quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Leonardo Boff busca a essência do cristianismo em novo livro


Leonardo Boff busca uma definição essencial do que é cristianismo, de modo a englobar o máximo de crenças, tradições e dogmas, no livro "Cristianismo: O Mínimo do Mínimo" (Editora Vozes, 2011).

Para produzir esta síntese, o septuagenário autor utiliza o profundo conhecimento que acumulou ao longo de seus anos de estudos teológicos e dos mais de 70 livros que escreveu.

O resultado é uma declaração de amor ao cristianismo, em uma obra que demonstra com minúcias as origens da crença e as mais diversas maneiras que ela tem de se manifestar entre os seres humanos.

Leonardo Boff é um dos principais teóricos da Teologia da Libertação, linha responsável por defender que a Igreja Católica deveria fazer a "opção pelos pobres". Além de atuar como professor de teologia, é conhecido por abordar e defender temas ecológicos.


Trecho do livro: "Cristianismo: O Mínimo do Mínimo" -
página 150

2. O cristianismo como movimento e caminho espiritual

4.4. O cristianismo compareceu primeiramente na história como caminho (odós tou Christou) e como movimento. Ele é anterior a sua sedimentação nos evangelhos, nas doutrinas, nos ritos e nas igrejas. O caráter de caminho espiritual e de movimento é algo perene, sempre se manteve ao longo da história; é um tipo de cristianismo que possui seu próprio curso. Geralmente vive à margem e, às vezes, em distância crítica da instituição oficial, mas nasce e se alimenta do permanente fascínio pela figura e pela mensagem libertária e espiritual de Jesus de Nazaré. Inicialmente tido como "heresia dos nazarenos" (At 24,5) ou simplesmente "heresia" (At 28,22) no sentido de grupelho, foi lentamente ganhando autonomia até que seus seguidores fossem chamados de "cristãos", como o atesta os Atos dos Apóstolos (11, 36). O movimento de Jesus certamente é a força mais forte do cristianismo por não estar enquadrado nas instituições ou aprisionado em doutrinas e dogmas. É composto por todo tipo de gente, das mais variadas culturas e tradições espirituais, até por agnósticos e ateus que se deixam tocar profundamente por sua figura corajosa, por seu espírito libertário, por sua mensagem de um profundo humanismo, por sua ética do amor incondicional, especialmente aos pobres e aos oprimidos e pela forma como assumiu o drama do destino humano, no meio de humilhações, torturas e da execução na cruz. Apresentou uma imagem de Deus tão íntima e amiga da vida, que é difícil furtar-se a ela até por quem não crê em Deus. Muitos desses dizem: se existe um Deus, este deve ser aquele que tem os traços do Deus de Jesus. Todos sentem-se atraídos e próximos a seus ideais e estilo de vida. O movimento de Jesus comparece como uma forma elevada de humanismo e revela uma crença religiosa, mas também não religiosa no valor da pessoa humana, incluindo sua dimensão transcendente.


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