domingo, 10 de abril de 2011

16ª Assembleia de Mulheres de Pintadas - Bahia

Há quase duas décadas atrás, quando a maioria dos homens ainda migrava em busca de condições de sobrevivência no sul e sudeste do país, as mulheres de Pintadas deram início ao seu processo de organização coletiva, construindo espaços de reflexão sobre os seus desafios e procurando formular as soluções para seus problemas. O histórico lembrado pela deputada Neusa Cadore na manhã de domingo, 27 de março de 2011, deu a tônica da 16ª Assembleia de Mulheres realizada no salão paroquial.

Logo no início, sob a coordenação de Julita Trindade, foi feita uma apresentação da história da participação social e política das mulheres pintadenses desde a década de 70 até os dias atuais. Mediado por trechos de cantorias que animaram os processos de luta das comunidades, foram rememoradas as lutas pelo acesso à saúde, a luta pela terra, pelo trabalho, além de se destacar a importância das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) na formação das mulheres.

Julita apresentou o histórico de luta das mulheres ao longo das décadas em Pintadas

“Fico muito feliz por ver que um processo desenvolvido há mais de 16 anos ainda continua vivo e que em todo o estado a participação da mulher está se ampliando cada vez mais”, afirmou a parlamentar que esteve em 20 municípios apenas neste mês para participar das homenagens ao Março Mulher.

Ex-prefeita de Pintadas por dois mandatos, Neusa destacou que a participação feminina foi essencial em todas as lutas do município, inclusive para a conquista do poder político institucional, quando as demandas históricas puderam ser transformadas em políticas públicas, a exemplo do acesso à água. “Quando assumimos a gestão municipal as mulheres disseram que a água era a prioridade e ela foi a principal bandeira assumida por nós”, lembrou.

Pintadas se tornou o primeiro do Nordeste a alcançar a marca de 100% de casas com cisternas na zona rural, levando dignidade e cidadania à população do campo. O modelo serviu de inspiração para o Programa Água Para Todos, implementado em âmbito estadual pelo governador Jaques Wagner desde o início do seu primeiro mandato.

Enfrentamento da Violência - Durante o evento, as mulheres realizaram uma homenagem as famílias das vítimas de violência doméstica e familiar no município. Com uma espécie de fogueira, elas “queimaram de forma simbólica” os desafios da luta feminina, como medo de se solidarizar com a violência e a discriminação contra a mulher. As participantes cobraram a efetivação da Lei que dispõe sobre os mecanismos para prevenção e punição desse tipo de crime, a Lei Maria da Penha.

A deputada fez memória às conquistas alcançadas

Neusa fez questão de listar as conquistas das mulheres, a exemplo da vitória de Dilma Roussef, da lei que estabeleceu a licença-maternidade, o direito à titularidade da terra pelas trabalhadoras e, sobretudo, à Lei Maria da Penha. Mas ela chamou a atenção de que a sociedade não pode mais tolerar a violência contra as mulheres e que o tema deve ser abordado em todos os espaços.

A deputada advertiu que um dos fatores que impedem a libertação feminina da situação de opressão é a falta de condições econômicas, pois cerca de 70% dos mais pobres do mundo são mulheres. “O empoderamento social está inteiramente ligado ao viés econômico e nós temos que ter políticas públicas que apóiem e tragam as oportunidades para as mulheres porque temos um governo com o qual a gente pode dialogar. Neusa lembrou que entre as alternativas está a de beneficiamento da produção familiar, através da organização em associações e cooperativas.

O evento contou com a parceria de Maria Vandalva Lima, assessora de gênero do MOC (Movimento de Organização Comunitária) que fez uma abordagem sobre a história das mulheres, suas conquistas e desafios. No final, ela homenageou a Associação de Mulheres com uma placa pelo trabalho em prol de um “Sertão Justo”, lema do MOC.

Lideranças da sede e da zona rural do município compareceram ao evento

Estiveram presentes na atividade cerca de 200 pessoas, entre lideranças femininas da sede do município e das comunidades rurais, autoridades políticas e representações do movimento social.

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