segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Opção pelos Pobres hoje

Opção pelos Pobres hoje - José Maria Vigil

Vigil Opcao Pelos Pobres
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Belo Monte atrairá 100 mil pessoas, sem cumprir condicionantes

A decisão do Ibama que autorizou o início da construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu, deverá gerar uma nova ação judicial. No mês de novembro, o Ministério Público Federal (MPF) no Pará recomendou que nenhuma licença fosse concedida até que as condicionantes fossem cumpridas. O custo dessas contrapartidas está avaliado em R$ 1,5 bilhão.

O procurador da República no estado, Ubiratan Cazetta, alerta que é preciso preparar a região de Altamira para receber aproximadamente 100 mil pessoas que serão atraídas pela obra.

“Isso significa dobrar o tamanho daquela região, que hoje já tem um problema muito sério nas políticas públicas de saúde, educação, segurança pública, no combate à prostituição infantil e prostituição de um modo geral.

O que estamos cobrando objetivamente é que as condicionantes que dizem respeito a toda essa preparação social – não só ela, mas especialmente ela – tenham sido efetivamente cumpridas.”

Pelo menos oito mil pessoas já se instalaram em Altamira, desde o anúncio da licença prévia, no início de 2010. Segundo Cazetta, os recursos para conter os impactos sociais ainda não foram definidos.

“Hoje não se sabe quanto de recurso estaria disponível, de onde viria esse recurso, se é que ele existe. Toda vez que se fala em financiamento da obra, fala-se exclusivamente daquilo que diz respeito à parte de engenharia, à parte de construção, mas nada voltado a essas medidas compensatórias para evitar que a situação daquela região fique pior do que ela já é.”

A hidrelétrica de Belo Monte vai ser construída pelo consórcio Norte Energia e será a terceira maior do mundo. O leilão de concessão da usina foi suspenso diversas vezes, devido a inúmeras irregularidades no licenciamento ambiental.

De São Paulo, da Radioagência NP, Jorge Américo.

O Egito é um oleoduto. E Suez um túmulo

Aqui naufragou o Império Britânico


Pelo Canal de Suez, que liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, em 2009, passaram, por dia, 1 milhão e 800 mil barris de petróleo.

O oleoduto de Sumed corta o território do Egito e liga o Mar Vermelho ao Mediterrâneo.

Em 2009, por Sumed passaram 1 milhão 100 mil barris/dia de petróleo.

Ali ao lado estão a Líbia e a Argélia, que produzem mais petróleo que o Egito.

O Egito abastece Israel de petróleo e gás.

O Império Britânico acabou na Guerra de Suez, de 1956.

Um predecessor de Mubarak, o coronel Nasser, nacionalizou o Canal de Suez.

Israel, com o apoio da França e da Inglaterra, reagiu e declarou guerra ao Egito – e ganhou.

Mas, os Estados Unidos e a União Soviética decidiram que ficava tudo como antes.

O Canal, nacionalizado.

E a Inglaterra e a França, de bico calado.

O Império Britânico acabou ali.

Estados Unidos e União Soviética passaram a dividir o Oriente Médio.

E, agora, no Canal de Suez, o Império Americano corre o risco de naufragar, também.

Se insistir em Mubarak.


Paulo Henrique Amorim

Comunidades Eclesiais de Base e associações como Opus Dei e Canção Nova colaboram para renovar os números de católicos

Comunidades Eclesiais de Base e associações como Opus Dei e Canção Nova colaboram para renovar os números de católicos e freiam debandada


As missas da paróquia de Nossa Senhora Mãe da Igreja atraem milhares de fiéis na Vila Paris, em Belo Horizonte, onde padre Danilo Mamede Campos Rodrigues aderiu há 25 anos à Renovação Carismática Católica (RCC). São missas de cura e libertação, com intensa participação de homens, mulheres e crianças, que cantam e agitam os braços com entusiasmo, voz forte e rosto alegre, no mesmo estilo das celebrações de padre Marcelo Rossi e da Canção Nova, cujos santuários e programas de televisão são demonstrações de fé e devoção. O segredo é o acolhimento com que recebe os participantes, centenas deles vindos de longe, em busca de graças e milagres.

"Aposto na fé dos leigos", disse o padre Danilo, satisfeito com o sucesso do trabalho de sua equipe.

Também a Paróquia de Nossa Senhora Rainha, no bairro de Belvedere, o mais sofisticado de Belo Horizonte, vive sempre cheia. Seus frequentadores são moradores da vizinhança e gente de outras regiões da cidade, incluindo pobres da periferia que chegam em busca de ajuda e assistência social. "A igreja é bem administrada e oferece atendimento médico e odontológico exemplar", informa uma paroquiana, a dentista Ilka Sonara Carvalho Resende, elogiando o trabalho do pároco, padre Alexandre Fernandes de Oliveira. A igreja é confortável e acolhedora. Tem mil poltronas individuais almofadadas no interior e monitores de TV nas alas externas para quem não consegue entrar. A paróquia aceita cartões de crédito para o pagamento do dízimo, principal fonte de recursos.

Essas duas igrejas são exceções no cotidiano da prática religiosa, porque os católicos estão diminuindo. Correspondiam a 73,79% da população brasileira em 2000, mas vêm caindo, enquanto aumenta o número de evangélicos. A porcentagem de católicos, a ser confirmada pelo censo 2010 do IBGE, deve estar por volta de 65%. "A evasão de fiéis é talvez o problema mais grave que a Igreja sofre na sua consciência. Não é, mas ela se pôs como se fosse o problema mais grave. Evasão para onde? Fundamentalmente, para as igrejas pentecostais e neopentecostais", analisa padre João Batista Libânio, professor da Faculdade de Teologia dos Jesuítas, em Belo Horizonte.

Se a debandada não é maior, é porque a Igreja Católica reage com leigos envolvidos nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), movimentos carismáticos e instituições como o Opus Dei, de tendências diferentes, mas todos comprometidos com a fé.

"Devemos fortalecer as CEBs e os movimentos, com articulação, para levar adiante a evangelização", incentiva d. Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau (SC) e entusiasta das pastorais sociais. Aos 77 anos, ele aconselha a Igreja a investir na juventude, adaptando a linguagem cultural, "porque quem vai à missa hoje são pessoas de cabelos brancos".

As CEBs sobrevivem, mas estão em baixa, na avaliação do sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, professor de mestrado em Ciências da Religião, na PUC - MG. "O prestígio delas é pequeno na hierarquia, mas continuam sendo uma referência para a sociedade, nas associações de bairros e movimentos de trabalhadores", afirma. Há bispos que resistem às CEBs, mas a resistência não impediu que 80% do episcopado votassem a favor delas na última assembleia-geral da CNBB, em Brasília.

Linha social. "As CEBs estão muito fragilizadas, assim como a Teologia da Libertação, que tem nelas sua matéria-prima", concorda Frei Betto, partidário e um dos teóricos da linha social que marcou a Igreja após as conferências episcopais de Medellín (1968) e Puebla (1979). "Nos seminários, não há mais interesse pela Teologia da Libertação, que é analisada nas universidades como um fenômeno do passado." Frei Betto lamenta, "porque o fundamento da Teologia da Libertação não é o marxismo, mas a existência da pobreza, que continua na América Latina e no Brasil".

Os projetos pastorais e a maneira de viver a fé são diferentes. "A Igreja são muitas", constata o padre Cleto Caliman, coordenador do curso de Teologia da PUC de Minas. Exemplo disso, segundo ele, são as redes de TV católicas que, conforme observou um aluno na sala de aula, seguem várias orientações pastorais. Se a Igreja são muitas, há espaço para tendências diferentes. Os carismáticos e outros movimentos menores, todos mais voltados para o espiritual que para o social, atraem católicos que pareciam esquecidos de Deus.

"Eu me converti para o catolicismo, pois estava vivendo um ateísmo na prática e o Opus Dei me levou a refletir", revela Maria Amélia Giannini, membro da Obra que São Josemaria Escrivá de Balaguer fundou em 1928, na Espanha, com o objetivo de levar os cristãos à santidade na rotina do dia a dia. O Opus Dei tem cerca de 2 mil membros no Brasil, a maioria casados, como a designer gráfica Maria Amélia e seu marido Fernando Giannini, engenheiro químico.

