quinta-feira, 21 de julho de 2011

Entrevista com Clóvis Pinto de Castro, reitor da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep)

Entrevista com Clovis Pinto de Castro, atual reitor da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep)

Encontrar as melhores oportunidades, parar, pensar, decidir a melhor solução e finalmente agir, é a melhor forma para termos a receita para uma vida melhor em todas as áreas. Existem inúmeros exemplos como: Abraham Lincoln, Winston Churchill, Enrico Caruso, Helen Keller, Thomas Edison, inúmeros atletas como Brad Parks, Lionel Messi, Gilbert Arenas, Jeremy Wariner. Cientistas de todas as áreas, inventores, pessoas que com muita criatividade, persistência e disciplina idealizaram, projetaram, persistiram e transformaram pontos frágeis em grandes vantagens. São pessoas especiais para o desenvolvimento humano. Por diversos fatores, internos e externos, muitas instituições de ensino tiveram que rever seus conceitos e normas frente a novas realidades, algumas sucumbiram, outras adotaram práticas mais comerciais do que pedagógicas, a rigor todas lutaram pela sobrevivência diante das mudanças de regras institucionais. A Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) não deixou de sentir o impacto que abalou todo ensino universitário não governamental. Clovis Pinto de Castro foi a pessoa escolhida pela alta direção da mantenedora para colocar ordem no caos. Fez-se o milagre. Proprietária de uma magnífica área, exageradamente acima de suas necessidades pedagógicas, vizinha a bairros populares, a Unimep negociou com empreendedores particulares e, reservando um terço da área original para as atividades da instituição nas demais áreas, está sendo criado um complexo envolvendo um grande Shopping Center, condomínio fechado, hotéis, enfim, um novo vetor de desenvolvimento da cidade.

O senhor fez seus primeiros estudos em qual escola?
Foi no Grupo Escolar Hugo Simas, tida como a melhor escola pública de Londrina na época. O ginásio parte eu fiz no Colégio Marista e parte no Colégio Marcelino Champagnat, ambos de tradição católica. Fui católico até 14 anos e, aos 15, entrei para a Igreja Metodista. Sempre fui muito religioso, quando passei pelo colégio marista tive a influencia muito grande de um irmão marista que me ajudou a entender o Novo Testamento, os evangelhos. A primeira leitura da bíblia foi com esse marista, Irmão Manssueto. Quando conheci a Igreja Metodista comecei a me apaixonar pela tradição do metodismo, é uma igreja que tem uma história muito bonita.

O senhor tem a visão das duas doutrinas, a católica e a metodista. Ao que parece, a católica prega o desprendimento dos bens materiais e, a metodista, tem uma visão diferente, antagônica?
Para abordarmos o tema igreja, teremos que falar em igrejas: não existe uma só igreja católica, uma só igreja metodista. Dentro da igreja católica existem vários movimentos, a igreja católica é muito rica no sentido da sua história, da sua memória, das suas tradições, ela tem ordens religiosas que tratam cada uma um carisma: na área da saúde, questão operária, moradores de rua. São ordens milenares, outras mais recentes. Elas conseguem dar diferentes conotações para a igreja católica. Além das ordens, há os movimentos da igreja católica. Um movimento que ficou muito conhecido na América Latina é o Movimento da Teologia da Libertação. Um dos nossos professores, já falecido, Hugo Assmann, foi um dos fundadores da Teologia da Libertação na América Latina, junto com o chileno Gustavo Gutierrez. A Teologia da Libertação tem sua origem em uma sociologia mais marxista. Essa opção preferencial pelos pobres é muito forte na Teologia da Libertação, é o Jesus que se identifica com os pobres, o evangelho dá as boas novas aos pobres. É a retomada do Reino de Deus muito mais sociológica do que teológica. A Teologia da Libertação revolucionou a Igreja Católica, assim como a dividiu também, levando a punição Leonardo Boff. A Teologia da Libertação influenciou também as igrejas históricas, a Igreja Metodista, a Igreja Presbiteriana, a Igreja Luterana, formando uma ala mais progressista, que tem uma preocupação política mais aguçada. Outro movimento que tinha raízes na década de 60 e surgiu com mais força na década de 70, intensificou-se muito na década de 80 e está presente com muita força atualmente na Igreja Católica e também na Igreja Metodista é o Movimento Carismático. É um movimento voltado para uma espiritualidade intimista, uma espiritualidade que trabalha mais os valores morais. E há o Movimento Conservador, que sempre existiu na Igreja Católica e na Igreja Metodista. Podemos dizer que esses três movimentos sempre estão presentes em ambas as igrejas. Há outro movimento, que na Igreja Católica talvez não tenha tanto impacto, mas na Igreja Metodista e em outras igrejas históricas acaba tendo impacto, é o que chamamos de Pentecostalismo e Neo Pentecostalismo. O movimento Pentecostal é histórico, nasceu no inicio do século XX, por volta de 1910 com a Assembléia de Deus e com a Congregação Cristã. Na década de 60 surgem às igrejas Deus é Amor, Brasil Para Cristo, são as igrejas pentecostais históricas, que valorizavam muito a questão de usos e costumes, como o batismo pelo Espírito Santo e falar em outras línguas. A Igreja Neo Pentecostal não tem mais essa preocupação com uso e costumes, não há proibições como cortar cabelo, o uso de saias ou bermudas, a ênfase é dada mais a uma espiritualidade individualista, e em muitos casos ao que chamamos de teologia da prosperidade.

