domingo, 31 de julho de 2011

É a hora das comunidades de base e dos leigos!!!

O arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzatti, declarou àADITAL que para a Igreja Latinoamericana a grande esperança são as comunidades de base e sublinhou estar convencido de que hoje é a hora dos leigos.

"A igreja da América Latina é uma grande esperança desde as comunidades eclesiais de base. Desde as dioceses contemplamos o que a Igreja significa neste processo de construir o Reino de Deus, de colaborar com o espírito na construção do Reino de Deus”, asseverou após fechar, na última sexta-feira (15), as Jornadas Teológicas do Cone Sul e Brasil, ocorridas em Santiago do Chile.

O religioso sustentou também que "é a hora dos leigos. Estou muito convencido disso porque talvez dentro dos membros do povo de Deus, os que mais necessitam estar presentes na vida do mundo são justamente os leigos com identidade cristã”.

"O Espírito Santo lhe dá força, o batismo e a confirmação, mas naturalmente de parte da comunidade eclesial se requer uma atenção muito especial ao laicato, ao homem e à mulher, com uma formação adequada e reconhecendo o dom que tem recebido do espírito para construir a única Igreja de Cristo”, afirmou.

Para o arcebispo Ezzatti, o Concílio Vaticano II iniciou um caminho de maior consciência do que significa, em primeiro lugar, a palavra de Deus, o que significa ser povo de Deus em comunhão de vocações e ministérios, o que significa a presença da Igreja no mundo e do evangelho que transforma o mundo.

O arcebispo destacou também o que significa uma oração realmente vivida desde esta consciência de ser dom de Deus.

"Creio que ao largo destes 50 anos, por meio de várias iniciativas, a iniciativa do CELAM, que é uma grande benção de Deus e, sobretudo, por meio da experiência das comunidades, se tem buscado fazer um caminho que faça presente no contexto da América Latina a mensagem salvadora que Jesus Cristo nos trouxe”, sublinhou.

Ezzatti destacou, ainda, o aporte de Aparecida que, a seu ver, abriu uma nova perspectiva.

"Aparecida insiste em uma ideia que é do Concílio Vaticano II: que todos somos discípulos e missionários, que tem um componente comum a todo o povo de Deus”, finalizou.

Orlando Milesi, jornalista da Agência ANSA

Fonte: Adital

18.07.2011

Indígenas e mulheres na teologia

As novas contribuições da teologia provenientes dos povos originários, mulheres e outros setores excluídos que hoje têm maior protagonismo nos países do Cone Sul e Brasil, foram refletidos e debatidos durante as Jornadas Teológicas que concluíram hoje (15), na Universidade Católica Silva Henrique, em Santiago do Chile.

Assim indicou o sacerdote mexicano Eleazar López, indígena zapoteca; a teóloga laica feminista Ana Maria Tepedino, professora daUniversidade do Rio de Janeiro, Brasil, licenciada em administração de empresas e professora em diversas universidades do país.

López sustenta que o surgimento da teologia da libertação marcou o início de uma descolonização da Igreja porque apontou que "as igrejas sejam realmente nossas, sejam igrejas de cá e não transportadas da Europa, que surgem de cada cultura".

Destacou que este feito significa a incorporação da diversidade humana e recordou a proposta zapatista de "um mundo onde caibam todos e todas com dignidade, onde entram muitos mundos".

López, membro do Centro Nacional propagador mineiro do México e um dos principais teóricos da teologia indígena na América Latina, destacou a instalação e vigência de um diálogo com as autoridades vaticanas e indicou que, seu discernimento, deve apontar para que os povos originário não sejam forçados a se separem de suas crenças básicas.

"Não devem excluir o que somos para ser o que outros querem que sejamos, devemos conservar nossa dignidade fundamental humana e também a dignidade da diversidade cultural para juntos construirmos um mundo de justiça e de paz. Afinal de contas, é o reino de Deus", sustenta.

Tepedino, que participou na mesa de trabalho sobre"mulheres, gênero e teologia", insistiu na necessidade de incorporar arealidade feminina ao trabalho teológico a fim de contribuir para evitar o patriarcado e a persistente subjugação da mulher na sociedade.

"Devemos encontrar meios para ajudar as mulheres a separar-se deste sistema que as invisibilizam, violentam e marginalizam, para que nós possamos fazer os traços, os desenhos de nosso próprio rosto, de nossa própria personalidade, de nossas identidades. Esse é nosso sonho", expôs.

Segundo Tepedino, uma mulher ser feminista não significa necessariamente que suas filhas ou gerações a seguem, mantenham uma postura em prol da dignidade da mulher.

"Isto significa que o processo é muito doloroso porque vemos que a cada vez há que começar novamente. Por isso não se avança tanto, não se consegue caminhar até um certo ponto porque a cada vez se deve começar de novo", disse, referindo-se à extensão dos comportamentos e pensamentos patriarcais.

Jung Mo Sung defendeu recolocar o conceito de teologia da libertação pelo de "cristianismo da libertação", a fim de incluir a todos que têm princípios ou inspiração cristã, ainda que não pertençam ou se conheçam na Igreja Católica. Mo Sung chamou a um diálogo amplo que inclua os setores diversos a fim de avançar na libertação da dependência dos povos.

O especialista destacou a necessidade de que a reflexão teológica esteja inspirada nos problemas complexos e nas vivências traumáticas que os povos vivem e, como exemplo, disse que a crise financeira que afeta a Igreja dos Estados Unidos com os escândalos de pedofilia, pode ser "o detonante para que volte a trabalhar com o povo e se acerque à palavra de Deus".

No plano econômico, o teólogo afirmou que "é evidente que há uma crise nos Estados Unidos que põe em interrogação sua hegemonia unipolar", mas disse que ainda não se pode falar de globalização multipolar porque "atualmente essa é uma aspiração".


Fonte: Correio do Brasil

CEBs Regional SUL3 realizou Reunião Ampliada - RS

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Nos dias 09 e 10 de julho, na cidade de Santa Maria (onde ocorreu o 8° Intereclesial), estiveram reunidos os representantes das dioceses e vicariatos para mais uma reunião ampliada em preparação ao 13º Encontro das CEBs do Rio Grande do Sul, que será nos dias 26 a 29 de julho de 2012 em Santa Maria.

Bem acolhidos na comunidade Nossa Senhora Medianeira, fomos assessorados pelo Pe. Léo Konzen da Diocese de Santo Ângelo, que abordou o tema: “Justiça e Profecia a serviço da vida”, sendo que este é o tema do encontro, e o lema: “CEBs proféticas e missionárias na vivência do Reino”.

A presença do Bispo referencial das CEBs em nosso Regional, Dom José Clemente Weber, sempre nos fortalece e anima muito.

Nesta ampliada, foram encaminhados nomes para a assessoria do encontro nos subtemas, como no tema. Também foram realizados trabalhos em grupos para encaminhamentos práticos deste encontro.

Os subtemas do encontro serão:

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- Justiça na Bíblia e no mundo

- Vida missionária nas CEBs

- CEBs e a vida no planeta

- CEBs: Mística e espiritualidade nas Romarias

- Profetas e profetizas de ontem e de hoje

- CEBs e juventude: desafios e perspectivas

- As CEBs e os movimentos Sociais

- O macroecumenismo na vida das CEBs.

Também foram apresentados os nomes dos assessores das CEBs no Regional, são eles: Frei Olávio Dotto e Ir. Cleusa Andreatta.

A próxima ampliada será nos dias 10 e 12 de dezembro em Santa Maria.

Neidi Paula Heck

Fome na Somália:3,7 milhões a morrer à fome


Na Somália, 3,7 milhões de pessoas estão em risco de morrer à fome.
As Nações Unidas apelaram aos países doadores para mobilizarem 1100 milhões de euros de ajuda humanitária. Dezenas de milhares de pessoas “estão em risco de morte na Somália”, alertaram nesta quintafeira, em conferência de imprensa, responsáveis da ONG francesa Ação Contra a Fome (ACF), enquanto diversas organizações emitiam apelos aos países doadores.
Enquanto a ONU acaba de declarar o estado de fome em duas regiões do sul da Somália, ao considerar que perto de metade da população somali está atualmente em situação de crise, a ONG ACF referiu que “dezenas de milhares de pessoas estão em risco de morte”.

ONU declara fome na Somália que afeta 2,85 milhões de pessoas

As Nações Unidas decretaram esta quarta-feira, 27/07/2011, a existência de fome em duas regiões no sul da Somália, o país mais afetado pela crise de seca, a mais grave nos últimos 60 anos a assolar o continente africano.

O alerta centrado na Somália já foi soado por diversas entidades humanitárias internacionais, que cada vez mais temem que as consequências da seca no país continuem a escalar e a atingir milhões de pessoas, particularmente nas regiões de Bakool e Baixa Shabelle, que estão já sob um estado de fome.

Um estado de fome é determinado quando a taxa de mortalidade ultrapassa a morte de duas pessoas em cada 10 mil, por dia, a par de uma taxa de subnutrição superior a 30 por cento, um consumo de água inferior a quatro litros por dia e um consumo de 1,500 calorias por dia, inferiores às 2,100 recomendadas.

O coordenador da ajuda humanitária para a Somália, Mark Bowden, frisou que o risco é real e que os efeitos da crise estão a atingir, de acordo com o Daily Telegraph, cerca de 2,85 milhões de somalis, entre os 10 milhões estimados na região Este de África.

As fotografias da crise humanitária e da fome que afetam a Somalia

«Se não agirmos agora, a fome vai-se espalhar por todas as oito regiões do sul da Somália dentro de dois meses», escreveu o The Guardian, citando o coordenador numa cimeira realizada em Nairobi, capital do Quénia, onde delineou ainda as principais causas da crise: «fracas colheitas e surtos de doenças infecciosas».

