Submetido às forças da natureza, o que é sólido se desfaz em instantes. O tempo de vida, uma promessa cada vez mais longa para os humanos, pode esvair-se numa ínfima fração de tempo.
Diante de situações que não controlamos, não há muito o que fazer.
O planeta, desde que começou a abrigar as primeiras formas de vida, nunca foi lugar seguro para nenhuma espécie - 90% delas já desapareceram, dizem os cientistas.
O que leva à conclusão de que o destino de todos os seres vivos é a inevitável extinção e o surgimento de outras espécies. Pelo menos até o desaparecimento do Sol, previsto para daqui a uns 5 bilhões de anos, quando também os planetas em seu entorno serão pulverizados.
Mas o ser humano tem acelerado o relógio do tempo, desnecessariamente. Porque elegeu um modelo de sociedade que destrói rapidamente o próprio habitat.
Ao interferir de forma tão contundente na natureza, desencadeou reações cada vez mais frequentes e de incontrolável agressividade: enchentes, deslizamentos, secas e incêndios - entre outros fenômenos naturais.
A ação humana tem sido o estopim de muitas tragédias anunciadas: pela ocupação desordenada de encostas e áreas inundáveis; pela falta de distribuição de renda e políticas habitacionais, que empurram os mais pobres para áreas de risco; pela inexistência de projetos adequados para a destinação dos resíduos sólidos; pelo desmatamento; pela desordenada ocupação urbana; pela poluição industrial; pelo incessante apelo à compra de bens materiais que degradam o solo, o ar e a água.
Os meios de comunicação culpam os governos pela falta de obras de prevenção, mas nada dizem sobre o estímulo que produzem à sociedade de consumo.
O ser humano criou um estilo de vida que se transforma numa espécie de lento suicídio coletivo. Nos últimos 300 anos, aproximadamente, acionou um motor que pode vir a ser o da própria extinção.
Durante milênios, viveu com muito pouco. Há algumas gerações, desde as primeiras máquinas a vapor até a mais informatizada delas, desencadeou um modelo de sociedade baseada na substituição frenética de bens de consumo - para muito além das necessidades básicas -, que provoca danos ambientais em escala sem precedentes.
Os avisos não param de chegar. Estudo recém-publicado pela revista científica Nature diz que o aumento das emissões de dióxido de carbono (CO²) terá impacto sobre as temperaturas da Terra pelos próximos mil anos e elevará em quatro metros o nível das águas do mar.
Uma catástrofe com consequências devastadoras e imprevisíveis em sua extensão, pois há de modificar rapidamente todo o ecossistema sobre o qual a vida se sustentou até aqui.
O sal dos oceanos irá contaminar boa parte do lençol freático. Haverá drástica redução dos recursos de água potável. A temperatura dos oceanos sofrerá impactos que irão dizimar boa parte da vida marinha. O equilíbrio entre espécies entrará em colapso.
Algumas irão proliferar caoticamente, outras desaparecerão. A irregularidade de sol e chuva terá impactos sobre a agricultura, e a fome será o flagelo de milhões. Epidemias e doenças até então desconhecidas irão proliferar numa velocidade maior do que as respostas da ciência. Mortos se empilharão por toda a parte.
Alarmismo? Estamos tão anestesiados em nosso mundo virtual e material que desprezamos os avisos da natureza. E de milhares de cientistas, que alertam para consequências devastadoras.
Especialistas dizem que os fenômenos climáticos de grande intensidade serão cada vez mais frequentes e de maior magnitude. Apesar de todas as evidências da mão humana ter aberto essa Caixa de Pandora, poucas pessoas parecem dispostas a questionar a ideologia de consumo que desencadeia muitos desses desastres.
Há reações tímidas na construção do chamado "desenvolvimento sustentável", mas ainda insuficientes para atenuar o desastre ambiental. A tecnologia pode e deve estar a serviço do bem-estar de toda a humanidade, diferente do que ocorre atualmente, voltada para gerar lucros em benefício de poucos.
O modelo de civilização precisa mudar. Não haverá futuro para o ser humano se ele não estiver em equilíbrio com a natureza. Mas a imensa maioria, quando confrontada com essa situação, prefere viver como se nada disso fosse ocorrer - ou que ainda estivesse muito distante. Nada parece perturbar a fé dos que elegeram o mercado como um novo deus e a mídia como o seu profeta.
A ideologia do "progresso" continua inabalável, apesar de a miséria e a degradação ambiental espalharem-se pelo planeta. A ciência encontrará uma resposta, confiam os cidadãos abastados, absortos em consumir a última novidade tecnológica, sem nunca perguntar quais os custos ambientais para produzir tanto luxo e tanto lixo.
Tragédias ambientais como as do Rio de Janeiro e outras tantas pelo Brasil e pelo mundo devem servir de alerta, para conscientizar de que algo está muito errado e precisa mudar. E que é preciso cobrar das autoridades e de todos os cidadãos um compromisso responsável para com as atuais e futuras gerações que habitarão o planeta.
Celso Vicenzi
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