Neste final de semana terminam os quarenta dias da quaresma, e se conclui a campanha da fraternidade. Ambas cumprem a missão de nos conduzir à Semana Santa, para celebrar o mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo.
À luz deste mistério, encontram guarida todas as situações humanas. Também aquelas que se apresentam despidas de sentido, marcadas pelo absurdo, produzidas pela maldade, ou assinaladas pela tragédia. Inclusive as que trazem a fatalidade da morte.
Em Cristo, toda realidade encontra ressonância. Pois ele assumiu radicalmente toda a tragédia humana, não se eximindo nem da morte. Aceitou-a livremente, e como Filho de Deus por sua paixão completou a encarnação. Assumiu por inteiro a humanidade, marcada pelo pecado e atingida pela morte. Transformou esta realidade de tragédia em caminho de vida nova, pela força de sua ressurreição.
Nada que existe de humano é alheio a Cristo. Por isto ele é "o Salvador que nos convinha”. O conforto maior que toda pessoa humana pode ter, diante do sofrimento que a atinge, é dar-se conta que o próprio Cristo viveu o mesmo drama, com o agravante de ter sido injustamente condenado à morte.
Este ano foi pródigo de situações dramáticas, que atingiram violentamente tantas pessoas. Com o respeito que todo drama humano merece, enquanto contemplamos o Cristo na cruz, podemos trazer à memória tantas vítimas, fruto de acontecimentos dramáticos, como os deslizamentos na serra do Rio de Janeiro as enchentes em tantos lugares do Brasil, o terremoto no Japão com as consequências trágicas que ele trouxe. E sobretudo ainda estamos perplexos diante do massacre de crianças inocentes na escola, no Rio de janeiro.
Neste ano vai ser densa a celebração do mistério pascal de Cristo, com a evocação de todos estes acontecimentos. Pela contemplação do Cristo na cruz, respeitamos o sofrimento humano, vivido por ele, vivido também por nós, que somos chamados a "completarmos nós o que falta à paixão de Cristo”, como nos ensina São Paulo.
Mas a celebração do mistério pascal não nos deixa só extasiados diante da cruz. Ele nos acorda e nos impulsiona para fazermos dos sofrimentos humanos motivo de nosso amor e de nossa solidariedade. Impulsionados pela força da ressurreição do Senhor, somos desafiados a traduzir em gestos concretos de solidariedade os apelos de amor que sentimos dentro de nós.
Desta maneira, é muito providencial, nesse final de semana, traduzir a Campanha da Fraternidade em "coleta da solidariedade”. Seu resultado será destinado à sustentação dos inúmeros projetos sociais, em favor dos mais pobres e mais fracos. Bom seria se nossos olhos se abrissem para perceber quantas iniciativas sociais são mantidas pela Igreja no Brasil. Se em cada celebração se apresentasse a lista dos projetos existentes na diocese, com certeza daria uma boa ladainha de iniciativas que aguardam nossa colaboração.
Seja como for a oferta, ela deve decorrer da constatação de quanto Cristo nos ama, e assume o mistério de nossa vida, para associá-lo ao mistério de sua ressurreição.
Organizando nossa solidariedade, superamos a perplexidade que as emergências costumam produzir, e tornamos nossa ação mais adequada e oportuna.
Os pobres agradecem, e Cristo nos garante a recompensa.
Dom Demetrio Valentine
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