quarta-feira, 4 de julho de 2012

Os jesuítas do Paraguai e a destituição de Lugo

"O julgamento político a que foi submetido o presidente constitucional da República do Paraguai, Fernando Armindo Lugo Méndez, pode até ser legal, porém não foi nem legítimo nem justo", afirma o Comunicado de comunidades católicas inacianas e afins, publicado no sítio da Província dos Jesuitas do Paraguai, 26-06-2012.
O texto alerta: "Não nos deixemos enganar. Rechacemos suas meias verdades manipuladas. Saibamos discernir os sinais dos tempos na conjuntura atual".

“Ai de vocês, que transformam as leis em algo tão amargo como o absinto e jogam
ao chão a justiça! Vocês odeiam a quem defende o justo no tribunal
e aborrecem todo aquele que diz a verdade.” (Amós 5, 7 e 10).

Sentindo-nos parte da Igreja comprometida com a paz que brota da justiça, membros de diferentes comunidades católicas de inspiração inaciana e afins, nos temos reunido em oração, à luz de nossa fé em Jesus Cristo, para discernir os últimos acontecimentos ocorridos em nosso país. A pergunta premente do quê nos quer dizer Jesus nestes acontecimentos leva-nos a expressar quanto segue:

1. Impele-nos nossa fé em Cristo Jesus, Deus encarnado, que espera nossa ajuda para tanta gente que vive hoje sem trabalho, sem saúde, sem educação... Jesus sofre em meio da pobreza de quase dois milhões de paraguaios.
2. Refletindo sobre a legalidade ou não do julgamento político a que foi submetido o presidente constitucional da República do Paraguai, Fernando Armindo Lugo Méndez, concluímos que tal julgamento pode até ser legal, porém não foi nem legítimo nem justo. Os conteúdos (acusações genéricas baseadas em opiniões refutáveis) não respeitaram o fundo e a razão de ser de um julgamento político, o qual levou à execução de uma sentença pré-determinada, violando preceitos constitucionais e de Direitos universalmente aceitos.
3. Indigna-nos a manipulação dos Meios comerciais de Comunicação Social, que seguem enganando com meias verdades e falsidades, manipulando a informação sempre a favor dos grandes interesses econômicos de grupos que monopolizam e açambarcam as riquezas e terras de nosso país.

Não nos deixemos enganar. Rechacemos suas meias verdades manipuladas. Saibamos discernir os sinais dos tempos na conjuntura atual.
4. O desgraçado massacre de Curuguaty tem sido somente a faísca que pareceria estar disposta para pôr em marcha a tensão social e política à qual as autoridades continuam expondo todo o país. Se bem que agora em processo de investigação pelas autoridades judiciciais, percebemos este fato como se se tratasse de uma estratégia programada que desencadeou numa tragédia.
Não se trata tão somente da troca de um presidente, trata-se, sobretudo, da reafirmação e do fortalecimento de um sistema crescente de açambarcamentos altamente egoístas, às custas da miséria de milhões de pessoas e da perda de nossos recursos.
5. Cremos que a terra é um dom de Deus para todos os seus filhos e filhas. Todos os cidadãos têm direito a um pedaço de terra onde possam viver e, se são camponeses, do que viver. Defendemos o direito de propriedade como um direito subordinado a outros direitos, como o Direito à Vida e o uso solidário dos bens, de forma que a prosperidade e a vida digna cheguem a todos e todas. Por isso, é fundamental uma Reforma Agrária que permita que os latifúndios possam ser redistribuídos equitativamente e com a devida preparação.
6. Não aceitamos a volta atrás deste processo que, com suas luzes e sombras, ampliou as políticas sociais em benefício dos mais pobres. Queremos seguir lutando pela dignificação de toda pessoa humana, para que haja trabalho para todos, para que a propriedade seja repartida equitativamente, para que o processo de democratização siga se consolidando e para que haja um respeito total às idéias e às organizações de todos.
7. Animamos a todos a seguirmos manifestando-nos pelos meios pacíficos que estejam ao nosso alcance, para fazer escutar as vozes que este sistema procura aplacar e calar, as vozes dos mais pequenos e excluídos do sistema, nos quais reconhecemos os preferidos de Cristo. 

Assunção, 26 de junho de 2012.

Comunidade de Vida Cristã (CVX)
Movimento de Profissionais Católicos (MPC)
Irmandade de São Roque González

Tradução:  Benno Dischinger.

Noticia por email de João  Guilherme de Oliveira Neto

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