Os avisos de Bowden ganham maior significância quando apoiados pelos fatos. Segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha, uma em cada dez crianças na Somália corre atualmente o risco de morrer de fome, pois uma em cada três sofre de subnutrição. A isto acrescem as 310 mil pessoas que sofrem de subnutrição, só no sul do país, estima a ONU.

As drásticas condições que se vivem na Somália têm levado milhares de pessoas a fugir do país. Serão cerca de 166 mil os somalis que já terão saído, ou tentado sair, do território.

A ONU, em conjunto com os diversos grupos de ajuda humanitária na região, tem apelado ao envio de ajuda, tanto de cariz monetário como em termos de meios, à comunidade internacional.

As Nações Unidas apontam para que sejam necessários cerca de 1,6 mil milhões de euros para a implementação de programas de ajuda à população nos países do Este de África.

«O fato de ter sido declarado um estado de fome mostra o quão grave está a situação», apontou o secretário britânico para o Desenvolvimento Internacional, Andrew Mitchell.


01.08.11

Fonte: sapo.pt

‘Mundo não pode ficar indiferente à fome na África’, diz papa

O mundo não deve ficar indiferente à fome e à seca que ameaçam 12 milhões de pessoas no Chifre da África, afirmou neste domingo o Papa Bento 16. "Nós não devemos ficar indiferentes ao drama da fome e da sede", disse ele, diante de centenas de peregrinos em Castel Gandolfo, a residência de verão do Sumo Pontífice, durante a oração do Angelus semanal.

"Muitos irmãos e irmãs no Chifre da África sofrem as consequências dramáticas da fome, agravada pela guerra e pela falta de instituições estáveis"
, acrescentou. O papa pediu "compaixão e solidariedade fraterna".

O Chifre da África está sofrendo sua pior seca em décadas, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). o órgão, que também falou sobre a crise alimentar mais grave na África nos últimos 20 anos, estima que cerca de 12 milhões de pessoas estão ameaçadas na região. De acordo com o secretário-geral Ban Ki-moon, são necessários US$ 1,6 bilhão apenas para aliviar a situação na Somália, um dos países

31.08.2011

sábado, 30 de julho de 2011

CEBs do Regional Sul1, Estado de São Paulo, promovem 9º Encontro Estadual com religiosos

Estadual_CEBs_Padres_Religiosas_SeminaristasA diocese de Registro (SP) acolheu, no início desta semana, dias 26 e 27, o 9º Encontro Estadual de bispos, padres, religiosos, diáconos, seminaristas e aspirantes à vida religiosa das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Sediado na cidade de Eldorado, no Vale da Ribeira, o encontro reuniu 33 religiosos de cinco Sub-regionais do Regional Sul 1 da CNBB (São Paulo).

Um dos temas que dominou a reunião foi o estudo aprofundado da cristologia a partir dos documentos das cinco Conferências do Episcopado da América Latina e Caribe. O estudo foi apresentado pelo padre Paulo Parise.

O grupo discutiu também as conquistas e desafios apresentados pelas Conferências. “Percebemos, mesmo diante de tantos obstáculos apresentados, que é preciso partilhar as pequenas sementes existentes de ações concretas vividas em nossas comunidades e procurar somar as forças”, diz o relatório final do encontro.

Outro tema discutido pelos religidos foi a realidade das comunidades quilombola e ribeirinha presentes na região. No Vale do Ribeira, segundo o relatório do encontro, há 60 comunidades quilombolas. “As principais dificuldades enfrentadas [pelos quilombolas] é o reconhecimento das terras”, aponta o relatório. Nestas comunidades é desenvolvido o projeto Equipe de Articulação e Assessoria das Comunidades Negras (EAACONE), coordenado pelo Irmão Ivo e Irmã Ângela. A equipe ajuda na formação das comunidades estudando os estatutos e lutando pelo reconhecimento e pela demarcação das terras quilombolas.

O pároco paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Jacupiranga (SP), padre Gilberto de França, foi o guia de uma visita dos participantes do encontro à Comunidade Quilombola de São Pedro, no município de Eldorado. Padre Gilberto é nasceu e cresceu nesta comunidade, que reúne 48 famílias. A reunião terminou com uma missa, que teve a participação dos quilombolas.

A importância das vocações para a vida da Igreja


A vida da igreja acontece de forma participativa, dinâmica e transformadora graças à atuação das lideranças cristãs sob escuta da Palavra de Deus e orientação das diretrizes e metas do plano pastoral, comunitário, paroquial e diocesano. O Espírito Santo suscita diferentes modalidades evangelizadoras tendo como primeiro exemplo a vida das primeiras comunidades cristãs. O Celebrar, o ter tudo em comum, assumir os serviços com alegria, cultivar a vida de oração e atuar comunitariamente requer pessoas que se disponham a isso e que forme lideranças para uma feliz continuidade.


Tudo na igreja acontece porque Deus chama e prepara as pessoas e se faz presente no exercício da missão. É o dedicar de cada um na vida da comunidade, nos conselhos da comunidade, o entendimento de cidadania como interação fé e vida que vão dando identidade e sentido enquanto discípulos missionários de Jesus, afim de que todos os povos tenham vida. Tudo depende de como se assume a vida batismal se vive a missão no serviço pelo Reino de Deus. O seguimento de Jesus Cristo é um caminho que todo batizado que cresce na vivencia comunitária deseja percorrer. Quando um/a jovem se sente chamado para atuar no serviço à vida, ele/a se apresenta cheio de vigor, criatividade e desejo de servir.


No momento, nem percebe tanto os desafios da missão. O jovem acolhe o chamado como uma proposta que dá sentido à sua vida. Na verdade o jovem se engaja no compromisso e responde positivamente ao chamado vocacional no intuito de ser feliz. Ao longo do processo de acompanhamento e das experiências na vida da comunidade, a maturidade vai sendo formada e o/a vocacionado/a, discípulo/a de Jesus, vai percebendo que levar a sério a vocação é preparar-se para sofrer, ou seja participar da experiência de Jesus em seu destino final (Jo 12,24-28).


A Vida Comunitária e Eclesial cumpre seu papel também, quando acolhe os jovens e os oportuniza formação e engajamento, afim de que, ao longo da caminhada as responsabilidades e desafios vão sendo assumidos com maturidade, liberdade e alegria. A dinâmica da Teologia da Libertação, a Metodologia do Cebi e as Diretrizes das Comunidades Eclesiais de Base formam o tripé necessário para que a futura geração de discípulos Missionários de Jesus não perca de vista o ponto inicial e em cada mudança de época consiga refundar e refontizar a animação da vida eclesial.


Os jovens que se tornam vocacionados ao serviço eclesial, compreendem que Deus se torna próximo através da proposta de Jesus – Caminho Verdade e Vida e percebem que Jesus vê como Deus vê e, por isso, se aproxima, se faz gente do povo que sofre, este povo que constantemente é vítima do sistema que gera vida para poucos. O primeiro domingo de agosto se reza pela vocação sacerdotal, todos possuem o dom do sacerdócio pelo batismo, porém, o padre exerce um serviço ordenado. As vocações nascem nas famílias e são cultivadas na vivência da comunidade e amadurecidos na dinâmica do serviço, na vida de oração, na gratuidade, na conversão constante e na paixão pelo seguimento.


O Evangelho para o dia do padre, nos diz: “Pedro desceu da barca e começou a andar sobre a água, em direção a Jesus. Mas quando sentiu o vento, ficou com medo e, começando a afundar, gritou: “Senhor, salva-me”! Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro e lhe disse:” Homem fraco na fé, por que duvidaste?” Há muitas simbologias no texto, por exemplo o sair da barca.
A barca era o instrumento de trabalho de Pedro, seu sustento, seu mundo, sua segurança, sua história. Saiu de tudo que era seu porque escutou o chamado de Jesus: “Vem” (Mt 14,29). Andar sobre a água, que coisa impossível aos nossos olhos! O seguimento, o profetismo, a cruz, o anúncio, o testemunho de comunhão que um/a vocacionado/a, um padre, uma Religiosa Consagrada, um cristão deve externar, é um verdadeiro andar sobre a água.


O vento fez Pedro sentir medo e afundar. Quais os ventos podem amedrontar um seguidor de Jesus? O afundar não precisa explicar tanto, pois é o que pode acontecer com facilidade, porém afunda-se porquê? O tráfico de pessoas, de drogas, de armas, a corrupção em escala pequena ou grande, a acumulação exagerada de capital por parte de uma minoria de cidadãos, a situação do planeta, da água e das florestas… são ventos fortes que querem emudecer e afundar o/a vocacionado/a de Jesus que atua querendo ser expressão de vida, de luta e de fé. Pedro teve coragem de recorrer a Jesus: “Senhor salva-me” (Mt 14,30). Jesus ao invés de dar um abraço, consolar e sentir pena de Pedro, dá uma bronca…”por que duvidaste”? ( Mt, 31) Tu estás certo, continue firme. Subiram de volta no barco e o vento se acalmou, ou seja, retoma a missão de anunciar a vida de Jesus na vida da gente e assim, a transformação vai acontecendo na vida das pessoas e na sociedade, pois só Ele tem poder de abater a força contrária.


