sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

2010 - um dos anos mais "quentes"

Uma cimeira fria num ano quente

2010 será certamente um dos anos mais quentes registados desde 1880, desde que começaram a ser registadas as temperaturas globais.


Os dados de Novembro do National Climatic Data Center são expressivos – a entidade que realiza o cálculo mais abrangente e mais fiável da temperatura média do planeta recorrendo a dado registados nos continentes, nos oceanos e a partir do espaço. 2010 será certamente um dos anos mais quentes registados desde 1880, desde que começaram a ser registadas as temperaturas globais. Até ao final de Outubro de 2010, a média da temperatura global do planeta (continentes e oceanos) era similar à média registada entre Janeiro e Outubro de 1998, o ano mais quente de sempre. O Alasca, o Canadá, o Nordeste Africano, o Médio Oriente, o Cazaquistão e grande parte da Rússia, foram as regiões que contribuíram com temperaturas anormalmente mais quentes para a média global. Curiosamente a Europa foi este ano uma das regiões mais frias em relação à sua média de temperaturas.

É importante realçar que este nível de temperatura é registado durante um mínimo prolongado do Sol. O Sol obedece a um ciclo de actividade de 11 anos, ciclo esse que atingiu o seu mínimo há cerca de três anos e tem demorado mais do que o normal a descolar do mínimo de actividade. Em geral, os anos de mínimos solares são sucedidos de temperaturas mais baixas na Terra, algo que não ocorreu durante os últimos 3 anos.

Ao contrário da Terra, a cimeira de Cancún tem decorrido num clima de alguma frieza e pacatez. A crise parece ter adiado para as cimeiras de 2011 na África do Sul e de 2012 no Brasil, as decisões mais importantes, em particular a decisão de dar continuidade ao Protocolo de Quioto para lá de 2012. Apesar de tudo houve importantes decisões tomadas, sobretudo para os países em desenvolvimento, tendo-se chegado a um consenso para criar um mecanismo de compensação financeira para combater a desflorestação. Também está prevista a criação de um “fundo verde” para os países em desenvolvimento que envolve a transferência de novas tecnologias limpas.

Como nos mostram os dados de 2010, o clima é insensível aos humores humanos e um ano sem decisões terá certamente custos no futuro que se estenderão a períodos da ordem de uma década ou mais.

Rui Curado Silva, investigador no Departamento de Física da Universidade de Coimbra

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