segunda-feira, 7 de março de 2011

Inclusão Social - Irmãos são exemplo de superação em Acopiara

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Irmãos Felipe Fernandes e Leidinha com os pais. Eles são moradores do Sítio Quebra, zona rural de Acopiara

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Professor que desenvolveu ensino de xadrez para alunos cegos, Antônio Cariry

6/3/2011

Felipe e Maria Fernandes Leite são deficientes visuais, mas não medem esforços para atuar como líderes

Acopiara. Uma linda história de superação, vontade de viver e de fazer o bem vem do Sítio Quebra, localizado na zona rural deste Município, na região Centro-Sul do Ceará. Os irmãos Felipe e Maria Fernandes Leite (Leidinha) são deficientes visuais congênitos, mas não medem esforços para atuar como líderes comunitários e orientadores da Pastoral da Criança e como catequistas.

Somente no ano passado, tiveram a oportunidade de estudar Braile, na Escola de Ensino Fundamental Padre João Antônio, pois a Secretaria de Educação do Município e o Estado não ofereciam ensino especializado para alunos com deficiência visual. Poucos meses depois de frequentarem a sala de aula já surpreenderam os professores com o aprendizado rápido e formação de amizades.

Felipe Fernandes também teve a oportunidade de aprender xadrez, na escola, graças ao projeto do professor de História, Antônio Cariry. Aprendeu rapidamente e já obteve o título de bicampeão da escola, enfrentando alunos com visão normal. Os irmãos têm sonhos distintos. Felipe quer ser jornalista esportivo e enxadrista. Já a irmã almeja ser assistente social. Ambos, entretanto, concordam em um ponto: já realizaram o primeiro grande sonho de suas vidas, que era começar a estudar.

Mudança

Após ingressarem na escola, muitas coisas mudaram na vida desses dois irmãos que moram em uma simples casa, no Sítio Quebra, um lugar calmo, agradável, no sopé da Serra Montimó, no limite com o Município de Piquet Carneiro, e onde estão instaladas antenas repetidoras de sinais de TV e telefonia. Eles passaram a alimentar novas esperanças, gostam da escola, dos colegas e dos professores. O ensino trouxe-lhes expectativas e proporcionou-lhes uma excelente terapia ocupacional. O dia a dia dos irmãos mudou. Antes, eles permaneciam quase o tempo todo em casa, mas agora saem três vezes por semana para a escola, no transporte escolar contratado pelo Município que leva alunos do campo para estudar na cidade.

Os dois dividem a sala de aula especial com mais três colegas deficientes visuais, às segundas e quintas-feiras. Estão aprendendo a ler e escrever em Braile. "Já conhecemos as sílabas, mas ainda não dominamos a escrita", observa Leidinha. Aprendem rapidamente noções de matemática, as casas decimais e fazem conta com apoio de um instrumento manual, o Soroban, que é o ábaco japonês, utilizado há séculos para efetuar operações matemáticas.

Em casa, passam horas seguidas treinando e fazendo cálculos com a ajuda do Soroban. Rapidamente, aprenderam e impressionaram a professora Heloíde Ferreira de Melo. "Trouxe o Soroban para casa em um fim de semana e na aula seguinte já sabia calcular", contou Felipe Fernandes. "A nossa professora ficou admirada".

Os irmãos vivem os momentos de alegria na escola. Leidinha faz questão de lembrar que vão ter aula de Filosofia, Sociologia e outras disciplinas. "Quero concluir os meus estudos e depois fazer o vestibular para Serviço Social", frisou.

Leidinha Fernandes dá continuidade às atividades voluntárias de professora de catequese e líder comunitária da Pastoral da Criança, no Sítio Lagoa. Com a ajuda de outros integrantes da instituição, visita as casas das gestantes e mães e dá orientações sobre os cuidados básicos de higiene, alimentação, incentivo ao aleitamento materno, posição correta da criança dormir e vacinação. "Dou as orientações, faço perguntas e uma amiga faz as anotações na ficha", explicou ela.