Por isso, há muitas iniciativas que alegram e refazem a esperança dos cristãos: parcerias, alternativas de sustentabilidade, novas formas de consumo por um nova economia que não seja a de mercado existente e diversas iniciativas no cuidado para com a casa comum. O mês vocacional é propício para refletir sobre a vocação de todos os/as batizados/as. Uns se descobriram seguidores de Jesus pela vida matrimonial, outros pela Vida Religiosa Consagrada, outros pela dedicação do Laicato enquanto ministros, catequistas, liturgia, cuidados com a igreja/capela no lavar, limpar, preservar, outros pelo Sacerdócio Ordenado e assim, a vida da Igreja usufrui de uma grande bênção de Carismas. Uma vida vivida em mutirão, todas com alegria e coragem porque Jesus chama e acompanha seus seguidores dando a força e a direção necessárias pela Palavra e a Eucaristia.

Irmã Maria Lucelene de Vasconcelos (CICAF), assessora diocesana do SAV, professora na Escola Sagrado Coração de Jesus


Fonte: A Tribuna - Mato Grosso

Paul Wess, teólogo:" É preciso lutar pela libertação"

Nos países de língua alemã ele é um dos principais defensores das comunidades de base, da revisão dos conteúdos da fé e da reestruturação da igreja católica segundo os princípios bíblicos de fraternidade e solidariedade ("Geschwisterliche Kirche"). Seus inúmeros ensaios e artigos deram origem a vários livros e coletâneas, alguns deles já "verificados" pelo Vaticano; mas, por enquanto, ainda não objetos de notificações. Estamos falando do teólogo austríaco Paul Wess, nascido em 1936 em Viena. Estudou filosofia e teologia em Innsbruck (inclusive com Karl Rahner), onde obteve em 1961 doutorado em filosofia. Ordenou-se presbítero em 1962 e trabalhou em Viena como vigário paroquial e professor de ensino religioso. Após um tempo de reorientação e novos estudos (1965/1966), assumiu - inicialmente numa equipe de padres - o trabalho numa paróquia recém-fundada em Viena (Machstrasse - Rua Mach), com o objetivo de formar comunidades de base e fazer experiências concretas de uma igreja communio.Em 1968 obteve o doutorado em teologia pela Universidade de Innsbruck com a tese "Como falar de Deus? Um debate com Karl Rahner" (Graz, 1970), e em 1989 a habilitação para o ensino universitário da teologia pastoral com a tese "Igreja de Comunidades - Lugar de fé. Nesta entrevista, publicada na página da Adital na internet, ele detalha o seu ponto de vista:O senhor é um teólogo europeu. O que o motivou a escrever um livro sobre a Teologia da Libertação latino-americana?

A motivação imediata foi o conflito desencadeado pela crítica que Clodovis Boff fez à Teologia da Libertação. Na Alemanha, o Instituto para Teologia e Política (Institut für Theologie und Politik, Münster, www.itpol.de) publicou uma documentação detalhada, inclusive online. Mas os motivos para meu livro são ainda mais profundos. Também muitos europeus que vivem em países de bem-estar - como, por exemplo, no meu país, a Áustria - sofrem com a existência de tantas pessoas pobres no mundo. E a gente se pergunta o que pode fazer, como cristão em geral e, no meu caso, especialmente como padre e teólogo, para contribuir para a libertação dessas pessoas? Por isso, eu sempre me interessei muito pela Teologia da Libertação e acompanhei também de perto o conflito entre Roma e essa teologia. Quando escrevi minha "habilitação", para ser aceito como professor de teologia pastoral na Universidade de Innsbruck [Igreja de Comunidades - Lugar da Fé. A prática como fundamento e consequência da teologia; título original: Gemeindekirche - Ort des Glaubens. Die Praxis als Fundament und als Konsequenz der Theologie. Graz, 1989], eu me posicionei não só em relação aos documentos de Roma, mas estudei também criticamente algumas afirmações de teólogos da libertação.

Sobre esse conflito, qual a sua posição?

O conflito antigo com a Congregação para a Doutrina da Fé repete-se agora dentro da própria Teologia da Libertação e pode prejudicar suas preocupações que são tão importantes. Leonardo Boff expressa isso assim [REB 271, 2008]: "Podemos imaginar que os que condenaram a Jon Sobrino (Clodovis aprova a Notificação romana), a Gustavo Gutiérrez, a Ivone Gebara, a Marcelo Barros, a José María Vigil, a Juan José Tamayo, a Castillo, a Dupuis, a Küng, entre outros, se acercarão a Clodovis e lhe dirão satisfeitos e com o peito inflado de fervor doutrinário: 'Bravo, irmão. Enfim alguém que teve a coragem de desmascarar os equívocos e os graves e fatais erros da Teologia da Libertação'.''

Minha intenção foi propor uma volta à teologia bíblica e contribuir assim para a superação do conflito. Mas devo admitir que essa contribuição é teologicamente bem exigente. Afinal, trata-se de mostrar que ambas as partes do conflito argumentam a partir dos mesmos pressupostos da doutrina eclesiástica posterior, eles apenas os interpretam de modo contrário - por isso, chegam a conclusões contrárias. Esse impasse pode ser resolvido somente quando voltamos a premissas que estão em sintonia com a Bíblia.

Parece que na vida do senhor há outros pontos de contato com a Teologia da Libertação. Certo?

Certo, tenho também um interesse prático. Depois do último Concílio implantei, junto com outras pessoas e com o apoio de Franz König, o então cardeal de Viena, uma tentativa de organizar uma paróquia recém-estabelecida de forma diferente. Procuramos "formar pequenas comunidades de cristãos maduros na fé", que depois se tornariam portadoras e modelos na pastoral. O sonho era realizar no nível de uma paróquia concreta as visões do Concílio sobre uma Igreja-Communio e sobre o sacerdócio comum de todos os fiéis. Primeiro, não sabíamos do surgimento das comunidades eclesiais de base na América Latina, mas a utopia e o desejo foram os mesmos. E assim que tivemos contato com CEBs, percebemos uma grande sintonia. Ela se mostrou até mesmo na formulação exatamente igual de uma resposta à pergunta: "Quando uma comunidade precisa se dividir para não se tornar anônima?" A resposta: "Uma comunidade precisa ser dividida assim que adquire um tamanho tal que já não se percebe quando alguém está faltando". Por causa disso, aquela paróquia de Viena tem hoje já três comunidades.

Achamos também que o melhor apoio que podíamos oferecer às CEBs na América Latina (e também às Pequenas Comunidades Cristãs na África a na Ásia) era ser um exemplo de que essas comunidades podem existir também em situações onde resolver a miséria e lutar pela justiça social não são os motivos principais, e que não é verdade que elas se dissolvem quando esses objetivos são alcançados ou inalcançáveis. Queríamos testemunhar que se trata de viver o legado de Jesus - o amor mútuo entre discípulas e discípulos (Jo 13,34s). Quando se realiza isso, a luta pela libertação faz parte do pacote, e isso nos brindou também com o contato com CEBs na Nicarágua e em Burundi.

O senhor consegue resumir em poucas palavras sua opinião sobre os problemas teológicos na raiz do conflito entre Roma e agora também Clodovis Boff, por um lado, e as pessoas que defendem a Teologia da Libertação, por outro?

Vou tentar! A meu ver, é assim: Clodovis acusa seu irmão Leonardo e outros teólogos/as da libertação de não levar a transcendência de Deus a sério. Alega que colocam Deus e os pobres no mesmo plano, e que, dessa forma, a fé em Deus é politicamente instrumentalizada e chega a ser secundária. E assim vai. Leonardo tem toda razão quando diz que, segundo a teologia eclesiástica, Deus tornou-se ser humano em Jesus Cristo, portanto, que podemos também equiparar Deus e os pobres. Afinal, segundo Mt 25, o Homem-Deus Jesus Cristo identificou-se com os pobres. Ou seja, podemos dizer assim: Clodovis vê em Cristo em primeiro lugar Deus que adotou uma natureza adicional, a natureza humana. E Leonardo destaca que Deus se despojou em Cristo de seu Ser-Deus e se tornou igual aos pobres. Segundo a dogmática eclesiástica, ambas as posições são corretas, porque o Concílio de Calcedônia diz que o "Um e o Mesmo é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem". Por isso seria possível, diz a Congregação da Fé em sua Notificação sobre as obras do Pe. Jon Sobrino (No. 6), "atribuir as propriedades da divindade à humanidade e vice-versa". Olha, já é aqui que se desrespeita a transcendência de Deus "sobre tudo e todos" (Ef 4,6), e não apenas na Teologia da Libertação, como pensa Clodovis. Por isso precisamos voltar à visão bíblica, e esta indica o seguinte: também para o Messias ungido por Deus, para Jesus Cristo, Deus foi maior do que ele (Jo 14,28), e ele se engajou pela fé no Deus único (Jo 17,3). Jesus não teria aceito ser igualado a Deus e ter as propriedades divinas atribuídas a si mesmo.

Isso quer dizer que o senhor defende uma cristologia como a de Jon Sobrino, que foi rejeitada por Roma?

Sim, meu livro é em grande parte uma justificativa bíblica dessa divergência de Jon Sobrino em relação à doutrina eclesiástica. Além disso, verifico criticamente as interpretações costumeiras do Prólogo de João e do Hino Cristológico da Carta aos Filipenses, porque esses textos são aduzidos para justificar aqueles dogmas. E finalmente procuro mostrar que também a Igreja Católica precisa contar dentro de sua doutrina com elementos condicionados historicamente, portanto, que essa doutrina pode ser digna de revisão (aqui me baseio nas argumentações de Karl Rahner). É claro que essa revisão e correção da cristologia têm também consequências para a doutrina da salvação e da libertação.

Quais consequências seriam, e o que significariam para as preocupações e os interesses da Teologia da Libertação?

