.

São Paulo se prepara para receber Seminário sobre Ministério Laical

O Centro de Formação Sagrada Família, em São Paulo (SP), será sede do Seminário sobre os Ministérios Laicais, que será realizado entre os dias 24 e 26 de fevereiro. O evento é promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato em parceria com a Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, ambos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e o Conselho Nacional para o Laicato do Brasil (CNLB).

Segundo os coordenadores do seminário, o objetivo é avaliar a realidade, os avanços, os desafios e apontar perspectivas para o exercício dos leigos na Igreja e na sociedade tendo como base o Documento 62 da CNBB “Missão e Ministérios dos Cristãos Leigos e Leigas”.

Na programação estão previstas exposições sobre o Documento 62 da CNBB, o relato de algumas experiências de ministérios na comunidade eclesial e de engajamentos na sociedade, a presença das mulheres nos ministérios na Igreja e os ministérios dos leigos na vida da Igreja e na sociedade.

“Temos a convicção de que o Seminário será um momento significativo para a Igreja no Brasil, em especial, para o laicato brasileiro. Com alegria aguardamos a presença de dirigentes e membros do CNLB, das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), dos Movimentos, Associações Laicais, Serviços Eclesiais, Novas Comunidades, das Pastorais e de outras formas de organização laical, de responsáveis e docentes dos Centros e Cursos de Formação para leigos e outros membros de nossas comunidade”, destacou o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato, Dom Severino Clasen, bispo de Caçador (SC).

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Faleceu Dom Ladislau Biernaski, Bispo de São José dos Pinhais- Parana e presidente da CPT.



Faleceu hoje pela manha,13/02/2012, Dom Ladislau Biernaski Bispo de São José dos Pinhais, Parana.

Dom Ladislau foi durante muitos anos bispo auxiliar de Curitiba, e em 2006 foi nomeado o primeiro bispo da recem formada Diocese de Sao Jose dos Pinhais, na regiao metropolitana de Curitiba.
Dom Ladislau, sempre foi um animador das pastorais sociais, atuante na Comissão Pastoral da Terra, foi eleito seu presidente nacional em 2009.
Mais do que cargos em funções, Dom Ladislau era uma pessoa muito sábia, humilde e simples que gostava de conviver com os pobres e em especial com os camponeses.
Sempre apoiou a reforma agraria e o MST no Parana e em todo Brasil.
Nos deixa aos 73 anos de uma vida comprometida com a verdade e a justiça.

Um bispo filho de camponeses migrantes poloneses, que se se preocupava com a soberania alimentar, com a agroecologia.

Era um semeador de idéias e de exemplos de vida , a serviço dos camponeses.
Grande Dom Ladislau, foi um verdadeiro pastor!
Secretaria Nacional do MST

Leonardo Boff: “Sempre fará sentido lutar por libertação”

"Na missa de Natal do Papa Paulo VI, que era transmitida pela Globo, quando o papa falava de Jesus Cristo libertador, eles traduziam "Jesus Cristo redentor". Até o Papa caiu sob a censura"

Em um tempo em que a palavra libertação era considerada subversiva pelo Estado brasileiro, o teólogo Leonardo Boff iniciava sua trajetória como um dos principais pensadores da Teologia da Libertação na América Latina. Quarenta anos depois, esta vertente da igreja católica que fez a opção pelos pobres vê seu trabalho ser difundido por todos os continentes e continua dando apoio aos movimentos populares que reivindicam mais justiça social.

Em entrevista exclusiva ao Sul21, concedida em janeiro durante o Fórum Social Temático 2012, Boff criticou os rumos da Igreja Católica, fez um breve balanço das políticas sociais em curso no Brasil e defendeu a atualidade da Teologia da Libertação. “Na medida que existem opressões no mundo, sempre faz sentido alguém lutar por libertação”, disse Boff.

“Quando eu publiquei Jesus Cristo Libertador, por 15 dias tive que me esconder da polícia, porque eles estavam atrás de mim”

Sul21 – A Teologia da Libertação surge em 1971 num contexto de forte repressão militar, não só no Brasil como também em outros países da América Latina. Eu gostaria que o senhor começasse relatando esse momento inicial.

