domingo, 23 de outubro de 2011

40 anos da Ordenação Episcopal de Dom Pedro Casaldaliga


Hoje 23/10/2011, 40 anos da ordenação Episcopal de Dom Pedro Casaldaliga.


Ingressou na Congregação Claretiana em 1943, sendo ordenado sacerdote em Montjuïc, Barcelona, no dia 31 de maio de 1952. Em 1968, mudou-se para a Amazônia Brasileira.

Foi nomeado administrador apostólico da prelazia de São Félix do Araguaia no dia 27 de abril de 1970. O Papa Paulo VI o nomeou bispo prelado de São Félix do Araguaia (Mato Grosso), no dia 27 de agosto de 1971.

Sua ordenação episcopal deu-se a 23 de outubro de 1971, pelas mãos de Dom Fernando Gomes dos Santos, Arcebispo de Goiânia e de Dom Tomás Balduíno, OP e Dom Juvenal Roriz, CSSR. Foi bispo da sé titular de Altava até 1975.

Adepto da teologia da libertação, adotou como lema para sua atividade pastoral: Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar. É poeta, autor de várias obras.

Dom Pedro já foi alvo de inúmeras ameaças de morte. A mais grave, em 12 de outubro de 1976, ocorreu no povoado de Ribeirão Bonito (Mato Grosso). Ao ser informado que duas mulheres estavam sendo torturadas na delegacia local, dirigiu-se até lá acompanhado do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier. Após forte discussão com os policiais, o padre Burnier ameaçou denunciá-los às autoridades, sendo então agredido e, em seguida, alvejado com um tiro na nuca. Após a missa de sétimo dia, a população seguiu em procissão até a porta da delegacia, libertando os presos e destruindo o prédio. Naquele lugar foi erguida uma igreja.

Por cinco vezes, durante a ditadura militar, foi alvo de processos de expulsão do Brasil, tendo saído em sua defesa o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.

No ano 2000, foi agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Campinas.

Com problemas de saúde,[1] Dom Pedro apresentou sua renúncia à Prelazia, conforme o Can. 401 §1 do Código de Direito Canônico, em 2005. No dia 2 de fevereiro de 2005 o Papa João Paulo II aceitou sua renúncia ao governo pastoral de São Félix.

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Noite celebrativa lembra 40 Anos da Carta de Dom Pedro

Há 40 anos, no dia 10 de outubro de 1971, um padre prestes a ser bispo pensou no que poderia apresentar na cerimônia de posse, realizada dia 23 do mesmo mês do mesmo ano, que fosse transformador. Era Dom Pedro Casaldáliga, ainda aos 43 anos, que, pelo trabalho em favor dos direitos humanos e pelo direito a terra, hoje tem projeção internacional.

Resolveu aquele padre apresentar uma carta que desse conta de localizar geopoliticamente a região onde milita; mostrar como as coisas funcionam nos rincões do país, quem manda, quem é mandado; de retratar o homem do campo, esse ser forte, explorado; que denunciasse o latifúndio, o trabalho escravo; que tirasse esses problemas da invisibilidade. A carta “Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, apresentada por ele, não só expõe esse cenário, como também conclama a igreja a sair de sua centralidade eurocêntrica e atuar nesses rincões, contra tais mazelas e outras. Foi a primeira vez que se falou claramente em latifúndio, em trabalho escravo, em pistolagem. Para além disso, trata-se de um documento muito bem escrito, com beleza literária e rigor de informações sociológicas. Leia aqui…

Para marcar a data, no dia 10 haverá uma noite celebrativa dos 40 anos da carta de Dom Pedro Casaldáliga, a partir das 18h30, no salão da Igreja do Rosário e São Benedito em Cuiabá, MT.

Na mesma noite, movimentos sociais vão lembrar também a morte do padre João Bosco Burnier, que dia 11 de outubro de 1976, foi baleado, quando ele e Dom Pedro faziam uma intervenção em favor de camponesas presas injustamente em uma delegacia de Ribeirão Cascalheira. Burnier morreu no dia seguinte.