Além de casais, o Opus Dei tem mulheres e homens celibatários e um quadro de sacerdotes - 60 no País, entre padres de dedicação exclusiva e diocesanos. Missa e comunhão diárias, reza do terço, oração mental e leitura do Evangelho alimentam a vida espiritual de todos os membros. "Existe um estigma contra o Opus Dei, assim como preconceito com relação aos católicos, mas não temos nada de secreto, como se imagina", diz Fernando. A Obra segue a linha pastoral da diocese.

Evangelização. Entre os movimentos e novas comunidades surgidos nas últimas décadas, destaca-se a Associação Canção Nova, fundada em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba, pelo padre Jonas Abib. "Reconhecida pela Santa Sé há dois anos, a Canção Nova é uma das maiores forças evangelizadoras da Igreja Católica no Brasil", informa o professor Felipe Aquino, membro do movimento. São cerca de mil leigos, especialmente jovens consagrados integralmente ao serviço de evangelização pelo rádio, televisão, telefonia celular e internet. Tem casas de missão espalhadas por vários Estados e no exterior, incluindo Roma e Jerusalém.

A teóloga Tereza Cavalcanti, professora de Introdução à Sagrada Escritura, Pastoral Bíblica e Pastoral Popular da PUC-RJ, chama a atenção para o trabalho de duas mulheres, Dorothy Stang e Zilda Arns, que deram testemunho do Evangelho e dignificaram a missão da Igreja. "São dois ícones recentes, duas mulheres que, cada uma à sua maneira, foram mártires que morreram a serviço dos oprimidos.

Fonte: JOSÉ MARIA MAYRINK - O Estado de S.Paulo

O Egito a caminho da revolução. O que fazer?

Aqueles que temem o crescimento do “islamismo radical” como fator de instabilidade nessa região, deveriam estar mais atentos em relação às “ditaduras amistosas” que, na verdade, são as principais responsáveis pela insegurança no mundo. Desemprego em massa, preços dos alimentos e repressão política é uma combinação explosiva mais perigosa do que os homens bomba. No caso do Egito dois terços da população são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados. O artigo é de Reginaldo Nasser.

As mobilizações populares na Tunísia, Egito, Iêmen e em outros lugares são um alerta para o chamado mundo desenvolvido e seria uma grande avanço para a democracia se esta região que permanece imersa na violência, em fraudes eleitorais e miséria crescente da população recebesse o devido apoio internacional nesse momento.

O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que os EUA poderão revisar a ajuda ao Egito. O presidente Obama solicitou às autoridades egípcias que evitem o uso de qualquer tipo de violência contra manifestantes pacíficos, alertando que " aqueles que protestam nas ruas têm uma responsabilidade de expressar-se pacificamente. Já a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que a “estabilidade do país é muito importante, mas não a qualquer preço”. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que "os líderes do Egito escutem as preocupações legítimas e os desejos de seus cidadãos”. O primeiro ministro britânico David Cameron declarou: “Eu acho que precisamos de reformas. Quero dizer que nós apoiamos o progresso e o reforço da democracia”.

Como avaliar a atitude desses líderes mundiais? Patética, cínica, hipócrita, irresponsável? Talvez devêssemos recorrer a um grande pensador liberal do século XIX, Aléxis de Tocqueville, e ouví-lo a respeito dos períodos revolucionários na França. Tocqueville alertava para o fato de líderes, que adquiriram experiência em lidar com a política em ambiente de ausência de liberdade, quando se encontraram diante de uma revolução que chegou “inesperadamente”, se assemelhavam aos remadores de rio que, de repente, se vêem instados a navegar no meio do oceano. Os conhecimentos adquiridos em suas viagens por águas calmas vão proporcionar mais problemas do que ajuda nessa aventura, e na maioria das vezes exibem mais confusão e incerteza do que os próprios passageiros que supostamente deveriam conduzir.

Já havia sinais reveladores dessas turbulências, mas o Ocidente preferia se preocupar com burcas, minaretes e terrorismo. Um relatório do Banco Mundial, publicado em 2009, informava que os países árabes importavam cerca de 60% dos alimentos que consomem e já são os maiores importadores de cereais no mundo, dependendo de outros países para a sua segurança alimentar. A elevação dos preços nos mercados mundiais, desde 2008, já causou ondas de protestos em dezenas de países e milhões de desempregados e pobres nos países árabes, como foram os casos da Argélia , em 1988, e da Jordânia em 1989. Um exemplo mais recente, além da região árabe, é o Quirguistão onde um aumento da eletricidade e tarifas de celulares causaram manifestações com dezenas de mortos e milhares de feridos.

Aqueles que temem o crescimento do “islamismo radical” como fator de instabilidade nessa região, deveriam estar mais atentos em relação às “ditaduras amistosas” que, na verdade, são as principais responsáveis pela insegurança no mundo. Desemprego em massa, preços dos alimentos e repressão política é uma combinação explosiva mais perigosa do que os homens bomba.

A demografia no mundo árabe é também um grande problema. A população cresceu cinco vezes durante o século XX, e o crescimento continua a uma média anual de 2,3%. A população do Egito está em torno de 80 milhões. Em 2050 (de acordo com projeções da ONU) deverá ter 121 milhões. A população da Argélia irá crescer de 33 milhões em 2007 para 49 milhões em 2050; a do Iêmen de 22 a 58 milhões. Isso significa que mais empregos precisam ser criados - e mais alimentos importados, ou aumentar a capacidade para produzir mais. No caso do Egito dois terços da população são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados.

Baseada no turismo, na agricultura e na exportação de petróleo e algodão, a economia é incapaz de sustentar a taxa de crescimento demográfico. 40% da população vive com menos de US$ 2 (R$ 3,30) por dia, o país está na 101ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

De certa forma a auto-imolação do jovem tunisiano, Mohamad Bouazizi, que deflagrou a onda de protestos na Tunisia revela, no nível individual, aquilo que está acontecendo nas sociedades daquela região como um todo. Ele não se rebelou, apenas porque não encontrou trabalho que refletisse suas ambições profissionais, mas sim quando um oficial da polícia confiscou as frutas e legumes que estava vendendo sem autorização. Quando foi fazer uma reclamação para buscar justiça, sua demanda foi rejeitada.

Provavelmente foi este sentimento de injustiça que levou Mohamed Bouazizi e milhares de pessoas às ruas, empenhados em quebrar o ciclo da miséria e opressão.

Talvez seja mais confortável para a chamada comunidade internacional lidar com um mundo árabe dividido entre nacionalistas, relativamente seculares, de um lado e islamismo radical, de outro, do que um mundo mais complexo, com problemas econômicos, sociais e políticos que conta com sua cumplicidade.

Reginaldo Nasser - Professor de Relações Internacionais da PUC-SP

Fonte: Carta Maior

Vitória no caso Cutrale: trabalhadores livres e processo trancado



Nota da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos sobre o trancamento do processo contra os trabalhadores rurais sem terra que ocuparam a Fazenda Santo Henrique – Sucocitrico – Cutrale

Por meio de habeas corpus[1] impetrado pelos advogados da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos e do Setor de Direitos Humanos do MST, a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por unanimidade, determinou o trancamento do processo crime instaurado na Comarca de Lençóis Paulista/SP contra todos os trabalhadores rurais sem terra acusados da prática de crimes durante a ocupação da Fazenda Santo Henrique – Sucocitrico-Cutrale – entre 28/9 e 7/10/2009.

Os trabalhadores tiveram prisão temporária decretada, que foi posteriormente convertida em prisão preventiva. Os decretos de prisões foram revogados em fevereiro de 2010, por meio de decisão liminar, concedida pelo Desembargador Relator Luiz Pantaleão, mas, a decisão final no habeas corpus, aguardava, desde então, voto vista do Desembargador Luiz Antonio Cardoso.

Para firmarem as revogações das prisões preventivas, os Desembargadores além de entenderem que a Magistrada de primeiro grau deixou de indicar os indícios de autoria em relação a cada um dos acusados, declararam inexistir ocorrências dando conta de que os trabalhadores tenham subvertido a ordem pública.