Ora, por um lado, a consequência é que a salvação não pode ser esperada como algo que diviniza, ou seja, algo sobrenatural - como afirma o princípio da teologia greco-platônica: "Deus tornou-se homem para nós nos tornar Deuses". Ao contrário, salvação é somente possível como plenificação deste mundo finito que Deus vai operar algum dia, e isso já significa beatitude. E ainda há a consequência de que, também na fé cristã, não se pode abolir os limites da criação e o caráter sofrido de seu desenvolvimento natural e intelectual. A criação continua "em dores de parto" (Rm 8,22). Por isso precisamos nos reconciliar com sua finitude e basicamente com a presença do sofrimento neste mundo, para sermos capazes de lutar pela libertação de miséria e sofrimento.

Isso significa, primeiro, que a fé em Deus não pode substituir nosso engajamento por um mundo justo, mas que ela deve se realizar exatamente na luta pela libertação de pobreza e miséria. E significa, segundo, que um mundo salvo será até o fim dos tempos sempre uma meta, uma utopia, que nunca pode ser alcançada plenamente, nem mesmo pela luta mais engajada, e, claro, muito menos com meios violentos.

Isto significa uma crítica não só aos conceitos soteriológicos da doutrina eclesiástica, mas também às ideias de alguns teólogos/as da libertação?

Certo, é isso mesmo. Mas há um segundo ponto importante em que minha opinião difere um pouco de ambas as partes.

Qual é?

O atual papa, quando ainda era Prefeito da Congregação da Doutrina para a Fé, afirmou em 1996 em Guadalajara (México) numa palestra diante dos presidentes das Congregações para a Fé Latino-Americanas que o erro dos teólogos da libertação residisse no fato de querer superar pobreza, opressão e injustiça no mundo por meio de uma mudança radical das estruturas, por meio de um processo político, e não pela conversão individual. Para Roma, o caminho certo foi e ainda é a conversão individual e, com ela, a superação do pecado nos indivíduos. A Teologia da Libertação, porém, inclina-se pelo menos tendencialmente para a ideia de que os pobres como tais já possuem a atitude certa, e que essa atitude nascerá em todas as pessoas quando haverá estruturas justas. Ou seja, inclina-se para a ideia de que, no fundo, são só os ricos que precisam se converter.

Minha posição é um pouco diferente. É certo que as pessoas pobres estão em geral mais próximas da atitude certa do que as pessoas ricas (cf. Mt 19,23s). Mas quando sua vida melhora, não precisam mais dela e nem sempre a preservam, como mostram os desenvolvimentos recentes na Nicarágua. Por outro lado, não é possível diminuir a pobreza e a miséria (digo diminuir porque neste mundo não podemos esperar uma superação total, infelizmente) sem substituir as estruturas de pecado por estruturas de amor. Disso segue que precisamos das duas coisas juntas, ou seja: somente pessoas com uma atitude justa poderão estabelecer estruturas justas. Onde falta a atitude justa e/ou se muda estruturas com meios violentos, surge uma exploração por parte dos funcionários da nova ordem, como mostrou o exemplo do marxismo. Portanto, pessoas com uma atitude nova precisam começar a formar estruturas novas e convencer outras através de seu exemplo - como "sal da terra, luz do mundo, cidade no monte" (Mt 5,13-16). Esta seria a primeira e mais importante tarefa social da Igreja no serviço à libertação, e disso decorre a cooperação com todas as pessoas de boa vontade no engajamento político por uma ordem justa.

É isso que o senhor considera também uma tarefa fundamental das comunidades eclesiais de base?

Sem dúvida! Mas neste ponto considero muito importante que a Igreja entenda suas comunidades não só de maneira funcional, não só a partir de tarefas e serviços, mas também, e em primeiro lugar, como um valor próprio, como lugares iniciais e fragmentários da salvação neste mundo - como sinais e sacramentos do Reino de Deus que se cumprirá plenamente na comunhão dos santos. É claro que comunidades devem servir, mas elas existem não só por causa do serviço. Elas têm seu valor próprio - assim como o matrimônio e a família - como a "nova família" dos Filhos e Filhas de Deus. Clodovis Boff critica com certa razão que a Teologia da Libertação "onguiza" a Igreja, mas ele não percebe que uma instrumentalização intraeclesial ou "religiosa" ocorre também quando Igrejas e comunidades são entendidas praticamente apenas a partir de suas funções fundamentais e suas muitas tarefas (é isso que acontece também no Documento de Aparecida). Desse jeito, a Igreja Católica não deve se admirar quando muita gente passa para Igrejas "crentes", onde as pessoas são antes de tudo bem-vindas por causa de si mesmas, e não só como potenciais colaboradoras no anúncio e em outras tarefas. A Igreja não pode ser uma cópia da meritocracia (da sociedade que reconhece só o mérito e o empenho). Ela poderá se tornar um espaço para experimentar o amor de Deus e, a partir disso, um lugar de fé, só quando cada pessoa é conhecida pelo nome e amada por causa de si mesma. Só numa "Igreja de Comunidades" desse tipo será também possível superar a divisão entre "clero" e "povo".

Fonte: Tribuna do Norte

IV Baile das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP







29 de julho de 2011, no espaço Nova Era, na Avenida 23 de Maio nº 95, na Vila Maria São José dos Campos, aconteceu o IV Baile das CEBs da Diocese de São José dos Campos deste milênio, realizado pela equipe de coordenação diocesana das CEBs.
Momento de muita alegria, descontração e diversão.
Espaço de encontro, de reencontro do pessoal das CEBs e dos simpatizantes, que solidifica a convivência social e em que todos expressam a grande alegria de fazer parte da familia cebiana! Inclusive acontece o sorteio de muitos brindes, ofertados pelas regiões pastorais.
Uma grande festa de alegria!

credito das fotos: Maria Bernadete de Paula Mota Oliveria

A frágil flor que perfuma o mundo





Nos oitenta anos do irmão e mestre Carlos Mesters, doutor da fé bíblica para o mundo inteiro, certamente cabe a ele o título que ele deu às comunidades eclesiais de base no primeiro Encontro Intereclesial das CEBs em Vitória, ES em 1975. Se já, naquela época, elas eram mesmo como uma flor frágil que resiste às intempéries da vida, este aniversário de oitenta anos do frei Carlos é ocasião propícia para celebrarmos como o Espírito presenteou as Igrejas e o mundo dos pobres com a vida e a missão dele, flor frágil, mas muito resistente e que nunca deixou de transpirar e contaminar o universo com o perfume divino.

Atualmente, diversos fóruns mundiais de Teologia e Libertação, além de associações regionais de Teologia e Ciências da Religião espalham pelo continente e pelo mundo novas reflexões teológicas sobre a realidade e expressam novos desafios para uma reflexão de fé inserida nas melhores causas da humanidade e a partir da caminhada dos empobrecidos e excluídos do mundo. Apesar disso, em meios hierárquicos oficiais, há quem diga que a Teologia da Libertação morreu. De fato, alguns hierarcas baniram tanto os teólogos, como seus livros dos seminários e casas de formação oficiais. Ao fazer isso, pensaram decretar a morte da Teologia da Libertação. Entretanto, não podem dizer que a leitura bíblica que tem sustentado e dado força espiritual a este caminho teológico e pastoral esteja morta ou em decadência. Graças a Deus, ao menos na América Latina, vicejam muitas experiências de leitura bíblica a partir da caminhada do povo. Tanto as comunidades católicas, como evangélicas que se abriram a estas experiências novas sabem que entre os pioneiros deste tipo de leitura, o irmão que começou os círculos bíblicos e espalhou por todo o continente e por outros países do mundo esta nova forma de ler a Palavra de Deus foi o frei Carlos Mesters.

Conheci Carlos em 1977, quando comecei a fazer parte do secretariado nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e fui encarregado de escrever um livro sobre "A Bíblia e a Luta pela Terra". Procurei o frei Carlos Mesters para me situar no que estava sendo pensado, na linha de uma leitura bíblica a partir do povo. Ele me recebeu e me deu uma ajuda inestimável. Desde então, nos tornamos amigos e companheiros de caminho. Quando, em 1979, ele e outros companheiros e companheiras fundaram o CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), embora não pude assinar a ata de fundação, fui dos primeiros que participei do Conselho do CEBI e da sua equipe de assessores.

Naqueles anos, vivi uma cena esclarecedora. Em uma livraria católica, um padre tomou nas mãos um dos muitos livros de Carlos Mesters e perguntou: - Este livro é de Exegese, de Teologia Bíblica ou só tem sermões de espiritualidade?

Na época, esta divisão rígida e acadêmica separava a reflexão racional e a prática litúrgica e devocional das Igrejas. Carlos Mesters e, a partir dele, os irmãos e irmãs que fazem o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) derrubaram os muros que dividiam estes diversos campos do conhecimento bíblico. Fizeram uma boa síntese entre um estudo crítico e mesmo científico da Bíblia e uma leitura pastoral e militante, construída a partir da causa dos pobres. Desde então, se espalham por todo o país propostas diversas de leitura bíblica e muitas procuram unir os dados da ciência com a preocupação pastoral de partir da realidade do povo. Carlos Mesters é o pioneiro deste novo caminho teológico e espiritual.

Sem pretender sintetizar toda a riqueza do ensinamento de Carlos Mesters para a leitura bíblica latino-americana, aqui tentarei recordar apenas três elementos entre os muitos outros que podemos descobrir na sua forma de viver a espiritualidade bíblica e de como ele nos comunica a fé e a atualidade da palavra profética.

