LIMA
- A Igreja Católica quer reaver o controle sobre a marca PUC no Peru,
bem como sobre os bens da universidade que hoje leva os títulos de
pontifícia e católica no país. A disputa, que materializa divergências
entre a progressista Teologia da Libertação e o conservador Opus Dei,
pode extrapolar o eixo Lima-Cidade do Vaticano e ir parar em Haia no
Tribunal Internacional.
Berço de boa parte da elite peruana - o presidente Ollanta Humala se
formou ali -, a PUC teve entre seus quadros durante anos um dos pais da
Teologia da Libertação, Gustavo Gutiérrez. A corrente, atacada pelo Papa
Bento XVI quando na Congregação para a Doutrina da Fé - encoraja um
engajamento social dos católicos e é vista por opositores como uma
versão religiosa do marxismo. A PUC de Lima mantém ainda um programa de
estudos de gênero que inclui temas como homossexualidade e abriga
professores com posições mais liberais sobre esse e outros temas
espinhosos, como o aborto.O cardeal Juan Luis Cipriani, ligado ao conservador Opus Dei e, no passado, um defensor da repressão do ex-presidente Alberto Fujimori aos rebeldes de esquerda, vem travando há mais de uma década uma disputa com as lideranças da PUC. No último dia 11, venceu uma batalha: o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone - que chegou a ligar o homossexualismo à pedofilia - decretou que a universidade não pode ser chamada nem de pontifícia nem de católica. Segundo o Vaticano, a universidade modificou seus estatutos "prejudicando gravemente os interesses da Igreja" e não está sendo dirigida de modo "compatível com a disciplina e a moral" católicas.
A Igreja reclama também o direito de aprovar a nomeação do reitor da instituição e de monitorar suas finanças. Além das próprias instalações, a PUC - ou ex-PUC, como diz Luis Gaspar, do Arcebispado de Lima - detém um lucrativo shopping e outros imóveis. Aí é que está a raiz da discórdia, dá a entender o reitor da PUC, Marcial Rubio.
- Há uma tentativa do arcebispado de assumir a administração e, assim, o fundo econômico - disse ao jornal "El Comercio", avaliando mudar o nome.
Como isso não ocorreu, há risco de a disputa se tornar um desentendimento diplomático entre Peru e Vaticano.
- Quando um Estado insiste que o outro não atua de acordo com normativa internacional vigente, pode buscar o Tribunal de Haia, para saber se continua permitido o uso das denominações pontifícia e católica - disse Rubio.
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