sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Taizé e a América Latina

A história de Taizé na América Latina é já bem antiga.
Começou em Novembro de 1958. O irmão Roger estava em Roma para o início do ministério do Papa João XXIII e aí conheceu um dos mais prestigiados bispos latino-americanos, D. Manuel Larrain, bispo de Talca, no Chile.
Foi o início de uma amizade profunda.
Através deste contacto, o irmão Roger descobriu os mais diversos problemas que a América Latina estava a atravessar.

A Operação Esperança

Em 1962, o irmão Roger soube que D. Larrain estava a pôr em prática um projecto sobre o qual tinha falado com ele em Roma: doar terras que eram propriedade da sua diocese de forma a criar uma cooperativa agrícola. O irmão Roger organizou uma recolha de fundos para apoiar este projecto.

Em Outubro de 1962, começou o Concílio Vaticano II em Roma. O irmão Roger encontrou outra vez D. Larrain. O Bispo informou-o de que outros bispos da América Latina tiveram a mesma intenção que ele. Um deles era o Cardeal chileno Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago: «Nós temos terras, temos gente pobre, mas não temos meios para começar cooperativas agrícolas, que no início teriam que ter apoio, mas que depois se poderiam tornar independentes.»

Em 1963, a pedido de D. Larrain, o irmão Roger organizou um fundo de Solidariedade na Europa, para «apoiar as iniciativas dos filhos do continente Sul Americano, para dar uma nova esperança de vida a mulheres e homens que a tinham perdido.» Este fundo foi chamado Operação Esperança. Doze projectos concretos de cooperativas agrícolas ou centros de formação agrária em vários países da América Latina foram colocados como objectivos, que deveriam depois multiplicar-se com o passar dos anos.

Em 1964, D. Larrain sugeriu ao irmão Roger dar outro sentido ao fundo de solidariedade: não só participar no progresso dos mais pobres, mas também no seu crescimento espiritual. Ele referiu, por exemplo, a falta de Novos Testamentos. Taizé enviou depois um milhão de cópias do Novo Testamento para a América Latina, numa nova tradução, preparada por um grupo ecuménico de peritos, o primeiro que teve em conta as especificidades idiomáticas da América Latina. Esse Novo Testamento, finalizado em 1968, foi enviado para todos os bispos do continente, segundo o número de habitantes. Novos Testamentos foram também enviados para Igrejas Protestantes, na proporção do número dos seus membros baptizados. Uma nota sugeria que cada leitor lesse o Novo Testamento para outras dez pessoas.

No ano seguinte, uma edição similar do Novo Testamento foi preparada em português, e quinhentas mil cópias foram distribuídas em idênticas condições no Brasil.

Uma fraternidade de irmãos no Brasil

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Desde a década de 1950, irmãos da comunidade são enviados em pequenos grupos para viverem em fraternidades entre os mais pobres. No fim do Concílio, surgiu uma questão: será que deveria haver uma fraternidade destas na América Latina? Por causa dos laços com o D. Larrain e com outros bispos chilenos, o Chile parecia ser o local indicado. Alguns irmãos prepararam-se para ir. Um mês antes da sua partida para o Chile, o abade Beneditino de Olinda, no Brasil, passou por Taizé e pediu ao irmão Roger, em nome do Bispo do Recife, Dom Hélder Câmara, para enviar irmãos para viverem em Recife. O Brasil tornou-se então o destino escolhido. Desde os inícios de 1966, os irmãos viveram com alguns jovens monges beneditinos perto do mosteiro de Olinda.

Mais tarde, os irmãos mudaram-se para Vitória, mais a sul, onde viveram de 1972 a 1978. Em 1978, voltaram para o norte, mais uma vez, e estabeleceram-se em Alagoinhas, no estado da Baía. Aí partilham as vidas e problemas de uma vizinhança pobre, tomando conta de crianças, apoiando a criação de escolas para crianças com deficiência e acolhendo pessoas para retiros e encontros.