1 - O primeiro livro da revelação divina: a Vida

Foi uma das primeiras intuições de Carlos Mesters. Em seu Tratado sobre a Trindade, Santo Agostinho escreveu que, antes de inspirar a Bíblia, Deus tinha escrito um primeiro livro para se revelar a nós: a própria vida e a história da humanidade. Desde cedo, Carlos percebeu que a Bíblia é mais corretamente compreendida quando quem deseja aprendê-la procura antes compreender o próprio mistério da vida. Quem tem o privilégio de conviver com Carlos Mesters sabe como ele é aberto e sensível às relações de amizade, à sensibilidade com a justiça e à beleza da arte. Tudo ele capta e transforma em parábolas e histórias que nos ajudam a compreender a vida. Desde jovem, inseriu-se na convivência com as pessoas pobres. Isso lhe dá a capacidade de explicar os mistérios mais sublimes da revelação, com imagens simples do dia a dia. A beleza da chuva encharcando um terreno lhe possibilita explicar como a palavra bíblica vem do céu e, ao mesmo tempo, surge do chão da vida. A arte da fotografia e a ciência da radiografia o ajudaram a distinguir e comparar os evangelhos sinóticos com o texto joanino. Se Carlos Mesters resolvesse escrever todas as parábolas da vida que ele criou e contou, no decorrer destes anos, desde que começou em Belo Horizonte (no começo dos anos 70) os Círculos Bíblicos, como diz o evangelho: "nem todos os livros do mundo poderiam conter".

Ler os livros do frei Carlos é sempre uma experiência espiritual porque, ao mesmo tempo que elabora seus livros com o conhecimento crítico mais atualizado, ele mantém sempre o estilo simples e comunicativo que aprendeu do povo. Ao mesmo tempo que revela, deixa algo para que a pessoa que lê possa aprofundar e concluir.

Sua relação com Deus que, muito discretamente, ele partilha conosco, me recorda sempre uma música que Maria Bethânia cantava em seu primeiro show (Rosa dos Ventos, 1970). A música inglesa do século XIX tem uma letra inspirada no poeta Fernando Pessoa que Carlos conhece e do qual gosta muito. A canção "Doce Mistério da Vida" fala do amor romântico, mas nos parece muito com o Cântico dos Cânticos. Assim como o poema bíblico, estes versos podem ter muitos sentidos, inclusive o de fazer da paixão humana sacramento da relação íntima com o Espírito. Por vários motivos, esta música na linha da balada romântica me lembra o amigo Carlos e seu jeito de viver a fé. A letra diz assim: "Minha vida que parece muito calma

Tem segredos que eu não posso revelar,

Escondidas bem no fundo de minh´alma,

Não transparecem, nem sequer em um olhar.

Vive sempre conversando a sós comigo,

Uma voz que eu escuto com fervor,

Escolheu meu coração pra seu abrigo

E dele fez um roseiral em flor.

A ninguém revelarei o meu segredo,

E nem direi quem é o meu amor".

2 - A dimensão subversiva da fé bíblica

Poucos anos depois que o CEBI começou sua missão de animar grupos de estudo e prestar assessoria bíblica aos diversos movimentos de pastoral popular, setores conservadores acusaram Carlos Mesters de fazer leitura bíblica redutiva e tendenciosamente política. Apesar de que os textos do frei Carlos nunca incitaram à luta de classes ou à violência, pelo fato dele interpretar a Bíblia, ligada à vida e à causa dos mais empobrecidos, está tomando posição política e contribui para a transformação do mundo. O CEBI começou a fazer isso em um tempo no qual as comunidades cristãs aprendiam a fazer análise social e a aprofundar o método pedagógico de Paulo Freire. Era comum se falar e buscar o que seria a "conscientização". Sempre insistindo em fazer uma leitura de fé e contextual, o CEBI proporcionou um método de ler a Bíblia que se uniu neste caminho. Outros companheiros e companheiras desenvolveram mais a atenção para as dimensões sociais e políticas da leitura bíblica. Alguns procuravam sempre interpretar os textos bíblicos a partir das quatro "pernas" da mesa: a dimensão econômica, a social, a cultural e a religiosa. Carlos se inseriu neste diálogo com sua sensibilidade própria. Sempre mostrou que as coisas não podem ser isoladas uma da outra. A vida é sempre mais rica e diversificada do que nossos modelos intelectuais. Alguns exegetas europeus divulgavam o que chamaram de "Leitura Materialista da Bíblia". Frei Carlos procurou ir além destes esquemas que algumas vezes podem ser muito estreitos. Sem relativizar ou diminuir a importância destas dimensões (social, política e econômica), Carlos nos ensinou a compreender a Bíblia a partir de um triângulo que se tornou famoso em seus cursos: texto, contexto e pré-texto. A leitura do texto pede o cuidado de uma boa compreensão dos termos e uma tradução que seja fiel e clara. O contexto é histórico, social e também literário. O pré-texto é a realidade da comunidade que está lendo o texto e as perguntas que a comunidade ou pessoa faz à Escritura. A preocupação com a realidade aparece no começo da maioria dos roteiros que ele fez para os círculos bíblicos e é elemento fundamental de sua espiritualidade social e política.

Com a sua sensibilidade, unindo profundo e raro conhecimento da ciência exegética com a cultura do povo simples, frei Carlos contribuiu muito com os encontros intereclesiais de CEBs, elaborou bons materiais didáticos para a pastoral indígena, pastoral da terra, ação católica operária, comunidades afro-descendentes e no diálogo com as teólogas que nos ensinaram a ler a Bíblia a partir de olhos femininos. Seus livros, aparentemente escritos como introdução aos textos e dirigidos às pessoas simples, são sempre úteis mesmo para quem estuda e aprofunda o assunto.

3 - A leitura pluralista e ecumênica da Bíblia

O amor à Bíblia sempre foi um elemento que uniu os cristãos das diversas Igrejas e possibilitou um contato e colaboração entre eles. Até os anos 70, era comum se dizer que "a Bíblia fechada une católicos e evangélicos. A Bíblia aberta (isto é interpretada) os separa". Com sua experiência nos Círculos Bíblicos e no CEBI, experiência de quase meio século, Carlos Mesters mostra que isso pode não ser assim. De fato, seu jeito de ser aberto a todos, afável e acolhedor, sempre o aproximou de irmãos e irmãs de outras Igrejas, sedentos de uma leitura bíblica, densa de conteúdo, séria e mais próxima da realidade, ou seja, comprometida com as mudanças sociais.

O CEBI foi fundado com uma profunda vocação ecumênica. Na época se discutiu até se deveria ser chamado "Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos". Concordamos que ele poderia ser até mais aberto à participação de cristãos de várias Igrejas, sem o título de ecumênico, que ainda assustava alguns setores eclesiais. Na ata da fundação do CEBI, constam nomes de alguns irmãos evangélicos, amigos do frei Carlos. Desde então, em todos os encontros, assembléias e atividades, sempre houve a preocupação de contribuir com o diálogo ecumênico e aprender com a colaboração de crentes de várias confissões.

Em um documento de preparação para o Diretório Ecumênico Mundial, em 1969, a CNBB fazia uma distinção importante entre Pastoral Ecumênica (trabalho que une cristãos de Igrejas diferentes) e o que então se chamou Ecumenismo da Pastoral. Chamava-se assim o esforço de dar a todo o conjunto da pastoral uma dimensão de fé e abertura ecumênica. Isso quer dizer que, mesmo em atividades cotidianas e quando não há a presença de ninguém de outra Igreja, somos chamados a viver a ecumenicidade da fé e do modo de ser cristãos. Sem este cuidado permanente e profundo de ser ecumênicos, seja quando celebramos a eucaristia, seja quando explicamos a fé para uma criança, a própria pastoral ecumênica seria superficial e sem bases. A leitura da Bíblia é um dos mais importantes pólos ou raízes deste Ecumenismo da Pastoral. A leitura bíblica deve ser sempre ecumênica, não tanto por ser inter-confessional (o que nem sempre é ou consegue ser), mas por ser amorosa e acolhedora ao outro e ao diferente.

Sem dúvida, desde o início do CEBI, o estilo humano e a espiritualidade sempre aberta do frei Carlos nortearam o modo de se ler a Bíblia nesta dimensão. Além disso, o amor e a abertura para as culturas oprimidas, como as negras e indígenas, levou este trabalho de investigação e interpretação bíblica a uma dimensão não só interconfessional cristã, mas também macro-ecumênica, intercultural e interreligiosa.

Nos anos 90, Frei Carlos participou do livro que preparava o tema para um dos grandes encontros intereclesiais de CEBs. Como o encontro era em uma cidade na qual a população negra e a presença dos cultos afro-descendentes são fortes, o frei Carlos contava uma parábola. Dizia que Jesus visitou o templo de um culto afro, achou tudo muito bonito e saiu dizendo que Deus está presente e atuante ali. Um grupo de movimento leigo católico conservador protestou junto aos bispos contra o texto escrito por Carlos. Este assunto rendeu certa polêmica, mas, ao mesmo tempo, ajudou muitos irmãos e irmãs a descobrirem que "Deus não assinou contrato de exclusividade com ninguém. Nenhum grupo ou Igreja é dono de Deus, ou seu representante único e exclusivo".

Atualmente, um dos maiores desafios para a nossa fé e para a teologia cristã é repensar a espiritualidade e a forma de expressar a fé não mais a partir de modelos exclusivistas ou ainda hegemônicamente cristãos e sim no mundo pluralista e no qual as diversas culturas e diferentes religiões devem colaborar para a paz e a justiça, assim como aprenderem umas com as outras a viverem a intimidade com o Mistério e servirem à humanidade e à defesa da natureza ameaçada.