Por outro lado, determinou-se o trancamento do processo crime sob entendimento de que o Promotor de Justiça, em sua denúncia, não descreveu “referentemente a cada um dos co-réus, os fatos com todas as suas circunstâncias” como lhe é exigido pelo artigo 41 do Código de Processo Penal, de forma que:

“Imputa-se a todos a prática das condutas nucleares dos tipos mencionados. Em outras palavras, plasmaram-se imputações em blocos, o que implicaria correlativamente absolvição ou condenação também coletiva. Isso é impossível. Imprescindível que se defina qual a conduta imputada a cada um dos acusados. Só assim, no âmbito do devido processo legal, cada réu poderá exercer, à luz do contraditório, o direito de ampla defesa. (…) Imputações coletivas, sem especificação individualizada dos modos de concorrência para cada episódio, e flagrante contradição geram inépcia que deve ser reconhecida. O prosseguimento nos termos em que proposta a ação acabaria, desde que a apuração prévia deve ser feita no inquérito, não, na fase instrutória, por levar aos Órgãos jurisdicionais do primeiro e segundo grau, um verdadeiro enigma a ser desvendado com o desprestígio do contraditório e da ampla defesa, garantias constitucionais inafastáveis.”

A decisão do Tribunal de Justiça representa importante precedente jurisprudencial contra reiteradas ilegalidades perpetradas contra a luta dos trabalhadores rurais sem terra, contra o ordenamento processual penal, e, sobretudo, contra as garantias constitucionais vigentes. Esperamos que esta decisão se torne cotidiana, para fazer prevalecer o senso de justiça em oposição aos interesses do agronegócio, do latifúndio e dos empresários contrários ao desenvolvimento da reforma agrária que, naquela oportunidade, louvaram os ilegais decretos de prisão contra os trabalhadores.

Igor Felippe, do MST

Fonte: Conversa Afiada

Licença para Belo Monte teve por base cinco pareceres técnicos, diz diretora do Ibama

A diretora de Licenciamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Gisela Forattini, disse hoje (31) que a licença de instalação parcial para a Usina de Belo Monte foi concedida com base em cinco pareceres técnicos.

"Vimos essa licença como algo de uma forma absolutamente tranquila, embasada em cinco pareceres técnicos. Fizemos uma série de reuniões, mais de 20. Fizemos também uma vistoria enorme da área, alem de termos nos reunido com mais de 100 representantes de diversas instituições ", afirmou, durante o EnerGem LatAm 2011, conferência regional sobre geração de energia.

A licença, concedida na quarta-feira (26) pelo Ibama, autoriza a construção de canteiros de obra próximos ao Rio Xingu, acampamento e aberturas de estradas de acesso ao local, embora o Ministério Público Federal no Pará questione a medida. Segundo o órgão, a obra foi permitida antes do cumprimento das condicionantes socioambientais.

Durante o evento, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, defendeu as condicionantes que, segundo ele, vão levar desenvolvimento sustentável à região, reafirmando que o empreendimento "tem que cumprir tudo o que está na lei".

"Pelo que conheço do Ministério do Meio Ambiente, do Ibama, é que eles não fariam nada contra a lei, porque antes de fazer qualquer coisa, têm o suporte da Advocacia-Geral da União (AGU). Não acredito que nada será feito ao arrepio da lei", avaliou.


Fonte: Agência Brasil

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Como este pessoal engana! Lembra a frase de um prograqma de humor: Engana que o povo gosta! Mas no caso é humor negro, é apropriar recursos do bem comum, destruição sem volta...

Carta da 2ª Ampliada Nacional das CEBs - 30/01/11

Rumo ao 13º Intereclesial

“Os pés dos romeiros são como lápis. Nós pobres, somos de poucas letras. Mas a gente também escreve com os pés. Só que pra ler essa escrita precisa de conhecer os chãos da vida e das estradas duras. E é preciso curtir o couro dos pés. Pezinhos de pele fina não deixam quase nada escrito nos caminhos da vida”.
(Depoimento de um romeiro)



Irmãs e irmãos das CEBs do Brasil, Paz e Bem!

Nas terras do sertão do Cariri na cidade do Crato, os 17 regionais da CNBB, assessores, representante do CIMI, equipes de serviço, D. Adriano Ciocca - bispo referencial nacional das CEBs, Dom Fernando Panico, bispo do Crato, fomos acolhidos/as pela Diocese do Crato, anfitriã do 13º Intereclesial para a Segunda Ampliada das CEBs.

Iniciamos nossa reunião com a celebração do Ofício Divino das Comunidades e apresentação dos regionais, onde constatamos uma imensa alegria pela presença nesta ampliada.

Em seguida tivemos uma análise de conjuntura sócio-politico-econômica animada pelo Pe. Manfredo Oliveira. O Pe. nos propôs 4 pontos: 1) situar o Brasil no mundo hoje; 2) quais os desafios; 3) como saímos das eleições; 4) o nascimento da nova classe média como preocupação para as CEBs. Pe. Manfredo nos alertou que há uma nova configuração do capitalismo rumo ao uma civilização técnico-científica, um novo modo de interpretar a vida e o próprio ser.

E ainda há um agente político novo: o conservadorismo religioso na política. Dessa conversa fica o desafio para nossas comunidades de como, diante dessa nova classe média, surgida dos projetos sociais do governo Lula, pensar um projeto de sociedade que não passe pelo neo-desenvolvimentismo e pelo consumismo.

Na segunda parte do primeiro dia ouvimos Ir. Anette que nos falou sobre o tema “Religiosidade Popular e Romarias em Juazeiro do Norte”. Destacou que a romaria é sempre um ato de penitencia que dá sentido ao sofrimento do romeiro. Salientou ainda que a romaria é sempre animada por leigos/as e que os romeiros/as criam sua própria liturgia nos caminhos de Juazeiro. Lembrou que somos a religião do Caminho. Jesus disse: “Eu sou o Caminho”. Neste sentido os romeiros dão continuidade a esta tradição cristã.

Fizemos um trabalho por grande região onde retomamos a análise de conjuntura, estudando também um texto orientador sobre cristianismo de libertação. A plenária mostrou grandes preocupações das CEBs rumo ao 13º: ecumenismo nos Intereclesiais, a discussão sobre o mundo urbano, a nova fala profética das CEBs na pós-modernidade, a ausência das bandeiras de luta, a militância político-partidária, a questão de gênero, a pouca presença da juventude nas CEBs, etc.

O segundo dia teve seu início com uma bonita celebração eucarística, onde colocamos no altar do Senhor nossos anseios por um mundo novo e a comunhão entre os diversos regionais na partilha da amizade e do pão eucarístico. Discutimos o texto-base, recolocando-o como um importante instrumento para estudo nas comunidades e campo de pesquisa para estudiosos que se interessam pela nossa caminhada. Vimos o Plano Pastoral da Diocese do Crato, rumo ao Intereclesial e ao centenário da diocese em 2014.

Zé Vicente, poeta popular cujas canções têm embalado nossa caminhada, nos propôs uma reflexão sobre a arte na vida das CEBs. Deixou-nos o desafio de pensar melhor nossas expressões artísticas sejam na culinária, nas canções, nas vestimentas, cartazes, poesias, etc. Ficamos com a questão: porque não criar um centro de acolhida e irradiação dessas diversas expressões artísticas que esteja sob a coordenação da própria organização das CEBs? Escolhemos o cartaz que divulgará o intereclesial em todo o Brasil e América Latina.


Tivemos uma bonita confraternização que expressou a cultura local e muito nos animou. No último dia de nosso encontro, foi alertado sobre a necessidade de continuarmos a discussão sobre a nossa relação com o Conselho Nacional de Leigos.

A Ampliada decidiu realizar uma discussão mais aprofundada sobre a sua identidade e papel. Foi proposta a data de 23 a 29/01/12 para a realização do seminário e da 3ª. Ampliada, partindo das reflexões feitas nos regionais. Tendo em vista a Jornada Mundial de Juventude que acontecerá em julho de 2013 no Rio de Janeiro, decidimos mudar a data do 13º Intereclesial para os dias 07 a 11 de janeiro de 2014.

