sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Teologia da Libertação e a Irmã Zeli - Alagoas

Teologia da Libertação, reflexão que articula pensamento científico, texto bíblico, Tradição cristã com a vida do povo de Deus, celebra 40 anos de caminhada. Denominação dada pelo teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, em livro homônimo em 1971, ano em que o também teólogo franciscano Leonardo Boff escreveu o livro Jesus Cristo Libertador.

Esse labor teológico nasce na América Latina, fruto da luta de milhares de agentes de pastorais e militantes de partidos políticos de esquerda que se mobilizavam em associações de moradores, organismos de pastorais e movimentos sócias organizando pescadores, catadores de lixo, trabalhadores sem terra, indígenas, mulheres e metalúrgicos. E nas Comunidades Eclesiais de Base , CEBs, encontram a fundamentação para alimentar a caminhada de luta articulando Fé e Vida.

Na década de 1960, a Igreja Católica realizou o Concílio Vaticano II, fato histórico que possibilitou a abertura ao diálogo com o mundo moderno, assumindo os desafios postos pela sociedade e pela ciência. Em nível da Igreja da América Latina, as Conferências Episcopais de Medellin (1968) e de Puebla (1979) assumiram abertamente o compromisso com os pobres, fazendo uma leitura sócio-política da realidade à luz da Tradição cristã e da Palavra de Deus.


E a Teologia da Libertação, articulando reflexão com a caminhada de luta do povo, propicia o fortalecimento da defesa dos direitos dos pobres, historicamente excluídos e explorados pelas classes dominantes. Nessa perspectiva, o pobre deixa de ser objeto de assistência da caridade cristã e passa a ser efetivamente o sujeito de sua própria libertação.

No Brasil, parcela do clero - a exemplo de dom Hélder Câmara e dom Pedro Casaldáliga, padre Josimo -, religiosos, religiosas e cristãos em geral, engajam-se no apoio e compromisso com a transformação da sociedade. É nesse contexto que a Congregação das Irmãs de Jesus Crucificado participa da criação das Escolas de Serviços Sociais, com o objetivo de superar o assistencialismo praticado para os pobres e formar profissionais com capacitação técnica para agir no mundo comprometido coma libertação integral do ser humano.

A Irmã Zeli, cearense nascida em 1920 e graduada em Serviço Social em 1957, é convocada pelo então Arcebispo de Maceió, dom Adelmo Machado, para assumir em 1963 a Escola de Serviço Social Padre Anchieta de Alagoas. Em 1972, o curso de Serviço Social é assumido pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Mesmo sendo convidada para lecionar, opta pela ação pastoral na paróquia de União dos Palmares e organização da Escola de Ministérios, como o objetivo de contribuir com a formação teológica e política dos agentes de pastoral da Arquidiocese de Maceió.

Como diretora e missionário, pode-se constatar a sua contribuição à frente do curso, da catequese e da ação pastoral, enfrentando os desafios da sociedade, a exemplo da ditadura militar, na defesa dos direitos humanos e na formação de profissionais ético e tecnicamente competentes.

Mulher de uma alegria, inteligência e força exuberante, sabe vivenciar o Evangelho em sua mais profunda integralidade nas dimensões religiosa e política, tão bem sistematizado na Teologia da Libertação. Em vista da frágil memória em que se encontra, sua companheira e vice-diretora, irmã Lourdes avalia a atual conjuntura alagoana, e afirma: “é triste vê Alagoas no noticiário ocupando as primeiras colocações como campeão em analfabetismo, falta de assistência na saúde e alto índice em violência”.

Alagoas precisa se inspirar no espírito e inteligência dessa cearense e reconhecer o seu trabalho em prol do desenvolvimento e do bem estar da população alagoana!

Jorge Vieira – Jornalista

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