terça-feira, 4 de outubro de 2011

Repensar a linguagem para melhor evangelizar

A ação evangelizadora da Igreja deve estar atenta aos sinais dos tempos, às rápidas e profundas mudanças que estão ocorrendo no mundo hoje e acima de tudo, em constante diálogo com as diferentes culturas. Isso exige uma preocupação constante com a linguagem. Constantemente, nossos agentes de pastoral, não conseguem entrar em sintonia com os anseios e a vida concreta de nosso povo. Numa comparação simples, é como se estivéssemos numa frequência "AM" e o povo em "FM". Um dos fatores determinantes é o fato de reduzirmos a nossa linguagem unicamente às modalidades escrita e falada, dimensões mínimas da comunicação (herança da mentalidade iluminista, talvez!) Precisamos pensar em novas perspectivas. Não podemos esquecer jamais os gestos, a dança, o canto, o teatro, a poesia e tantas outras expressões culturais e artísticas criativas e dinâmicas que conseguem transmitir uma ideia ou mensagem com mais facilidade. Essas expressões quase sempre não são utilizadas ou mesmo proibidas em nossas Igrejas. Há muita I-comunicação entre a Igreja e o mundo.

As nossas liturgias, por exemplo, são "brancas" e "europeias", completamente desconectadas da influência indígena e negra, num país profundamente marcado por essas culturas. O som do tambor ou do atabaque, por exemplo, é muitas vezes acolhido com estranheza ou repulsa dentro de uma celebração. Segundo o grande antropólogo Mircea Eliade, "o som do tambor é aquele que mais repercute na alma humana, porque lembra o som do coração da mãe quando ainda estamos em seu útero". Todas as religiões utilizam esse instrumento. É preciso, portanto, conhecer melhor as nossas raízes para celebrarmos a partir da vida, rompendo com esse racionalismo que invade as nossas celebrações e a nossa maneira de expressar a fé.

Hoje, enquanto Igreja, estamos extremamente despreparados para lidarmos com as linguagens urbanas. O mundo moderno é polifônico e polissêmico. É polifônico porque engloba diferentes sons, vozes e ruídos - sinfonia urbana - e ao mesmo tempo, polissêmico, porque cada palavra ou gesto hoje tem vários significados. Cada segmento social e cada ambiente tem a sua linguagem e a sua maneira de entender o mundo. A nossa comunicação não pode ser hermética e fechada ao "novo". Precisamos entender que sem arte não há libertação.

Repensar a linguagem para ir ao encontro da cidade, das favelas, das periferias, lá onde ninguém mais quer ir. Permanecer de mãos postas, piedosamente, de olhos fitos no céu sem olhar as realidades gritantes ao nosso redor, é pura "demagogia da fé". É preciso inculturar-se. A evangelização da juventude é um exemplo concreto. Como atingir os jovens? O jovem hoje está órfão, perdido e solitário na Igreja. A Igreja abandona o jovem depois do crisma e só consegue atingi-lo de novo, quando consegue, no matrimônio. Ou seja, não há um projeto concreto que consiga de fato atingir a juventude entre 14 e 25 anos. O crisma, muitas vezes, se torna "a despedida solene da juventude com a bênção do bispo". Não podemos abandonar os jovens. Estamos correndo o risco de perdê-los! Felizmente, algumas mídias televisivas e alguns padres jovens começam a despontar a nível nacional com um trabalho totalmente voltado para a juventude. Sensatez, já que a juventude é o "hoje" e o "amanhã" da Igreja e da sociedade.

Repensemos, pois, a metodologia e a linguagem para que anunciemos Jesus Cristo de uma forma nova e acessível, atentos às mudanças históricas e culturais. Encerro com um pequeno comentário da CNBB sobre a evangelização no mundo urbano:

"Bem, como os Evangelhos não foram escritos para o mundo urbano, a primeira coisa a fazer é entender o que Jesus queria (a que veio), o que falava, o que fazia, como fazia e por que fazia. A partir daí, como discípulos de Jesus, a exemplo de Paulo, fazer a ‘tradução’ para o mundo urbano ou para qualquer realidade que se apresente".

Por César Augusto Rocha - inspirado na análise de conjuntura eclesial feita pelo Pe. Alfredo J. Gonçalves - assessor nacional das Pastorais Sociais


Fonte: Se Avexe Não!

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