ESTADO PARA QUE E PARA QUEM? A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA NO PROCESSO DE DEMOCRATIZAÇÃO
Em Montes Claros (MG), polícia dispersa manifestantes com bomba de fumaça
O 18º Grito dos Excluídos é uma manifestação popular carregada de
simbolismo. É um espaço de animação e profecia, sempre aberto e
plural. Todo tipo de ser humano, grupos, entidades, igrejas e movimentos
sociais comprometidos com as causas dos excluídos se unem, neste
dia histórico, para pôr fim ao mito de que o povo participa da
democracia.
Trata-se de
uma mobilização de movimentos sociais, com o apoio da Igreja no Brasil,
que visa denunciar o modelo político e econômico que, ao mesmo tempo,
concentra riqueza e renda e condena milhões de pessoas à exclusão
social, denominado sociedade capitalista, a que todo ser humano está
submetido desde os anos de 1500. O Grito deseja tornar público, nas ruas
do país, o rosto desfigurado dos grupos excluídos, vítimas do
desemprego, da miséria e da fome, além de propor caminhos alternativos
ao modelo econômico neoliberal, de forma a desenvolver uma política de
inclusão social, com a participação ampla de todos os cidadãos.
O Grito se
define como um conjunto de manifestações realizadas no Dia da Pátria, 07
de setembro, tentando chamar a atenção das pessoas para as condições da
crescente exclusão social na sociedade brasileira. Não é um movimento,
nem uma campanha, mas um espaço de participação livre e popular, em que
os próprios excluídos, junto com os movimentos e entidades que os
defendem, trazem à luz o protesto contra a ganância da sociedade
capitalista e, ao mesmo tempo, o anseio por verdadeiras e autênticas
transformações sociais. As atividades são as mais variadas com atos
públicos, romarias, celebrações especiais, seminários e cursos de
reflexão, blocos na rua, caminhadas, teatro, música, dança, feiras de
economia solidária, acampamentos. Estendem-se por todo o território
nacional. Em 2012, o tema do Grito é “Queremos um Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população!”, em sintonia com a 5ª Semana Social Brasileira (SSB).
Em Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, a 18ª edição do Grito dos Excluídos, 19ª na maior cidade da região,
na verdade, é preparada desde o dia 26 de maio deste ano, quando
aconteceu o 1º Seminário da 5ª SSB, no Colégio Marista São José.
Nos dias 1º e 02 deste mês, aconteceu o 2º Seminário, nesse mesmo local.
E nesta sexta-feira (07/09), desde as 7h, fiéis das 22 paróquias,
quase-paróquias e comunidades eclesiais de MOC, militantes de
movimentos sociais e agentes de pastorais e evangélicos da Igreja
Anglicana se animaram a acordar cedinho neste dia histórico para
saborear o que a vida oferece de melhor: a união de todos os seres
humanos.
Com momento
místico ecumênico e interreligioso cercado de intensa espiritualidade
libertadora, a cerimônia teve início com a lembrança das vítimas
dos quase 100 assassinatos, ocorridos apenas neste 2012, no município do
segundo maior entrocamento rodoviário do Brasil. Presente ao evento, o
arcebispo metropolitano de Montes Claros e presidente do Regional Leste 2 (Minas Gerais e Espírito Santo) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
dom José Alberto Moura, de 68 anos, fez menção às Eleições Municipais
2012 e conscientizou as pessoas a votarem em candidatos sérios,
comprometidos com trabalhos que estejam a serviço da vida e da dignidade
para todos.
Os fiéis
reunidos para o Grito dos Excluídos em Montes Claros fizeram ofertas de
alimentos, quando todos puderam experimentar, mais uma vez, a partilha
do "pão nosso de cada dia" nesta manhã, em frente à Igreja-Mãe da
Arquidiocese de Montes Claros. Depois, por volta das 9h, e já observados
pela polícia que o Estado não cansa de sucatear, os manifestantes
cantaram e dançaram, empunharam faixas de protestos e desceram da Praça
da Catedral para a Rua Dom Pedro II, por onde caminharam até a esquina
com a Avenida Afonso Pena, centro da cidade. Sempre
alegres, mas intimidados pela polícia que o Estado não cansa de
sucatear, as lideranças peregrinaram pela Avenida Afonso Pena, viraram à
esquerda na Rua Padre Augusto, ultrapassaram a Avenida Coronel Prates, e
desceram pela Rua Reginaldo Ribeiro rumo à Avenida Deputado Esteves
Rodrigues (Sanitária).
A polícia
que o Estado não cansa de sucatear intimidava os manifestantes a
todo instante com bloqueios fortemente armados nas ruas Irmã Beata,
Coronel Spyer e Gabriel Passos (todas fazem cruzamento com a Reginaldo
Ribeiro). Mas como a vida é levada pelos manifestantes, todos
trabalhadores, com alegria autêntica, caminharam por toda a Rua
Reginaldo Ribeiro e viraram à esquerda na Avenida Sanitária, por onde
passaram opostos ao Desfile Oficial da Independência do Brasil
na cidade. Mesmo perseguidos e intimidados pela polícia que o Estado não
cansa de sucatear, o 18º Grito dos Excluídos nacional percorreu toda a
avenida, até perto da Prefeitura e da sede de outra polícia (a federal) e
que o Estado também não cansa de sucatear, em protesto contra a
terceirização da merenda escolar municipal, contra a falta de
repasse pelo Município dos recursos públicos federais para os hospitais
da cidade e centros de saúde, contra a falta de segurança pública e o
contra o tráfico de drogas que impera por aqui.
Como a
polícia que o Estado não cansa de sucatear ainda intimidava os
manifestantes do Grito, ao tentar entrar no Desfile Oficial
da Independência, as lideranças se viram coagidas e, em determinado
instante, foram forçadas a virar às costas aos policiais, sentar no
asfalto da avenida, cantar, falar palavras de ordem. A polícia que o
Estado não cansa de sucatear, depois de um tempo, abriu a barreira para
os manifestantes do Grito, que foram até o cruzamento da Deputado
Esteves Rodrigues com a Avenida Mestra Fininha. Lá foram surpreendidos
com a explosão de uma bomba de fumaça e repressão de policiais a dois
jovens. Viu-se, a partir daí, casal de namorados se abraçando e
chorando, sem entender o motivo pra tanta violência. Quando a sociedade
capitalista entra em crise, como agora, quem dança são sempre os mesmos:
os trabalhadores. Porém, como polícia é para proteger ladrão, o Desfile
Oficial da Independência em MOC prosseguiu, mal organizado e aos
trancos e barrancos. Pusilânimes (covardes), disfarçados de autoridades
públicas ditas eleitas democraticamente, assistiam pacificamente,
sentados, lá no palco, ao desfile de outros trabalhadores civis
que insistiam em marchar e continuar esta história de 190 anos de
vida, protagonizada por dom Pedro I.
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