Solidários/as às vítimas das chuvas em todo o Brasil e em especial com as pessoas da Diocese do Crato, que também sofreu com as fortes chuvas caídas durante nosso encontro, nos despedimos na certeza de que o Senhor que é nosso Caminho, continua conosco na caminhada de “Romeiros/as do Reino no campo e na cidade”

O cuidado com os bens comuns

O cuidado com os bens comuns

Assistimos, dia após dia, com uma velocidade e uma intensidade inimagináveis há uma década, à “tragédia dos bens comuns”: um empobrecimento contínuo e irremediável de recursos naturais, de bens e valores que compõem a biodiversidade natural, social e cultural do planeta. Essa é também uma das manifestações da crise da qual não conseguimos ver o fim, não tanto pelas tendências flutuantes das bolsas de valores ou pela lentidão da “reativação econômica”, mas sim porque não há sinais tangíveis de uma inversão de orientação na governabilidade mundial da economia. O artigo é o documento do encontro Terra Futura, uma importante iniciativa da sociedade civil italiana.

Terra futura é uma importante iniciativa da sociedade civil italiana dedicada a debater questões globais. Todos os anos, mais de 70 mil pessoas visitam suas exposições e participam de seus debates. Este ano, o encontro que será realizado em Florença no mês de maio, terá como tema central os bens comuns. Apresentamos a seguir o documento conceitual do encontro que ainda está recebendo sugestões e sendo debatido.

“O que é comum à maioria dos indivíduos recebe o mínimo cuidado. Cada um pensa especialmente em si mesmo e quase nada no interesse comum”.
Aristóteles, Política

Assistimos, dia após dia, com uma velocidade e uma intensidade inimagináveis há uma década, à “tragédia dos bens comuns” como a definiu Garret Hardin, no distante 1968: um empobrecimento contínuo e irremediável de recursos naturais, de bens e valores que compõem a inestimável biodiversidade natural, social e cultural do planeta; o aprofundamento de uma tendência ao consumo ilimitado destes bens que por sua natureza constituem um patrimônio inalcançável para alguns.

Essa é também uma das manifestações da crise da qual não conseguimos ver o fim, não tanto pelas tendências flutuantes da bolsa ou pela lentidão da “reativação econômica”, mas sim porque não há sinais tangíveis de uma inversão de orientação na governabilidade mundial da economia. Esta difícil atingir a percepção do limite dos recursos naturais e dos bens comuns que impulsione a construção de um terceiro e mais sustentável caminho, um caminho alternativo á privatização ou ao consumo irresponsável. Por isso, em meio à crise, os governos dos países que integram o G20 introduziram no sistema financeiro 13,6 bilhões de dólares sem condicionar a liberação desses recursos a mudanças estruturais nem destiná-los a investimentos para o desenvolvimento ou a redução dos desequilíbrios sociais. Foram recursos mobilizados rapidamente, apesar de ter sido declarado impossível, algum tempo antes, mobilizar um montante 20 a 30 vezes inferior, necessário para alcançar os Objetivos do Milênio

O desenvolvimento insustentável
É a demonstração de um modelo de desenvolvimento que é insustentável não só porque não leva em conta que os recursos naturais são limitados, mas porque, acima de tudo, é desigual, fraco com os fortes e injusto com os fracos, insustentável de um ponto de vista social. O informe da Caritas, que a cada ano chama a atenção para a questão da exclusão social, destaca a relação direta da crise com o aumento da pobreza na Itália: 560 mil pessoais a mais, em relação a 2009, cruzaram a linha da pobreza em 2010. Incluem-se aí tanto desempregados como empregados, pessoas economicamente frágeis, que vivem em famílias numerosas com baixos níveis de educação, empobrecidas até se tornarem “sem teto”. Ao todo, são mais de 8 milhões de italianos.

O coração palpitante da crise que nos afeta há alguns anos é ao mesmo tempo social e político: constitui a demonstração do fracasso de um modelo de distribuição da riqueza em benefício dos ricos do planeta e de uma política que elevou à condição de paradigma a ideia de que a intervenção do Estado é sempre negativa para o bem estar das pessoas, que o gasto público é um desperdício e que não existem responsabilidades coletivas porque a “sociedade não existe”, como dizia Margaret Thatcher. E é uma crise que, justamente por seu caráter social e político, afeta em particular a Europa. De fato, o modelo social e político de bem estar renano ou europeu é o que sofreu as maiores deslegitimações pela financeiração da economia e pelas chamadas “reaganomics”, as políticas econômicas dos EUA durante a presidência de Ronald Reagan. Mas, ao mesmo tempo, a transformação da crise financeira em crise das finanças públicas, o crescimento da dívida dos Estados e o aumento do desemprego demonstram que o atual modelo europeu não assegurou estabilidade a vários países de seu entorno.

A crise da Europa Social
Tudo isso contribuiu para enfraquecer, até sua desaparição, o projeto político europeu, evidenciando a crise que a Europa está atravessando, uma crise de ideia de civilização, de modelo de desenvolvimento, de projeto de futuro. Por isso, hoje em dia vemos como única saída da crise a reconversão ecológica e social do desenvolvimento, como novo paradigma: um projeto político que tenha seu fundamento em uma nova centralidade dos bens comuns, retomando a ideia de um possível projeto comum da Europa, sobre novos fundamentos culturais. Apesar de as instituições e os governos europeus parecerem incapazes ou desinteressados em empreender este desafio, existe também outra Europa, dos cidadãos e das organizações sociais, que resistem à banalidade da tragédia dos bens comuns, que constroem propostas concretas e projetos para um desenvolvimento sustentável e justo e que não se resignam a aceitar as leis de um modelo de desenvolvimento fracassado que destrói o futuro de todos.

O descuido e a indiferença em relação a tudo que é de interesse geral e de necessidade comum e, ao mesmo tempo, a obsessão para a exploração econômica destes bens, está mostrando suas contradições internas e demonstrando não ser confiável.

Uma mudança radical de direção
Em 2010, assistimos a um número impressionante de eventos extremos relacionados com um modelo de desenvolvimento destruidor dos bens comuns e com seu uso desequilibrado e irresponsável. Estes eventos nos sugerem que é urgente ter outro olhar, uma mudança radical de rota na forma de utilizar esses recursos. O desastre ecológico causado pelo acidente petrolífero da BP no Golfo do México mostrou a impotência inclusive dos EUA para prevenir o desastre e avaliar suas reais consequências. Os incêndios dos bosques russos; as mudanças climáticas produzidas pelo deslocamento de 260 quilômetros quadrados do maior iceberg do mundo na Groenlândia; temperaturas inéditas como os 37,2° na Finlândia ou os 54° no Paquistão.

Mas 2010 também foi o ano em que, segundo avaliação da Global Footprint Network, cruzamos a fronteira crítica para além da qual o consumo global dos recursos naturais superou a taxa de regeneração dos mesmos por parte da natureza. Apesar de que há décadas a comunidade científica e o movimento ecológico venham assinalando o risco de superação desse ponto, não soubemos parar, moderar nosso consumo, estabelecer um limite, e fizemos a coisa mais irresponsável que poderíamos fazer: decidimos gastar as reservas de recursos de nossos netos, nos demos o direito de comer o futuro.

Para além do binômio público/privado
Portanto, os bens comuns são o centro de um conflito em torno do conceito de desenvolvimento, em torno do conceito de futuro do planeta, conflito que não pode ser resolvido em um debate entre propriedade pública e propriedade privada. É preciso empreender uma profunda reflexão política e cultural, uma coerente e contínua ação política para sua proteção, um consenso generalizado sobre a transformação da “tragédia” em “possibilidade”.

E não estamos falando só de recursos naturais que permitem a vida neste planeta – água, ar, solo, plantas, espécies animais – e que sofrem um manejo irresponsável diário, condenados a garantir níveis de vida insustentáveis para o ecossistema e injustos em escala global. Estamos nos referindo também a bens imateriais que, como os recursos naturais, são necessários para certa qualidade de vida e que, por serem de uso coletivo, têm um alto valor. Esses bens imateriais estão na base desses valores que constituem a essência da felicidade individual e coletiva das comunidades: a equidade social, o trabalho, a saúde, o pluralismo cultural, a segurança, a informação, o conhecimento, o espaço público para as religiões, o laicismo, o reconhecimento ativo dos direitos civis e sociais e a própria democracia.

A democracia dos bens comuns
O tema dos bens comuns renova uma questão fundamental da democracia, porque trata da igualdade de acesso aos bens primários. Igualdade entendida não só como direito universal a dispor dos bens comuns em quantidade suficiente para sobreviver, mas também como superação de lacunas – cada vez mais amplas e insustentáveis – causadas pelas diferentes disponibilidades econômicas, as quais afetam o acesso aos alimentos, ao conhecimento, aos serviços de saúde, a um trabalho digno.

