quarta-feira, 2 de maio de 2012

A liberdade de um e de outro - Conto de Natal


Os parlamentares brasileiros certamente não apanharam nem foram castigados quando eram pequenos. Porque, se o tivessem sido, talvez não dessem demonstrações tão grandes de mau caráter.

Ou, ao contrário, eram tão ruins que não adiantaram os exemplos paternos. E se criaram como esta gente que aí está. Personagens do Dia das Bruxas e não do Natal.

 Mas vamos a minha história. Contaram-me como verdade. Repasso acreditando. É

poca de Natal quando tudo deve ser fraternidade, alegria, educação, amor ao próximo. Em um grande supermercado de Novo Hamburgo, na fila do caixa, um senhor era atormentado pelo carrinho de trás. Empurrado por um menor, sob os olhares complacentes da mãe, a criança empurrava o veículo para frente e para trás, tendo como alvo as canelas do infeliz cliente. Com justa irritação, após várias batidas, o homem virou-se para reclamar da postura do menino. E ao dialogar com a mãe do mesmo, chamou a atenção dos demais presentes à fila ou nas filas ao lado. Longe de simplesmente agradecer a reclamação e tomar as providências que o caso merecia, a mulher saiu-se com esta: “Meu filho ainda é pequeno e estou criando ele com liberdade!” Uma afirmação desta natureza é uma aberração e, claro, todos se espantaram e aguçaram os ouvidos. O próximo passo seria o cidadão dar um puxão de orelhas no moleque. No moleque, mas quem merecia era a mãe, pensavam…

E aí, a surpresa foi geral. Atrás, na fila, havia outro homem que resolveu bancar o Papai Noel. O bom velhinho que educa as crianças e exempla os pais quando necessário. Pois este, sem maiores delongas, abriu a embalagem de ovos que levava, tirou um deles e simplesmente encostou-o na cabeça da distinta dama, esmagando-o…

Vocês podem imaginar? Eu fiquei imaginando e disse que não podia ser verdade! Mas havia uma testemunha presencial. E a história continuou: espantada com a ação, a clara e a gema escorrendo pelos seus cabelos, a mulher virou-se para trás aos gritos: “Mas o que o senhor está pensando?” E o cidadão, comprazido: “Eu também fui educado com liberdade!”

E então, como pano de fundo desta história destes dias de Natal em supermercados, a platéia presente iniciou uma salva de palmas, enquanto a mulher, deixando seu carrinho para trás, fugia para o estacionamento…

Estas coisas é que fazem falta no Brasil. Bendito Natal.

Ivar Hartmann

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