Economia e Teologia - Teologia da Libertação em época de Império
"Primeiro", começa o Dr. Jung Mo Sung, "é importante
saber que Teologia da Libertação é teologia". Segundo ele, Teologia da
Libertação retrata o Deus da vida e a opção pelos pobres. Além disso,
aborda:
• Noção de Deus e da vida humana;
• Vida da alma x vida corpórea;
• Reprodução da vida: a produção, distribuição e
consumo de bens materiais e simbólicos necessários. Nesse sentido,
gera-se conflito social;
• Teologia da Libertação critica teologicamente a economia.
Para o Dr. Jung Mo Sung, faz-se necessário "salvar a
teologia do seu cinismo, porque realmente no mundo de hoje muita
teologia reduz-se ao cinismo, que você não olha para os problemas que
estão ao seu redor". Segundo o conferencista, um conceito importante é o
de divisão social do trabalho. "Qual o nível tecnológico dessa divisão
social do trabalho?", indaga.
Além disso, para Mo Sung, há outra coisa importante:
"Quais os valores sociais que fazem com que a sociedade viva como um
sistema?". Para ele, é preciso justificar através da teologia a divisão
desigual das mercadorias. "No século XVIII e XIX começa o mundo
industrial. O tempo cíclico da natureza é substituído pelo relógio da
produção. O tempo industrial está passando, agora estamos vivendo no
mundo da globalização e informação", explica. Para ele, o sistema
capitalista faz com que as pessoas consumam. "O consumismo, que começa
nos anos 50, inicia com a necessidade de extravasar o processo de
produção."
Modernidade e a fé/teologia
A Igreja volta-se para o mundo e ao fazer isso
enfrenta o mundo moderno, que foi compreendido como racional,
secularizado e ateu, explica Mo Sung. Esse mundo moderno, segundo ele,
apresenta-se como antropocêntrico. "O mundo moderno é antropocêntrico
porque assim os filósofos da modernidade se apresentaram. A teologia é,
neste sentido, um diálogo com a modernidade." "Mas e se a modernidade
for uma invenção? Há uma razão ou uma racionalidade irracional? Quando
você destrói os povos, isso é racional? O progresso justifica isso?"
Mo Sung questiona se o mundo moderno é
antropocentrismo ou capitalcentrismo, uma vez que acumular capital é o
critério último da vida social. E pergunta: "Há um ateísmo ilustrado ou
idolatria, uma vez que há sacrifícios da vida humana e do meio
ambiente?"
Modernidade Ocidental
"Capitalismo e racismo são duas faces do mesmo
processo histórico", diz o Dr. Jung Mo Sung. Para ele, o capitalismo
pode ser entendido como uma nova religião da vida cotidiana que, como
qualquer outra, gera um novo tipo de espiritualidade. E continua: "As
igrejas representam a sacralização do sistema dominante de cada época",
ao frisar que o Império não é apenas uma força. "Discurso da harmonia é
discurso do imperial."
Para ele, crítica da idolatria tem que ser a partir
da noção de transcendência dos que foram excluídos, das vítimas e não de
um Deus que vem de cima e impõe. "Esse espírito de comunhão e
espiritualidade não podem fazer com que esqueçamos as perguntas do
sistema capitalista."
Crítica ao capital
"As crianças devem usufruir de sua infância e não a
marca de sua boneca", diz o Dr. Jung Mo Sung. Para ele, Shopping é o
principal espaço sagrado de nosso tempo. É uma religião invisível.
"Shoppings são espaços de visibilidade do consumismo. Não acredito que
estamos numa sociedade só. Nós podemos acreditar, mas o sistema não. Ele
seleciona pela classe social, raça etc. Aí entra a Teologia cristã:
Deus não faz distinção entre as pessoas."
Depois, "a salvação de nossa vida é graça. Nossa vida
não se justifica pelo sucesso, riqueza, status, quantidade de livros,
quantas vezes fomos citados, mas sim pela graça de Deus", analisa. Para
ele, a Teologia da Libertação está em crise. "E só está em crise quem
está vivo, quem já morreu não tem crise." E completa: "Teologia é
reflexão crítica. E muitas vezes temos preguiça intelectual. E quando
nosso discurso é facilmente aceito, somos levados a preguiça intelectual
e não esforço".
Dr. Jung Mo Sung finaliza dizendo que a Teologia da
Libertação fez história porque tinha uma coisa anterior: "reflexão
crítica a partir da experiência espiritual de encontrar Deus na face dos
pobres".
Thamiris Magalhães
Fonte: CEBI
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