Dom Aloísio Lorscheider, cardeal franciscano falecido em 23 de dezembro de 2007, alertava em suas reflexões sobre a necessidade de a Igreja Católica ser preferencialmente "dialógica" e "atualizadora". Há explícito, nas palavras do bispo, uma crítica ao retorno centralizador de Roma pelas mãos do papa João Paulo II e o então cardeal Joseph Ratinzinger. O religioso brasileiro, no último ano de vida, reafirmava sua extrema decepção com o sufocamento dos avanços conquistados no Concílio Vaticano II(...)
"Nós de fato achamos que nestes últimos anos voltamos para a era pré-conciliar. E há toda uma tendência nesta linha. E, às vezes, a gente sente isto até na celebração da eucaristia. Há uma tendência de querer voltar a celebrar até de costas para o povo. O motivo que se alega para tanto é que o celebrante estaria se dirigindo a Deus e que o outro modo (conciliar) seria muito horizontal", reclamava dom Aloísio.
O recrudescimento à linha de atuação "vertical" de Roma (pós João XXIII e Paulo VI), segundo Lorscheider, trouxeram de volta o erro da supervalorização da Igreja como estrutura e do culto aos títulos honoríficos. O retorno ao "institucionalismo" em desfavor do incentivo ao protagonismo dos leigos precisa ser mais discutido e analisado pelas forças vivas da Igreja. Poderíamos nos perguntar: Que modelo de Igreja queremos construir? Uma Igreja essencialmente comunitária, missionária e profética ou uma Igreja tradicionalista, alienante e desvinculada das lutas populares?
Em entrevista ao jornal "O Povo", dom Aloísio não poupa críticas a pelo menos três documentos da Igreja, ao medo de Roma em permitir o ensino da teologia a leigos (principalmente leigas) e à formação precária de padres no Brasil. "Predomina muito mais o perfil tradicional, o padre que sempre existiu. Não existe, por exemplo, um perfil mais missionário. Existe o padre de sacristia, sacramentalista. Sacerdócio como fermento de massa, sal para o mundo, luz da terra, este se vê pouco presente".
Sete aspectos devem ser levados em conta, segundo as palavras do cardeal, para que a Igreja exerça com eficácia a sua missão evangelizadora neste mundo secularizado:
1 – “Nós ainda não conseguimos formar pessoas livres, responsáveis, conscientes. A ideia de que nós criamos a história e de que cada um contribui para escrever esta história é sumamente importante para ajudar as pessoas a crescerem. Pessoas livres, pessoas francas – isso deveria existir também na Igreja: no meio da comunidade eclesial deveria haver mais possibilidade de ser franco e de opinar, de não ter medo. Existe um certo analfabetismo que não consiste apenas em não saber ler e escrever, mas em não possuir um senso crítico da vida.”
2 – “Devo mencionar uma das grandes tendências mundiais que é o do ‘secularismo’, que é a visão do mundo e do homem que exclui a necessidade de recorrer à transcendência ou à religião para fundamentar as instituições sócio-políticas. Devemos manter a noção cristã de ‘encarnação’, isto é, a crença de que nós contemplamos a graça, a verdade e a glória da divindade ligada à humanidade, de que Deus mesmo armou sua tenda em nosso meio.”
3 – “Outra tendência mundial é a do ‘relativismo ético’: inúmeras pessoas hoje consideram as noções de ‘certo’ e ‘errado’, de ‘bem’ e ‘mal’ passíveis de interpretações subjetivas. Alguns chegam a negar qualquer possibilidade de afirmar valores universais. Devemos procurar visar melhor o equilíbrio, a harmonia entre a normatividade objetiva – válida para os coletivos humanos – e as máximas subjetivas, válidas para a minha conduta particular.”
4 – “Estamos diante do desafio de repensar, na América Latina, a tal da globalização. Pois, simultaneamente à globalização das estruturas econômicas ocorre a imposição global de uma única cultura materialista e consumista que está suplantando, lentamente, as diversas culturas tradicionais dos povos.”
5 – “Ao invés de um consumismo acrítico a desenfreado, necessitaremos promover uma distribuição eqüitativa dos bens deste mundo. Este desafio nos remete à doutrina social da Igreja, a qual poderá fornecer alguns princípios básicos para um engajamento nesta direção. Paz e tranquilidade serão frutos de um esforço maior por justiça social. Devemos ser capazes de globalizar a solidariedade, de fazer das necessidades dos que mais sofrem a pauta principal dos grandes encontros políticos. Lemos em Atos, cap. 4: ‘Não havia necessitados entre eles’, o que poderia ser um princípio ético muito precioso, uma meta para toda a humanidade perseguir rumo a uma maior unidade e integração.”
6 – “Nós, católicos, devemos ser muito mais divulgadores do evangelho social! É claro que a situação econômica social tão discriminatória depende, em grande parte, dos governos, dos empresários, dos banqueiros etc., mas depende – talvez em escala menor – também de nós, da Igreja Católica! Os cristãos católicos não evangelizam como deveriam evangelizar.”
7 – “Precisamos refletir – filosoficamente, teologicamente, não importa! – contanto que nossa reflexão seja guiada por problemas e realidades bem concretas. Devemos ser capazes de perceber e interpretar os sinais dos tempos. Consequentemente a nossa maneira de evangelizar deve ser a do engajamento e do diálogo (escutar mais e falar menos), que, no fundo, significa testemunho. Evangelizar quer dizer dar testemunho de uma vida mais autêntica – a vida em Cristo, a vida na Graça.”
