O padre alberto Angel Zanchetta, que em 2009 se aposentou como capitão de fragata e capelão da Marinha, é acusado de ter abençoado os voos da morte por meio dos quais presos políticos e desaparecidos eram lançados ao mar durante a última ditadura argentina. No último domingo, Zanchetta foi denunciado publicamente por jovens militantes peronistas e familiares de desaparecidos enquanto rezava missa em uma paróquia de Buenos Aires. Os moradores da região pediram sua remoção imediata da paróquia.
Stella Calloni - La Jornada
Um padre que abençoava militares argentinos e  os voos da morte por meio dos quais a ditadura jogava presos  políticos-desaparecidos vivos no mar, foi localizado por jovens  militantes em uma paróquia de San Martín, na província de Buenos Aires, e  denunciado publicamente enquanto rezava a missa. O padre Alberto Angel  Zanchetta, que em 2009 foi aposentado como capitão de fragata e capelão  da Marinha, continua exercendo o sacerdócio em paróquias da capital  argentina e arredores, apoiado pelo cardeal Jorge Bergoglio.
Entre  os anos 1975 e 1976, Zanchetta serviu na Escola de Mecânica da Armada  (ESMA), considerada o maior centro clandestino de detenção da ditadura e  onde desapareceram cerca de 5 mil pessoas. Depois que o Ministério da  Defesa, comandado pela advogada Nilda Garré, determinou a remoção de  Zanchetta em 2009, o jornal Página/12 descobriu-o em uma igreja do  antigo bairro de San Telmo.
Diante do escândalo, a cúpula da  Igreja Católica enviou-o para Itália por um tempo e acreditando que tudo  havia caído no esquecimento, decidiu reintegrá-lo à paróquia da  localidade de 3 de fevereiro, próxima da de San Martín, onde ele foi  novamente localizado por familiares dos desaparecidos e sobreviventes.  No dia 6 de março, o padre foi enviado então para a paróquia de San  Martín, mas ele foi mais uma vez localizado por familiares de  desaparecidos que alertaram os moradores do lugar.
Quase ao  terminar a missa, no último domingo, um grupo de militantes da Juventude  Peronista Evita e familiares de vítimas seguiram atentamente seu  sermão, carregado de intrigas políticas. Um dos jovens levantou-se,  interrompeu a missa e disse a todos os assistentes que aquele padre  havia estado na ESMA durante a ditadura, enquanto seus companheiros  distribuíam um panfleto contendo um alerta aos moradores. “Na igreja de  seu bairro um assassino está rezando a missa” – denunciava o panfleto.
No  dia seguinte, integrantes da Pastoral Social pediram ao bispo da região  que retirasse Zanchetta da paróquia. A comunidade espera agora uma  decisão da Cúria, enquanto seguem aparecendo cartazes dizendo que, como  aconteceu com os nazistas, os assassinos da ditadura serão buscados não  importa onde forem.
No livro El vuelo, de Horacio  Verbistky, o ex-capitão da Marinha, Adolfo Scilingo – preso atualmente  na Espanha – fez sua primeira revelação sobre sua participação nos vôos  da morte. Ele relatou que no regresso do primeiro vôo em que atuou  jogando pessoas ao mar se sentiu muito mal e se aproximou de um capelão  da Marinha, que o acalmou dizendo que era uma morte cristã porque as  vítimas não sofriam.
A organização Hijos (de desaparecidos)  solicitou a um juiz federal que denuncie Zanchetta, que juntamente com  outro capelão, Luiz Antonio Manceñido, são apontados como confessores  dos militares da Marinha, já tendo sido reconhecidos por sobreviventes.
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior

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