O senhor é um estudioso da religião!
O meu doutorado é em Ciência da Religião. Já escrevi livros nessa área. Após concluir o ginásio, estudei em uma escola pública chamada Vicente Rijo, em Londrina. Em janeiro de 1977 vim para São Paulo para estudar na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, que fica em Rudge Ramos, São Bernardo do Campo. Essa faculdade existe desde 1938, quando foi tomada a decisão de trazer as faculdades de teologia de Minas Gerais e de Porto Alegre para criar, no então Bairro dos Meninos, hoje Rudge Ramos, a Faculdade de Teologia, que deu origem a Universidade Metodista existente hoje naquele local.

Após concluir o curso de teologia, qual foi a próxima etapa que o senhor realizou?
Trabalhei por seis anos como pastor em Pato Branco, no Paraná, até que fui convidado para trabalhar na instituição em que me formei. Em 1986 retomei meus estudos, fiz pedagogia. Vim para a Unimep onde fiz o curso de especialização na área de gestão educacional. Aqui também fiz o mestrado em Filosofia da Educação. Depois, fui convidado para ser reitor da Faculdade de Teologia. Nesse período, até assumir como reitor, eu exerci diversas atividades como docente, coordenador acadêmico, assumi a coordenação de um campo avançado em Porto Velho e fui editor da imprensa metodista.

O seu ritmo de trabalho sempre foi intenso?
Venho de uma família muito pobre. Comecei a trabalhar aos nove anos de idade, no Alves Hotel, em Londrina. Permaneci nesse serviço por dois anos. De lá fui trabalhar em um escritório de café. Na época, Londrina chegou a ser a Capital Mundial do Café. Trabalhei em uma agencia de empregos. Com 14 anos passei a trabalhar com Paulo Ângelo de Gois, posso dizer que ele foi meu segundo pai, muito do que sou devo a ele. Paulo era representante de 10 empresas de autopeças, ele viajava a semana inteira, usava um talão de pedido que eu tinha que desdobrar para pedidos próprios de cada empresa. Tudo era feito pelo correio, havia empresas que exigiam pedidos em seis vias. Minha primeira experiência de gestão foi como gerente dessa empresa, aos 18 anos de idade.

Como o senhor vê o fato de trabalhar tão jovem?
Os contextos vão mudando muito. Naquela época, ser adolescente é diferente de ser adolescente hoje. A categoria “adolescente” é recente na história da humanidade, do ponto de vista psicológico e até do ponto de vista sociológico. A criança no passado era um mini adulto. Se observarmos as fotografias antigas as próprias roupas eram de adultos.