Aos domingos, Leidinha dedica-se aos encontros com jovens, à catequese e dá palestras de incentivo aos jovens a participarem das missas e atividades da igreja. "Eles me respeitam muito e alguns dizem que querem ser catequistas por minha influência, e isso me deixa muito feliz", disse. "É uma semente que estou plantando e que dará bons frutos".

Felipe Fernandes também desenvolve atividades voluntárias e é um dos pregadores nos encontros de jovens e da comunidade. É também líder da Pastoral da Criança e desenvolve ações nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). "Sou pregador da palavra de Deus, faço os comentários após a leitura do Evangelho", comentou ele. "Aprendi ouvindo outras pessoas, o rádio e a TV".

Vencedor de xadrez

Na escola, Felipe Fernandes encontrou a oportunidade de aprender xadrez. "Não sabia como era esse jogo e nunca havia pegado em um tabuleiro", contou o estudante. Graças ao professor de História e de atividades lúdicas, Antônio Cariry, descobriu habilidades e paciência no aluno especial, que montou um quebra-cabeça de relativa dificuldade, apresentou o jogo de xadrez, que logo o desafiou e o encantou.

Resultado: em menos de um ano, Fernandes chegou a ser bicampeão em torneio escolar, disputando com alunos com visão normal. O tabuleiro é apropriado para os deficientes visuais. É reduzido, tem uma casa lisa e outra áspera e há limitações em jogadas das peças, em comparação com o jogo convencional. "Estou gostando muito", disse. "É surpreendente".

DEDICAÇÃO

Jovens são motivo de orgulho para a família

Acopiara. Na escola, os irmãos Felipe e Leidinha Fernandes logo despertaram o carinho e a atenção dos colegas e dos professores, na Escola de Ensino Fundamental Padre João Antônio. "São alegres, gostam de participar das atividades culturais, das festas comemorativas e com facilidade fazem amizades", disse a diretora geral, Silvana Mandu. "Eles apostam na escola e tudo mudou na vida deles após a acessibilidade aos estudos".

A coordenadora financeira da escola, Claudete Pinho, diz que os irmãos são muito queridos pelos alunos. "Eles recebem o carinho de outros estudantes e têm facilidades de socialização". A escola, desde 2009, abriu oportunidades para alunos especiais ao instalar o Laboratório de Educação Especial e acolher, inicialmente, cinco alunos com deficiência visual. Faz parte do projeto educacional de inclusão. A professora de Braile, Heloíde de Melo, contou que em 2008 participou de um treinamento pela Secretaria da Educação Básica do Estado (Seduc) e ficou encantada com a oportunidade de ensinar alunos com deficiência visual. "Fiquei apaixonada e descobri que queria seguir com dedicação essa nova atividade", disse. "Quero orientá-los o melhor possível".

Heloíde lembra que os irmãos são alunos nota dez e que ficou surpresa com a inteligência e o esforço de cada um. "São habilidosos, têm espírito de vontade e são esforçados, treinam em casa". O professor de História e de atividades lúdicas, que desenvolveu o projeto de ensino de xadrez para alunos cegos, Antônio Cariry, observou que Felipe Fernandes tem talento nato e capacidade de aprendizagem incomum. "É um gênio, joga bem e até venceu um professor do Ensino Médio. Vai desenvolver bem. Acredito que Felipe ainda será campeão de xadrez. Ele tem talento".

A mãe e professora de educação infantil, Alzinete Leite de Oliveira, mostra-se feliz com a aprendizagem dos filhos e o desejo deles de avançar nos estudos até uma formação de nível superior. Para o agricultor e pai, Sebastião Fernandes, "são alegres, e nos fazem felizes, pois, para nós, são eficientes".

MAIS INFORMAÇÕES

Escola de Ensino Fundamental Padre João Antônio
Av. Paulino Félix, 214, Centro
Telefone: (88) 3565. 1036


Honório Barbosa

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