A expectativa é que o Estado brasileiro seja
pressionado a reconhecer o território do Quilombo Rio dos Macacos e
suspenda a reintegração de posse do dia 1 de agosto
Entidades
de defesa de direitos humanos apresentaram, na terça-feira (24), às
Organizações das Nações Unidas (ONU), à Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e à Organização dos Estados Americanos (OEA) documento
que aponta e denuncia diversas violações de direitos humanos cometidas
pela Marinha do Brasil contra a Comunidade Quilombola Rio dos Macacos,
na Bahia.
O Quilombo Rio dos Macacos, localizado
no bairro de São Tomé de Paripe, no limite da cidade de Simões Filho e
Salvador, é formado por 70 famílias que vivem tradicionalmente no local
há mais 150 anos. A área tornou-se palco de uma disputa judicial e
territorial a partir da década de 60, com a doação das terras pela
Prefeitura de Salvador à Marinha do Brasil. Atualmente, o território é
alvo de uma ação reivindicatória proposta pela Procuradoria da União, na
Bahia, que pediu a desocupação do local para atender as necessidades
futuras da Marinha.
No início do ano, o conflito
se intensificou e assumiu ampla repercussão nacional e internacional por
envolver, de um lado, a resistência das famílias para permanecerem em
seu território, e do outro, graves violações de direitos em suas
dimensões políticas, sociais, culturais, econômicas, ambientais e
históricas, todas protagonizadas pelo Estado brasileiro.
Entretanto,
a resistência das famílias vem garantindo passos importantes na luta
pela permanência em seu território. No último dia 17, a Defensoria
Pública da União na Bahia (DPU/BA) entrou com um pedido de suspensão do
processo que ordena a retirada das famílias da área. O Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) também deve enviar à
Brasília, nesta semana, o Relatório Técnico de Identificação e
Delimitação (RTID) que reconhece a região como quilombo, para publicação
em Diário Oficial da União (DOU) e assinatura da presidenta Dilma
Rousseff.
As famílias quilombolas e entidades de
Direitos Humanos acreditam que a entrega do dossiê aos organismos
internacionais fortalecerá a luta pelo reconhecimento do território da
comunidade. A expectativa é que após as denúncias, os organismos
pressionem os governos federal e estadual (BA) e o Poder Judiciário a
reconhecerem o território do Quilombo Rio dos Macacos e suspender a
reintegração de posse marcada para o dia 01 de agosto.
O
documento apresentado contém 17 páginas que trazem um conjunto de
informações sobre a história do quilombo, a luta na esfera judicial e
diversos relatos dos moradores e moradoras sobre o cotidiano de ameaças e
atos de violência praticados por militares da Marinha. O documento
reivindica também o cumprimento de um conjunto de direitos básicos e
fundamentais que, em consequência do conflito, não são garantidos à
comunidade, como acesso à escola, postos médicos, à água potável,
saneamento, energia elétrica, moradia digna, liberdade de associação,
direito de ir e vir.
Na ONU, o documento será
encaminhado em caráter de urgência ao Alto Comissariado para os Direitos
Humanos; para a Relatoria Especial sobre moradia adequada; o Grupo de
Trabalho sobre pessoas de ascendência africana; a Relatoria Especial em
matéria de direitos culturais; Relatoria Especial sobre os direitos à
liberdade de reunião pacífica e de associação; para a Perita
Independente sobre as questões das minorias; Relatoria Especial sobre
formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e
intolerância correlata; Relatoria Especial sobre o direito humano à água
potável e ao saneamento e para a Relatoria da Defensores de Direitos
Humanos.
Assinam o documento a Associação
Quilombola do Rio dos Macacos; a Comissão de Direitos Humanos e Minorias
da Câmara dos Deputados/as Federais; a Associação dos/as Advogados/as
dos/as Trabalhadores/as Rurais (AATR); Centro de Assessoria Jurídica
Popular Mariana Crioula; Centro de Referência em Direitos Humanos
(UFPB); Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN\BA);
Dignitatis - Assessoria Técnica Popular, Quilombo Xis - Ação Cultural
Comunitária; MPP - Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais;
Articulação em Políticas Públicas do Estado da Bahia; Plataforma DHESCA
Brasil, Justiça Global e Terra de Direitos.
Fonte: Brasil de Fato
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