quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Declaração Final do Encontro Internacional sobre Espiritualidade Libertadora à luz da Teologia da Libertação

Caracas, 19 de Agosto de 2012.
Nós, membros das associações Fundalatin, Ecuvives, Fedefam, Romero Vive, Cecoce (CEBs), unidos às delegações da Argentina, Brasil, Canadá, Colômbia, Cuba, Equador, El Salvador, Espanha, Paraguai e Venezuela, e em solidariedade com todos os povos irmãos dos países da América e do mundo, DECLARAMOS:
1. Que, diante da mudança de época que atinge o continente latino-americano e caribenho, diante de tantos signos de integração sonhados por nossos próceres, como Simón Bolívar, San Martín, Artigas, Martí, Sandino, Hidalgo, Alfaro, sentimos a urgente necessidade de iluminar esses processos com uma espiritualidade libertadora inspirada na Teologia da Libertação.
2. Que a construção da unidade latino-americana e caribenha, da Pátria Grande, que resultou uma utopia frustrada há dois séculos, hoje está em marcha, aqui e agora. Se novos ventos começaram a soprar na região, devemos, no entanto, estar alertas. Esse processo regional não vai sem riscos nem agressões como os já padecidos pelo povo hondurenho e, recentemente, pelo povo paraguaio, que atentam contra o processo de integração dos povos da América Latina e Caribe.
3. Que o sonho de Bolívar ilumina os processos revolucionários de alguns povos latino-americanos e caribenhos; vemos neles os sinais do Reino de Deus, proclamado por Jesus de Nazaré, e pela força espiritual de nossos povos originários e afrodescendentes.
4. Que os princípios ético cristãos, macroecumênicos, pluralistas e de nossos povos originários dão força moral a esses processos tão assediados pela corrupção sustentada pelo sistema capitalista que estimulou o consumismo desmedido e coloca o ter acima do ser. Por outro lado, uma ética de serviço, não de opressão, dá uma nova conotação ao conceito de poder, tanto político quanto religioso; porque quem não governa para servir, não serve para governar.
5. Nosso rechaço à manipulação dos meios de comunicação social, que alienam; estimulam a violência, a mentira; tergiversam os fatos; utilizam as meias verdades. Na violência midiática incluímos os meios de comunicação religiosos que, fazendo uma leitura literal da Bíblia, mantêm um sistema patriarcal, machista; uma teologia sacrificial; bem como a chamada teologia da prosperidade, desmobilizadora dos povos, que conduz à resignação e ao conformismo.
6. A política e a fé devem caminhar unidas. Seguindo a inspiração de Dom Óscar Arnulfo Romero, Mártir da América Latina, e de Juan Vives Suriá, defensor dos direitos humanos, acreditamos na dimensão política da fé. A espiritualidade libertadora ilumina a política, a enriquece e a questiona. Não meter-se em política é trair o projeto de Jesus de Nazaré para esse mundo.
7. Nossa solidariedade com o povo paraguaio e condenamos o golpe parlamentar que destituiu ao legítimo presidente desse país irmãos, Fernando Lugo.
8. Nos solidarizamos com a Igreja de Sucumbíos, Equador, pela intervenção vertical do Vaticano, que impõe uma estrutura eclesial ritualista, buscando romper com o modelo de Igreja-Comunidade comprometida com os processos históricos de libertação. Denunciamos essa política de involução impulsionada pelos setores mais conservadores da Igreja Católica. Também nos solidarizamos com o Equador nesses momentos quando o império britânico quer violar o direito internacional, ameaçando intervir na embaixada equatoriana em Londres.
ACORDAMOS:
1- Criar uma rede de todos os coletivos da América Latina e do mundo que se inspiram na espiritualidade libertadora à luz da teologia da Libertação, para contribuir com a construção de outro mundo possível e necessário, onde se instalem o Reino de Deus, da paz com justiça social e soberania.
2- Acompanhar o processo bolivariano que inspira a outros povos a impulsionar seus processos de transformação.
3- Promover uma ética libertadora e rechaçamos uma moral farisaica e opressora. Ser coerente entre o dizer e o fazer.
4- Fomentar os meios de comunicação alternativos e comunitários. Estes devem converter-se em promotores de uma comunicação libertadora e de um eficaz trabalho em rede.
5. Assumir as palavras do profeta Pedro Casaldáliga, quando diz: “Creio que só é possível ser cristão sendo revolucionário, porque não bastam as reformas; temos que transformar o mundo”.

CONCLUIMOS:
Nos unimos a todos os grupos autóctones, movimentos populares, às comunidades cristãs de outras tradições espirituais e a nossos irmãos e irmãs da América, que constroem a partir da prática da Teologia da Libertação, que aprofundem nos elementos éticos, culturais e espirituais do novo bolivarianismo, para consolidar uma Teologia Pluralista e Intercultural Bolivariana da Libertação. Que todos escutemos o que, desde nossas comunidades latino-americanas “o Espírito diz às Igrejas” (Ap. 2,5).

Fonte: Correio do Brasil

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