O espanhol Dom Pedro casaldáliga, radicado no Brasil desde 1968, tem hoje 83 anos, sofre do Mal de Parkinson, está com saúde frágil, mas não deixa de passar aquela força, quando fala sobre a vida militante, como fez na última Romaria dos Mártires, realizada em 16 de julho deste ano, em Cascalheira. Veja aqui. Devido à presença de Dom Pedro havia na caminhada jornalistas de todo o mundo, principalmente da América Latina, onde Dom Pedro é referência de luta e fé.

Dom Pedro fez a escolha pelos pobres, marginalizados e pelas minorias e não se esquiva de fazer as defesas dos movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Veja aqui.

A noite celebrativa, que será aberta ao povo, está sendo organizada pelo Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mato Grosso.

Casaldáliga que disse

O que Dom Pedro Casaldáliga fala tem eco internacional. Muito dificilmente o leitor desse site desconheça essa figura ímpar. Mas, para quem não conhece, dom Pedro é um religioso espanhol, radicado no Brasil desde a década de 70, quando assumiu a prelazia de São Félix do Araguaia, no interior de Mato Grosso, da qual foi bispo até 2005. Ele sofre do mal de Parkinson, mas não perde a força espiritual e política. Na próxima segunda-feira, dia 10, fez 40 anos que ele escreveu a carta Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social, denunciando a oligarquia rural no Estado. A carta é um relato geopolítico da região e descreve o explorado e empobrecido homem do campo. Dom Pedro gravou um vídeo que será apresentado na noite celebrativa. Veja matéria sobre o evento aqui. Ele propõe que sigamos na luta, que façamos ouvidos moucos aos nossos inimigos a todo tempo a gozar de nossos ideais, que façamos a escolha correta pelos pobres e marginalizados. Na próxima segunda-feira, o aniversário da carta deve correr mundo, assim como o respeito que os continentes têm por Dom Pedro, ícone mundial dos Direitos Humanos e da Terra.

Rizza Matos de São Félix do Araguaia

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40 anos da Consagração Episcopal de Pedro Casaldáliga
23 de outubro de 1971 – 23 de outubro de 2011

Em tempos em que os novos sacerdotes voltam a usar batina, casulas com fios de ouro e a Igreja se fecha, vale a pena ler o seguinte artigo de Antonio Canuto sobre Pedro Casaldáliga. Um abraço cheio de esperança para todos.

Luis Enrique Alves Pinto.

As estrelas, o Araguaia e nós somos testemunhas

Por Antonio Canuto

Praticamente nos mesmos dias em que dom Leonardo deixa o pastoreio desta Igreja e dom Eugenio Rixen a assume como administrador apostólico, completam-se 40 anos da ordenação de Pedro Casaldáliga como bispo.

Foi no dia 23 de outubro de 1971. Um momento da maior importância para a prelazia que assim acolhia o seu primeiro bispo. Momento que não se pode esquecer. Foi um acontecimento que marcou profundamente a Igreja e, sobretudo, aqueles que tivemos o privilégio de participar.

Três anos depois da chegada de Pedro, no segundo semestre de 1968, acompanhado do irmão Manuel Luzón, para iniciar um novo campo de missão, a Igreja da Prelazia se consolidava com a ordenação de seu primeiro bispo. Pedro foi ordenado por dom Fernando Gomes dos Santos, arcebispo de Goiânia, dom Tomás Balduíno, bispo da diocese de Goiás, e dom Juvenal Roriz, bispo de Rubiataba, GO.

Três elementos, mais que significativos, imprimiram àquela cerimônia um caráter totalmente inovador e profético que tiveram forte repercussão não apenas na Igreja do Brasil, mas também em muitas Igrejas do mundo e na sociedade.

O primeiro: a ordenação aconteceu na mais rica e maior catedral do mundo. A abóboda desta catedral estava adornada pela multidão incalculável de estrelas do céu. As paredes eram formadas, de um lado, pela água livre do Araguaia; do outro, pelas areias da colina de São Félix. Ao fundo, a pobre e pequena igrejinha da comunidade. Ao pé da colina, como para recordar a provisoriedade e a fragilidade da vida, o cemitério onde tantas pessoas, mortas ou “matadas”, descansavam, ao lado do secular cemitério Carajá.

