segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Dialogo contra a intolerância religiosa, em promoção do respeito



A partir de setores ligados à Pastoral e ao Diálogo Inter-Religioso, iniciou-se a pouco tempo no cenário nacional uma importante reflexão dos aspectos que aproximam o povo AfroBrasileiro na perspectiva das Religiões de Matrizes Africanas e da tradição Católica inculturada e sintetizada. Tendo como busca conhecimentos mútuos em prol de causas envolvendo a dimensão afrodescendente, alguns encontros locais e outro nacional foram motivados por atitudes de entendimento e respeito, como 'valores universais' para o diálogo.


Analisamos que infelizmente ainda prevalecem, em muitos momentos, conflitos e oposições de ideologias por mudanças mundo afora, e em conseqüência disso, no Brasil, as relações inter-religiosas que implicam a Igreja Católica, não estão ausentes a tal situação. São muitos os assuntos em debate no cenário nacional que toca de perto alguns pontos em pauta, a começar pelas leis 10.639/03 e 11.645/08, que diz muito à questão da Promoção da população brasileira afro-indígena.

Percebemos que há realmente uma necessidade de afirmação das identidades do nosso povo, que devem ser buscadas conscientemente como passos legalmente construídos nas lutas e no trabalho realizado na prática, em prol da vida, do respeito e dignidade cada vez melhor.

Seria bom refletir que com o advento da República no Brasil, as Religiões de Matriz Africana sofrem o impacto da modificação na estrutura demográfica, bem como novas estratificações sociais. Uma vez que o negro seja camponês, artesão, proletário constitua uma espécie de subproletariado, sua religião apresentando-se diversamente ou exprimindo-se em posições diversas, com condições de vida e quadros sociais não identificáveis (cf. BASTIDE, 1989, p. 31). Disso se depreende a urgência de se ligar a questão religiosa dentro da própria noção de sociedade.

O comportamento religioso na manifestação do imaginário das pessoas negras e afrodescendentes através de quilombos e das suas práticas religiosas afrobrasileiras, hoje, sente a necessidade cada vez maior de uma ‘justificativa reparatória’ (cf. Doc. PAB, 85, ns 10, 11 e 13). Há questões que merecem ser mais bem fortalecidas quanto aos entendimentos distorcidos por desconhecimento da própria cultura afro, por parte das pessoas que se dizem religiosas dentro de mentes fanatizadas.

Adotar, hoje, esta postura de diálogo é mais que tudo uma atitude de busca por reparação social e religiosa aos cidadãos e cidadãs que durante muito tempo estiveram sob a égide da condenação em vários níveis, principalmente de intolerância.

No que concerne ao aspecto religioso, à população brasileira sempre foi declarada como notadamente católica, cristã. Apesar de campear um catolicismo popular, a Igreja Católica durante séculos manteve um sistema tradicional, culpando os abusos da democracia liberal pelos desmandos da vida moderna, distanciando dos sistemas tradicionais relacionados a vida do povo em suas expressões ‘sintéticas’ de sobrevivência. Hoje, sabemos que os/as negros/as e afro-descendentes não confundiram suas crenças com os Santos e Santas do culto Cristão-Católico. O/a negro/a, portanto, tentou não se desvestir das crenças, mesmo com as formas ‘sintéticas’ de rito.
  • Muitos negros, ao receberem o batismo compulsoriamente, mantiveram a fé cristã e a prática católica, por força da imposição e do condicionamento. Outros, no entanto, embora o tenham recebido em igual situação, entenderam que não havia oposição entre as suas tradições religiosas de origem e os elementos fundamentais da fé cristã (cf. SILVA, Antônio A., 1988, p. 12.).

Os cultos, as manifestações religiosas de Matriz africana somente foram toleradas recentemente, com as leis que favorecem o direito de culto. Contudo, ainda predomina muitas posturas intolerantes de repressão religiosa no cenário nacional.
  • Impossível imaginar, que uma nação recém-emancipada de um regime ditatorial, com todo o seu povo voltado para a reconstrução da democracia, guardasse no seu seio um bolor tão contaminado pela ganância, desfaçatez, ignorância e, principalmente, pela intolerância (cf. SANTOS, Ivanir dos. 2009, p. 11.).

A partir do que ainda pouco refletimos sobre os elementos de diálogo inter-religioso, podemos considerar que precisamos conhecer melhor o “outro” na sua cultura, religião e fé. Agindo deste modo, favorecemos um diálogo sadio, sem romper com o dinamismo da consciência, pois “a grande questão do nosso presente, caracterizado pela crise da identidade saturada de ideologia, é cada vez mais a do reconhecimento e da acolhida da alteridade e da diferença”(cf. FORTE, Bruno, 1999, p. 5.).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil contribuição a uma sociologia das interpenetrações de civilizações. São Paulo: Pioneira, 1989.DOCUMENTO - ESTUDOS DA CNBB n. 85. Pastoral AfroBrasileira. São Paulo: Paulus, 2002.


  2. FORTE, Bruno. Teologia in dialogo, Milano: Rafaello Cortina, 1999.SANTOS, Ivanir dos / FILHO, Astrogildo Esteves (orgs). Intolerância Religiosa & Democracia, 1.ed. – Rio de Janeiro: CEAP, 2009.

  3. SILVA, Antônio A. APN´s: presença negra na Igreja. In: ASSOCIAÇÃO ECUMÊNICA DOS TEÓLOGOS DO TERCEIRO MUNDO (ASETT), A História e a Fé do Povo Negro no Brasil e na América Andina. São Paulo, 1988.
Reinaldo João de Oliveira

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