terça-feira, 4 de setembro de 2012

Congresso Continental de Teologia. Reflexões exógenas

O Concílio Vaticano II, "para muitos foi uma descoberta, para outros uma redescoberta, para todos a grata surpresa da atualidade, valentia e inspiração dos textos dos Padres Conciliares", escreve Guillermo Kerber, presidente da Rede Internacional de Direitos Humanos.
Segundo ele, "o desafio – encarnar a mensagem num contexto social, econômico e religioso muito diferente. O método e os conteúdos da teologia da libertação: a opção pelos pobres e o aprofundamento na Palavra são critérios que ajudam a seguir Jesus em Igreja, a encarnar a vontade do Pai, inspirados – valha a redundância – pelo Espírito".
Viajando pelo mundo para conhecer o que as Igrejas estão fazendo, Guillermo Kerber coordena o trabalho sobre Cuidado da Criação e Justiça Climática no Conselho Mundial de Igrejas, é membro da direção do Centro Católico Internacional de Genebra e presidente da Rede Internacional de Direitos Humanos.

Guillermo Kerber participará do Congresso Americano de Teologia coordenando a oficina Justiça, Direitos Humanos e Migração, no dia 08-10-2012.


Eis o artigo.
Durante os últimos dez anos, meu trabalho no Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra (Suíça), implicou viajar por várias regiões do mundo. Por exemplo, pude acompanhar o trabalho das Comissões de Verdade e Reconciliação no Peru e em Serra Leoa, conhecer o que as igrejas estão fazendo no cuidado da criação no sul da Índia, refletir junto de bispos, sacerdotes e pastores da Conferência de Igrejas do Pacífico em Fidji sobre as consequências da mudança climática nessa região, realizar um trabalho de incidência ante a Corte Penal Internacional ou ante as Nações Unidas em Genebra, em Nova Iorque ou em conferências como a mais recente no Rio de Janeiro (UNCSD Rio+20).
Por muitas vezes tive a oportunidade de retornar à América Latina e conhecer lugares e comunidades até então desconhecidas por mim. Mas indubitavelmente minha condição é de migrante, vivendo numa sociedade e numa cultura bastante diferente da uruguaia ou, se é possível generalizar, da cultura latino-americana. Vem daí o título.
Meu trabalho e nossa vida de família em Genebra nos permitiu entrar em contato com outras culturas, mentalidades, estilos de ser igreja. Nesses contextos, e talvez pelo desafio do “estrangeiro”, do diferente, do “outro”, buscam-se reafirmar suas raízes e sua identidade.
O Vaticano e a Teologia da Libertação são dois componentes essenciais daquelas dimensões. Nos últimos meses, em Genebra, com as paróquias da região fizemos um processo de reflexão sobre o Vaticano II. Para muitos foi uma descoberta, para outros uma redescoberta, para todos a grata surpresa da atualidade, valentia e inspiração dos textos dos Padres Conciliares. O desafio – encarnar a mensagem num contexto social, econômico e religioso muito diferente. O método e os conteúdos da teologia da libertação: a opção pelos pobres e o aprofundamento na Palavra são critérios que ajudam a seguir Jesus em Igreja, a encarnar a vontade do Pai, inspirados – valha a redundância – pelo Espírito.
O Congresso Americano de Teologia pode ser uma instância catalisadora de um processo de 40 ou 50 anos, no qual se faz necessário atualizar o que significa seguir Jesus na América Latina hoje. Revelando como o Vaticano II e a Teologia da Libertação têm permeado o testemunho, a ação pastoral, o compromisso de leigos e leigas, religiosos e religiosas, sacerdotes e bispos com o Reino, poderemos discernir juntos os caminhos que nos toca andar na fé, na esperança e no amor. E isso principalmente na América Latina, mas também em outros lugares do mundo. Estou convencido que a Igreja latino-americana e caribenha e, em particular, a teologia da libertação, tem muito que apoiar a igrejas de outros continentes.
O Congresso não será um porto de destino final, mas uma escala para recuperar energias (após muitas tormentas!) e seguir o rumo. Como Igreja latino-americana e caribenha. Aqui e lá. Ao fim e ao cabo, não somos todos peregrinos?

Fonte: IHU

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