A presença do papa Bento XVI em Cuba, no próximo dia 26 de março, é a chave das diplomacias cubana e norte-americana para o levantamento, em definitivo, do bloqueio imposto à Ilha por parte dos EUA e seus aliados na Organização das Nações Unidas, imposto desde outubro de 1962. A visita, planejada desde o ano passado, ocorre em um momento de distensão do regime comunista cubano, que libertou 2,9 mil presos políticos há duas semanas e pretende, ao longo deste ano, manter as reformas econômica e política no sentido de modernizar a revolução que, há meio século, elevou os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da nação aos maiores do mundo.
Analistas com trânsito na Casa Branca elogiaram, nesta terça-feira, a disposição do governo de Raúl Castro de promover as reformas e avaliam a presença do Sumo Pontífice no país como “uma oportunidade de ouro”, disse um deles, “para os EUA encerrarem, de vez, o bloqueio econômico” ao país. O presidente cubano também salientou, em seu discurso, a intenção de seguir adiante com as reformas também no campo da imigração, fator preponderante para a reaproximação das nações vizinhas.
– Antes da Semana Santa, terá lugar a visita apostólica de Sua Santidade, o papa Bento XVI, chefe do Estado da Cidade do Vaticano e Sumo Pontífice da Igreja Católica. Nosso povo e governo terão a honra de acolher Sua Santidade com afeto e respeito. Nós, os cubanos, não esquecemos os sentimentos de amizade e respeito que em 1998 despertou a presença do papa João Paulo II em nossa terra. Da mesma maneira, na medida em que cresce a executória internacional e o reconhecimento majoritário à Revolução Cubana, nunca foi maior o desprestígio da política dos Estados Unidos com nossa região e a repulsa no mundo, na própria sociedade norte-americana e na emigração cubana, ao genocida bloqueio econômico, político e midiático contra Cuba – afirmou, ao se dirigir aos cubanos no último domingo.
A revolução liderada por Fidel, Che Guevara, como afirma Raúl Castro, consolida-se no momento em que procura também levar ao conhecimento dos EUA as novas diretrizes em vigor.
– Ao passo que atualizamos nosso socialismo, mudando aquilo que deve ser mudado, o governo dos Estados Unidos continua estagnado no passado. Barack Obama, o 11º presidente dos Estados Unidos desde 1959, parece que não compreende que Cuba fez enormes e árduos esforços para conquistar sua independência no século XIX e defender sua liberdade na Baía dos Porcos em 1961, na Crise dos Mísseis em outubro de 1962, no início do Período Especial (crise financeira) na última década do século 20 e em todos estes anos do século 21. Às vezes, parece que não está bem informado de que, diante desta realidade, seu governo teve que renunciar aos pretextos mais gastos para justificar o bloqueio e inventar outros cada vez mais insustentáveis – salientou.
A despeito de os EUA não terem, ainda, sinalizado positivamente com o levantamento do bloqueio que impede o desenvolvimento econômico cubano, Castro reafirma a disposição do povo cubano de manter sua soberania.
– Com equanimidade e paciência, vamos cumprir os acordos do Congresso, enquanto têm lugar as eleições nos EUA. Sabemos que o bloqueio vai manter-se e que se incrementará o financiamento e as tentativas de converter um punhado de mercenários numa oposição para desestabilizar nosso país, mas isso não tira o sono a um povo revolucionário como o nosso, instruído, armado e livre, que nunca renunciará a sua defesa – advertiu.
A demora do governo norte-americano em reconhecer os esforços de Cuba para a construção de uma sociedade mais aberta não é um obstáculo para que sigam adiante os esforços para a retomada da normalidade nos relações entre os dois países.
– Mesmo que a inércia do governo norte-americano e sua ausência de decisão política para melhorar as relações animem os setores mais reacionários a implementar novas provocações e ações de agressão, Cuba mantém sua proposta de avançar na normalização das relações com os Estados Unidos e desenvolver a cooperação em todas as áreas em que seja benéfica para ambos os povos. Os laços familiares e o limitado intercâmbio existente entre os dois países demonstram que seria benéfica a ampliação das relações para o bem de todos, sem entraves nem condicionamentos impostos pelo governo dos Estados Unidos, que subordina qualquer progresso a sua política de hostilidade e ingerência, encaminhada ao restabelecimento de seu domínio sobre Cuba – acrescentou.
Missas campais
A maior demonstração de boa vontade para a retomada do diálogo entre Cuba e os EUA, segundo observadores, será a recepção cordial ao papa mais simpático ao capitalismo desde seu antecessor, João Paulo II. O papa Bento XVI também expressou sua esperança no fim das hostilidades entre as nações centro e norte-americana:
– Enquanto se comemora em diversos lugares da América Latina o bicentenário de sua independência, o caminho da integração nesse querido continente avança, ao mesmo tempo que se adverte seu novo protagonismo emergente no concerto mundial.
O pontífice ficará no México entre 23 e 26 de março, onde visitará a cidade de León de los Aldama, no estado de Guajanuto. Em seguida, seguirá para Cuba, onde passará por Santiago de Cuba e Havana. Na capital, Bento XVI realizará uma missa campal na Plaza de La Revolución, marcada pela imagem do líder guerrilheiro Ernesto Che Guevara. A informação foi confirmada, nesta terça-feira, pela Conferência Episcopal Mexicana e da Cubana.
A última viagem de um Pontífice à ilha caribenha ocorreu em 1998, quando o papa beato João Paulo II foi recebido no país pelo então presidente, Fidel Castro, em uma visita considerada “histórica”. Recentemente, a Igreja Católica cubana tem dialogado com o governo do país, o que já resultou na libertação dos presos considerados políticos. Cuba também celebra neste ano o 400º aniversário da descoberta de uma imagem de madeira no mar da Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira dos católicos cubanos.
Fonte: Correio do Brasil
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