Como a nossa (italiana) Constituição já estabeleceu de maneira iluminada (art. 3), igualdade, liberdade e dignidade constituem em sua unidade o novo núcleo da democracia, à luz dos problemas que a questão dos bens comuns propõe na era da globalização. A própria organização da produção, encabeçada pelas granes empresas transnacionais, nos coloca diante de novos problemas relacionados com a democracia: essas empresas decidem como utilizar os recursos da terra, decidem onde, como e o quê produzir, determinando o destino de trabalhadores e consumidores, sem alguma forma real de controle ou regulação por parte das instituições estatais nem de democracia interna, e com disponibilidade de um volume de negócios superior aos PIBS de muitos países. Neste contexto só vale a liberdade absoluta das empresas, que aniquila totalmente as tentativas feitas por parte da Constituição para limitá-la com o fim de garantir a utilidade social (art. 41). Hoje em dia, as empresas se ocupam mais do setor financeiro que da produção, seus deslocamentos determinam o bem estar dos trabalhadores e decidem quem produz e quem consome no mundo. É preciso repensar a governabilidade dessas empresas e o papel desempenhado pelos diferentes setores sociais nas decisões sobre o destino dos bens comuns.

Para uma titularidade generalizada
Os bens comuns, tanto os naturais como os que se referem às relações entre os indivíduos têm que ser isentos da lógica do lucro. O lucro produz, em curto tempo, uma injusta distribuição de renda (ou seja, uma discriminação entre iguais) e também uma exploração intensiva e potencialmente ilimitada dos bens. Isso é incompatível com a própria natureza dos bens comuns, caracterizados por ter a “titularidade generalizada”: todos podem ter acesso a eles, mas ninguém pode possuí-los de forma exclusiva. No entanto, o direito de acesso tem que ser regulado para garantir o acesso das gerações futuras também. Deste modo o enfoque intergeneracional se enlaça com o tema político dos direitos de cidadania. Neste sentido, a ONU aprovou, na sessão n° 108 (julho de 2010), a resolução sobre o direito humano à água e à saúde.

Nela se recorda que 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável e 1,5 milhão de crianças menores de 5 anos morrem a cada ano por causa de doenças provocadas pela carência de água potável. Trata-se de uma resolução muito importante, que retoma o trabalho do Conselho para os Direitos Humanos (UNHRC), o qual pede às organizações internacionais a destinação de recursos financeiros para os países em desenvolvimento com o objetivo de assegurar a todos o acesso à água limpa e potável.

Os bens comuns colocam, portanto, de maneira concreta, a questão da democracia – igualmente frágil, escassa e ameaçada – e dos direitos de todos: esses bens comuns devem ser acessíveis a todos – por serem direitos individuais de cada pessoa do planeta – e sua utilização tem que ser regulada e limitada para que não se esgotem.

É o sinal forte e claro de que já não é possível unir cada aspecto de nossa vida (até a própria fonte da vida) com a dimensão econômica das leis do mercado. Estamos assistindo à decadência do paradigma do mercado como mecanismo eficiente, justo e capaz de autoregulação. Ao contrário, levou à aceleração dos processos de globalização nos últimos cinquenta anos.

Primeiro: defender o interesse público
É exatamente este o dilema dos bens comuns: como estabelecer e tornar efetivas as normas para seu uso, normas que tenham seu fundamento em novas formas de racionalidade, regras sociais e de reciprocidade. A mentalidade dominante mostra escassa eficácia frente à “tragédia dos bens comuns”, como demonstrou claramente o desastre do poço petrolífero da BP no Golfo do México que causou graves danos ao ecossistema e à saúde. Neste caso, o presidente Obama, sob muita pressão, conseguiu que a BP criasse um fundo de 20 bilhões de dólares para compensar os danos causados. Uma solução extrajudicial que, talvez, pode mostrar o caminho para a atuação do princípio (já obsoleto no debate público) de “quem contamina paga” em outros casos igualmente significativos: Bhopal e os 2.300 mortos causados pelo acidente químico da Union Carbide (1984); o lixo cheio de resíduos petrolíferos da Texaco na selva do Equador (1964-1990); os danos ambientais causados pelas extrações petrolíferas da Shell, da Exxon, e da Eni no delta do Niger. Que direito internacional pode ser usado para defender efetivamente os bens comuns dos interesses privados? O problema consiste em que a típica sanção reparadora por danos causados não vale no caso dos bens comuns porque os recursos naturais destruídos levam um longo tempo para se recuperar, período no qual a população sofre uma drástica limitação em sua utilização.

Por estas razões, após 20 anos de referendum, continua-se lutando ativamente na Itália contra a energia nuclear para a produção de eletricidade: o custo em termos de recursos naturais limitados (água, território e materiais fósseis), o risco em caso de acidentes com danos de longo prazo à saúde e ao meio ambiente, a impossibilidade de gerir de forma segura os dejetos no médio e longo prazo, um verdadeiro custo imediato contra um longínquo e incerto benefício, o uso de recursos econômicos que poderiam ser investidos em energias renováveis. A direção para o futuro deve ser, diferentemente do que ocorreu no passado, a democratização e descentralização da produção de energia, com uma maior responsabilidade das comunidades e dos indivíduos.

A inanidade do mundo político
Os estudiosos mais perspicazes têm abordado esses temas já há algum tempo. Entre eles, o prêmio Nobel Elinor Ostrom, que sugeriu ideias e soluções importantes para um mundo político que, no entanto, parece surdo, cego e, sobretudo, inerte, ou seja, incapaz de realizar seus deveres e tomar as decisões necessárias. Tudo isso já foi demonstrado nas últimas reuniões de cúpula internacionais, tanto as gerais (como o G20 de Toronto), como as temáticas (a cúpula mundial sobre o clima em Copenhague ou a cúpula sobre os Objetivos do Milênio, na ONU).

Para chegar a um manejo responsável dos bens comuns são necessárias soluções inovadoras, que se afastem dos dogmatismos opostos: tanto de quem pretende que só o Estado tenha o direito de desempenhar o papel de comando e controle dos bens coletivos, como de quem sustenta que só a privatização dos recursos resolverá o problema. Estes dois enfoques se demonstraram dramaticamente ineficientes: nem o Estado nem o mercado, sozinhos, podem garantir o manejo equilibrado e responsável destes bens.

De Estado-Mercado a Comunidade-Redes
Apesar desse dilema permanecer aberto em nível global (onde as instituições supranacionais públicas se demonstram ineficazes e as privadas portadoras de interesses particulares), é preciso assinalar – e Terra Futura está fazendo isso há oito anos – que existem realidades e instituições externas ao sistema Estado-Mercado que vem gerindo, em nível local, sistemas sociais e de recursos naturais com resultados eficazes e sustentáveis no tempo. Há muitos exemplos concretos de comunidades de indivíduos e de redes de grupos que vem desenvolvendo várias e diferentes maneiras de gerir os bens coletivos, alternativas aos modelos públicos ou privatistas. Trata-se de experiências que se baseiam no modelo cooperativo (oposto às iniciativas unilaterais), em ações coletivas e na reciprocidade. Esyas escolhas implicam a capacidade de avaliar e levar em conta as razões dos outros indivíduos envolvidos, a decisão de cooperar a partir de relações de confiança, a consideração da escassez dos recursos e o estabelecimento de regras compartilhadas que aplicam incentivos ou sanções, segundo o caso. Estamos diante de novas formas de contrato social (que Elinor Olstrom analisou em seu “Governing the Commons”) que demonstram a viabilidade de alternativas em relação ao “Leviatã” burocrático (um Estado tanto intrometido quanto ineficiente) e à privatização como “única” via.

Governar os bens comuns
Muitas das linhas temáticas que caracterizaram as edições anteriores de Terra Futura convergem para o conceito de governo dos bens comuns: do tema da responsabilidade e da sustentabilidade para aquele do papel das alianças entre sujeitos da sociedade civil, dos temas sobre as mudanças climáticas, sobre a crise financeira, a legalidade e a crise social. Os bens comuns são a síntese de todas as contradições do modelo de desenvolvimento dominante até agora e que hoje vemos cair miseravelmente sob seu próprio peso. Tudo isso chega agora ao “nó górdio” que finalmente é preciso cortar: a exploração ilimitada e injusta dos recursos naturais gera desigualdade e enfraquece o impulso democrático em qualquer parte do mundo (como nos demonstrou o caso Eni-Nigéria).

