quinta-feira, 12 de maio de 2011

I Jornada Teológica da América Central e Caribe

Reflexões após I Jornada Teológica da América Central e Caribe


Do dia 26 a 29 de abril, a Guatemala recebeu a primeira de quatro Jornadas Teológicas, reunindo teólogos da América Central e Caribe. As Jornadas funcionam como espaço de preparação para o Congresso Continental de Teologia (CCT), que será realizado em outubro de 2012. Em entrevista à Adital, Pe. Ermanno Allegri, membro da organização do CCT e também coordenador da Adital, expõe reflexões e percepções que apareceram dentro da 1ª Jornada, que devem fazer-se presentes no Congresso e que apontam para a definição de novas tarefas para a Teologia no continente.

O Congresso contou com a participação de cerca de 300 pessoas. Dentre eles, teólogos profissionais, mas, em sua maioria, representantes das Pastorais, urbanas e rurais. Para Ermanno, este é um fato que deve ser evidenciado, pois denota que "existe na base grande expectativa de algo novo, diferente". Uma expectativa que se revelou na fala de uma liderança maia que esteve presente na Jornada: "Estamos vivendo o despertar dos tempos. O novo B´aktun´", termo indígena que significa mudança dos tempos.

É o mesmo sentido do Mito de Pachakutick, da região dos Andes, o qual considera a História como um espiral que dá voltas sobre si mesmo, mas sempre indo para cima. Segundo o Mito, a cada 500 anos, esse espiral daria um grande impulso. Segundo a liderança maia, agora, estaríamos vivendo este tempo de mudança. Já para a Igreja, esse momento de transformações é chamado de Kairós, que significa o tempo favorável à ação de Deus no mundo.

A programação da Jornada na Guatemala contou com o testemunho de massacres vividos na região da América Central e Caribe. Pe. Ermanno avalia que esse encontro reforçou a percepção de como a violência "pesa e marca a vida dessas pessoas". Ele lembra as violações sofridas pelos povos maias, pela juventude, mulheres, migrantes expulsos de seus países, massacres haitianos, dentre outros. Sobre a realidade do Haiti, que foi um dos testemunhos da Jornada, Allegri reforça que esse massacre é vivido há pelo menos 500 anos e mais recentemente com o terremoto, "inclusive, com o aproveitamento que se está fazendo dele", afirma.

"Poderíamos esperar uma população sem esperança, sem expectativa de futuro", assinala Allegri. Tal percepção foi rechaçada pela quantidade de pessoas participantes da Jornada, bem como pelas expectativas por elas apresentadas. "É aí que encontramos a referência do Kairós e do Mito. Quando as pessoas falam de esperança, falam de novas perspectivas de sociedade e de Igreja", afirma.

Pe. Ermanno recorre ao termo bíblico Parresia, que designa a segurança com que os apóstolos falaram sobre Jesus e do Evangelho, para falar da segurança daqueles que acreditam nessa transformação, que "essa novidade pode nascer do Espírito Santo". Essa Parresia, de acordo com o padre, "é o contrário dos que falam a partir da arrogância de posições dogmáticas".

Segundo Ermanno Allegri, a partir dessa vivência evangélica, que foi compartilhada na Jornada, a espiritualidade das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), dos maias, dos negros garífunas (afrodescendentes que mantém sua cultura viva em países do Caribe), demonstra-se novos espaços de fé cristã, "que já estão sendo realizadas", mas "dentro de ritos e fatos cultuais bem diferentes dos atuais, que foram importados pela cultura ocidental da Igreja", assinala.

A espiritualidade e teologia garífuna e maia, em especial, "tem suas raízes há centenas de anos, antes mesmo da Teologia da Libertação e, portanto, são independentes dela", destaca o coordenador. Ele avalia que essas teologias (maias, CEB’s, garífunas, da terra, da mulher) "só aparecem agora, porque somente agora se escrevem livros". Allegri, entretanto, afirma a importância da Teologia da Libertação, pois foi "aquela que destampou a liberdade de pensamento teológico, conseguindo superar a repressão, promovida pelo hegemônico bloco ocidental da Igreja, que as silenciava e as marginalizava".

Para Pe. Ermanno Alegri, a liberdade do pensamento teológico alcançada deve também ser creditada à consciência e força dos mártires dessa Igreja e da sociedade. A Jornada Teológica da América Central e Caribe, em especial, foi realizada no marco do 13º aniversário de morte de Monsenhor Gerardí, bispo de trajetória de luta junto às comunidades massacradas da Guatemala, em especial os indígenas, que foi cruelmente assassinado em 1998.

Esses mártires, de acordo com Allegri, devem ser espelho para os novos tempos. Nesse contexto de transformações, Padre Ermanno destaca um trecho do documento final da Jornada como uma referência para os novos passos da Teologia: "a necessidade de elaborar uma agenda teológica para o futuro nos leva a nos abrirmos a um Deus vivo e livre, contrário a visão de um Deus preso em dogmas, ritos, normas morais e patriarcalismos".


Camila Maciel

Fonte: Adital

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