sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Companheira presidenta e companheiro ministro

Não foi o choro a marca maior da posse de Dilma Rousseff, a primeira mulher presidenta do Brasil, e de Gilberto Carvalho, Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República. Foram outras duas coisas: a presença do povo e movimentos sociais e os compromissos assumidos nos seus discursos de posse.

Conheço a presidenta Dilma e o ministro Gilberto há muito tempo. No final dos anos oitenta, eu era deputado estadual constituinte no Rio Grande do Sul, primeira bancada eleita do Partido dos Trabalhadores. Éramos quatro deputados e estávamos em todas as lutas, greves, ocupações urbanas e rurais e mobilizações sociais.

Tornei-me amigo de Carlos Araújo, advogado trabalhista dos metalúrgicos de Porto Alegre, deputado do PDT. Carlos era o marido de Dilma e avô de seu neto, Gabriel. Nas greves daquele tempo, tempos ainda duros, estávamos juntos nas portas de fábrica, apoiando os metalúrgicos, trabalhadores do vestuário, bancários.

Freqüentando sua casa, conheci Dilma Rousseff, economista reconhecida, Secretária municipal da Fazenda de Porto Alegre.

Gilberto Carvalho foi seminarista nos anos setenta, como eu, que fui franciscano. Ele foi morar nas favelas de Curitiba, eu nas vilas populares da Lomba do Pinheiro, entre Porto Alegre e Viamão.

Em 1981, fui visitá-lo e conhecer seu trabalho com os pobres e trabalhadores em Curitiba. Fomos ambos da Coordenação Nacional da Pastoral Operária e fundamos juntos o Movimento Fé e Política na segunda metade dos anos oitenta.

Faço este relato histórico para mostrar e demonstrar que a presidenta Dilma e o ministro Gilberto têm fortes raízes populares há décadas. Viveram e conviveram com o povo e os trabalhadores na época da ditadura e das lutas por democracia e liberdade de pensamento e organização.

Dilma foi presa política, Gilberto aproximou-se da Teologia da Libertação e ajudou a construir as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), a Pastoral Operária e o Movimento Fé e Política. Ele chegou a trabalhar de soldador e metalúrgico no início desta trajetória.

Portanto, suas posses, além do choro, não podiam deixar de ter a presença do povo e dos movimentos sociais e só podiam ter compromissos assumidos com a justiça, o fim da miséria e da pobreza, a democracia e os direitos dos historicamente excluídos num país por séculos social e economicamente desigual, dependente e de muita injustiça.

Disse a presidenta Dilma em seu discurso de posse no Congresso no dia primeiro de janeiro de 2011: "Meu compromisso supremo é honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos. A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos. Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa, enquanto houver famílias no desalento das ruas, enquanto houver crianças pobres abandonadas à própria sorte. O congraçamento das famílias se dá no alimento, na paz e na alegria. E é este o sonho que vou perseguir!"

Continua a presidenta Dilma: "Esta não é uma tarefa isolada de um governo, mas um compromisso a ser abraçado por toda a sociedade. Para isso, peço com humildade o apoio das instituições públicas e privadas, de todos os partidos, das entidades empresariais e dos trabalhadores, das universidades, da juventude, de toda a imprensa e das pessoas de bem. É com crescimento, associado a fortes programas sociais, que venceremos a desigualdade de renda e do desenvolvimento regional. É importante lembrar que o destino de um país não se resume à ação de seu governo. Ele é o resultado do trabalho e da ação transformadora de todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que, juntos, fizermos por ele hoje. Do tamanho da participação de todos e de cada um: dos movimentos sociais, dos que labutam no campo, dos profissionais liberais, dos trabalhadores e dos pequenos empreendedores, dos intelectuais, dos servidores públicos, dos empresários, das mulheres, dos negros, dos índios e dos jovens, de todos aqueles que lutam para superar distintas formas de discriminação."

A presidenta Dilma faz um chamamento e uma convocação: "Dediquei toda minha vida à causa do Brasil. Entreguei minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Quero estar ao lado dos que trabalham pelo bem do Brasil na solidão amazônica, na seca nordestina, na imensidão do cerrado, na vastidão dos pampas. Quero estar ao lado dos que vivem nos aglomerados metropolitanos, na vastidão das florestas; no interior ou no litoral, nas capitais ou nas fronteiras do Brasil. Quero convocar todos a participar do esforço de transformação do nosso país. Para governar um país continental como o Brasil é preciso ter sonhos. É preciso ter sonhos grandes e persegui-los."

Gilberto Carvalho disse em seu discurso de posse, rodeado de lideranças dos movimentos sociais, movimento sindical, ONGs, Redes e pastorais populares: "Meu compromisso com vocês é de continuar tentando fazer a ponte, uma ponte que precisa estar alicerçada nos dois lados da margem. Nossas portas continuarão abertas como estiveram. Como nunca antes da história deste país se abriram para todos poderem entrar. A presidenta Dilma me disse que precisa de mim ao seu lado para lhe dizer as verdades, para falar das coisas como elas acontecem e para lhe trazer a sensibilidade e o sofrimento do povo e dos movimentos sociais."

Gilberto lembra com emoção: "Eu não queria me esquecer nesse momento de todos aqueles que nos ajudaram ao longo dessa luta, da construção dos movimentos sociais, da construção da resistência democrática, do movimento sindical, do PT, dos partidos de esquerda, lembrar companheiros que ficaram pelo caminho, dos companheiros que foram humilhados pela sua ideologia, dos companheiros que perderam seus empregos e suas famílias para nos permitir chegar onde estamos. Lembro de companheiros metalúrgicos cujo olhar não podia compreender a demissão que sofreram depois da greve de 1979, em Curitiba."

E faz uma convocação: "Sozinho não vou dar conta. Eu quero pedir o apoio e o diálogo de todos para que façamos um trabalho que possa ser exitoso no sentido de aprofundar a democracia, para que ela seja cada vez mais, de fato, participativa. Quero chamá-los para serem parceiros no projeto que será o governo Dilma. Nós os desafiamos e abrimos nossas portas e nosso coração."

Disse a presidenta Dilma no discurso do Palácio do Planalto: "Sob a liderança de Lula, o povo brasileiro fez a travessia para uma outra margem da história. Minha missão agora é de consolidar esta passagem e avançar no caminho de uma nação geradora das mais amplas oportunidades." E arrematou com os versos de um poeta mineiro que valem para todos e todos nós: "O correr da vida embrulha tudo: A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

Como dizemos na Rede TALHER de Educação Cidadã, nos versos de Gonzaguinha, "vamos lá fazer o que será".

Em treze de janeiro de dois mil e onze.

Selvino Heck - assessor Especial do Presidente da República do Brasil. Da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política

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