O cristianismo nasceu pobre, de um Deus
feito gente pobre, difundido por pescadores e outros homens e mulheres
dos grupos marginais. Gente de pequenas comunidades, que tinham uma
extraordinária novidade para quem quisesse.
Depois, tornou-se a religião do poder romano, como Igreja Católica, e essa metamorfose tem até hoje consequências impagáveis.
A Igreja Católica começou a perder poder religioso
com a ruptura de Lutero e poder mundano com o iluminismo. As revoluções
burguesas derrubaram os privilégios da nobreza e do clero.
No Brasil e América Latina, o catolicismo chegou como
a religião dos conquistadores. As reduções indígenas no Brasil, a
apropriação dos templos incas e astecas, o batismo forçado dos negros
desembarcados dos navios negreiros, cavaram um fosso entre a religião
oficial do clero e o cristianismo vivido pelas massas subalternas. Aqui
também houve uma metamorfose, e os pobres recriaram para si um
cristianismo, um catolicismo, conforme sua própria imagem e semelhança. A
proclamação da República começou subtrair o poder do clero no Brasil. A
liberdade religiosa só chegou com a Constituição de 1945 pelas mãos de
um ateu, Jorge Amado.
Hoje, o triunfalismo religioso está com os
evangélicos pentecostais. Fazem marchas poderosas e ali também é difícil
discernir o que é evangelho do que é mercado. Entre eles já começa ter
críticas para "voltar ao texto bíblico". Certos setores católicos
achavam que, imitando de alguma forma os evangélicos pentecostais,
conteriam a sangria nominal religiosa. O resultado já está posto.
As últimas pesquisas indicam que o catolicismo
brasileiro, nominal, é da ordem de 64,6% da nossa população. Como na
Europa, a tendência é se estabilizar por volta de 40%. Deve crescer o
número dos indiferentes diante das igrejas. O fenômeno pentecostal
também não terá longo fôlego quando grande parte da população superar
sua consciência ingênua diante dos milagreiros da teologia da
prosperidade. Quem sabe os evangélicos históricos voltem mesmo ao texto
bíblico, a grande contribuição deles ao cristianismo.
O Brasil mais católico continua no Piauí, Ceará,
Paraíba, nordeste em geral. O Brasil menos católico está em Rondônia e
Rio de Janeiro, onde já é minoria, com cerca de 45% do povo do Estado
permanecendo católico.
A perda constante de poder na história não demove
certos setores da Igreja Católica que acham ainda que a Igreja é poder.
Muitos agem ainda como se vivessem na Idade Média. É perda de tempo e de
energia. Além do mais, falta-lhes senso de realidade.
Só resta um poder real aos cristãos, sejam eles de
qualquer Igreja: do sal, do fermento, da luz. E vale lembrar a terrível
advertência de Jesus: "se o sal perder o seu gosto não serve mais para
nada, a não ser para ser lançado fora e pisado pelos homens (Mateus,
5,13)".
Roberto Malvezzi, Gogó
Equipe CPP/CPT do São Francisco. Músico. Filósofo e Teólogo
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