O irmão Roger na América Latina

Em Agosto de 1968, o irmão Roger foi convidado pelo Papa Paulo VI para ir com ele no avião papal para Bogotá, na Colômbia. Houve outro irmão que o acompanhou, que permaneceu na Colômbia para a Conferência Geral de CELAM em Medellín, na qual participou como observador. Durante a sua estada em Bogotá, o irmão Roger viveu numa favela.

Em Janeiro de 1975, depois de participar no encontro de jovens em Guadalajara, o irmão Roger esteve no Chile com dois irmãos, um ano e meio depois da revolta militar. Mais uma vez ficou num bairro pobre.

Voltou ao Chile com irmãos e jovens em Novembro – Dezembro de 1979, e esteve em Temuco, numa barraca, entre os Índios Mapuche. Foi lá que escreveu «Itinerário de um Peregrino». Passou a noite de Natal numa prisão feminina em Santiago.

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Em Fevereiro de 1979, o irmão Roger foi convidado como observador para a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Puebla, México, onde esteve com dois irmãos.

Em Novembro-Dezembro de 1983, foi pela última vez à América Latina com alguns irmãos, parando no Haiti e na República Dominicana. Aí escreveu a «Carta do Haiti».

Encontros de jovens

O Concílio de Jovens foi lançado em Taizé em 1970. Com vista à sua preparação, a partir de 1973 alguns jovens começaram a viajar pela América Latina, organizando encontros no México, Argentina, Peru, Colômbia, Paraguai e Brasil.

O mais importante desses encontros teve lugar em Dezembro de 1974 em Guadalajara, no México, na presença do irmão Roger. Este foi o primeiro encontro de Taizé em que os participantes foram acolhidos por famílias, num bairro. Esse tipo de acolhimento tornou-se no modelo para futuros encontros, na Europa e noutros continentes.

Estes encontros continuaram até aos finais dos anos 1970. O Concílio de Jovens terminou em 1979 e foi substituído pela «Peregrinação de Confiança através da terra». Naqueles anos houve um grande hiato nos encontros na América Latina; eles começaram novamente no Brasil em 1997: os irmãos de Alagoinhas começaram a organizar um encontro anual em diferentes locais do país.

Em Outubro de 1998, dois irmãos participaram num encontro Sul Americano de jovens no Chile. Animaram orações na Igreja de São Francisco, em Santiago, e também participaram no Congresso Latino-Americano da CELAM na cidade de Punta Tralca.

Depois, alguns encontros de jovens foram acolhidos em 1999 e 2005 no México como etapas da «Peregrinação de Confiança», e na América Central em 2006.

O primeiro Encontro Internacional de Jovens na América Latina, em Cochabamba

Respondendo a um convite do Bispo de El Alto, na Bolívia, os irmãos prepararam um encontro de jovens nesta diocese em 2004.

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Mais tarde, depois de visitas à Bolívia e encontros com vários bispos, foi tomada a decisão de acolher um encontro internacional de jovens em Cochabamba, em Outubro de 2007. Preparado durante meses com paróquias e famílias da cidade e sua envolvência, este evento juntou 7000 participantes de diferentes partes da Bolívia, de todos os países da América Latina e de vários países da Europa. O irmão Alois, sucessor do irmão Roger como prior de Taizé, escreveu a «Carta de Cochabamba». Aqui, por causa da presença de 300 jovens Chilenos, cresceu a ideia de acolher um segundo encontro internacional na América Latina três anos depois, em Santiago.

Jovens da América Latina em Taizé

Desde os finais dos anos 1980, organiza-se um intercâmbio regular entre Taizé e jovens da América Latina. Primeiro foram jovens chilenos, argentinos e brasileiros que vieram visitar a colina, por um período de três meses, para participar em encontros de jovens. Hoje vêm a Taizé jovens de quase todos os pontos do continente. A riqueza da vida comunitária, a regularidade na oração e a descoberta da universalidade da Igreja permanecem para eles valores muito importantes, que os ajudam a renovar o seu compromisso com a Igreja e com a sociedade ao regressar a casa.

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