O segundo: Pedro recusou qualquer sinal externo que o diferenciasse na igreja. Posso estar equivocado, mas creio que é o único bispo do Brasil, e talvez do mundo, que se propôs não usar nunca nenhuma insígnia episcopal. As insígnias episcopais que são entregues ao bispo em sua ordenação atualmente são o anel, o báculo, a mitra e a cruz peitoral. Sinais externos do lugar que o bispo ocupa em uma Igreja estruturada de forma hierárquica. Sinais de sua autoridade e poder. O bispo ainda ostenta um escudo que representa seu lema de vida e serviço. Suas vestimentas também se diferenciam das dos simples sacerdotes (Tempos atrás os bispos ainda usavam nas celebrações luvas, calçados especiais e roupas diversas. Tudo isso para mostrar sua importância na Igreja). Pois bem, naquela noite de 23 de outubro de 1971, a abóboda celeste, as águas do Araguaia e todos os que estávamos ali fomos testemunhas de que algo novo estava acontecendo. Um bispo recusa as marcas de poder para inserir-se totalmente na vida do povo. Estas palavras profético-poéticas fizeram eco: Tua mitra será um chapéu de palha sertanejo; o sol e a lua; a chuva e o tempo sereno, os olhares dos pobres com os quais caminhas e o olhar glorioso de Cristo, o Senhor. Teu báculo será a verdade do Evangelho e a confiança do teu povo em ti. Teu anel será a fidelidade à Nova Aliança do Deus Libertador e a fidelidade ao povo desta terra. Não terás outro escudo que a liberdade dos filhos de Deus; nem usarás outras luvas que o serviço do amor.

O terceiro elemento que marcou esta ordenação deixou um fio de luz e de esperança. Despertou, por um lado, a adesão imediata dos cristãos em toda a Igreja e nos mais diversos setores da sociedade; por outro, provocou a reação irada e violenta dos agentes da ditadura militar e daqueles que se enriqueciam com os incentivos públicos às custas do sacrifício, da dor e da escravidão de muitos.

Foi sua carta pastoral divulgada naquela ocasião e que se intitulava Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social, que marcou época e se converteu em um divisor de águas no seio da Igreja do Brasil. A carta pastoral não olha para dentro da Igreja. É um olhar da Igreja sobre a realidade nua e crua do povo que esta Igreja veio servir.

Nela se relatam as situações vividas pelos “posseiros” que eram expulsos das terras ocupadas e trabalhadas por eles fazia dezenas de anos; a realidade dos indígenas, cujos territórios eram invadidos em benefício do capital; e a exploração dos peões, trabalhadores trazidos de diversas partes do país e submetidos às mais degradantes condições, em situação similar à dos escravos.

Uma palavra clara e profética que denunciava as injustiças que eram cometidas contra o povo e que teve eco no Brasil e em todo o mundo. Pedro dizia na introdução: “Se a primeira função do bispo é ser profeta, e ‘o profeta é a voz dos que não têm voz’ (cardeal Marty), eu não poderia honestamente ficar com a boca calada ao receber a plenitude do serviço sacerdotal”.

A ordenação não foi apenas uma celebração. Concretizou-se, em todos os cantos da prelazia, em formas simples e pobres de vida, em um compartilhar a vida com os sertanejos e indígenas; em uma tomada de decisões de forma coletiva e irmanada, onde seculares, religiosos e sacerdotes tinham voz, olhando sempre para o povo e sua história.

Passaram-se 40 anos. E não podemos esquecer aqueles acontecimentos que foram os fundamentos da nossa diocese.


2 comentários:

Iara disse...

Nosso profeta, Dom Pedro, serás sempre uma referencia para os que acreditam na Justiça.
"Eu creio na semente, brotada na terra , na vida de gente, eu creio no amor"

Iara disse...

Sou responsável pelo que falo, não pelo que você entende!