quarta-feira, 9 de novembro de 2011

CEBs Brasilândia-SP têm fim de semana de retiro


Há séculos, católicos buscam retiros com o objetivo de centrar seus pensamentos e ouvidos na Palavra de Deus. O silêncio, a oração, e até a partilha reescrevem projetos de vida, reanimam a ação pastoral. Foi esta a ideia da Comissão Regional das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Região Episcopal Brasilândia, de 28 a 30, no Centro Missionário José Allamano, na zona norte, de recuperar suas forças a partir do Evangelho, da Eucaristia e da memória dos mártires, das lutas em defesa da vida, e vida com dignidade.


Eram cerca de 30 pessoas, assessoradas pelos padres José Renato Ferreira, assessor arquidiocesano das CEBs, e José Aécio Cordeiro, prestes a completar 25 anos de sacerdócio e referência às CEBs, no que diz respeito à prática do Evangelho, em defesa dos direitos dos mais pobres. As missionárias de Jesus Crucificado, Sylvia e Maria Conceição Villac também assessoraram. “As CEBs servem de exemplo para as grandes paróquias, disseminando o Evangelho com a leitura popular da Bíblia, com uma liturgia encarnada”, disse a freira Maria Villac.


O retiro também foi o momento de as lideranças recordarem a memória dos mártires. Em sintonia com o 8° Encontro Nacional de Fé e Política, realizado no mesmo fim de semana em Embu das Artes (SP), fizeram memória de Santo Dias da Silva, que foi baleado pela Polícia Militar em 1979, em frente à fábrica Sylvania, na zona sul de São Paulo. Santo Dias militou, nos anos 60, nas CEBs, e na década seguinte, ajudou a fundar a Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.


“Fazer memória é beber da mesma que eles beberam: a Palavra de Deus e a Eucaristia, que a gente não tenha medo de assumir as causas do Reino que são as nossas”, disse Célia Aparecida Leme.


As “causas do Reino” são muitas e na periferia de São Paulo se destacam na defesa dos mais pobres e excluídos. Em momento de partilha, as lideranças apontaram a luta pela garantia dos direitos dos encarcerados, e conquistas como uma creche em Perus, a Comuna da Irmã Alberta que seria mais um lixão na cidade, as lutas por moradia com enfrentamento ao batalhão de choque, solidariedade com o povo das favelas que foram incendiadas na região, na mobilização por moradia com dignidade, por terra, e em defesa do meio ambiente, na resistência à instalação de um depósito de lixo na região do Anhanguera, resistência também à instalação de pedágio, pela abertura de creches, pela formação crítica, politizada e evangélica dos membros de suas comunidades.


Enganam-se, contudo, os que pensam que nas CEBs não há oração, espiritualidade. “Foi momento forte de encontro, reflexão, oração e de nos alimentarmos da Palavra e da Eucaristia. Saímos [do retiro] mais fortes e com vontade de manter nosso compromisso com a construção do Reino”, avaliou Célia.


Os agentes das CEBs trabalham também para conquistar espaços, onde possa ser celebrada a Palavra de Deus. Uma das lideranças das comunidades, que preferiu não se identificar, desabafou: “alguns padres se acomodaram nas paróquias, não entendem a importância das comunidades de base, que estão ali no meio do povo, nas ocupações, dando o testemunho de vida para as famílias, rezando com elas, levando a Bíblia, a Palavra de Deus”.


Para padre José Renato, “as CEBs estão aí como fermento na massa, na sua pequenez são como luz que brilha nas trevas”. Durante homilia, na missa de encerramento do retiro, o padre apontou que o cristianismo não é a religião da infantilidade, disse ser necessário que os cristãos assumam compromissos em defesa da vida, que deem testemunho de fé e amor, confiando na presença de Deus, e alimentando o coração de esperança, como canta o salmo 131 (130): “Israel coloque a esperança em Javé, desde agora e para sempre!”.

Texto e foto: Karla Maria
Jornalista, agente das CEBs

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