sábado, 15 de janeiro de 2011

Um dia a Terra poderá adoecer....


“Um dia a Terra poderá adoecer,

as aves poderão cair do céul

os mares vão obscurecer,

os peixes morrerão nos rios.

Quando chegar esse dial

todas as raças se unirão

sob o símbolo do arco-íris

para combater a destruição”

Esta profecia foi proclamada, cerca de 200 anos atrás, por uma mulher. Ela era uma indígena anciã, da nação Cree, na Amé­rica do Norte. Suas palavras comoveram profundamente seu povo, que lhe deu o nome de Olhos de fogo.

Olhos de fogo, tornou-se um símbolo.

A organização mundial pela defesa do meio ambiente, o Greenpeace, deu este nome a um navio porta-bandeira de sua frota que, ininterruptamente, navega e se faz presente lá onde a vida na Terra está ameaçada. Olhos de fogo, dá voz à nossa voz.

Olhamos o que acontece no mundo: a falta de cuidado com a pre­servação do meio ambiente coloca em risco a vida. Rios, plantas, água, ar, animais, saúde, tudo acaba sendo ameaçado e destruído.

Os movimentos ecológicos lutam para preservar o equilíbrio des­ feito da natureza, para que a vida possa ser preservada.

Olhos de fogo e a Palavra de Deus que lemos na Bíblia nos ajudam a ter olhos penetrantes para perceber a presença de Deus na vida, de um Deus que ama a vida.

Olhos de fogo nos traz a memória, a visão do Filho do Ho­mem do Apocalipse (l,14b), juntos nos pedem resistência, nos pe­dem compromisso com a proposta de Jesus "Que tudo no univer­so tenha vida e vida em abundância" (Jo 10,10).

A narrativa do dilúvio inspira-se nas inundações provocadas pelos grandes rios no antigo Oriente Médio. Na sua origem ele remonta a um ou mais acontecimentos reais, as enchentes catas­tróficas que provocavam muitos danos nas antigas cidades da Mesopotâmia, onde hoje é o Iraque. Hoje conhecemos muitas narrações semelhantes, patrimônio dos povos com os quais o povo de Israel compartilhou sua origem e viveu. Inclusive o Mito da Terra sem Males, dos Povos Indígenas aqui do Brasil, tem elemen­tos comuns com a narração bíblica.

A destruição vem do agir dos poderosos, que na sua ganância planejam e realizam seus planos de acúmulo de bens, mesmo que isso cause destruição e morte, ao tomar consciência de sua maldade e violência, tem medo de que Deus se possa cansar e retirar seu amor. Este pensamento é como um pesadelo. Então projeta este medo criando um Deus que castiga e destrói.

A humanidade conhece sua capacidade de maldade e vio­lência e por assim dizer tem um pesadelo: tem medo que Deus possa se cansar e destruí-Ia. Então projeta este seu medo num Deus que destrói tudo. Nesta projeção, atrás deste Deus que cas­tiga, na realidade existe o agir dos poderosos que na sua ganân­cia planejam e realizam seus planos de acúmulo de bens, mesmo que isso cause destruição e morte.

Esta narração ajuda a humanidade a sair deste pesadelo. O Deus do dilúvio, de quem temos medo, desaparece junto às águas do dilúvio e deixa o lugar ao Deus do arco-íris, com quem a hu­manidade e todos os seres vivos fazem aliança.

A narração do dilúvio prepara o caminho para o Deus do arco-íris.

O arco-íris pendurado entre as nuvens é o sinal do pacto que Deus faz com Noé, com toda a sua descendência e com toda a vida nas suas diversas formas. É o compromisso de Deus com a vida, mas não somente isso.

Os antigos imaginavam Deus como guerreiro que lançava suas flechas nos céus, com seu arco. O arco pendurado no céu é um sinal de paz.

Deus que pendura um arco no céu nos convida a pendurar nossos arcos de destruição e violência.

Deus que pinta no céu o arco-íris nos convida a pintar no cotidiano as cores da diversidade da vida.

Deus que tece no universo, redes infinitas de relações nos convida a recriar as relações.

Deus que faz da água do dilúvio uma água de vida nos convida a recusar tudo àquilo que ameaça a vida do planeta.

Deus que assegura que nunca mais haverá destruição pede a nós a conversão de vida em relação ao cuidado com a natureza.

Deus que faz do arco-íris e da pomba sinais de paz nos chama a viver a aliança da vida plena e abundante

Na Bíblia, do começo ao fim, o que mais se combate é o ídolo, o falso deus, que impede ao ser humano a relação com o Deus vivo e verdadeiro. A dominação do poder econômico, poder que cria ídolos, que ideologiza estruturas e instituições, poder que arrasta na destruição a humanidade e a natureza.

