quinta-feira, 21 de julho de 2011

Romaria dos Mártires da caminhada

Testemunhas do Reino

Ribeirão Cascalheira, cruz do Pe. João Bosco. Ali, de cinco em cinco anos, se encontram romeiros do nosso continente. Encruzilhada profética do continente. Memória perigosa dos mártires da caminhada, das testemunhas do Reino.

Neste ano a quinta Romaria dos mártires tem um motivo há mais para celebrar. Quarenta anos de uma Igreja em conflito com o latifúndio, construindo justiça e semeando esperança, denunciando a opressão anunciando a alvorada, no caminho da libertação.

São Felix se tornou um espaço emblemático de uma igreja profética, que tem como seu irmão maior Pedro, poeta e profeta, dessa América Latina, Abya Yala, ainda na paixão.

D. Pedro Casaldáliga é presença indispensável nesse grande sonho, celebração, memória e luta. Ontem ele já deixou São Felix e veio para Ribeirão Cascalheira. Milhares de romeiros já chegaram para a celebração de abertura seguida da caminhada martirial.

Apesar do calor causticante, da secura e da poeira, nada tira o animo dos romeiros. É momento de rever muitos companheiros e companheiras de caminhada, unidos na memória dos 40 anos de luta da Prelazia de São Felix, “uma igreja em conflito com o latifúndio e a opressão”.

Rumo à romaria dos mártires

Saímos do coração do agronegócio, de Dourados, no Mato Grosso do sul, para as beiras do Araguaia. Passamos pelas monótonas paisagens da monocultura, do milho, da soja, da cana, do eucalipto, do capim, do algodão, do sorgo, principalmente, para os confins do latifúndio e as belas praias do Araguaia.

Saímos da posse do, ex-secretário Geral da CNBB,D. Dimas, como arcebispo em Campo Grande, para a prelazia do novo Secretário Geral, D. Leonardo, em São Felix do Araguaia.

Viemos partilhar nossas experiências e lutas com os companheiros(as) do Cimi Mato Grosso. Nesta região em que estão as raízes das transformações dos quais nasceu o Cimi, encontramos com figuras históricas e testemunhos por mais de meio século junto aos povos indígenas, como a irmãzinha Genoveva, com mais de 60 anos vivendo solidariamente com os Tapirapé. Ali encontramos pessoas profundamente sábios e solidários com a caminhada dos povos indígenas nas últimas décadas.

Olhar para os cabelos, os olhares profundos, o corpo cansado, de dezenas dos missionários e missionárias, a gente sente orgulho dessa bonita história escrita com decisão, audácia, sangue e alegria. Foi aqui que também se iniciou essa bonita página da luta indígena e indigenista do Brasil. O sangue do Pe. Rodolfo e Simão Bororo (1976) Pe. João Bosco Burnier (1976), Vicente Canhas (1986), cujo corpo foi encontrado depois de 40 dias de seu assassinato. Eu estava indo visitá-lo, juntamente com Tomás e Tião, e nos deparamos com esse quadro tétrico. Sentimos de perto a revolta dos Enawene Nawe, ao receberem a notícia do assassinato de seu grande amigo Kiwi.

Apesar de mais da metade dos missionários já estarem com mais de sessenta anos e sentirem o peso dos longos e não fáceis tempos de vivencia e testemunho solidário com os povos indígenas, o que se percebe é uma grande esperança de continuar a presença respeitosa e profética junto aos povos do regional.

O espaço profético de Pedro

Para nossa alegria, quem estava sentado entre o grupo de uns 50 missionários lutadores, estava o bravo e profético de D. Pedro Casaldáliga. Apesar de fisicamente debilitado pela doença e por seus mais de 80 anos de vida, ali estava lúcido e incansável pela causa que há décadas está levando avante com os lutadores da Prelazia de São Felix. O tema de aprofundamento, seguiu o lema da Romaria dos Mártires. Ele inseriu suas valiosas contribuições do tema que tratou e viveu com muita paixão, doação e amor.

Testemunhas do Reino

Esse será o lema da romaria dos mártires que se realizará em Ribeirão Cascalheira nos próximos dias. É para esse momento especial em termos de celebração dos mártires da América latina, que viemos. Beber do testemunho desses milhares de mártires anônimos ou mais presentes na memória do povo lutador.

“Só temos o direito de celebrar a memória dos mártires se de fato assumirmos as suas causas”, foi uma frase centrais da reflexão animada pelo Pe. Francisco Junior, e que repercutiu nas celebrações.

A profecia do Bem viver frente ao modelo capitalista

Esse será o lema que orientará a reflexão dos missionários e missionárias do regional MT, na preparação da celebração dos 40 anos do Cimi, que acontecerá em outubro do próximo ano.

Depois de uma bela reflexão sobre “Testemunhos do Reino” com a rica contribuição do Pe Francisco Junior e D, Pedro Casaldáliga, divulgaram um documento de denúncia e anuncio, testemunho e profetismo. “Como CIMI assumimos o testemunho dos Mártires que continuam tombando no anúncio e na defesa desta proposta do Bem Viver para todos os seres do Planeta e nos comprometemos em denunciar profética e esperançosamente todas as agressões à Mãe Terra que colocam em risco a vida plena de seus filhos e de suas filhas!

São Félix do Araguaia, 15 de julho de 2011,

35 anos do martírio de Simão Bororo e Pe. Rodolfo Lunkenbein

Egon Dionísio Heck
Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul

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