Neste caminho, comumente, precisamos de estudar e aprofundar para sermos capazes de fazer frente a este desafio tão grande. Na relação com frei Carlos Mesters, tenho sempre a impressão de que isso que para nós é fruto de um esforço e resultado de muito aprofundamento, nele é quase natural. Vem do seu jeito simples e aberto de homem de Deus, parecido com Jesus Cristo, irmão de coração e espírito universal.

4 - Oitenta anos de um menino embriagado de Deus

Sem dúvida, a qualquer pessoa que tem contato com Carlos Mesters, um elemento de sua pessoa e do seu jeito de ser que nos impressiona sempre é a jovialidade. Isso é tanto assim que chega a nos espantar quando alguém diz que, de fato, ele está completando 80 anos. Como espantou muita gente quando soube que ele esteve doente. Ele é destas pessoas que parece sempre jovem e brincando com sua saúde. Há anos e anos, vive uma vida peregrina de missionário por todos os recantos do mundo, encantando as pessoas com sua sabedoria e sua arte poética de falar de Deus e da Bíblia como quem apresenta as pessoas a quem mais se ama. Aliás, entre o Deus bíblico e Carlos Mesters se estabeleceu uma intimidade que já tem tantos anos que parece estes casamentos entre homem e mulher de idade avançada. De tanto conviver, marido e esposa começam a se parecer cada vez mais um com o outro. Isso é bom para nós. É como se nos 80 anos do frei Carlos, fôssemos nós, seus irmãos, irmãs e amigos/as que ganhássemos o maior presente: poder contemplar na pessoa e na vida dele o rosto humano do divino. Ad multos annos, meu irmão e amigo.

Marcelo Barros

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Memória dos 40 anos da Teologia da Libertação

paulofeire2

Na noite de 12 de julho, na PUC Minas, em Belo Horizonte, os participantes do 24º Congresso Internacional da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião) participaram do debate conduzido pelos teólogos Leonardo Boff e João Batista Libânio,SJ, comemorativo dos 40 anos da Teologia da Libertação (TdL) na América Latina.

Leonardo Boff enfatizou que a TdL nasceu no Brasil, em julho de 1970, a partir das reflexões bíblicas e teológicas realizadas nas Comunidades Eclesiais de Base, que, por sua vez, surgiram da consciência de um protagonismo no povo empobrecido. Vale ressaltar, aqui, que essa consciência transformadora emergiu com a figura modelar do educador Paulo Freire (na foto), que, pode-se dizer, antecipou historicamente a opção preferencial pelos pobres feita pela Igreja, em Medellín e Puebla.

Boff lembrou que o nome “Teologia da Libertação” foi dado pelo teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, naquela década. Essa TdL tem, segundo Boff, o difícil objetivo de mostrar a um mundo de miseráveis (cerca de um bilhão e 250 milhões de pessoas!) que Deus é Pai e Mãe de Bondade. Essa Teologia opta por aqueles(as) que são considerados “zeros econômicos” ou “invisíveis” pelo mercado econômico, mas são os amados e os preferidos de Deus. A TdL diz que quem não escuta os oprimidos não tem nada a dizer sobre Deus, pois ela, como o próprio Deus, é pelos empobrecidos, contra a pobreza, e a favor da vida e da libertação. Boff disse também que a TdL não morreu (e não morrerá!), apenas perdeu visibilidade na mídia, ou seja, não possui o mesmo destaque que tinha nas primeiras décadas. Hoje ela se encontra presente além dos espaços eclesiais.

João Batista Libânio, confirmando as palavras de Boff, afirmou que a TdL tornou-se, na América Latina, uma Teologia-Fonte. A Teologia no Brasil deixou de ser apenas uma Teologia-Reflexo, que repetia/refletia o que se passava na Europa, pois “a cabeça pensa onde os pés pisam”. O dominicano Frei Betto, segundo Libânio, muito contribuiu para essa coerência entre pensamento e ação da Teologia.

Os teólogos afirmaram, enfim, que uma grande herança que a TdL deixou na Igreja é a consciência de que o povo é o verdadeiro autor das transformações, das ações concretas que vão criando liberdades em todos os campos da atuação humana, como mostram as diversas pastorais sociais existentes. Elas nos dizem que os “invisíveis econômicos” são os preferidos de Deus, e que serão eles, na pessoa de Jesus, os nossos juízes finais: “tive fome e não me destes de comer, tive sede, tive frio, era estrangeiro, preso”etc.

Padre Ismar Dias de Matos,

professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC

Obama e a grande chantagem da dívida

A direita nos Estados Unidos já conseguiu entronizar como verdade absoluta a ideia falaciosa de que a maioria da população quer apertar o cinto dos gastos excessivos de um governo gastador. Obama contribuiu para esse triunfo e entregou sua presidência aos conservadores numa bandeja de prata. Na verdade, a Casa Branca capitulou faz tempo. Sabia que o estímulo fiscal aprovado no início da administração era insuficiente e sua duração demasiadamente curta. Ao negar-se a lançar um novo pacote fiscal, Obama colocou a corda no pescoço.

A coerção é a arma política preferida em Washington. Frente à necessidade legal de elevar o teto do endividamento do governo federal, o Partido Republicano e todas as forças da direita conservadora têm ameaçado o chefe do Executivo: ou se encara realmente o problema do déficit com fortes cortes no gasto público, ou será negada a autorização para elevar o teto de endividamento.

A direita nos Estados Unidos já conseguiu entronizar como verdade absoluta a ideia falaciosa de que a maioria da população quer apertar o cinto dos gastos excessivos de um governo gastador. Obama contribuiu para esse triunfo e entregou sua presidência aos conservadores numa bandeja de prata.

Na verdade, a Casa Branca capitulou faz tempo. Sabia que o estímulo fiscal aprovado no início da administração era insuficiente e sua duração demasiadamente curta. Ao negar-se a lançar um novo pacote fiscal, Obama colocou a corda no pescoço. Quando o efeito do primeiro estímulo se esgotou, Obama foi alvo das críticas pelo fracasso de seu plano.

Prontamente, por um passe de mágica, a crise começou a ser percebida como estando relacionada mais com o mau manejo da economia sob Obama do que com os vinte anos de desregulação e abusos no setor financeiro. A discussão passou da necessidade de enquadrar o setor financeiro para a urgência de cortar o déficit.

A realidade é que é absurdo querer resolver o problema do déficit fiscal no meio de uma recessão. Há, na atualidade, um altíssimo nível de desemprego nos Estados Unidos (ao redor de 20 milhões de pessoas em situação de desemprego total ou parcial) e os salários encontram-se deprimidos. O que, em um certo momento, permitiu aos consumidores manter sua demanda foi o valor de suas casas, mas agora o preço desses ativos segue caindo. A demanda agregada desabou e as empresas não estão contratando mais trabalhadores, o que conduz a um círculo vicioso que só pode ser rompido com um estímulo fiscal. Isso permitiria incrementar a arrecadação e reduzir o déficit. O Congresso e Obama escolheram outro caminho: a única coisa que se fala em Washington é sobre a necessidade de reduzir o gasto para abater o déficit.

Na verdade, um governo pode reduzir o déficit de duas maneiras: pode aumentar suas receitas fiscais ou pode reduzir o gasto público. As pesquisas revelam que a maioria dos estadunidenses está a favor do aumento de impostos para os setores mais ricos, que se beneficiaram do modelo neoliberal durante décadas. Mas a classe política em Washington (quer dizer, os partidos Democrata e Republicano) já aceitou que incrementar a arrecadação não é o caminho para reduzir o déficit. Aqui fica demonstrado quem detém o poder real na democracia estadunidense. Em troca, os políticos em Washington preferem reduzir o gasto público, o que necessariamente provocará uma maior contração da economia desse país. Os conservadores não parecem muito preocupados com isso porque o desgaste político será de Barack Obama.

Ao invés de apresentar opções com liderança, Obama preferiu acomodar-se às prioridades dos conservadores. Em vez de enfrentar com outras opções o problema das finanças públicas, escolheu submeter-se. A verdade é que não é necessário incrementar o endividamento porque existem muitas alternativas. Além de aumentar a arrecadação, um corte no gasto militar é uma opção evidente, mas o orçamento do Pentágono aumentou todos os anos sob a administração Obama.

O mais importante teria sido uma verdadeira reforma no sistema de saúde. Hoje em dia esse sistema está integrado pela seguridade social e pelos programas Medicare e Medicaid. O gasto nestes setores é o fator mais importante no crescimento do déficit. Mas o custo do sistema de saúde deve-se ao controle dos monopólios na indústria farmacêutica e nas seguradoras. Os dados da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) revelam que o gasto no sistema social de saúde nos EUA é superior ao de países como Alemanha ou Suíça. Mas, em termos de qualidade, o serviço nos estabelecimentos estadunidenses está muito abaixo do desses países. A realidade é que o complexo farmacêutico-securitário é tão ou mais poderoso do que o complexo militar-industrial quando consideramos seu impacto nas contas públicas. A proposta em Washington para reduzir o gasto no sistema de saúde pública não passa por controlar os oligopólios. A redução será feita cortando o número de pessoas cobertas por esses serviços e piorando a qualidade dos mesmos.

A chantagem funcionou. Diz-se (em ambos os partidos) que, se não se aceitar o plano dos conservadores, sobreviria uma hecatombe. Isso teria que ser analisado com cuidado. No momento, a classe política em Washington abraçou essa argumentação porque o que interessa a ela é desmantelar os últimos vestígios do estado de bem-estar nos Estados Unidos.

