Universidade estimula participação social de jovens com deficiências
Pessoas sem movimento nos pés aprendem a dançar em projeto da UnB
Por meio de um projeto pioneiro em Brasília, resultado
do trabalho de extensão do Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), pessoas com deficiência física locomotora aprendem a dançar.
O nome do projeto é “Pés”, uma iniciativa do bacharel Rafael Tursi, como resultado de conclusão da dupla habilitação em licenciatura no curso, e ainda, como forma de aplicar métodos consagrados para a composição dos movimentos do corpo, além dos já existentes como a prática de atividades esportivas.
Os encontros que acontecem nas terças e sábados reúnem cinco jovens com diferentes deficiências durante 120 minutos. Em dezembro, essas pessoas farão uma grande apresentação ao público. O idealizador espera novos integrantes para a próxima turma que será aberta em fevereiro do próximo ano. “Tudo começou mesmo, para mim, quando uma amiga muito próxima sofreu um acidente e ficou tetraplégica. Acompanhei o tratamento que ela recebeu, mas percebi que faltava arte, dança e teatro. Por isso, resolvi criar um projeto que ajudasse as pessoas que não têm locomoção”, explica Rafael.
Segundo ele, o projeto é voltado para a criação do movimento expressivo, baseado nos conhecimentos do dançarino e coreógrafo húngaro Rudolf Labanque que estudou o corpo humano em diversas áreas e reestruturou a dança moderna.
Nesse sistema, a qualidade de movimento é obtida relacionando os fatores do movimento: peso, espaço, tempo e fluência. “Estudei bastante sobre Laban. O desafio agora é adaptar o método aplicado ao ensino de pessoas com deficiência”. O coordenador do projeto Pés aplica quatro fatores do movimento adaptados às limitações de cada aluno. Estes, combinados entre sigeram possibilidades para outros movimentos, como espécie de ferramenta para a dança e o teatro.
“No início, o projeto só abrangia pessoas sem o movimento das pernas e como na UnB só havia um aluno com esse tipo de deficiência, abrimos o projeto para a comunidade distrital. Hoje, porém, o projeto atende jovens com diversas deficiências”, disse Rafael.
Deficiência rara Participam, atualmente, do projeto,
um homem de 25 anos, com tetraplégia; três mulheres com paralisia cerebral, com idades de 34, 22 e 18 anos, sendo esta última com eficiência intelectual; e ainda, uma menina de 18 anos, com síndrome de Kabuki, uma deficiência rara que utilizou tal termo devido à aparência facial lembrar a maquiagem dos atores do teatro Kabuki, uma forma tradicional de expressão teatral japonesa.
Para Marina Anchises, umas das alunas do projeto,a vida dela ficou muito melhor pois a coordenação está mais apurada. “Me sinto mais útil por participar do projeto. Sem contar que a minha autoestima está muito elevada. Gosto de me expressar, fazer novos amigos, mostrar que sou capaz de fazer tudo mesmo que seja diferente. Aprender a dançar e atuar, é uma experiência nova pra mim. Estou amando porque adoro desafios”, disse. Marina tem problemas de fala por isso respondeu as perguntas da revista por meio de e-mail e digitou com os pés. Ela explica que existe diferença na metodologia aplicada no Pés para outros grupos de dança que já participou. “No Pés o professor trabalha dentro das possibilidades de cada e faz os movimentos que podemos executar. Ele também estimula para que façamos outros movimentos, o que melhora nossa condição motora. Espero apresentar um belo espetáculo e um dia quem sabe, viajar, apresentar para outras pessoas e mostrar que todos somos diferentes”, disse.
Os encontros iniciais serão dedicados à expressão corporal e à prática da dança. Segundo Rafael, o primeiro passo, durante o treinamento, é entender o movimento para depois criá-los aplicando à coreografia e, consequentemente à música. “Tudo começou com uma dinâmica por meio de objetos lúdicos para identificar o movimento dos jovens. Levei massa de modelar, balão, lenços e instrumentos musicais como pandeiro, chocalho e reco-reco. A partir dos exercícios, os objetos vão sendo retirados e com a criação dos movimentos a dança vai surgindo aos poucos. Não quero que pareça terapia para eles e sim uma prática de teatro-dança. O aprendizado é lento. Queremos a igualdade e inclusão social, mas as diferenças existem e tudo deve ser trabalhado com sensibilidade e pedagogia do movimento”, explicou. A partir daí, percebe-se, inclusive o gosto musical de cada um. Por isso, o repertório é variado e de preferência, música nacional. “Costumo trabalhar muito com trilhas instrumentais, além de grupo como O Teatro Mágico (SP), a cantora Céu, entre outros além de me basear em poesia”, disse.
A expectativa é capacitar uma turma por ano e multiplicar tanto o número de pessoas que querem dançar como as que não têm deficiência e podem trabalhar como monitores que recebem concessão de bolsas. “Além disso, a ideia principal não é criar um espetáculo para ser apresentado todo o fim de ano e sim ver que a pessoa tem autonomia e pode criar movimentos expressivos por si só. Que eles sejam capazes e não bailarinos”, afirmou Rafael.
O aluno cadeirante do curso de Serviço Social, José Roberto Vieira, diz que é importante participar do projeto pois também é uma forma de se exercitar. “Como todos os seres humanos, os deficientes também gostam de dançar”, completa.
CAROLINA CASCÃO
O QUE É O PROJETO PÉS
Projeto de Extensão e Ação Contínua (PEAC) da Universidade
de Brasília (UnB) que visa a sistematização de
um trabalho corporal expressivo, possível para pessoas
com deficiência. É baseado na análise do movimento
expressivo e na criação e execução de movimentos realizados
a partir da teoria de Rudolf Laban, dançarino e
coreógrafo húngaro, considerado como o maior teórico
da dança do século XX e como o “pai da dança-teatro”.
O especialista fez estudo e sistematização sobre linguagem
e movimentos em diversos aspectos, como criação
e educação.
Serviço: Mais informações: Rafael Tursi
E-mail: rafaeltursi@gmail.com.
Telefone: (61) 8119-9443
http://www.pesbrasilia.blogspot.com/
Fonte: Revista Gestão Publica e Desenvolvimento
Paginas 83/84/85
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