Na noite de 12 de julho, na PUC Minas, em Belo Horizonte, os participantes do 24º Congresso Internacional da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da Religião) participaram do debate conduzido pelos teólogos Leonardo Boff e João Batista Libânio,SJ, comemorativo dos 40 anos da Teologia da Libertação (TdL) na América Latina.
Leonardo Boff enfatizou que a TdL nasceu no Brasil, em julho de 1970, a partir das reflexões bíblicas e teológicas realizadas nas Comunidades Eclesiais de Base, que, por sua vez, surgiram da consciência de um protagonismo no povo empobrecido. Vale ressaltar, aqui, que essa consciência transformadora emergiu com a figura modelar do educador Paulo Freire (na foto), que, pode-se dizer, antecipou historicamente a opção preferencial pelos pobres feita pela Igreja, em Medellín e Puebla.
Boff lembrou que o nome “Teologia da Libertação” foi dado pelo teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, naquela década. Essa TdL tem, segundo Boff, o difícil objetivo de mostrar a um mundo de miseráveis (cerca de um bilhão e 250 milhões de pessoas!) que Deus é Pai e Mãe de Bondade. Essa Teologia opta por aqueles(as) que são considerados “zeros econômicos” ou “invisíveis” pelo mercado econômico, mas são os amados e os preferidos de Deus. A TdL diz que quem não escuta os oprimidos não tem nada a dizer sobre Deus, pois ela, como o próprio Deus, é pelos empobrecidos, contra a pobreza, e a favor da vida e da libertação. Boff disse também que a TdL não morreu (e não morrerá!), apenas perdeu visibilidade na mídia, ou seja, não possui o mesmo destaque que tinha nas primeiras décadas. Hoje ela se encontra presente além dos espaços eclesiais.
João Batista Libânio, confirmando as palavras de Boff, afirmou que a TdL tornou-se, na América Latina, uma Teologia-Fonte. A Teologia no Brasil deixou de ser apenas uma Teologia-Reflexo, que repetia/refletia o que se passava na Europa, pois “a cabeça pensa onde os pés pisam”. O dominicano Frei Betto, segundo Libânio, muito contribuiu para essa coerência entre pensamento e ação da Teologia.
Os teólogos afirmaram, enfim, que uma grande herança que a TdL deixou na Igreja é a consciência de que o povo é o verdadeiro autor das transformações, das ações concretas que vão criando liberdades em todos os campos da atuação humana, como mostram as diversas pastorais sociais existentes. Elas nos dizem que os “invisíveis econômicos” são os preferidos de Deus, e que serão eles, na pessoa de Jesus, os nossos juízes finais: “tive fome e não me destes de comer, tive sede, tive frio, era estrangeiro, preso”etc.
Padre Ismar Dias de Matos,
professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC
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