Secretário-executivo do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), que realiza seu congresso da Cidade do México, afirmou que decadência política, econômica e militar dos Estados Unidos não afeta sedução de seu modo de vida, baseado no "consumo e no shopping center". Diante disso, cabem às universidades públicas combater a "alienação" e propor políticas que ampliem os direitos do cidadão, disse ele, na abertura do encontro.
Cidade do México - Apesar da crise econômica e de potências emergentes como a China, os Estados Unidos seguem hegemônicos quando o assunto é a exportação de seu "modo de vida" e de todo o código de valores a ele ligado. Os projetos de desenvolvimento adotados na maioria dos países ainda são focados no consumidor e no shopping center, assim como direitos básicos do cidadão ainda dependem de sua capacidade de comprá-los.A crítica foi feita pelo sociólogo Emir Sader, secretário-executivo do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), que falou na noite de terça-feira (6) na abertura do congresso trianual da entidade, realizado na capital mexicana. Ao expor sua análise, o brasileiro chamou atenção para que os pesquisadores e professores presentes não se deixassem enganar pelo atual estado de decadência norte-americana.
"No mundo multipolar, os Estados Unidos são decadentes politicamente, economicamente, e militarmente não conseguem conduzir sequer duas guerras ao mesmo tempo. Mas seu modo de vida continua sendo copiado até pela China, que resgata milhares da pobreza com a cultura do consumo e do shopping certer", afirmou.
Diante dessa constatação, Sader defendeu que as escolas de ciências sociais, sobretudo as públicas, precisam fazer uma opção. "Nossas univerdades não devem formar estudantes para o mercado , mas para a luta, a sociedade, a cidadania, a vida. Deixemos os cursos de MBA para as universidades privadas. Não há educação significativa sem o combate à alienação", apontou.
O sociólogo brasileiro fez uma crítica aos atuais rumos desse campo acadêmico. Disse que outrora as ciências sociais estavam à frente de seu tempo, antecipando processos e conflitos. "Agora não estamos mais à altura dos desafios", disse ele, ponderando com a complexidade do contexto conteporâneo.
Para corrigir isso, defendeu uma mudança de prática: que os cientistas sociais pulem os muros das universidades e façam a teoria sobre a prática política. "Isso será bom para os dois lados", afirmou, defendendo que os acadêmicos proponham, eles mesmos, políticas públicas a partir dos resultados de suas pesquisas.
Apesar das críticas, Sader se mostrou otimista com a América Latina. Afirmou que o esgotamento neoliberal foi sucedido por vários governos que têm conseguido articular "desenvolvimento econômico e redução da desigualdade, apesar de todas as contradições". "A Europa não conseguiu isso e está dando respostas neoliberais à crise do neoliberalismo", afirmou.
Por fim, aproveitando-se do público majoritariamente mexicano, sobretudo entre os estudantes, defendeu maior aproximação do México com os países latino-americanos. "Não queremos o México mais perto dos Estados Unidos do que da América Latina. É muito um país ter 90% de seu comércio com o vizinho do norte do que com o sul, que é uma região muito mais dinâmica", criticou, recebendo muitos aplausos.
A abertura do congresso da Clacso foi acompanhada pela secretária de Relações Exteriores do México, Patrícia Espinosa, e a diretora-adjunta da Unesco, Pilar Álvarez, além de diversas autoridades universitárias mexicanas. O governo do país e a Unesco são os principais apoiadores do encontro, que acontece até sexta-feira (9).
*Viagem realizada a convite da Clacso
Marcel Gomes
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