À luz do Evangelho de Jesus Cristo e das palavras de dom Aloísio Lorscheider, construamos um novo modelo de ser Igreja, cada vez mais comprometida com os pobres e excluídos desta sociedade, aberta a ação do Espírito Santo e firme na luta pela construção do Reino de Deus.
Fonte: Conselho do Laicato da Diocese de Tianguá
"Nós de fato achamos que nestes últimos anos voltamos para a era pré-conciliar. E há toda uma tendência nesta linha. E, às vezes, a gente sente isto até na celebração da eucaristia. Há uma tendência de querer voltar a celebrar até de costas para o povo. O motivo que se alega para tanto é que o celebrante estaria se dirigindo a Deus e que o outro modo (conciliar) seria muito horizontal", reclamava dom Aloísio.
O recrudescimento à linha de atuação "vertical" de Roma (pós João XXIII e Paulo VI), segundo Lorscheider, trouxeram de volta o erro da supervalorização da Igreja como estrutura e do culto aos títulos honoríficos. O retorno ao "institucionalismo" em desfavor do incentivo ao protagonismo dos leigos precisa ser mais discutido e analisado pelas forças vivas da Igreja. Poderíamos nos perguntar: Que modelo de Igreja queremos construir? Uma Igreja essencialmente comunitária, missionária e profética ou uma Igreja tradicionalista, alienante e desvinculada das lutas populares?
Em entrevista ao jornal "O Povo", dom Aloísio não poupa críticas a pelo menos três documentos da Igreja, ao medo de Roma em permitir o ensino da teologia a leigos (principalmente leigas) e à formação precária de padres no Brasil. "Predomina muito mais o perfil tradicional, o padre que sempre existiu. Não existe, por exemplo, um perfil mais missionário. Existe o padre de sacristia, sacramentalista. Sacerdócio como fermento de massa, sal para o mundo, luz da terra, este se vê pouco presente".
Sete aspectos devem ser levados em conta, segundo as palavras do cardeal, para que a Igreja exerça com eficácia a sua missão evangelizadora neste mundo secularizado:
1 – “Nós ainda não conseguimos formar pessoas livres, responsáveis, conscientes. A ideia de que nós criamos a história e de que cada um contribui para escrever esta história é sumamente importante para ajudar as pessoas a crescerem. Pessoas livres, pessoas francas – isso deveria existir também na Igreja: no meio da comunidade eclesial deveria haver mais possibilidade de ser franco e de opinar, de não ter medo. Existe um certo analfabetismo que não consiste apenas em não saber ler e escrever, mas em não possuir um senso crítico da vida.”
2 – “Devo mencionar uma das grandes tendências mundiais que é o do ‘secularismo’, que é a visão do mundo e do homem que exclui a necessidade de recorrer à transcendência ou à religião para fundamentar as instituições sócio-políticas. Devemos manter a noção cristã de ‘encarnação’, isto é, a crença de que nós contemplamos a graça, a verdade e a glória da divindade ligada à humanidade, de que Deus mesmo armou sua tenda em nosso meio.”
3 – “Outra tendência mundial é a do ‘relativismo ético’: inúmeras pessoas hoje consideram as noções de ‘certo’ e ‘errado’, de ‘bem’ e ‘mal’ passíveis de interpretações subjetivas. Alguns chegam a negar qualquer possibilidade de afirmar valores universais. Devemos procurar visar melhor o equilíbrio, a harmonia entre a normatividade objetiva – válida para os coletivos humanos – e as máximas subjetivas, válidas para a minha conduta particular.”
4 – “Estamos diante do desafio de repensar, na América Latina, a tal da globalização. Pois, simultaneamente à globalização das estruturas econômicas ocorre a imposição global de uma única cultura materialista e consumista que está suplantando, lentamente, as diversas culturas tradicionais dos povos.”
5 – “Ao invés de um consumismo acrítico a desenfreado, necessitaremos promover uma distribuição eqüitativa dos bens deste mundo. Este desafio nos remete à doutrina social da Igreja, a qual poderá fornecer alguns princípios básicos para um engajamento nesta direção. Paz e tranquilidade serão frutos de um esforço maior por justiça social. Devemos ser capazes de globalizar a solidariedade, de fazer das necessidades dos que mais sofrem a pauta principal dos grandes encontros políticos. Lemos em Atos, cap. 4: ‘Não havia necessitados entre eles’, o que poderia ser um princípio ético muito precioso, uma meta para toda a humanidade perseguir rumo a uma maior unidade e integração.”
6 – “Nós, católicos, devemos ser muito mais divulgadores do evangelho social! É claro que a situação econômica social tão discriminatória depende, em grande parte, dos governos, dos empresários, dos banqueiros etc., mas depende – talvez em escala menor – também de nós, da Igreja Católica! Os cristãos católicos não evangelizam como deveriam evangelizar.”
7 – “Precisamos refletir – filosoficamente, teologicamente, não importa! – contanto que nossa reflexão seja guiada por problemas e realidades bem concretas. Devemos ser capazes de perceber e interpretar os sinais dos tempos. Consequentemente a nossa maneira de evangelizar deve ser a do engajamento e do diálogo (escutar mais e falar menos), que, no fundo, significa testemunho. Evangelizar quer dizer dar testemunho de uma vida mais autêntica – a vida em Cristo, a vida na Graça.”
À luz do Evangelho de Jesus Cristo e das palavras de dom Aloísio Lorscheider, construamos um novo modelo de ser Igreja, cada vez mais comprometida com os pobres e excluídos desta sociedade, aberta a ação do Espírito Santo e firme na luta pela construção do Reino de Deus.
Fonte: Conselho do Laicato da Diocese de Tianguá
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