Leonardo Boff – Curiosamente, o começo se realizou simultaneamente por teólogos que não se conheciam reciprocamente. Gustavo Gutierrez escreve sua Teologia da Libertação, eu escrevo Jesus Cristo Libertador e Joao Segundo do Uruguai publica um famoso livro sobre libertação e opressão.

Sul21 – Como era o cenário brasileiro naquela época?

Leonardo Boff – O cenário brasileiro era de grande repressão, a ponto de não se poder usar publicamente a palavra libertação. Pelo menos quando eu publiquei o livro Jesus Cristo Libertador, por 15 dias tive que me esconder da polícia, porque eles estavam atrás (de mim). Porque eu havia usado já desde o título o termo libertação.

Sul21 – Por que o termo libertação era tão mal visto pelos militares?

Leonardo Boff – Porque, na leitura dos órgãos de segurança, libertação era uma palavra cativa do marxismo: libertação operária, libertação da opressão capitalista. Tudo que tinha a ver com libertação eles consideravam aliados do marxismo. Ai reprimiu sistematicamente qualquer tipo de manifestação, seja feminina, de libertação espiritual, o que fosse. A tal ponto que na missa de Natal do Papa Paulo VI, que era transmitida pela Globo, quando o papa falava de Jesus Cristo libertador, eles traduziam “Jesus Cristo redentor”. Até o Papa caiu sob a censura. Mas é importante dizer que a teologia da libertação está no contexto do movimento mundial que começou na Europa com 68, com os jovens que também buscavam a libertação, contra os costumes arcaicos, contra os hábitos culturais caretas. A partir dali passou pela Europa toda, primeiro na França, depois nos Estados Unidos e depois chegou na América Latina. E isso repercutiu também dentro do campo da igreja. Na igreja encontrou este eco, porque a descoberta que nós fizemos é que grande parte da população é simultaneamente oprimida e religiosa, cristã. Então como fazer desse capital popular que era usado como resignação, como submetimento, transformá-lo em um capital de mobilização, libertação? Os evangelhos falam de Jesus Cristo libertador, que libertou da fome, da morte, não libertou só do pecado. Então, (a Teologia da Libertação buscava) dar uma outra versão à religião popular. Por isso, junto com a Teologia da Libertação, nasceram as comunidades eclesiais de base.

“A Igreja vai ao pobre com o olhar do rico, achando que o pobre é ignorante. E nós dizíamos: ignorante é aquele que diz que o povo é ignorante. O povo sabe”

Sul21 – Nesse sentido, gostaria que o senhor falasse sobre influência da teologia da libertação na formação de movimentos políticos como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Leonardo Boff – Este é um bloco só, que a gente chama de Igreja da Libertação. É importante entender que a marca registrada da Teologia da Libertação é a opção pelos pobres, contra a pobreza – nada de exaltar a pobreza -, a favor da vida e da liberdade. Então aqueles bispos que fizeram a opção pelos pobres, que colocaram os espaços da igrejas para os pobres, venderam suas terras, fizeram reforma agrária, deixaram os palácios e foram morar em casas populares e simples, como é o cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo. Vários bispos animaram essa descida no mundo popular, que é deixar que o povo ocupe os espaços da igreja. Então, antes da igreja fazer a opção pelos pobres, como era tempo de repressão e ninguém podia se manifestar, os pobres fizeram uma opção pela igreja, que era o único local onde poderiam se reunir sem serem presos e perseguidos. Não só a igreja optou pelos pobres, mas os pobres optaram pela igreja, e eles converteram muitos bispos, teólogos e padres, chegando lá e convidando para rezar. E quando rezavam colocavam todos os problemas de bairros, da situação dos sindicatos, aí as pessoas se comoviam e davam solidariedade. Disso nasceu a Igreja da Libertação, que são práticas concretas de libertação contra a opressão. Sempre tem que ver qual o tipo de opressão: da mulher, do negro, do indígena, do operário. Para cada opressão concreta, há uma libertação concreta. E a reflexão que tenta amarrar tudo isso, que vem depois da prática, é a Teologia da Libertação.

"Para cada opressão concreta, há uma libertação concreta. E a reflexão que tenta amarrar tudo isso, que vem depois da prática, é a Teologia da Libertação" | Foto: André Carvalho / Sul21

Sul21 – Como a Teologia da Libertação encara o princípio da caridade, que é bastante difundido na igreja, mas que no fim das contas acaba geralmente pendendo ao assistencialismo? Como a igreja pode lidar de uma maneira mais crítica com relação a isso?