Com quantos anos o senhor assumiu a função de pastor?
Aos 21 anos. É comum jovem nessa idade assumirem o ministério pastoral, ou assumem igrejas pequenas ou são ajudantes em igrejas maiores. A Igreja de Pato Branco marcou a minha vida. Quando cheguei a Pato Branco me aproximei dos padres da cidade, eles tinham três emissoras de rádio, duas em Pato Branco e uma em Palmas, que é uma cidade bem próxima. Em Pato Branco existia a Rádio Pato Branco e a Rádio Serinalta, sendo que esta última tinha 25 mil watts de potencia. Tinha audiência no Rio Grande do Sul, Santa Catarina. Procurei ao Frei Nelson Rabelo, que se tornou um dos melhores amigos até hoje. Disse-lhe que estava chegando, assumindo uma igreja metodista, ecumênica, que gostaria de ter ou participar de algum programa de rádio. No primeiro momento ele foi muito fechado, eles tinham tido uma experiência anterior negativa com um pastor de outra igreja evangélica. Com o tempo, fomos nos conhecendo em outros ambientes até que ele precisou viajar para a Alemanha, e ele tinha um programa chamado “A Bíblia Em Sua Vida”. Começava às 5h30 e ia até as 6 horas, era um programa com muita audiência. Participei um mês junto com ele, apresentando o programa, assim que ele fosse para a Alemanha eu passaria a apresentar o programa sozinho até a sua volta. Ele voltou e nunca mais assumiu o programa, deixou na minha mão durante todo o período em que permaneci em Pato Branco.

Qual foi a reação dos ouvintes, uma rádio católica transmitindo as mensagens de um pastor metodista?
Foi uma coisa muito bonita, a aproximação que tive dos franciscanos foi uma experiência fantástica na minha vida. O acolhimento que eu tive foi excepcional. Essa nossa participação na rádio abriu uma série de possibilidades para nós. Outra coisa que foi determinante, os franciscanos ganharam uma concessão de um canal de televisão. A primeira emissora católica do país, a TV Sudoeste, é de Pato Branco. Eles estavam buscando profissionais dessa área para montar o projeto técnico e eu conhecia engenheiros da Universidade Metodista, pessoas dessa área, que foram para lá, fizeram toda a parte de instalação técnica, arquitetura, acompanharam os tramites de importação.

Havia uma perfeita harmonia entre igreja católica e metodista!
Pato Branco participava de um programa chamado “Companheiro das Américas”. A cidade de Pato Branco e Dayton, em Ohio, são cidades irmãs. Precisavam escolher duas pessoas para representar Pato Branco em Ohio e escolheram Frei Nelson e eu. Foi interessante nos Estados Unidos porque o padre pregava em alguma igreja metodista e eu pregava em igreja católica.

O senhor vem realizando um trabalho admirável junto a Unimep.
A Unimep tem um nome consolidado, é um nome que tem uma força e tradição muito grande. Em meu discurso de posse, disse que não vim para ser o mágico de plantão, que o destino da instituição estava em nossas mentes criativas, em um trabalho colegiado. Nesses dois anos e meio que estou aqui, tive apoio político muito forte das comunidades interna e externa.

Qual a área total da Unimep?
É de 1 milhão e duzentos mil metros quadrados. Estamos ficando com quatrocentos mil metros quadrados. Vendemos o terreno onde será instalado um Shopping, os empreendedores são do Rio de Janeiro, junto com a Tomazzi Camargo. Não temos nenhum vinculo com o Shopping. Temos outros três empreendimentos em conjunto com a Tomazzi Camargo, dois condomínios fechados e um condomínio vertical. O condomínio que passará a ser comercializado nesse fim de semana será junto com o Shopping. A próxima etapa é um condomínio maior. A última etapa é um empreendimento mais corporativo com hotel, centro de convenções e torres corporativas.

O senhor reverteu uma situação desfavorável e está transformando a face da cidade?
Esse vetor de crescimento está influenciando muito a cidade, costumo dizer que está nascendo uma cidade aqui dentro.

João Umberto Nassif

Fonte: Vigiai

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