Os verdadeiros motivos para a destituição de Fernando
Lugo, ex-presidente do Paraguai, vão muito além da morte dos campesinos e
policiais na fazenda de Curuguaty, vão além da insegurança no país e do
apoio de Lugo à aprovação do Protocolo de Ushuaia.
No documento
"Paraguai: Ocupação Corporativa e Tecido de Resistência dos Povos”, a
organização ‘Tecido de Comunicação e Relações Externas para a Verdade e
Vida (ACIN)' coloca em evidência as verdadeiras motivações para o que
foi chamado por Fernando Lugo de 'golpe de Estado express'.
O documento assegura que a destituição foi um golpe
minuciosamente planejado e executado por e para o capital transnacional e
as elites. No caso paraguaio, o apoio veio das grandes empresas
Monsanto, Cargill, Syngenta e Río Tinto, interessadas em alvos como o
Chaco paraguaio, região que vem sendo cobiçada para fins como a
transformação dos bosques em pasto e para a construção de megaprojetos.
Dessa forma, as organizações sociais acreditam que "o
golpe constitui uma etapa tática da imposição do ‘livre comércio' como
entrega de territórios estratégicos às transnacionais”. E acreditam que,
assim como aconteceu na Colômbia, México, Honduras e Haiti, agora no
Paraguai "se move uma ficha mais para a ocupação global fascista para a
acumulação”.
O interesse na ocupação de territórios paraguaios pode
ser comprovado pelo estabelecimento, por parte do Comando Sul dos
Estados Unidos, da base militar Mariscal Estigarribia em área
estratégica, sempre com a desculpa da guerra contra o narcotráfico e o
terrorismo. Mas em 2009, Fernando Lugo decidiu acabar com o convênio que
permitia a manutenção da base militar, decisão que, definitivamente,
não agradou.
Em 22 de junho conseguiram derrubar Fernando Lugo.
Agora, segundo o documento, o objetivo é a eliminação de processos e
movimentos indígenas e populares, a eliminação de todas as formas de
resistência. A tática passa por ações como desaparições forçadas,
tortura, ameaças, massacres, perseguições, processos, criminalização do
protesto social, compra de líderes e cooptação.
Mas apesar da repressão e da perseguição, os movimentos
populares paraguaios e internacionais ainda estão de pé e exigem que o
poder de Fernando Lugo, único presidente do Paraguai, seja restituído
para que ele possa dar continuidade ao seu mandato popular. Por
consequência, o grupo golpista comandado por Federico Franco e a serviço
dos ‘aparatos militares e paramilitares de terror em função de
interesses corporativos transnacionais', deve ser destituído e
processado.
As organizações indígenas e populares nacionais esperam
que os governos do continente também possam colaborar e rechaçar de
maneira firme o golpe do capital transnacional. Pedem os mandatários que
não fiquem somente no campo das palavras, mas façam algo de concreto e
prático para mostrar a indignação.
"Não são discursos e declarações enérgicas o que
exigimos, mas ações que desafiem aos golpistas, exponham a arquitetura
de poder e os interesses corporativos que as dirigem e façam tudo o que
lhes corresponde para tratá-los como os criminosos que são e para
restituir ao Paraguai (e a toda América Latina) seus territórios, sua
soberania e o processo para a democracia que seu povo havia conseguido
conquistar”, reivindicam, assegurando que o povo paraguaio não vai
aceitar que o golpe seja encoberto por mentiras e legitimado, como em
Honduras.
Os próximos passos são, a partir de agora, fortalecer a
Frente Única para a Defesa da Democracia (FDD) como instância
articuladora da resistência e elaborar de imediato uma agenda ou plano
estratégico de resistência popular com objetivos claros que possam
situar a resistência interna e as ações de solidariedade e mobilização
internacionais.
"Comprometemo-nos a fazer o que esteja em nossas mãos
para alcançar os objetivos com toda a criatividade e a ternura da
solidariedade dos povos. Eles têm a memória de seus crimes para
esmagar-nos, nós, os povos, temos nossa memória para resistir e fazer um
mundo nosso, não para a ganância e a pilhagem, mas para a justiça e a
liberdade em harmonia com a Mãe Terra”, encerra o documento.
Os/as interessados em firmar um compromisso solidário com a causa paraguaia podem enviar sua adesão para o e-mail: pueblosencamino@yahoo.com.
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