quinta-feira, 21 de julho de 2011

Faltam políticas para evitar exploração de crianças

Miserável, semi-analfabeto, a maioria do sexo masculino, negro e envolvido com crack, e que sofreu grandes violações. Este é o perfil traçado pelo educador social de rua Marcos Levi Nunes para designar os chamador moradores de rua, presentes em todas as grandes cidades brasileiras. "A moradia de rua é o acumulo de todas as violências que este sujeito já passou.
divulgaçãoCrianças e jovens vivem em risco e sofrem com a falta de políticas públicas que revertam essa situaçãoCrianças e jovens vivem em risco e sofrem com a falta de políticas públicas que revertam essa situação

Para a criança ir para as ruas, já apanhou, foi abusada, passou fome, sofreu preconceito, foi negligenciada pelos pais. A rua passou a ser melhor que sua casa".

Em Fortaleza, onde Levi atua, as estatísticas apontam uma média de 1.500 crianças, adolescentes e jovens nessa situação. No Rio Grande do Norte, os registros são frágeis, a prefeitura pretende fazer uma pesquisa para traçar o panorama da situação da infância na cidade. Em decorrência do trabalho de abordagem de rua realizado em Fortaleza, e dos resultados positivos alcançados a partir de uma articulação em rede, realizado em parceria por treze ong´s e organizações governamentais, foi feito um convite para que ministrassem oficinas em Natal, visando capacitar os atores locais na metodologia utilizada na capital vizinha. Segundo Levy, a data do trabalho ainda não foi definida.

Coordenador político da Equipe Interisntitucional, Levi afirma, de imediato que, "sem orçamento, não há gestão pública, o direito da criança não é garantido. Se não houver o compromisso dos gestores, a prioridade absoluta definida na Constituição não existe. Os recursos para as crianças e adolescentes no orçamento público é ridículo, não há como executar um trabalho de qualidade. Existem crianças e adolescentes sendo exploradas por falta de vontade política".

No Ceará, a abordagem de rua é paulofreireana, explica o educador, contando um pouco da metodologia utilizada. "o primeiro passo é observar o cenário: os meninos, motociclistas, taxistas, aliciadores e policiais que circulam no espaço. Em seguida vem a conquista desse público, observamos o que eles gostam de fazer, se gostam de futebol, trazemos uma bola e é iniciado um vínculo pedagógico, "sem vínculos, não há transformação,dizia Paulo Freire ". A partir daí é identificado quais as violências que levou ele para as ruas e começa a se buscar alternativas para que retornem a casa.

São realizadas várias visitas na sua casa, conversas com as famílias, e daí é traçado um plano de trabalho para sanar a violência que existia, no intuito de garantir a violência familiar e comunitária. "O problema é que a própria família não vê o menino como um sujeito de direitos, e sim como um problema que quer repassar para o Estado ou para as ongs", disse, complementando que é preciso trabalhar a criança e a família.

Na instituição que ele atua, o Pequeno Nazareno, foi iniciado um trabalho que está dando resultados positivos de reintegração dos meninos nas famílias. Trata-se da profissionalização desses garotos para trabalhar em áreas como turismo, bancos e outros. "O garoto passa a ser agente de mudança na própria família. Ele retorna diferente, trabalhando e estudando, contribuindo no orçamento familiar", conta.

No caso dos abrigos atendem bem? Na opinião de Levi, alguns trabalham bem, mas sente que falta uma maior atenção para com a complexidade desse sujeito, uma ação mais profissional.

Trabalho de abordagem de rua teve início na Europa

O trabalho de abordagem de rua remete a Europa após a Segunda Guerra Mundial, com milhares de crianças indo para ás ruas, em decorrência da morte dos seus pais. Daí, surgiu pessoas, dentre as quais grupos ligados a Igreja, que faziam o trabalho de caridade buscando minimizar a dor dessas crianças, encaminhando para abrigos. No Brasil, a questão dos meninos e meninas de rua ficou mais evidente a partir dos anos 60, na região sudeste, com o surgimento das favelas, começou a aparecer crianças pedindo pequenas ajudas nas ruas. "Ressalte-se que na época o que vigorava era o código de menores", lembra Levi.

No Ceará, assim como nas grandes cidades do País, as primeiras damas começaram a cuidar dessas crianças, muitas das quais abandonadas pelos seus pais. Em meio à ditadura militar foi iniciado um movimento social organizado no âmbito da Igreja, que começou a trabalhar o problema das crianças e adolescentes como uma questão política. A Pastoral do Menor, tendo como base a Teologia da Libertação e professores do Nucepec, um núcleo de pesquisa da Universidade Federal do Ceará, começaram a discutir a criança e o adolescente como sujeitos de direitos - o que precedeu o Estatuto da Criança e do Adolescente. Foi neste momento que surgiram os primeiros educadores sociais de rua.

A abordagem de rua foi um dos momentos mais importantes precursores do Estatuto da Criança e do Adolescente, liderados por organizações como a Pastoral do Menor e o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. O movimento incluía questões como abandono, abrigo, abuso sexual, moradia de rua, drogas e tantos outros desafios que ainda prevalecem nas cidades.

Segundo Levi, as formas mais conhecidas de abordagem de rua são: policial, assistencialista (praticada pelos governos) e emancipatórias, que atuam com metodologias de arte-educação, com uma cultura muito forte baseada nos ensinamentos do educador Paulo Freire. "Estou na área por ter optado por uma postura ética na vida, acho que estamos no mundo para melhorá-lo. Sou educador social, já fiz coisas para dizer isso, e posso afirmar que sou minimamente bom naquilo que faço", finaliza.

Fonte: Tribuna do Norte

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