sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Violência, pobreza e desigualdade

O último Latinobarômetro indica que cresce o apoio à democracia na América Latina (61% dos entrevistados). Porém, também mostra que 27% de mortes violentas no mundo acontecem na América Latina, apesar de que sua população não atinge 9% do total do planeta. Nos últimos 10 anos, 1.200.000 pessoas foram mortas violentamente na região.

Favelas ocupadas pela polícia militar, gangues assassinas na América Central; matanças no México; 25.000 desaparecidos forçosos, assassinatos e massacres na Colômbia... Somente a Costa Rica, Cuba, o Peru, a Argentina, o Chile e o Uruguai apresentam índices abaixo do que se considera violência epidêmica: 8 homicídios por ano por cada 100.000 habitantes. A maior taxa de assassinatos do mundo se dá na América Latina.

Como explicar tão terrível realidade? Os latinoamericanos são violentos por natureza? Alguma maldição foi lançada sobre a América Latina?

A resposta é proporcionada por um estudo recente da Fundação Latinoamericana de Ciências Sociais. O relatório mostra como a pobreza, a desigualdade e a falta de oportunidades são os principais fundamentos da violência. Apesar de que o narcotráfico e o tráfico de armas ligeiras atuem como aceleradores da criminalidade assassina.

Fatos. Segundo a Organização Iberoamericana da Juventude, a metade dos mais de 100 milhões de jovens latinoamericanos entre 15 a 24 anos não tem trabalho nem possibilidades de tê-lo. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), a região tem um dos mais altos índices de emprego informal em jovens, além do que um em cada quatro jovens latinoamericanos não trabalha nem estuda. Um mundo jovem sem horizontes. Um mundo de jovens na pobreza.

Fatos. Segundo a CEPAL, nos últimos anos, a pobreza e a pobreza extrema na América Latina têm afetado e afetam uns35% da população. Quase 190 milhões de latinoamericanos. E segundo a OCDE, uns40 milhões de cidadãos caíram ou cairão na pobreza na América Latina antes de 2010 terminar.

Fatos. Segundo as Nações Unidas, existe pobreza quando as pessoas, para viver com dignidade, não podem satisfazer as necessidades básicas: alimentação suficiente, água potável, viver em habitação digna, dispor de instalações sanitárias essenciais, educação básica... O Banco Mundial quantifica essa pobreza agregando que está na pobreza extrema quem ‘vive' com menos de um dólar e um quarto ao dia e; além desse sofrimento de não dispor do necessário para viver, padece com enfermidades que não atacam aos que têm como viver bem. Ninguém nessa sociedade conta com os pobres e não conta nada para os pobres. Pobreza frequente na América Latina e no Caribe que, segundo a CEPAL, é a região mais desigual do mundo.

Fatos. Segundo o Relatório sobre a Riqueza Mundial 2010, publicado por Capgemini e Merrill Lynch, as fortunas dos latinoamericanos ricos (os que possuem mais de um milhão de dólares em investimentos financeiros, sem contar o valor de suas casas, coleções de arte ou outros bens consumíveis e duradouros) cresceram uns15% em 2009. Desde o início da crise, nos últimos dois anos, as fortunas dos latinoamericanos ricos cresceram mais do que as de qualquer outra região do mundo. São 500.000 ricos, segundo o relatório de Capgemini e Merrill Lynch. Meio milhão contra 190 milhões. Porque na economia e na riqueza, de alguma maneira, acontece como na física: a matéria não se cria e nem se destrói; somente se transforma em energia. De maneira similar, a riqueza é finita, limitada e se poucos se apropriam de tudo, muitos vão carecer de tudo. Não é matematicamente assim; porém, em muito se aproxima.

Ou seja, existem outras razões para explicar a violência na América Latina que vão além dos mitos, tópicos, falácias e meias verdades. Porque pobreza e desigualdade sempre têm a ver com morte e dor. Ou, acaso é por casualidade e má sorte que 64% dos oito milhões de mortes por câncer no mundo acontecem em regiões onde a população tem os ingressos mais baixos, que dedicam somente 5% do dinheiro na luta contra o câncer?

De coração e olhando-nos nos olhos, você poderia viver com um dólar e um quarto por dia?


Xavier Caño Tamayo
Jornalista e escritor

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