Leonardo Boff – A Teologia da Libertação fez uma crítica muito severa à prática tradicional da Igreja. Porque ela fazia para o pobre, não fazia com o pobre, nem a partir da perspectiva do pobre. Por que ela vai ao pobre com o olhar do rico: “o pobre não tem poder, é fraco, ignorante”. E nós dizíamos: ignorante é aquele que diz que o povo é ignorante. O povo sabe. Aí Paulo Freire nos ajudou muito e é considerado por nós um dos fundadores da Teologia da Libertação. Por que ela não implica só uma teologia, conteúdo, implica uma maneira de fazer. Como eu vou libertar? Paulo Freire nos ensinou, com a pedagogia do oprimido, a escutar o outro, usar o discurso deles, usar as palavras-chave dele, ver o mundo a partir da ótica do pobre. Aí se descobre que o pobre sabe muito e tem uma força histórica, que uma vez organizado ele consegue ajudar a mudar a sociedade e a própria Igreja. E essa é a diferença: uma coisa é fazer para (os pobres), outra é fazer com o pobre e outra é fazer como os pobres, valorizar as práticas deles, a cultura, a culinária, suas ervas, suas devoções, seu cristianismo popular que é sempre visto como algo decadente, cheio de erros. Não: é uma maneira diferente de entender a mensagem de Jesus, na linguagem simbólica do povo. Alguns foram tão longe como (Pedro) Casadáliga, que vive mesmo na pobreza. Ele tem duas calças, três camisas e é o que tem, não tem mais nada. Você vai na casa dele, é uma cama muito rudimentar ou dorme no chão. Ele diz que se “os pobres vivem assim, eu vivo igual”.

Sul21 – Em recente artigo, o senhor condenou a contradição da condição pobre de Jesus e a riqueza da Igreja.

Leonardo Boff – Eu acho que esse é um escândalo permanente para os cristãos. Por exemplo, agora assistimos a missa de meia noite de Natal: no evangelho diz que Jesus pobre nasceu entre animais na gruta de Belém, e eles lá no palácio, numa igreja cheia de ouro e prata, monumentos renascentistas, vestidos como príncipes. Isso é uma contradição. E os cristãos que leem a Bíblia percebem isso. Essa igreja está mais próxima do palácio de César ou de Herodes do que ao presépio. Eu diria mais: que, sob as pedras do Vaticano, Jesus jamais iria construir a Igreja. Ele nunca imaginou um cardeal príncipe, um bispo sua excelência, um padre sua reverência. Nada disso. Somos todos irmãos e irmãs, ninguém chama o outro de senhor. Tem a ver com Evangelho, mas contra o Evangelho, como forma de escândalo. A igreja tem que mudar isso porque está havendo uma evasão muito grande de cristãos lúcidos que dizem “eu sou pelo Evangelho, sou por Jesus, mas não por este tipo de igreja. Sou da igreja de Dom Helder, Dom Casadáliga, Frei Betto, a igreja que vai para os pobres”.

“A riqueza da Igreja é um escândalo permanente para os cristãos. Essa igreja está mais próxima do palácio de César ou de Herodes do que ao presépio”

Leonardo Boff: "Jesus nunca imaginou um cardeal príncipe, um bispo sua excelência, um padre sua reverência. Nada disso. Somos todos irmãos e irmãs, ninguém chama o outro de senhor" | Foto: André Carvalho / Sul21

Sul21 – A Teologia da Libertação nasce em 1971, muito influenciada pelos movimentos de 1968 que lutavam por vários tipos de liberdade. O senhor consegue traçar paralelos entre movimentos da atualidade, como a assim chamada Primavera Árabe, com o que aconteceu quarenta anos atrás?

