sexta-feira, 16 de setembro de 2011

.A memória das pessoas assassinadas no chamado "Massacre do Caldeirão"

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12ª Romaria das Comunidades de Base é uma tradição entre os católicos. Participam mais de 2 mil pessoas
ANTÔNIO VICELMO

A memória das pessoas assassinadas no chamado "Massacre do Caldeirão" é revivida, no Crato

Crato. O caminho que leva ao Caldeirão é uma forma de reavivar na memória umas das experiências exitosas em comunidade rural, que terminou em tragédia e o sumiço de centenas de pessoas, entre crianças, adultos, idosos. Trabalhadores rurais, homens simples e que tinham com líder o beato José Lourenço, um discípulo do Padre Cícero. Era uma ameaça ao sistema. Um foco comunista num rincão distante do sertão nordestino. As milícias do Exército Brasileiro e Polícia Militar do Estado agiram. Oficialmente, cerca de 400 pessoas assassinadas. Extraoficial, mais de mil, com ataques aéreos. Há quem diga que este fato não ocorreu. A vala onde foram enterrados os corpos não foi encontrada até o hoje. Neste domingo, acontece a 12ª Romaria das Comunidades de Base no Sítio Caldeirão.

O momento dedicado às vítimas em oração. São mais de 2 mil pessoas que se dirigem ao Caldeirão da Santa Cruz do Deserto. Este ano, a romaria estará relacionada ao tema da campanha da fraternidade, "Pela Vida Grita a Terra e por Direitos Todos Nós!". Na noite de sexta, foi realizado em Juazeiro do Norte o seminário sobre o tema Caldeirão. Um momento de debates, como forma de preparação para estudantes, romeiros e as pessoas da comunidade, além de estudiosos sobre a temática.

A acolhida para a Romaria acontece a partir das 7 horas, com celebração às 8 horas, e apresentação cultural a partir das 9h30. O evento está sendo realizado por meio da Comissão Pastoral da Terra, Eixo Ação da Diocese e Secretarias das Comunidades Eclesiais de Base. O bispo dom Fernando Panico irá celebrar a missa. Um grupo de vaqueiros caracterizados realiza uma homenagem especial e participa da celebração. Vários padres da região estarão presentes, inclusive o coordenador e idealizador da romaria, padre Vileci Basílio Vidal. O marco para o início da romaria foi a passagem do século, por meio de uma assembleia diocesana, da Pastoral da Terra.

Expulsão

O mês de setembro tem um significado importante. Foi o período de expulsão dos moradores, no ano de 1936. Foi uma experiência de 10 anos, no local, sob a liderança do beato. A reza e o trabalho davam autonomia de sobrevivência no que se transformava num oásis em meio ao deserto. É sempre no domingo, após a procissão de Nossa Senhora das Dores, que acontece a Romaria do Caldeirão, já que a intenção dos organizadores é também possibilitar que os romeiros do Padre Cícero, que vão ao Juazeiro, também possam conhecer e a vida de um dos discípulos do "Padim" e a história do local. São cerca de 32 quilômetros saindo do Crato para se chegar até o local.

A estrada, segundo a secretária de Cultura, Esporte e Juventude do Crato, Daniele Esmeraldo, recebeu melhorias e será dado apoio de transporte e melhoria de infraestrutura, além de distribuição de água para as pessoas que participarem.

Padre Vileci lembra de um dos momentos da história, na época da formação do Caldeirão. A terra foi ofertada pelo Padre Cícero ao beato, que tinha sido expulso do Sítio Baixa Dantas. A comunidade mostra o exemplo, conforme o padre, de que é possível conviver com o semiárido, por meio do desenvolvimento sustentável. "O Caldeirão é um exemplo de vida saudável com a natureza", afirma oo sacerdote.

O padre destaca a importância de um projeto que esteja relacionado com a realidade local, a arquitetura, para que a memória seja preservada. A secretária de Cultura diz que até o fim do ano de 2012 será construído um memorial no local, preservando a suas origens, inclusive ouvindo estudiosos e pesquisadores. Houve um investimento inicial, para a construção de uma casa de apoio para os visitantes e pesquisadores e pela primeira vez foi instalada eletricidade no local, o que irá proporcionar melhorias também para a celebração. Ele lembra a importância de uma boa acolhida para o turista que se desloca até o sítio.

A secretária destaca o recente trabalho de sinalização que foi feito na estrada. Ela ressalta que a proposta é construir no local um memorial dedicado à história do Caldeirão. Atualmente, o sítio conta com a capela, que tem como padroeiro Santo Inácio de Loyola, casas de taipa construídas pelo beato, e as ruínas da sua própria residência. A meta é que seja desenvolvido todo um receptivo para o turista, pesquisadores, estudantes e romeiros.

Também podem ser vistos um muro de lajes, por trás da pequena igreja, onde foi construído o cemitério; a casa do morador, da época do beato José Lourenço; e, no alto, ruínas da casa do mentor de uma história que marca o triste pioneirismo do Exército, com a primeira ação de extermínio da história do Brasil e ataque aéreo.

FIQUE POR DENTRO
Beato José Lourenço

O Caldeirão foi palco da vida e obra do beato José Lourenço. No local, aconteceu um dos movimentos messiânicos mais significativos da história do Nordeste, em terras cearenses. A comunidade formada por cerca de mil pessoas era liderada pelo paraibano de Pilões de Dentro, José Lourenço Gomes da Silva, mais conhecido por Beato Zé Lourenço. No Caldeirão, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor da comunidade e recebiam uma quota da produção. A comunidade era pautada no trabalho, na igualdade e na religiosidade.

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