Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará homenageia, anualmente, uma pessoa ou entidade que mais tenha se destacado na defesa dos direitos humanos. Presidida pelo pedetista Heitor Férrer nos últimos quatro anos , a Comissão tem acertado em cheio na escolha dos agraciados.
Em 2007 o homenageado foi D. Edmilson da Cruz, ex-bispo auxiliar de Fortaleza à época de D. Aloísio Lorscheider e bispo emérito de Limoeiro do Norte;
em 2008 foi a vez do professor e padre Manfredo Oliveira;
no ano passado, in memorian, foi Wanda Rita Othon Sidou, advogada de presos políticos das mais aguerridas, defendeu a maioria dos perseguidos pela ditadura militar no Ceará, a mim inclusive.
Este ano, a sensibilidade do deputado Heitor Férrer mais uma vez fez justiça e mereceu os aplausos de todos ao indicar e escolher por unanimidade da Comissão o padre Moacir Cordeiro Leite, figura muita querida em todo o Ceará e comprometido desde sempre com a defesa dos direitos humanos.
Ao contrário da grande maioria dos seus colegas, padre Moacir ingressou no seminário já adulto, fazendo Filosofia e Teologia em Olinda – Pernambuco e não em Fortaleza. Mas foi ordenado por D. José de Medeiros Delgado, em seis de janeiro de 1966, na Catedral Metropolitana de Fortaleza. Do dia da sua ordenação até 1970, trabalhou com a Juventude da Arquidiocese de Fortaleza, apoiando e sempre estando presente na luta dos estudantes secundaristas e universitários contra a ditadura militar, conquistando as mentes e os corações daquela juventude e dos democratas que buscavam a liberdade e a justiça.
Em 1970, padre Moacir foi morar no aprazível município de Aratuba, no Maciço de Baturité, com outra extraordinária figura, o padre José Maria Cavalcante. Ali foi pároco durante 32 anos, trabalhando na formação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e na Comissão Pastoral da Terra (CPT). Defensor intransigente da reforma agrária, angariou a simpatia dos camponeses, mas ao mesmo tempo o ódio mortal dos latifundiários e das oligarquias políticas que passaram a persegui-lo. Mas ele nunca se intimidou e contou sempre com o irrestrito apoio de D. Aloíso Lorscheider, cardeal arcebispo de Fortaleza e figura muito respeitada, e de todos os democratas cearenses.
Há oito anos no município de Cascavel (litoral leste cearense), na primeira missa após sua posse naquela paróquia, em 24 de fevereiro de 2002, Padre Moacir aboliu as taxas por ocasião dos sacramentos: batismo, casamento, missas e até batistérios. O dízimo sem taxas começou a mudar a participação na Paróquia. Mudou completamente os festejos dos padroeiros, excluindo a venda de bebida alcoólica, bingos, rifas, taxas de barracas, e com isso crescendo a parte religiosa e espiritual dos fieis.
Desde sua ordenação sacerdotal, ele tem sido um ferrenho defensor da Teologia da Libertação, priorizando a atuação junto aos excluídos. A denúncia da concentração da renda e da terra foi uma constante em sua atuação, fortalecendo a luta pela reforma agrária que ganhava sempre mais adeptos. Isso resultou na desapropriação das fazendas Cajueiro, Vídeo, Jardim, Caiçara, Alegre, Santa Helena, Transval, Logradouro I, Logradouro II, Tiracanga I, Tiracanga II, Carnaubal, Nova Vitória, Armadores, Grossos, Entre - Rios e Ipueira das Vacas.
A ação do Padre Moacir no trabalho de conscientização dos trabalhadores e pequenos proprietários rurais tem rendido muitos frutos. Tanto assim que os seus paroquianos não embarcaram na canoa furada de alguns padres e bispos conservadores que fizeram o jogo da direita nas eleições presidenciais deste ano. Moacir sempre condenou a homofobia, a hipocrisia e todo tipo de preconceito, defendendo acima de tudo os direitos humanos. Daí o reconhecimento de quem o conhece.
Como acontece anualmente, a entrega da Medalha será no plenário da Assembléia, às 15 horas do dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. Na mesma solenidade, o conselheiro Narciso Fernandes, da Comissão Especial da Anistia do Ministério da Justiça, proferirá palestra sob o tema Anistia Política Hoje no Brasil.
Certamente, o plenário 13 de Maio, da Assembléia Legislativa, deverá ser pequeno para acomodar tanta gente que irá prestigiar o evento e abraçar esse grande defensor dos direitos humanos.
Messias Pontes
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