Leonardo Boff – A gente dizia nos anos 1960 e 1970 que houve a irrupção dos pobres na América Latina. Os pobres irromperam, resistiram à ditadura, foram presos, foram para a tortura, criaram seu movimentos sociais, seus partidos populares e hoje fizeram todos os presidentes da América Latina. Todos eles – no Brasil, no Uruguai, Paraguai, Bolívia, Venezuela – são frutos daquela irrupção. Então eu digo que a Primavera Árabe é a modernidade tardia. Porque eles estão levantando os temas básicos, que não são das esquerdas nem das igrejas, são os temas básicos que o iluminismo levantou: direitos humanos, liberdade, dignidade. O iluminismo colocou no centro a dignidade do ser humano, como sujeito. Como dizia Kant, a pessoa humana é um valor infinito. Isso está despertando agora neles, então há uma irrupção dos oprimidos. Só que hoje usando os instrumentos adequados do nosso tempo, que são as redes sociais, a internet. Nós tínhamos sindicatos, grupos de base que se reuniam escondidos, existia a luta armada. Hoje já não é mais luta arnada, embora tenha chegado a isso na Líbia. Hoje nós fazemos a crítica da luta armada dizendo que era uma luta desigual, porque o Estado era muito mais forte, repressor e violento que a revolução. Agora é a mesma coisa: eles não podem usar a violência porque se forem usar a violência eles serão arrasados. O sistema não perdoa, ele é cruel e sem piedade.

Sul21 – Como os praticantes da Teologia da Libertação têm atuado na organização de movimentos populares?

Leonardo Boff – A Teologia da Libertação não parte da perspectiva de organizar, ela se incorpora, ela entra. Antes de todos os Fóruns Sociais Mundiais, há o Fórum da Teologia da Libertação que reune cinco mil pessoas do mundo inteiro: Ásia, África, América Latina, Estados Unidos, Europa. Depois nos integramos aos Fóruns Mundiais, e curiosamente as palestras, os temas que nós apresentamos geralmente são os que mais audiência têm: dez, quinze, vinte mil pessoas. Porque abordamos temas que tocam o lado espiritual do ser humano, a justiça ecológica, justiça social, bens imateriais como generosidade, colaboração, contra a competição.

Sul21 – Quarenta anos depois, o que a Teologia da Libertação tem de atual?

Leonardo Boff - Eu creio que, na medida que existem opressões no mundo, sempre faz sentido alguém lutar por libertação. E os cristãos o fazem a partir do seu capital simbólico. Nós somos herdeiros de um prisioneiro político, de um torturado, de um crucificado e não de um César, de um profeta, de um sumo sacerdote. Não. Era um leigo, gente do povo, um pregador, contador de histórias e suas parábolas, mas que lançou uma grande esperança na humanidade, que é possível vivermos como irmãos e ter uma economia de partilha e não uma economia de acumulação. As primeiras comunidades viveram isso. Lá nos Atos dos Apóstolos se diz: colocavam tudo em comum e se que não havia pobres entre eles, porque todos tinham o suficiente. E Marx louva isso como comunismo primitivo. É primitivo, mas também possivelmente é o futuro da humanidade. A humanidade unificada. Temos só esses recursos, devendo repartir para que todos vivamos, não só nós mas toda a natureza. Isso será o comunismo necessário, não o que a gente possa por alguma ideologia optar. Não temos alternativas, ou fazemos isso ou vamos ao encontro do pior. Ela (Teologia da Libertação) tem permanente atualidade sempre que se notarem opressões, e elas podem variar. Pode ser que uma economia integrada economicamente tenha profundas depressões humanas, falta de sentido de vida, frustração no matrimônio, perder o sentido de sua profissão, viver oprimido. A religião normalmente desempenha uma função importante, junto como a psicanálise, junto com outras filosofias de vida que também são os portadores de sentido. A religião é uma das fontes importantes geradoras de sentido, mas não é a única.

"Temos só esses recursos, devendo repartir para que todos vivamos. Isso será o comunismo necessário. Não temos alternativas, ou fazemos isso ou vamos ao encontro do pior" | Foto: André Carvalho / Sul21

Sul21 – Em recente declaração, o senhor falou que o capitalismo estaria em estado terminal. O senhor continua pensando dessa forma?

Leonardo Boff – O capitalismo tem dificuldade de se auto-reproduzir porque a crise de hoje é diferente daquela de 1929, que supunha a terra cheia de riqueza e abundante em termos de recursos, água, solo. Hoje nos encostamos nos limites da terra, todos os recursos estão se esgotando, água potável será o grande problema nos próximos cinco, seis, sete anos. O capitalismo supõe que existe uma natureza que possa continuar explorando para fazer riqueza e essa natureza já foi devastada. Então ele especula cada vez mais a partir do capital virtual dos bancos. O capital produtivo que está nas fábricas é US$ 63 trilhões; especulativo é US$ 600 trilhões, capital que é só papel. Não se pode cobrar (esses valores), porque o banco não tem, ele tem apenas papeis.