Tradução: Katarina Peixoto

Alejandro Nadal – La Jornada

Fonte: Carta Maior


Comunidade em Construção


Há dois anos aconteceu em Porto Velho o 12º Intereclesial das CEBs, com uma profunda repercussão na Igreja e na vida das Comunidades Eclesiais de Base em todo o Brasil.

O ISER, que presta assessoria à CNBB no campo da religião, cidadania e democracia, reuniu em abril desse ano, no Rio de Janeiro, os assessores das CEBs de todos os regionais da CNBB para um Seminário de reflexão sobre a identidade das CEBs e qual o perfil que têm elas hoje. Ouvir os desafios das CEBs diante do mundo contemporâneo e a proximidade dos 50 anos do Concílio Vaticano II foram também motivações desse Seminário, além de observar a nova significação das CEBs nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja para o próximo quatriênio.

Foi o 12º Intereclesial que levou ao ISER Assessoria a ideia de criar este espaço de formação, pensando numa nova geração de assessores. Dentre os desafios que marcam a caminhada das CEBs nos Regionais, foram apontados: a questão urbana, pois as CEBs têm características rurais e nossa atuação é urbana; a nova classe média avança e a igreja vai dando lugar para o shopping Center; o nível das pessoas que participam está se elitizando; o desafio é a visão utilitarista, ninguém tem tempo; temos dificuldade de dialogar com a nova cultura; o ritmo acelerado de vida que leva a consumir a não ser solidário. A espinha dorsal das CEBs é a comunidade. Não dá para pensar nesta questão descolada de outras situações.

Outros desafios observados: como entender este momento e como identificamos as CEBs hoje? Existe uma linha pentecostal individualista, para solucionar os problemas pessoais; individualismo para curar a minha ferida, e assim não se consegue construir comunidade. Parece que a missa não curou e vai-se em busca de outras curas. Quem é de algum movimento não vem na comunidade. Há uma tentativa de diluir as CEBs em qualquer grupo de oração. Cria-se uma divisão entre os que são da Teologia da Libertação e os que são da Renovação Carismática Católica; criam-se práticas na tentativa de substituir a caminhada das comunidades eclesiais como Cerco de Jericó e outras, com uma visão descontextualizada.

São, portanto, muitos os desafios. Como transformar as paróquias em rede de comunidades e resgatar a profecia? Para Pe. Ferraro, o 12º Intereclesial demonstrou que as igrejas principalmente do Norte e do Centro Oeste não sobreviveriam sem as CEBs. Numa dimensão eclesiológica, ele percebe que, a partir da Conferencia de Aparecida, do 12º Intereclesial e de nossa Carta junto com a articulação continental das CEBs, tudo isso aponta para uma nova estruturação eclesial onde as CEBs que são reconhecidas como figura teológica (elas estão presentes em muitos documentos oficiais da Igreja) e indica também a necessidade de um maior reconhecimento no interior da Igreja. Ninguém pode dizer que as CEBs não existem. Elas aparecem no lugar de comunhão eclesial. Ninguém contesta isso. Um problema, segundo Ferraro, seria como passar do lugar teológico para o lugar social. Para isso deveríamos retomar a questão das CEBs como células estruturais da Igreja (célula inicial de estruturação eclesial segundo o Documento de Medellín), recuperar a dinâmica das primeiras comunidades, dentro do sentido teológico esboçado em Atos dos Apóstolos. Também recuperar a dimensão profética das CEBs, não apenas no sentido de denúncia, mas na linha prospectiva de apontar novos modelos para a comunhão eclesial (estamos diante do papel protagônico das CEBs em relação a um novo modelo eclesial). Tudo isso ainda se completa com a recuperação da dimensão missionária, fugindo ao proselitismo, mas fundando comunidades nos bairros, como a melhor maneira de se fazer missão. Elas ainda são um laboratório para o diálogo inter-religioso. A partir das CFs de 2000, 2005 e 2010, temos que pensar numa nova estruturação ecumênica: não adianta fazer a CF ecumênica e na hora da eucaristia não nos recebermos como irmãos e irmãs da mesma caminhada.

As Novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2011-2015) ao indicar o caminho para a ação evangelizadora nos próximos anos apontam a Igreja: Comunidade de Comunidades, como uma das urgências e prioridades da ação pastoral: “A Igreja se empenhará em ser uma Igreja .. “comunidade de comunidades” a serviço da vida em todas as suas instâncias” (29).

Sem vida em comunidade, não há como efetivamente viver a proposta cristã, isto é, o Reino de Deus. A comunidade acolhe, forma e transforma, envia em missão, restaura, celebra, adverte e sustenta. Ao mesmo tempo em que se constata, nesta mudança de época, uma forte tendência ao individualismo, percebe-se igualmente a busca por vida comunitária. Esta busca nos recorda como é importante a vida em fraternidade. Mostra também que o Espírito Santo acompanha a humanidade suscitando, em meio às transformações da história, a sede por união e solidariedade (59).

O caminho para que nossas paróquias se tornem comunidade de comunidades desafiam a criatividade, o respeito mútuo, a sensibilidade para o momento histórico e a capacidade de agir com rapidez. Mesmo consciente de que processos humanos e transformações de mentalidade não acontecem de uma hora para outra, nos comprometemos em acelerar ainda mais o processo de animação e fortalecimento de efetivas comunidades, que buscam intensificar a vida cristã por meio de autêntico compromisso eclesial (62).

Para o Documento de Aparecida, as CEBs têm sido verdadeiras escolas que formam cristãos comprometidos com sua fé, discípulos e missionários, como testemunhas de uma entrega generosa, até mesmo com o derramar do sangue de muitos membros seus (102).

Para que sejamos uma Igreja comunidade de comunidades, é imprescindível o empenho por uma efetiva participação de todos nos destinos da comunidade, pela diversidade de carismas, serviços e ministérios. Para isso, faz-se necessário promover principalmente, a diversidade ministerial, na qual todos, trabalhando em comunhão, manifestam a única Igreja de Cristo, sejam eles leigos e leigas e ministros ordenados. Urge aos pastores “abrir espaços de participação aos leigos e a confiar-lhes ministérios e responsabilidades, para que todos na Igreja vivam de maneira responsável seu compromisso cristão”. Instrumento privilegiado de uma pastoral orgânica e de conjunto é o planejamento, através da participação de todos os membros da comunidade eclesial na projeção da ação, tanto no processo de discernimento como na tomada de decisão (104a-d).

A efetivação de uma Igreja comunidade de comunidades com espírito missionário manifesta-se também na bela experiência das paróquias-irmãs, dentro e fora da diocese, análoga ao projeto Igrejas-irmãs. Faz-se necessário estimular, sempre mais, com oportunas iniciativas, a partilha e comunhão dos recursos da Igreja no Brasil, desenvolvendo e ampliando o projeto “Igrejas Irmãs” nas Igrejas Particulares, nos regionais e em âmbito nacional, levando em conta a situação de grave necessidade de pessoal e de recursos financeiros nas regiões mais carentes do país. A região amazônica merece uma atenção e dedicação especial


Dom Moacyr Grecci

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Situação das 300 famílias sem teto de Itabira

Carta aberta do Padre José Geraldo de Melo de Itabira.

Em 01/08/2011, 300 famílias sem-casa, em Itabira, MG, serão despejadas? Será um mar de dor, de lágrimas, de violência, de covardia, de injustiça...?


Itabira, MG, 25 de julho de 2011.

A Dom Odilon Guimarães Moreira, bispo da Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano, padres e apoiadores das 300 famílias sem teto da Comunidade Drumond, de Itabira, MG,
Enquanto Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano, também na pessoa do bispo diocesano, assumimos uma posição de apoio ao movimento dos sem teto de Itabira, com ordem de despejo previsto para o dia 01 ou 02 de agosto de 2011. Sendo a Diocese uma apoiadora, vejo que tenho a obrigação de dar alguns informes necessários para o momento e fazer um pequeno relato da situação: (...)


1) No dia 24 de abril, em uma celebração ecumênica na Comunidade de Drummond com a presença de Frei Gilvander, e nós (Dom Odilon, Padre Cleverson e Padre José Geraldo), demos a nossa palavra de apoio ao direito de moradia destas famílias;

2) No dia 25 de abril houve uma reunião na Prefeitura de Itabira com o Prefeito, alguns secretários, nós da Diocese (bispo) e algumas pessoas do movimento para conversar sobre a situação dos moradores, onde foi formada uma Comissão para encaminhar uma saída justa para os moradores. Eu estava nesta comissão. Posteriormente, Padre Hideraldo se integrou à mesma;

3) No decorrer de 2 meses tivemos várias reuniões, porém sem nenhuma decisão concreta, apenas propostas vagas por parte do pessoal da Prefeitura, não assumindo as mesmas nos momentos de decisão. Falaram: “Eram apenas carta de intenções”;

4) Como o despejo tinha data marcada para o dia 15 de maio, tivemos que marcar reuniões com as autoridades competentes: comandante da PM, juiz da 1ª Vara Cível, etc, o que prorrogou o despejo para o fim de julho;

5) O que pedimos à Prefeitura: desapropriação da área em questão, mantendo as moradias já construídas ou disponibilização de terreno para reconstrução de outras moradias em regime de mutirão. Mesmo podendo fazer isto, ambas propostas foram rejeitadas pela Prefeitura, que por sua vez ofereceu apenas abrigo para as famílias e bolsa moradia (insuficiente para atender a todos os moradores, isto se conseguir espaço, o que não tem certeza). É um paliativo. “Ou aceitam abrigo ou vão para a rua: tem outra alternativa”?, perguntou alguém da Prefeitura. Abrigo se caracteriza como algo muito desumano; é como um depósito de gente. Pela proposta, muitas famílias vão para a rua. Faltando apenas 8 dias para o despejo, não há nenhuma segurança para as famílias;