Os interesses individuais e particulares da política pisoteiam os direitos humanos fundamentais (um exemplo evidente é a discriminação contra a população romena, que foi enviada à fronteira pelo presidente francês Sarkozy, o qual, poucos dias depois, invocou a ajuda da ONU para combater a pobreza por meio da aplicação da Taxa Tobin). Ignora-se o direito de cada um ter um espaço público para praticar sua religião, com a ilusão de velar pela própria identidade (ameaçando lançar textos sagrados na fogueira e impedindo a construção de mesquitas). A exploração intensiva das terras e das produções agrícolas empobrece os recursos naturais, cria injustiças e conflitos sociais e impulsiona comportamentos irresponsáveis na política (o exemplo são as quotas de leite europeias na Itália ou o estímulo ao uso de organismos geneticamente modificados).

Por um novo contrato social de responsabilidade coletiva
Se é evidente que as contradições do modelo de desenvolvimento explodem em torno dos bens comuns, é certo também que tais bens têm oferecido a muitas comunidades no mundo e na Itália a oportunidade de encontrar soluções para diversos problemas, de elaborar projetos de desenvolvimento, sistemas sociais abertos e responsáveis, inovadores e sustentáveis, democráticos e participativos. Estas realidades demonstram uma verdadeira unidade, entendida não como simples fato formal, mas sim como uma autêntica unificação de destino entre biosfera e “sociosfera”, uma alternativa à degradação dos bens materiais e das relações.

Enquanto se realizam uma após outra as cúpulas entre governos que mostram sua submissão às lógicas do liberalismo econômico; enquanto as Nações Unidas parecem seguir atuando com métodos que não levam a lugar nenhum (a cúpula sobre a biodiversidade no Japão, em outubro de 2010, foi a última de uma longa cadeia de encontros – desde o do Rio em 1992 até Johannesburgo em 2002 – cujos resultados foram inversamente proporcionais às expectativas despertadas), nossa tenaz esperança se situa no que estão fazendo concretamente no mundo os cidadãos, indivíduos da sociedade civil organizada, empresas e governos locais.

Todos estes sujeitos estão buscando a forma de construir uma sociedade mais justa e sustentável, na base dos valores e das relações no lugar da monetarização e da exploração cega do futuro.

Assistimos, dia após dia, com uma velocidade e uma intensidade inimagináveis há uma década, à “tragédia dos bens comuns” como a definiu Garret Hardin, no distante 1968: um empobrecimento contínuo e irremediável de recursos naturais, de bens e valores que compõem a inestimável biodiversidade natural, social e cultural do planeta; o aprofundamento de uma tendência ao consumo ilimitado destes bens que por sua natureza constituem um patrimônio inalcançável para alguns.

Milhares de arroios, um rio, Terra Futura
Finalmente, hoje, após anos em que só uns poucos iluminados pioneiros se atreviam a falar, começa a se construir o vasto e concreto projeto de reconversão econômica, ecológica e social do modelo de desenvolvimento e de redistribuição das riquezas entre as possíveis e necessárias soluções. Mas esse rio só conseguirá chegar ao mar se reunirmos todos os afluentes, todos os riachos em um grande estuário. É um compromisso importante e complexo porque não é suficiente somar fluxos. É preciso também equilibrar os muitos e diferentes projetos para ter um olhar global e, ao mesmo tempo, cuidar cada um de seus cursos d’água. É um grande trabalho que só poderá ser realizado unindo competências, experiências e sensibilidades diferentes (como ocorre há 8 anos entre os sócios de Terra Futura) e tornando as próprias comunidades protagonistas dessa mudança: só esse sujeitos têm as ferramentas e o interesse (e, portanto, a responsabilidade) para unir a multiplicidade de arroios e dar assim um novo nome ao mar do desenvolvimento, convertendo-o no mar da igualdade, da sustentabilidade e da justiça.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte: Carta Maior

Índios isolados no Brasil - com sérios riscos de sobrevivência por desmatamento ilegal

Novas fotos obtidas pela Survival International mostram índios isolados no Brasil, perto da fronteira com o Peru.

As fotos foram tiradas pela Funai (Fundação Nacional do Índio), que autorizou a Survival utilizá-las como parte de sua campanha para proteger o território dos índios isolados.

Elas revelam uma comunidade próspera e saudável com cestos cheios de mandioca e mamão fresco cultivados em suas roças.


Gleison Miranda/Funai/Survival

A sobrevivência da tribo, no entanto, está em sério perigo por causa da entrada de madeireiros ilegais que estão invadindo o território dos índios isolados no lado peruano da fronteira. As autoridades brasileiras acreditam que o influxo de madeireiros está empurrando índios isolados do Peru para o Brasil.

A Survival e outras ONGs estão fazendo uma campanha há anos para que o governo peruano aja de forma decisiva para impedir a invasão.

No ano passado, uma organização dos EUA --Upper Amazon Conservancy-- realizou o último de vários sobrevoos do lado do Peru, revelando mais evidências de extração ilegal de madeira em uma área protegida.

"Tem que cuidar e proteger o lugar onde os índios moram, pescam, caçam e plantam. Por isso é útil mostrar as imagens dos isolados, para o mundo inteiro saber que eles estão lá na floresta deles e que as autoridades devem respeitar o direito deles de morar lá", disse o líder indígena Davi Kopenawa Yanomami.

José Carlos dos Reis Meirelles, sertanista da Funai no Acre, disse que são povos meio desconhecidos. "É difícil convencer até o próprio Estado que eles existem. A partir disso, você demarcar um território maior para eles já é uma dificuldade --é um desafio porque você vai mexer com um monte de interesses. É o segundo desafio é manter realmente essa terra isenta de interferência externa."

O diretor da Survival, Stephen Corry, disse que os madeireiros ilegais irão destruir a tribo. "É vital que o governo peruano os pare antes que seja tarde demais.As pessoas nestas fotos são evidentemente saudáveis e prósperas. O que elas precisam de nós é que o seu território seja protegido, de modo que elas possam tomar suas próprias decisões sobre seu futuro. Mas essa área está agora em risco real, e se a onda de extração ilegal de madeira não parar logo, elas não terão controle sobre seu futuro. Isso não é apenas uma possibilidade: é história irrefutável, reescrito sobre os túmulos de inúmeras tribos nos últimos cinco séculos."

A organização indígena da amazônia peruana Aidesep emitiu uma declaração sobre o assunto: "Nós estamos profundamente preocupados com a falta de ação das autoridades, apesar das reclamações do Peru e de fora contra o desmatamento ilegal, nada foi feito."


Gleison Miranda/Funai/Survival



Fonte: Folha online

“Profissão de Fé nas CEBs"

Eu creio nas CEBs, porque creio na igreja como comunidade de fé, de esperança e amor.

Eu creio nas CEBs, porque creio na eficácia da oração de Jesus. “Que eles sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti"(Jo17,21)

Eu creio nas CEBs, porque creio ser possível uma comunidade cristã, onde todos sejam “um só coração e uma só alma” (At.4,32).

Eu creio nas CEBs, porque creio em comunidade que vivem em profunda comunhão, não de simples reunião, mas de verdadeira união, fruto de sincero amor.

Eu creio nas CEBs, porque creio nas comunidades cheias de ardor missionário, capazes de levar a Boa –Notícia de Deus aos corações, as paróquias, as dioceses, as Igrejas do mundo inteiro.

Eu creio nas CEBs, porque creio nas comunidades geradoras de fé, de vida e de união, com suas celebrações festivas e com seu testemunho de vivencia cristã.

Eu creio nas CEBs, onde a Palavra de Deus é ouvida, partilhada e confrontada com o dia a dia, nesta simbiose divina de fé e vida.

Eu creio nas CEBs, celebrando a Eucaristia e o Culto a Deus, e celebrando a partilha dos dons e serviços, só por amor.

Eu creio nas CEBs, estes pequenos grupos de pessoas e de famílias, onde as relações de profunda comunhão e fraternidade levam a uma intima convivência pela fé em Jesus Cristo.