Sul21 – Por isso seria uma crise terminal?

Leonardo Boff – É uma crise terminal desse tipo de sistema. Nós vamos ter que inventar outro sistema, que desloque o eixo. O eixo central agora é o mercado e a especulação à custa de explorar a natureza, a acumulação privada que cria muita diferença social. (Essa diferença está) bem expressa pelos americanos: 1% contra 99%, o que significa que 1% possui tanta riqueza e renda quanto os 99% restantes somados. Isso é uma injustiça. Desigualdade é pouco, desigualdade é um termo analítico, descritivo. Isso é injustiça, desumanidade, crueldade. Muita gente sofre, perde emprego, crianças que morrem de fome.

“Quem critica o Bolsa Família é aquele que nunca experimentou a fome. Não é uma política assistencialista, é uma política de humanitarismo”

Sul21 – Você acha que o socialismo ganha terreno hoje em dia?

Leonardo Boff - Ele ganha, mas na forma da democracia. Como palavra ele ficou tão desmoralizado que a gente não usa. A gente diz que queremos uma democracia social. Não é a social democracia europeia, que é uma forma de capitalismo, onde você mantem o capitalismo e chama o socialista para gerenciar a fábrica. Aqui é democracia social, isto é, democracia participativa, de baixo pra cima, onde as políticas são republicanas, isto é, a res publica, o bem comum vem em primeiro lugar, depois o bem particular. E isso o Brasil está tentando com as políticas sociais.

Sul21 – Os últimos nove anos tem comtemplado isso, na sua visão?

Leonardo Boff – Acho que essa é a grande novidade. A gente chama o ensaio brasileiro e de outras economias latino-americanas, de ensaios de uma economia pós-neoliberal. Ela é devedora do liberalismo ainda, porque a economia é dominante, o governo paga US$ 100 bilhões aos bancos e destina US$ 60 bilhões às políticas sociais. Mas destina, antes ninguém destinava nada para as políticas sociais. Era o conluio do Estado com as grandes multinacionais, com os bancos, e o povo ficava de fora. A novidade de Lula foi manter a economia liberal, porque não há como escapar dela, mas abrir uma brecha para as políticas sociais de significação. De tal forma que, em oito anos, ele incluiu uma Argentina, 40 milhões, na sociedade de bem estar decente. Agora a proposta da presidenta é aqueles 14 milhões que estão na miséria cheguem numa pobreza digna e depois numa integração. E isto é possível, mesmo dentro do sistema liberal, desde que saiba administrar bem, negocie, tenha claramente uma opção para o bem comum. E ela implica numa educação, criar postos de saúde, luz para todos, crédito consignado.

"A primeira tarefa do Estado é garantir a vida do cidadão. Se ele está com fome, tem que dar o que comer. Por que formas não importa" | Foto: André Carvalho / Sul21

Sul21 – Os críticos do Bolsa Família o acusam de ser um programa assistencialista, que não mudaria a situação de pobreza. Como senhor avalia essa crítica?

Leonardo Boff – Quem fala assim é aquele que nunca experimentou a fome. Como dizia Betinho, a fome não pode esperar, você tem que matar a fome, senão ela te mata. Não é uma política assistencialista, é uma política de humanitarismo ao grau zero. É preciso tratar humanamente o cidadão. A primeira tarefa do Estado é garantir a vida do cidadão. Se ele está com fome, tem que dar o que comer. Por que formas não importa: tem que garantia a vida dele, porque cadáver não faz política, não exerce cidadania. Para mim isso é humanismo básico, a função primeira do Estado. Mas não termina aí, é só porta de entrada, junto vai a habilitação da pessoa para ganhar autonomia, então é uma política de emancipação até chegar a uma política de libertação. Emancipação se cria aquele espaço em que ele sobrevive por ele mesmo, libertação se plasma teu projeto de vida, decide o que vai ser, aprende uma profissão, arruma a casa, e isso é um processo que vai junto com a educação, com nova consciência. E está sendo feito.

Sul21 – Eu sei que o senhor esta pensando muito na questão da sustentabilidade, de que forma isso deve ser feito. Muitas pessoas dizem que é um falso debate falar em sustentabilidade sem falar em inclusão social. Como o senhor tem avaliado isso?

