A ESTEF, Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana convidou a Irmã Delir Brunelli para proferir uma conferência, em 05/01/2012, sobre Evangelização e gênero para os três cursos de pós-graduação: Teologia da Vida Religiosa; Franciscanismo e Formação para a Vida Religiosa.
Inicialmente, Irmã Delir fez um breve resgate histórico da evangelização e suas consequências nas relações de gênero no Brasil. Num primeiro momento, no Brasil colonial, a evangelização geral da sociedade brasileira era feita por homens (padres e bispos). Ficando às mulheres, principalmente as escravas, a responsabilidade de transmitir a fé. A religião do Brasil colonial oferecia uma maior liberdade às mulheres no campo da evangelização familiar. Assim, a evangelização nas comunidades eclesiais foi feita por leigos e leigas. Num segundo momento, com o catolicismo tridentino – período do Império – o maior destaque é dado ao clero e aumentam as restrições às mulheres. Vale lembrar que o catolicismo tridentino demorou a chegar ao Brasil, mas, sua intenção era retirar das mãos dos leigos a evangelização e concentrar nas mãos do clero. Tudo isso como resposta ao protestantismo.
A mudança de postura na evangelização do Brasil começa quando, a partir do segundo Reinado e posteriormente na República, chegam as congregações. Neste período, as religiosas foram grandes responsáveis pela evangelização. As congregações evangelizavam a partir da educação, saúde, assistência social, obras paroquias e divulgação de devoções populares. Dessa forma, o apostolado leigo volta a ser valorizado. A valorização do apostolado leigo com intensa participação das mulheres teve destaque na catequese. Contudo, as lutas por liberdade em meados do século XX fizeram a Igreja resistir à proposta liberal e colocar-se ao lado dos positivistas. Assim, como as mulheres tiveram lutas apoiadas pelos liberais para obter direito a voto, educação e a trabalhar fora de casa, a Igreja do Brasil, que simpatizava com os positivistas limita a participação leiga e se distancia das mulheres, dos pobres e dos negros.
Segundo a irmã Delir, este contexto de evangelização, somado ao pensamento filosófico grego construíram uma estrutura mental na sociedade onde a mulher é inferior ao homem. Nesta perspectiva, a religião ajuda a justificar e a legitimar a inferioridade da mulher. Afinal, “se Deus é homem, os homens são deuses e as mulheres sempre serão inferiores”. Nesta perspectiva religiosa e sociológica, quando algo de errado acontece na família, a mulher se penaliza e sente culpa. Afinal, o esquema mental é este: o homem deve prover o sustento da família enquanto a mulher deve cuidar e educar os filhos.
Por fim, nas últimas décadas houve as CEBs e as diversificações de ministérios que contribuíram para que os leigos fossem agentes de evangelização reconhecidos pela Igreja. Os avanços na Igreja iniciaram a partir do Vaticano II. Depois, seguiram: Medellin (1968), Sínodo sobre a evangelização (1974), ano internacional da mulher (1975), Puebla (1979), Campanha da fraternidade com o lema: mulher e homem imagem de Deus (1990), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007). Na prática cresceu a consciência sobre os direitos das mulheres e a participação ativa nas pastorais. Por outro lado, sente-se ausência de mulheres nas principais instâncias de planejamento e decisão. Irmã Delir finaliza dizendo que “a questão de gênero supõe mudança de paradigma”.
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