Eu creio nas CEBs, reunindo-se nas Igrejas, nas capelas, nas casas, nas salas e salões, e até debaixo das árvores, aprendendo a amar, a servir, a sonhar...

Eu creio nas CEBs, formadas pela base da Igreja, que são os Leigos, vivendo nas situações concretas da vida do povo, construindo o Reino de Deus para um mundo melhor.

Eu creio nas CEBs, como célula vivas da Igreja, não só nas regiões rurais, mas também nas grandes cidades, onde sejam talvez uma das únicas formas de evangelização urbana moderna.

Eu creio nas CEBs, como germe de produção humana e de desenvolvimento Eclesial, político e social, como fruto da fé, como gesto de esperança, como testemunho de amor.

Eu creio nas CEBs, como sementeira de futuros lideres políticos e sociais que façam de sua fé a raiz, de sua esperança a força, e de seu amor o segredo para a promoção do bem comum.

Eu creio nas CEBs, por um principio de fé: o Evangelho que pode levar-nos a superar os instrumentos e as estruturas de morte.

Eu creio nas CEBs, pelos muitos frutos de renovação, de união, de solidariedade e de justiça que já nos tem dado em tantos lugares e durante tanto tempo.

Eu creio nas CEBs, abençoadas pela Igreja, aprovadas pelo Papa, admiradas por bispos e sacerdotes, e apoiadas por cristãos sérios, que levam a sério o grito de Jesus peal união e pelo amor bem vivido e muito sofrido.

Eu creio nas CEBs, que farão nossas comunidades eclesiais mais evangelizadoras, como redes de comunidades, unidas entre si e formando um belo conjunto de vida paroquial.

Eu creio nas CEBs, onde os corações se abrem e os braços estendem para acolher, confortar, e socorrer a tantos irmãos e irmãs marginalizados e excluídos, os pobrezinhos, os preferidos de Jesus.

Eu creio nas CEBs, porque creio em muitos irmãos e irmãs, em muitos sacerdotes e religiosos, em muitos bispos e nos santo padre, o Papa, que também acreditam nelas por este mundo a fora.

Eu creio nas CEBs, miniaturas da Igreja, onde convivem e sofrem e lutam, e se amam, e se ajudam, e se animam irmãos e irmãs nossos, com suas pastorais ativas, com seus movimentos participativos, com suas alegrias e angustias, mas sempre com seu sonho infindável de serem felizes.

Eu creio nas CEBs, porque creio na Santíssima Trindade, a comunidade perfeita: em Deus, que é Pai de todos; em Jesus Cristo, que é esperança de todos; e no Espirito Santo, que é fonte de amor, de justiça e paz!...

Irmãos e irmãs, pensando na felicidade de tantos, pensando no bem da Igreja na glória de Deus, é que faço, do fundo do coração, está Profissão de Fé: Eu creio nas Comunidades Eclesiais de Base!

Amém!

Essa belíssima “Profissão de fé nas CEBs” é de Dom José Belvino do Nascimento – bispo emérito da Diocese de Divinópolis – MG.


Sugestão para orar com a comunidade:


“Profissão de Fé nas CEBs”

Crianças: Eu creio nas CEBs, porque creio na igreja como comunidade de fé, de esperança e amor.

Crianças/ Jovens: Eu creio nas CEBs, porque creio na eficácia da oração de Jesus. “Que eles sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti"(Jo17,21)

Adultos: Eu creio nas CEBs, porque creio ser possível uma comunidade cristã, onde todos sejam “um só coração e uma só alma” (At.4,32).

Crianças: Eu creio nas CEBs, porque creio em comunidade que vivem em profunda comunhão, não de simples reunião, mas de verdadeira união, fruto de sincero amor.

Adolescentes / Jovens: Eu creio nas CEBs, porque creio nas comunidades cheias de ardor missionário, capazes de levar a Boa –Notícia de Deus aos corações, as paróquias, as dioceses, as Igrejas do mundo inteiro.

Adultos: Eu creio nas CEBs, porque creio nas comunidades geradoras de fé, de vida e de união, com suas celebrações festivas e com seu testemunho de vivencia cristã.

Crianças: Eu creio nas CEBs, onde a Palavra de Deus é ouvida, partilhada e confrontada com o dia a dia, nesta simbiose divina de fé e vida.

Adolescentes / Jovens: Eu creio nas CEBs, celebrando a Eucaristia e o Culto a Deus, e celebrando a partilha dos dons e serviços, só por amor.

Adultos: Eu creio nas CEBs, estes pequenos grupos de pessoas e de famílias, onde as relações de profunda comunhão e fraternidade levam a uma intima convivência pela fé em Jesus Cristo.

Crianças: Eu creio nas CEBs, reunindo-se nas Igrejas, nas capelas, nas casas, nas salas e salões, e até debaixo das árvores, aprendendo a amar, a servir, a sonhar...

Adolescentes / Jovens: Eu creio nas CEBs, formadas pela base da Igreja, que são os Leigos, vivendo nas situações concretas da vida do povo, construindo o Reino de Deus para um mundo melhor.

Adultos: Eu creio nas CEBs, como célula vivas da Igreja, não só nas regiões rurais, mas também nas grandes cidades, onde sejam talvez uma das únicas formas de evangelização urbana moderna.

Crianças: Eu creio nas CEBs, como germe de produção humana e de desenvolvimento Eclesial, político e social, como fruto da fé, como gesto de esperança, como testemunho de amor.

Adolescentes / Jovens: Eu creio nas CEBs, como sementeira de futuros lideres políticos e sociais que façam de sua fé a raiz, de sua esperança a força, e de seu amor o segredo para a promoção do bem comum.

Adultos: Eu creio nas CEBs, por um principio de fé: o Evangelho que pode levar-nos a superar os instrumentos e as estruturas de morte.

Crianças: Eu creio nas CEBs, pelos muitos frutos de renovação, de união, de solidariedade e de justiça que já nos tem dado em tantos lugares e durante tanto tempo.

Adolescentes/Jovens: Eu creio nas CEBs, abençoadas pela Igreja, aprovadas pelo Papa, admiradas por bispos e sacerdotes, e apoiadas por cristãos sérios, que levam a sério o grito de Jesus peal união e pelo amor bem vivido e muito sofrido.

Adultos: Eu creio nas CEBs, que farão nossas comunidades eclesiais mais evangelizadoras, como redes de comunidades, unidas entre si e formando um belo conjunto de vida paroquial.

Crianças: Eu creio nas CEBs, onde os corações se abrem e os braços estendem para acolher, confortar, e socorrer a tantos irmãos e irmãs marginalizados e excluídos, os pobrezinhos, os preferidos de Jesus.

Adolescentes/Jovens: Eu creio nas CEBs, porque creio em muitos irmãos e irmãs, em muitos sacerdotes e religiosos, em muitos bispos e nos santo padre, o Papa, que também acreditam nelas por este mundo a fora.

Adultos: Eu creio nas CEBs, miniaturas da Igreja, onde convivem e sofrem e lutam, e se amam, e se ajudam, e se animam irmãos e irmãs nossos, com suas pastorais ativas, com seus movimentos participativos, com suas alegrias e angustias, mas sempre com seu sonho infindável de serem felizes.

Filhos(as): Eu creio nas CEBs, porque creio na Santíssima Trindade, a comunidade perfeita: em Deus, que é Pai de todos; em Jesus Cristo, que é esperança de todos; e no Espirito Santo, que é fonte de amor, de justiça e paz!...

Pais/ Mães: Irmãos e irmãs, pensando na felicidade de tantos, pensando no bem da Igreja na glória de Deus, é que faço, do fundo do coração, está Profissão de Fé: Eu creio nas Comunidades Eclesiais de Base!

Amém!





Cia Cultural Bola de Meia - São José dos Campos


Companhia Cultural Bola de Meia

Fundada em 1989 por Jacqueline Baumgratz e Celso Pan, a Cia Cultural Bola de Meia é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) e um ponto de referência no campo artístico de São José dos Campos. Os principais focos de trabalho da Cia são a pesquisa e transmissão da Cultura Popular Brasileira, da Tradição Oral e da Cultura da Infância.