6) Como apoiadores do movimento não podíamos aceitar estas “ofertas bondosas” da Prefeitura, por questão ética, moral e por questão de humanidade. Muitos pais não querem expor suas filhas adolescentes num espaço misturado com outras pessoas...;

7) Por que o despejo? Há loteamentos atrás do Bairro Drummond e projeto para um condomínio de luxo, cujos donos têm uma grande influência na Prefeitura. Os “sem terra” são considerados uma “favela” que fica no meio e que desvaloriza estes terrenos, e que devem ser retirados daquele local. Só com a decisão de despejo, estes terrenos tiveram de imediato uma valorização de 100%. O lucro com o despejo será enorme, favorecendo muita gente grande. Possivelmente, o processo para o despejo (advogados, etc) esteja sendo pago por estes que vão lucrar. Neste sentido a especulação imobiliária e os apoios políticos falaram mais alto. Trocam vidas por dinheiro. É uma forma de compensar os compromissos com a elite. Daí podemos concluir a quem interessa este maldito despejo;

8) No decorrer de 2 meses, o pessoal do poder e a elite local falaram mal dos sem terra, com expressões: “são aproveitadores, não querem trabalhar, lá está cheio de drogados e traficantes etc”. E ainda, “a maioria que está lá não precisa”. Com estes comentários caluniosos, quem vai alugar algum barraco para estas pobres famílias? No entanto, no cadastramento da Ação Social (15/07/2011) das 296 famílias diagnosticadas, poucas famílias ficam fora da assistência ou não se enquadram dentro dos critérios da Assistência Social. A conclusão: a maioria esmagadora é muito pobre e marginalizada;

9) Trata-se de uma extrema pobreza. Nem emprego querem dar para as pessoas de Drummond. Eu que estou mais de perto vejo um quadro desolador. Não consigo imaginar as conseqüências do despejo, ainda mais se houver resistência. O comando da PM já solicitou “plantão” do Pronto Socorro Municipal, já oficializou à Cemig e SAAE para cortarem a água e a energia, e certamente vai fazer uma operação de guerra do dia 01 para o dia 02 de agosto no Bairro Drummond. Não consigo medir o tamanho desta desgraça para estas pessoas: idosos, gestantes, crianças.. e não consigo medir o tamanho do problema social pós-despejo;

10) Para um despejo deste tipo, há uma lei estadual que fala “da necessidade de uma Comissão Especial, encabeçada pelo governador do Estado, para acompanhar a desocupação da área”. Isto está sendo ignorado pelas autoridades locais;

11) Enquanto Diocese (bispo e padres), além do que já fizemos, o que ainda podemos fazer? Deixar acontecer para ver como fica? Lavar as mãos? Isto não nos interessa? Ou vamos nos posicionar com mais firmeza?

12) Por fim, temos que reconhecer o apoio explícito de uma dezena de padres e outros que apoiaram indiretamente, e o apoio de uma centena de leigos das 3 Regiões Pastorais da Diocese de Itabira e Coronel Fabriciano, o que identificou a Diocese como uma forte apoiadora e defensora do direito destas 300 famílias que há 11 anos vivem em um terreno que estava literalmente abandonado.

Como padre, defensor do direito à moradia para todos, e que nestes 90 dias de agonia junto a esta pobre gente, depois de ficar 12 dias em jejum (greve de fome), expondo-me e assumindo riscos desta minha postura, sendo hostilizado pela elite e pelo pessoal do poder,... Com muito respeito, sinto-me no dever e no direito de colocar estes pontos, esperando a compreensão do nosso pastor (Dom Odilon) e colegas padres, pastores que somos junto ao Bom Pastor. Não estou defendendo interesse pessoal e “pedindo socorro” para mim, mas faço um apelo em favor destas pessoas que estão “como ovelhas sem pastor”. Estou me doando (me desgastando) por causa de uma opção evangélica. Certamente, mesmo que não consiga reverter a situação, como pastores, nós podemos dizer com a consciência tranqüila: “Fizemos a nossa parte, não ficamos omissos”.

Na comunhão eclesial e na missão,

Padre José Geraldo de Melo,

Pároco da Paróquia N. Sra da Conceição Aparecida, de Itabira, MG, Brasil,

Vigário Episcopal da Região Pastoral I da Diocese de Itabira e Coronel Fabriciano, MG, Brasil.


Fonte: Se Avexe não!

Construindo o 6º Nordestão das CEBs



Teve inicio na tarde de hoje 28 de julho de 2011,
no salão paroquial da Igreja Santa Rita de Cássia,
na Diocese de Itabuna,
mas um encontro em preparação ao
VI Nordestão das CEBs que acontecerá
em julho de 2012
na Diocese de Itabuna
.

Contando com a participação dos representantes
dos 05 regionais:
Maria Nascimento (Nordeste I – Piauí),
Fátima Antônio (Nordeste II – Pernambuco, Paraíba,
Rio Grande do Norte, Alagoas),
Ana Maria, Fátima, Rafaela, Madalena, Frei Genilton,
Frei Carlos Inácio, Frei Joaquim, Valderly,
Haroldo Heleno, Célia, Rafael (Nordeste III – Bahia e Sergipe),
Maria José (Nordeste IV – Maranhão),
Batista e Ana Lourdes (Nordeste V- Ceará).

O encontro “Construir o VI Nordestão”, faz parte de uma serie de atividades que vem sendo realizadas em preparação para este importante evento da Igreja Católica em todo Nordeste, e caminhando para a realização do 13º Intereclesial das CEBs a ser realizado em 2014, em Crato/CE.

O encontro de hoje tem como objetivo principal:
discutir, refletir e definir a data do VI Nordestão,
cartaz, equipes de trabalhos, locais de trabalho,
hospedagem, assessorias, temas, lemas, recursos,
divulgação, articulação, mobilização levando
em conta as contribuições de todos os
Regionais do Nordeste presentes no encontro.
Discutir e apresentar metodologia
a ser usada no VI Nordestão.
Visitar os locais onde serão realizadas as atividades,
as oficinas, hospedagem.
O encontro segue até o dia 31 de julho.

Haroldo Heleno
Assessoria Diocesana das CEBs

4ª edição da Marcha das Margaridas deve reunir 100 mil mulheres do campo em Brasília





"Duas mil e onze razões para marchar para o desenvolvimento, sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade". Este será o lema 4ª edição da Marcha das Margaridas que acontecerá nos dias 16 e 17 de agosto em Brasília, região Centro-oeste do país. A Marcha reunirá cerca de 100 mil mulheres de diversas regiões do país na luta por melhores condições de vida e trabalho no campo e contra todas as formas de discriminação e violência.

Para Rosângela Ferreira, integrante da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece) e da organização estadual da Marcha, a atividade tem um grande significado para a garantia dos direitos das mulheres, principalmente daquelas das zonas rurais. "A Marcha é necessária para garantir a visibilidade. Por mais que o governo seja democrático, não existe governo bonzinho. O movimento precisa estar mobilizado ou então não consegue [visibilizar suas demandas]", afirma.

O evento acontece a cada quatro anos sempre no mês de agosto, para fazer a memória ao assassinato da líder sindical Margarida Alves morta com um tiro no rosto no dia 12 de agosto de 1983 no município de alagoa grande, Paraíba, região nordeste do país.

A atividade foi lançada nacionalmente em novembro de 2010, e desde então, os movimentos de mulheres vêm se organizando em vários pólos do país com o objetivo de se articular e preparar a pauta de reivindicação através de debates, palestras, estudos, planejamento e captação de recurso.

Essas mobilizações resultaram na elaboração de um caderno de texto que teve como base os eixos da plataforma política do movimento de mulheres. São elas: biodiversidade, terra, água e agroecologia, soberania e segurança alimentar, autonomia econômica, saúde pública e direitos reprodutivos, educação não sexista e democracia, poder e participação política. O caderno reuniu cerca de 158 propostas que foram entregues na semana passada (13), em ato político, no Palácio do Planalto em Brasília.

Rosângela aponta conquistas significativas nesses anos de caminhada. Uma delas foi a aposentadoria para trabalhadoras rurais aos 55 anos de idade; a emissão de documentação das mulheres que não conseguiam acesso às políticas públicas, como o Bolsa Família; a titularização na divisão da reforma agrária no nome das mulheres; criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Mulher, a visibilidade sobre os casos de violência e discriminação contra as mulheres, entre outras.

Ela ressalta, ainda, que as mulheres fizeram parte da construção da história do país, mas nunca apareceram de fato, e que a Marcha tem também essa finalidade: Despertar nas mulheres para que elas exijam seus direitos e sejam sujeitas de uma nova história e construtoras de uma sociedade igualitária.

Programação

As mulheres chegarão no dia 15 de agosto no Parque das Cidades, centro de Brasília. Dia 16, pela manhã, a abertura terá a exposição de dois painéis. Neste mesmo dia, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) fará uma pesquisa aplicada com as mulheres presentes na marcha sobre perfil econômico e condições de vida das mulheres trabalhadoras do campo e da floresta.

À noite, haverá o lançamento do CD "Canto das Margaridas", produzido por mulheres de todo pais, com a presença da cantora Margareth Menezes. No dia 17, as mulheres seguem em marcha do Parque das Cidades até a Esplanada dos Ministérios onde serão recebidas por ministros, autoridades, e pela presidenta Dilma Rousseff. Às 15h, Rousseff fará o anúncio da decisão das propostas encaminhadas na semana passada pela coordenação da Marcha.