A presença ostensiva de madeireiros na área onde foi denunciado o ataque a uma aldeia dos índios Awá-Guajá, no Maranhão, e a morte de uma criança indígena, carbonizada, segundo denúncia de integrantes da tribo Guajajara ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi) é um fator que coloca em dúvida o relatório de técnicos da Coordenação Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Imperatriz (MA), o qual nega o ocorrido e trata os fatos como “boatos sem fundamentos”. Fonte ligada ao caso afirmou ao Correio do Brasil, na condição de anonimato, que a equipe signatária do relatório “não é aquela que trata dos povos isolados”, fator que amplia a desconfiança quanto à pressão dos madeireiros ter influenciado na investigação da Funai.
– Os madeireiros agem de forma ostensiva na região – afirma a fonte, e acrescenta que, pressionados, os índios guajajaras podem ter-se sentido pressionados a negar a denúncia feita ao Cimi, ainda em outubro do ano passado.
Na nota, os três funcionários da Funai acrescentam que as denúncias dos índios estavam repletas de “mentiras, com requintes de crueldade”, mas reconhecem que o isolamento dos Awá-Guajá limitou o trabalho de apuração do caso. Eles admitem, também, que em Arame (MA), município onde o corpo teria sido encontrado por índios guajajaras, a investigação se limitou à oitiva não de testemunhas, mas de índios que “pudessem oferecer informações confiáveis a respeito da circulação dos Awá-Guajá pela região”.
No relatório, os funcionários atribuem a um dos líderes Guajajara a afirmação de que tudo não passou “um boato infundado, uma mentira” e que nunca houve um corpo carbonizado e opinam:
“Repudiamos o ato irresponsável de aproveitadores que fizeram os cidadãos brasileiros imaginarem e se comoverem com a cena hedionda descrita (imaginada) com base em boatos sem fundamentos. É lastimável que a sociedade brasileira tenha sido ludibriada de maneira tão vil e levada a crer num fato inexistente que não pode ser sequer classificado de brincadeira de mau gosto”.
A ação dos madeireiros, porém, foi consignada no mesmo relatório em que os consultores da Funai negam a ação bárbara contra a tribo Awá-Guajá. Eles testemunham que houve o flagrante de um caminhão usado para extrair ilegalmente madeira da terra indígena. De acordo com os signatários do relatório, o motorista do veículo alegou ter a autorização dos índios para derrubar a floresta, mas não apresentaram o auto de prisão do infrator.
A direção da Funai, embora tenha recebido o relatório de seus funcionários, ainda não o divulgou, oficialmente. Segundo a assessoria de imprensa da Fundação, a direção nacional ainda analisa o assunto e não não tem uma posição final sobre relatório vazado para a imprensa.
A denúncia
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) noticiou, na semana passada, a denúncia de líderes da tribo Guajajara de que uma criança indígena fora encontrada carbonizada em outubro de 2011 e que a Funai, informada em novembro, ainda não havia tomado qualquer providência para apurar os fatos. Segundo as primeiras informações divulgadas pelo Cimi, o garoto de 8 anos pertencia a um grupo da etnia Awá-Guajá que vive na Terra Indígena Arariboia.
Ainda de acordo com a denúncia, o corpo foi localizado pelos Guajajara a cerca de 20 km da aldeia Patizal, próxima ao município de Arame. No local também foram encontrados vestígios de um acampamento recente de madeireiros. As informações fornecidas pelo povo Guajajara, contudo, não puderam ser checadas diretamente porque os Awá-Guajá vivem isolados, impossibilitando o acesso dos missionários. O Cimi, no entanto, garante que o mesmo índio citado pelos técnicos da Funai, Clóvis Tenetehara, foi um dos líderes ouvidos na semana passada, quando o órgão indigenista ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apurava as informações.
Fonte: Correio do Brasil
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