Leonardo Boff - Eu distingo entre a sustentabilidade como adjetivo e a sustentabilidade como substantivo. Como adjetivo, cada empresa coloca no seu produto e a empresa se entende sustentavel quando ela consegue sobreviver na concorrência e se reproduzir, manter o lucro. Que isso custe degradação da natureza, lixo, salários baixos, produção de pobreza, isso não conta (para a empresa). Substantivo significa paradigma novo de relação com a natureza. Temos que produzir para atender demandas humanas sim, mas produzir respeitando a capacidade que esse ecossistema tem, deixar tempo para a natureza refazer o que retiramos. Que a água e o solo não sejam contaminados, que o ar não seja poluído. É uma outra relação com a terra onde eu me sinto parte da natureza, responsável por ela.e ter uma economia do suficiente e do decente e não uma economia da acumulação. Mas não só para nós humanos: para a comunidade de vida, as florestas, para os rios, para os animais e os micro-organismos que sustentam a vida. A vida que nós conhecemos é só 5%, os outros 95% são bactérias, vírus e micro-organismos. Uma colherada de chão, em um telescópico quântico, revela 10 bilhões de micro-organismos. Eles são responsáveis pela vida. E o agrotóxico os mata.

Sul21 – Como esse modelo agroexportador, latifundiário, vai dialogar com um modelo mais voltado para a natureza, preservação dos recursos? É possível acreditar nesse modelo sem falar em reforma agrária, sem repensar esse modelo todo?

Leonardo Boff - Eu acho que a gente tem que trabalhar, e isto tem sido feito, com os dois pés. Um pé no agronegócio, já que ele está salvando o Brasil como economia, criando os dólares que precisamos, que o sistema nos obriga. E o outro pé incentivando muito a agroecologia, a agricultura orgânica familiar, e há redes enormes de economias solidárias. Há uma secretaria no governo que só cuida disso, com o grande mestre Paulo Singer. Especialmente no Rio Grande do Sul, tem muita economia solidária, na região de Ijuí, cooperativas familiares onde não se usa agrotóxico e todo mundo está procurando comer e ingerir alimentos que não sejam quimicalizados. Lentamente vão se empatando as coisas. Agora, na parte do agronegócio, a legislação brasileira tem o poder de impor limites, porque o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo, são 780 bilhões de litros por ano que são jogados no solo, contaminam o nível freático, matam os micro-organismos, as minhocas que são importantíssimas, só voltam depois de cinco anos. Ali o governo pode estabelecer normas e leis para que regule isso, incentivar outra alternativa.

Vivian Virissimo


Foto: André Carvalho / Sul21

CARTA CONVITE – SEMINÁRIO DE AGENTES DAS CEBs CAMPINAS

COMISSÃO ARQUIDIOCESANA DE COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE –CEBs

Arquidiocese de Campinas

Campinas, 09 de Fevereiro de 2012

“Defender o direito

Respeitar a justiça

Promover a vida

Eis nossa missão (neste chão)

(Zé Antonio e Zé Vicente)

Amigas, amigos, companheiros de caminhada!

“Outro mundo mais justo é possível / todos cremos é nossa bandeira. / quando a fé se tornar compromisso / A esperança será verdadeira”. Nessa esperança que nos move cada ano, cada dia, vamos continuar os Seminários de Estudo de Agentes das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs. A perspectiva da “sociedade do bem viver” vai perpassar os três seminários deste ano de 2012.

Estamos convidando você —————————-, para o primeiro seminário que será nos dias 09-10-11 de Março. O tema desse seminário, será o tema da 5ª Semana Social Brasileira: Um Novo Estado, Caminho para uma Nova Sociedade do Bem Viver.

“A Sociedade do Bem Viver, será o eixo dos três seminários desse ano. Queremos refletir, aprofundar e construí-la. Para isso contamos com você. “Venham todos, / há um longo caminho / Muita coisa pra se construir / somos pó se lutamos sozinhos / somos rocha se o amor nos unir”.

Aguardamos você com muito carinho!

Data: 09-10-11 de Março de 2012

Local Casa de Siloé – Vinhedo

Taxa: R$ 40,00 (quem não puder pagar, conversar com a equipe de coordenação)

O que levar? Roupa de cama e banho.