Jacqueline, atual Coordenadora Pedagógica de Projetos Institucionais da Cia, recorda o início de sua trajetória no meio artístico:
"A minha militância cultural se dava nas favelas e comunidades principalmente através das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base); sempre me mantive distante do poder político e governamental local."
Na década de 1980, Jacqueline participou da FEJOTA (Federação Joseense de Teatro Amador) e, em 1989, criou a Cia Cultural Bola de Meia, sobre a qual afirma:

"O Bola de Meia viveu até 2005 com verba de suas criações artísticas e culturais (teatro infantil, shows musicais, manifestações da Cultura Popular e cursos de aprimoramento artístico e cultural para crianças e educadores), buscando apoios e patrocínios diretos com empresas privadas; somente há pouco tempo começou a fazer essa experiência com verba pública e através de editais."
Um marco importante para o grupo foi o reconhecimento recebido do Governo Federal: hoje a companhia é um Ponto de Cultura com projetos em nível nacional e estadual. Os Pontos de Cultura foram criados em 2004, dentro do Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura (MinC). São iniciativas culturais "reconhecidas e apoiadas financeira e institucionalmente pelo Ministro da Cultura que desenvolvem ações de impacto sócio-cultural em suas comunidades" (MinC, 2011).

Atualmente, a Cia Cultural Bola de Meia tem diversos projetos selecionados pelo Ministério da Cultura (inclusive projetos premiados pelo MinC) e pela Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo, através de editais públicos.

Além do apoio recebido nos níveis estadual e federal, colabora para a sustentabilidade da instituição o valor arrecadado através de campanhas, doações, criação e circulação de espetáculos, oficinas culturais e vendas de produtos como cds, livros, jogos e camisetas.

Issao Aoki , "Adeus, padre do povo! "



O padre Aoki sai neste domingo (30) de Bauru em direção a São Paulo. De lá vai para Madri, na Espanha, onde ficam seus superiores.  Passa cinco dias na Europa e em seguida viaja para Tóquio, no Japão, para assumir seu novo cargo.
O padre Aoki vai para Madri, na Espanha, onde ficam seus superiores. Passa cinco dias na Europa e em seguida viaja para Tóquio, no Japão, para assumir seu novo cargo.

Issao Aoki, famoso pelo trabalho social junto às comunidades carentes, volta ao Japão após 33 anos

Quando chegou ao Brasil, o padre marianista Issao Aoki, 66 anos, também conhecido como João Batista, sentia sede.

Estava cansado da longa viagem de avião e carro quando desembarcou em Gália, na região de Marília, sua primeira paróquia. Pediu água. Recebeu um copo pequeno, que virou. Era pinga.

Trinta e três anos depois, rindo, até hoje leva as mãos à garganta para mostrar como a bebida desceu queimando.

E não parou por aí.

Os anfitriões disseram que era melhor experimentar com limão. Depois sugeriram bastante gelo. Foram três copos de cachaça, uma estreia tipicamente brasileira.

“Fui batizado logo no primeiro dia”, brinca.

Na casa paroquial, outra surpresa. Na rua, dezenas de carros buzinavam. Motoristas e passageiros cantavam alto uma música desconhecida para o religioso oriental. Era o hino do Corinthians, campeão após 23 anos sem títulos importantes.

“Não dormi por causa do barulho e da cabeça zonza”, diverte-se, ao recordar.

Teve também o conhecido calor humano. Os abraços, fartos, ao atordoado recém-chegado. O padre não estava acostumado. Assustou. No Japão que havia deixado para trás, homens e mulheres não se tocavam na hora dos cumprimentos. Tudo era formalidade. Aqui, encontrou o avesso.

Nas três décadas em que morou no Brasil, o religioso viveu fases diferentes.

Os primeiros dez anos foram de estranheza e dificuldades com a língua. Uma certa rejeição ao Brasil, país em desenvolvimento. Tentativa de manter a autoestima no meio do turbilhão de novas informações, clima diferente, gente à vontade.

Na década seguinte, dedicado ao trabalho com as Comunidades Eclesiais de Base e orientado pela polêmica teologia da libertação, protagonizou um caso de amor com o povo humilde com quem conviveu.

O cenário era Bauru, para onde mudou em 1978.

“Fui muito feliz. Comecei a valorizar o Brasil profundamente”.

A última década foi de conciliação entre a igreja social e até revolucionária, da qual era um dos protagonsitas, e os novos tempos de Renovação Carismática, de valorização da espiritualidade.


Gargalhada
Agora, chegou a hora de ir embora. O padre deixa Bauru nesta segunda. Foi chamado para ser superior regional da Congregação Marianista em Tóquio, no Japão. Na bagagem, leva o calor humano que aprendeu a admirar. E a capacidade de dialogar e coordenar ações, desenvolvida aqui.

“É onde aprendi a gargalhar”, resume, emocionado.

O religioso recebeu o BOM DIA na Casa Marianista, no Jardim Redentor, onde mora desde 1989. Vestia camiseta com a inscrição “A paz é fruto da justiça”, da campanha da fraternidade de 2009.

Uma síntese de sua trajetória.

Ele sabe que no novo cargo não poderá mais circular como gosta. De camiseta, chinelos no pé, sem pose. Terá de usar terno e gravata.

Faz gesto de enforcamento para mostrar que a ideia não agrada muito. Diz detestar ficar dentro de gabinetes, ser chefe, dar ordens.

Também deixará o clima quente para encontrar temperaturas perto de zero grau.

“Haverá um choque térmico”, conforma-se. E um choque de culturas. Terá de refazer sua relação com o Japão, onde vivem irmãos e sobrinhos.

Será preciso acostumar novamente com o sistema formal, a hierarquia vertical, em forma de pirâmide.

Mas o padre quer temperar tudo com o que aprendeu por aqui: o sistema servindo ao ser humano, e não o contrário; a valorização do diálogo, da capacidade dos outros, a conciliação entre os diferentes.

“Sinto que sou querido. E isso é importante para mim”.


Adaptação
Nos primeiros anos no Brasil, era difícil para Aoki elaborar os sermões.

Ele não dominava o português, usava o dicionário o tempo todo e contava com a ajuda de uma professora, que riscava e corrigia as palavras erradas.

Nas celebrações, lia os sermões, com as devidas correções já anotadas.

“Falava a homilia, mas ela não era minha”.

Nas mesas de almoços e jantares, ficava perdido quando todos riam de alguma piada ou frase engraçada.

Até que aprendeu a fazer o mesmo. E gargalhou vida afora.

O padre também não esquece o primeiro natal em terras tropicais. Suou muito de calor e demorou para assimilar a data religiosa sem neve e frio.

Ele é nascido em Kobe, no Japão. Foi batizado no final da infância, quando a família se converteu ao catolicismo - antes era protestante.

No Japão, menos de 1% da população é católica ou protestante.

Aoki é um poliglota. Além da língua de origem, o japonês, e do português, aprendeu francês [por causa da convivência com missionários franceses no Japão], espanhol [devido às reuniões com os líderes espanhóis da Congregação Marianista], latim, inglês e até grego, na época da pós-graduação.

É um intelectual que optou pela convivência popular, pé no chão, com jovens, crianças, sem-terra.

Sobra sensibilidade social.

“Andou a pé pelas terras ou buracos do início da comunidade da Imaculada, na Rua dos Limoeiros, onde nasceu a comunidade que hoje tem aqui sua matriz, pelas terras ainda ociosas do Carolina, o antigo fura-bucho, levou infinitas procissões pelas erosões do Parque Bauru, caminhando, cantando, tocando sua flauta, pelos buracos, areião e lama do Ferradura Mirim e Tangarás”, diz texto de despedida preparado pela Diocese de Bauru.

O religioso veio para o Brasil para ajudar na implantação da Congregação Marianista.

É um dos seis padres japoneses no país. Em Bauru, até o final do ano passado, foi pároco da Maria Mãe do Redentor.

Na segunda-feira, dia 24, as comunidades que contaram com a participação do padre celebraram uma missa de despedida.

Ele recebeu uma estola com fotos de vários momentos do trabalho realizado em Bauru.

O padre prometeu não chorar - e cumpriu.

A partida é definitiva. Ele não vai mais trabalhar aqui. Mas voltará de dois em dois anos, para renovar o visto. E reabastecer. De afeto.


Cristina Camargo

Fonte: Agência Bom Dia