A profecia e a apocalíptica deram voz a setores da popula­ção, reduzidas ao silêncio por essas instituições dominantes, Por meio delas puderam denunciar e falar corajosamente contra esse sistema: caiu, caiu Babilônia, a grande cidade.

A organização mundial dentro do sistema neoliberal se co­ loca na corrente dos sistemas que se divinizam. Criou novos ído­los que não são questionados e diante dos quais se sacrifica a vida e em defesa dos quais se desintegra a natureza, destruindo rios, plantas, animais, florestas, mares.

O lucro é o ídolo, pai de todos os outros, frente ao qual é necessário dobrar-se para que o sistema possa funcionar e sobreviver.

A apocalíptica como a profecia, assegura-nos novo céu e nova terra, mas a narração da destruição do mundo apresentada pelos ecologistas não assegura esta renovação. Os humanos

usur­param o poder sobre as forças que fundamentam a vida do plane­ta de tal modo que o processo parece irreversível.

A cultura cien­tífica nos ajudou a perceber que Deus não está além da natureza, e a não esperar que uma força de vida não ligada à biosfera intervenha para renovar a terra que destruímos. Ajudou-nos a per­ceber que não existe outro mundo, no céu, para onde pode­ mos fugir.

Não temos outra casa além da terra. Esta é a nossa casa. Destruí-la é nos destruir.

O poder humano assumiu uma nova e atemorizante res­ponsabilidade: nosso poder de ser agentes de destruição da terra significa poder ser transformado em poder de ser agentes de vida, podemos aprender a ser co-criadores antes que esta destruição seja definitiva.

Ser co-criadores não pode acontecer numa rela­ção de inimizade e domínio para com a natureza. Podemos construir nossa existência de modo construtivo ou destrutivo.

Somente compreendendo como opera o tecido da vida podemos aprender a conservá-lo em lugar de destruí-lo.

O reconhecimento dos ídolos, que a sociedade moderna edificou como no passado, não é uma simples atividade intelectual, mas uma conversão no sentido pleno da palavra – uma conversão do nosso espírito, da nossa cultura, da nossa tecnologia das nossas relações sociais, sobretudo das estruturas econômicas e políticas, de modo que a humanidade exista na natureza para promover a vida.

A conversão deve acontecer rapidamente. Não temos milhões de anos para desaprender esquemas e modos de vida erra­ dos que estabelecemos ao longo de séculos.

Acostumados a reagir a desastres ecológicos limitados, mas não aprendemos, a não repetir os mesmos erros.

A conversão nos encaminha para uma espiritualidade e uma ética que nos ajude a reconhecer o ídolo moderno do lucro nas suas ramificações: danificação ambiental do ar, da água e do solo; a miséria crescente dos pobres; a militarização global que defende de as riquezas de uma elite depredando as reservas da natureza, que criam cenários de catástrofe.

Espiritualidade deve nos ver, empenhado/as a lutar para reconciliar a justiça nas relações humanas com uma comunidade de vida sobre a terra.

Nas CEBs desde sempre buscamos reciclar a vida, estamos mostrando nossa face, saindo em defesa do Meio Ambiente, estão acontecendo mobilizações das CEBs em todos estados do Brasil em defesa da natureza, estamos diante de uma grande largada, unindo-nos de norte a sul, de leste a oeste, em toda nação, colocando nossas vozes para serem ouvidas.

Grandes eventos para dar muita visibilidade a seriedade com que se deve cuidar da saúde do único lugar que temos para viver, nossa casa Mãe Terra, estão sendo organizados.

Temos certeza absoluta de que há necessidade de envolvermos todos, todos habitantes mesmo, pois caso contrario chegara o momento no qual não havera mais retorno.

Muitas tragédias acontecerão de fato, mas se a população estiver envolvida na elaboração de uma sociedade menos consumista, se for organizada e planejada, orientada e articulada, vidas serão poupadas.

Imensa necessidade de sociedade e governo caminharem juntos na construção de um outro mundo possivel, de um consumo possivel, de voltarmos a ter alegria natural, não a conduzida por toneladas de fogos de artificio, por muitos decibéis, por muitas luzes com gasto de milhões de kilowatts, movida a" zilhões "de galões de gasolina e alcool. Precisamos ter consciência ecológica e ambiental sempre.

Uma criança me disse, eu sei o que é ecologia: "é o eco da lógica, é repetir o que vem da razão, do que esta certo"...

Utilizado escritos de Carlos Merters

2006 - pensando o Paulistão das CEBs

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