A Teologia da Libertação é uma corrente singular da teologia porque aborda em sua lógica os excluídos, os marginalizados, os que vivem em situação de miséria, figuras humanas típicas dos forjadores do cristianismo, mas, em certa medida deixados à margem pelas instituições religiosas. O projeto inicial de Jesus não era de fundar uma nova religião, mas de propor um ser humano novo, capaz de solidarizar-se com o sofrimento do outro. Por isso, segundo Leonardo Boff, a grande maioria das religiões se autofinalizam. Preocupam-se em conservar seu lugar social e seu poder, o que as torna um bastião do conservadorismo e do patriarcalismo.
Uma reflexão a partir da situação de pobreza e exclusão social em que vive grande parte da humanidade, em especial os latinos, requer uma profunda reflexão que seja capaz de compreender as estruturas econômicas e sociais injustas decorrentes do sistema produtivista/consumista, base do ideário capitalista.
A perspectiva da Teologia da Libertação leva a uma questão central: como uma sociedade pode constituir atores ativos em condições de modificar a estrutural social? A sociedade não apenas se reproduz; ela produz significativas mudanças quando propõe rupturas como o modelo economicista. A real modificação somente se dá pela práxis humana transformadora. De uma forma geral, a sociedade ainda está submetida a uma relação em dois pontos: existe uma classe superior, que se apropria do movimento de acumulação e que submete uma segunda classe, a classe popular.
A consciência que se desenvolve nos excluídos, nos marginalizados, nos que vivem à beira do sistema capitalista somente produz transformações a partir de ações concretas, como nos movimentos sociais formados a partir de uma conduta coletiva orientada para a historicidade. O movimento social seria então a expressão de um conflito, pois se forma a partir de um confronto de posições antagônicas. A Teologia da Libertação, lida à luz de Leonardo Boff, propõe justamente uma ruptura com o modelo econômico e social vigente, fruto de uma lógica capitalista de produção/consumo e dominação. Por este ângulo, poderia se inferir que, além de uma corrente teológica, a TdL é também um movimento social.
Os atores sociais, seres humanos capazes de transformar a sua realidade, acreditam na existência de relações que são cristãs em sua natureza, porque o modelo ensinado por Jesus é transformador. Nesta lógica, há uma ruptura como o modelo concebido como o fim da história. A Teologia da Libertação objetiva criar condição na qual o ator cristão possa questionar a sua atuação cotidiana. Esse questionamento leva os indivíduos inexoravelmente a um novo patamar de consciência e a uma profunda transformação da realidade social.
Luiz Eduardo de Souza Pinto
Fonte: Arquidiocese de Montes Claros
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