Foi aberto nesta segunda-feira 3 o edital para o leilão do terreno do
Pinheirinho, como ficou conhecida a área de 1,3 milhão de metros
quadrados pertencente à massa falida da empresa Selecta, do
ex-investidor Nagi Nahas, no município de São José dos Campos. No local
viviam cerca de 9 mil pessoas, despejadas durante uma violenta
reintegração de posse efetuada pela Polícia Militar e pela Guarda Civil
em janeiro. Na época, as casas foram demolidas com tratores e as
famílias, levadas a abrigos provisórios. De acordo com o edital do
leilão, os interessados no imóvel - avaliado em 187,4 milhões de reais
– podem apresentar lances até o dia 3 de outubro. Apesar disso, o
leilão pode ser invalidado antes de o leiloeiro bater o martelo.
Segundo uma ação movida na 18ª Vara Cível de São José dos Campos, o
processo de leilão do terreno é ilegal, pois o imóvel ainda está em
litígio. O advogado Denis Pizzigati Ometo, defendensor dos moradores,
afirma que ainda não existe uma decisão definitiva da Justiça sobre o
imóvel disputado pelo empresário Nagi Nahas e as famílias de moradores
sem-teto que ocuparam durante anos a região do Pinheirinho.
“A reintegração de posse foi feita com base em uma liminar e não
baseada em um julgamento”, explica Ometo. “Enquanto não houver uma
decisão final sobre o direito de posse do terreno, o juiz não pode
permitir a venda”, argumenta.
Por meio da venda, espera-se que sejam quitadas as dívidas acumuladas
antes e depois da falência da Selecta. Entre os credores da antiga
companhia de Nahas está a prefeitura de São José dos Campos, que espera
receber 28 milhões de reais, sendo 17 milhões relativos aos débitos com o
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
De acordo com o edital, o leilão da venda do imóvel será presencial e
acontecerá no dia 3 de outubro, às 14 horas , na capital paulista.
Contudo, para o advogado Denis Ometo, o negócio é de alto risco. “É
importante avisar aos interessados na compra do terreno que há o risco
de se perder dinheiro ao adquirir algo que não se sabe se poderá, de
fato, ser seu”, adverte. Segundo ele, a Justiça pode decidir que o
imóvel pertence às famílias de sem-teto. Caso isso aconteça, o dinheiro
do leilão será devolvido apenas com as correções inflacionárias do
período, o que pode significar um péssimo investimento.
Reintegração de posse
Em janeiro deste ano, o processo de reintegração de posse da área
resultou em confronto jurídico – por meio de liminares da Justiça
Federal e Estadual que permitiam e negavam a reintegração – e físico,
entre policiais militares e a guarda municipal contra centenas de
moradores.
O processo de reintegração foi denunciado por entidades civis e ONGs à
Comissão de Direitos Humandos da Organização dos Estados Americanos
(OEA). Atualmete, tanto o processo de litígio do terreno quanto o
processo por violação de Direitos Humanos não foram julgados pela
Justiça.
Marcelo Pellegrine
Fonte: Carta Capital
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