Saída: Centro de Pastoral Pio Xll, sexta feira dia 9 de Março às 18:30hs, partilhando a condução.

Confirmação da presença: Até dia 5 de Março com Nelly ou Genô pelo telefone: 3231-7122, ramais 209 ou 210.

Sinta desde já acolhida, acolhido, com muito carinho e ternura.

Nosso abraço fraterno! Pela equipe de Coordenação,

Genô e Lizete

Água: - A sede é uma arma de Guerra



Sabe-se que a escassez de água é um problema no Médio Oriente, uma realidade que, aliada a casos de desigualdade de distribuição e à reconhecida situação de avanço da desertificação decorrente do aquecimento global, agrava o potencial de conflito na região.


O que se conhece pouco, apesar de existir documentação sobre o assunto tão vasta como ostensivamente ignorada pelos grandes meios de comunicação, é o modo como a água é gerida como apetrecho militar ou, escrevendo de outra forma, a maneira como a sede é uma arma de guerra.


Um relatório apresentado recentemente na Comissão de Assuntos Externos da Assembleia Nacional Francesa, assinado pelo deputado socialista Jean Glovany, trouxe o problema à tona agitando de tal modo as águas das relações entre Paris e Telavive que o assunto teve de ser falado, pelo menos, em alguns jornais da Europa. Glovany esteve durante alguns dias no terreno a estudar a questão da água em Israel, Jordânia, Líbano e territórios palestinianos, juntamente com outros companheiros de Parlamento, e não teve dúvidas em usar sobre o assunto uma palavra que muito incomoda Israel: “apartheid”.

Glovany considera que a água é parte da política de “apartheid” utilizada por Israel, sobretudo em relação aos palestinos e às reacções iradas da diplomacia israelita respondeu que as palavras existem para ser usadas e à força de não se querer irritar se vai “deixando passar as coisas”.
As coisas que se vão passando são graves. A água é um bem escasso na região e quem o controla tem um poder reforçado, o de tornar cada vez mais impossível a vida quotidiana dos que pretende derrotar.


O relatório Glovany e alguns artigos publicados a propósito da sua divulgação reúnem fatos objectivos – não conjecturas ou deduções preconceituosas – sobre a utilização da água na fase atual do conflito israel-palestino. Revelam, por exemplo, que 450 mil colonos israelitas na Cisjordânia gastam mais água anualmente do que 2,3 milhões de palestinos, cinco vezes mais pessoas. Enquanto os palestinos consomem 70 milhões de metros cúbicos, a colonização gasta 222 milhões, ou seja, se cada palestiniano usa o equivalente a 30 mil litros de água por ano, um colono israelita consome – e em grande parte esbanja – 493 mil litros, 16,5 vezes mais. E a utilização da palavra “esbanja” é muito objectiva neste caso porque enquanto o Exército israelita arrasa os poços palestinos considerados “clandestinos”, perfurados para consumo e agricultura, os colonatos não se privam de usar água para piscinas e regar os jardins.


Em Gaza, embora a situação seja diferente, o problema é igualmente grave. Os palestinos podem abrir os poços mas nas zonas israelitas a montante a escavação processa-se a ritmo muito mais elevado, restringindo o fluxo para a superlotada faixa.

Resultado: a água para consumo nestas regiões está a salinizar-se a grande velocidade e, segundo informação do Banco Mundial, apenas 5 a 10 por cento obedece aos padrões de consumo sem riscos. Mas se Israel tem recursos económicos para dessalinizar água do Mediterrâneo, as autoridades palestinas não o podem fazer.


O “problema da água é revelador de um novo apartheid no Médio Oriente”, escreveu o deputado francês Jean Glovany, recorrendo, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, a “terminologia extremista” e “propaganda viciosa”.


Enquanto a batalha diplomática e verbal entre Paris e Telavive se trava com a certeza de apaziguamento a curto prazo, colonos israelitas continuam e hão-de continuar a banhar-se nas piscinas ou a regar os jardins na Cisjordânia e e os palestinos continuam e vão continuar a procurar abastecer-se com baldes em fontes e poços, cuja existência está submetida à arbitrariedade do Exército de ocupação.


Porque, para que não haja ideias que escapem ao poder de quem manda na região, as autoridades israelitas consideram a água um assunto da “esfera militar”. Assim se confirmando que é uma arma de guerra.


José Goulão