terça-feira, 27 de março de 2012

Fraternidade e Promoção Humana



Qualquer histórico da Igreja Católica, dos anos 60 para cá, mostrará, cristalinamente, o quanto essa instituição foi importante para que o povo devolvesse a democracia brasileira. E foi a mesma igreja que, ludibriada pelo sentimento anticomunista espalhado pelos golpistas de 1964, recebeu os militares de braços abertos, em luta surda contra o que chamava “hereges e ateus inimigos da fé”.

Mas o caráter repressivo e autoritário do regime logo se manifestaria e os perseguidos e torturados do regime passaram a receber proteção do clero. Com essa reviravolta, o regime prendeu, torturou e matou padres e clérigos, o que também contribuiu para que a Teologia da Libertação ganhasse força no Brasil a partir dos anos 70.

São apenas lembranças, que queremos bem distantes, mas que ecoam em nossos ouvidos a cada vez que a Igreja Católica coloca em prática uma nova Campanha da Fraternidade, concitando seus fiéis à solidariedade em relação a um problema concreto do país e buscando caminhos de solução.

Como em todos os anos, dessa vez por convocação dos deputados Afonso Manoel e Bira do Pindaré, a Campanha da Fraternidade se estendeu à Assembleia Legislativa, sob a tutela de um tema que é caro e complicado para a classe política e para os gestores públicos: “Fraternidade e saúde pública”. O próprio deputado Afonso Manoel seria o responsável pela saudação à Campanha da Fraternidade, usando até exemplos de natureza pessoal para exortar o amor pela medicina, pregando a divisão setorial dos hospitais por doença e o fim das decisões unilaterais na área da saúde.

O valor real dessa campanha, que se iniciou em 1961 com três padres da Cáritas Brasileira que pretendiam arrecadar fundos para obras assistenciais da igreja e acabou sendo absorvida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1964, pode não ter sido entendido ainda por diversos segmentos da sociedade. A campanha, na verdade, expõe os mais graves e urgentes problemas do país; mexe diretamente na ferida das desigualdades sociais. É mais que um alerta; é “um despertar, um chamamento de fé e vida”, como disse o deputado Afonso Manoel.

A igreja, fator histórico irrefreável de mobilização dos povos, faz-se ouvir nos quatro cantos do mundo por meio da Campanha da Fraternidade, concebida hoje como a maior campanha de evangelização do mundo. E bem vivas em nossas mentes estão as palavras do vice-presidente da CNBB e arcebispo da Arquidiocese de São Luís, dom José Belisário, na Assembleia Legislativa: os recursos da saúde estão sendo sugados pela má gestão e pela corrupção.

Porque é preciso dizer e o evangelho não permite mentir. Mas essa, da Campanha da Fraternidade, é, antes de tudo, uma história de amor; como, aliás, especificado nos objetivos que delineia: educar para a vida em fraternidade, com base na justiça e no amor, exigências centrais do evangelho; renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja Católica na evangelização e na promoção humana, tendo em vista uma sociedade justa e solidária.

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