Assiste-se a uma vigorosa mobilidade social no Brasil. Milhares ascendem socialmente, melhoram sua renda e passam a consumir mais.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD), 22,7 milhões de brasileiros mudaram de patamar de renda, sobretudo, nos últimos cinco ou seis anos. Cientistas políticos, sociólogos e economistas falam do nascimento de uma nova classe média brasileira.
Essa nova classe média brasileira – a classe C – ao contrário dos que muitos pensam, é conservadora politicamente, socialmente e religiosamente.
Segundo o sociólogo Rudá Ricci, a nova classe média “é muito consumista, espantosamente consumista (...) e tem muito receio de cair de novo, por isso não vota em candidatos que signifiquem ruptura, que demonstrem alguma tendência de mudar a ordem pública (...). Só votam em quem garante a ascensão social, ou seja, querem garantias de que vão continuar comprando”. É nessa perspectiva – receio de rupturas que ameacem o seu novo status quo – que se explica politicamente o voto em Lula e posteriormente em Dilma.
Por outro lado, a antiga classe média é ainda mais conservadora. Ela vê com desconfiança a emergência de uma nova classe média. Sente-se ameaçada e reage de forma conservadora e preconceituosa contra esse novo estrato social que ascende economicamente.
A caracterização da nova classe média associada à antiga classe média sinaliza para o fato de que a sociedade brasileira é cada vez mais conservadora.
Esse conservadorismo expressa-se em vários episódios das últimas semanas e dos últimos dias.
Nas eleições, setores da antiga classe média reagiram com virulência ao voto majoritário do nordeste em Dilma Rousseff. Os comentários da estudante paulista de direito Mayara Petruso sugerindo o “afogamento dos nordestinos” e a divulgação de um manifesto contra os nordestinos são emblemáticos de uma classe que se vê ameaçada pelo protagonismo de outra.
A polêmica em torno do tema do aborto, a forma como veio à tona e o simplismo como foi discutido nas eleições e na mesma esteira as manifestações preconceituosas contra as mulheres candidatas – Dilma e Marina – e o rebaixamento do debate de gênero são outras manifestações do crescente conservadorismo da sociedade brasileira.
Nessa mesma perspectiva e reveladora desse crescente traço conservador é a relevância que assumiu no país, e também em todo o mundo, o debate sobre o uso de preservativos a partir do recente pronunciamento do papa Bento XVI.
É de se estranhar que em uma sociedade que afirma com tanta convicção sua condição laica, um tema de ordem moral abordado pela Igreja tenha tanta repercussão.
Outra manifestação latente do conservadorismo da sociedade brasileira vê-se na crescente homofobia, como a suposta ação homofóbica de jovens na Avenida Paulista estilhaçando lâmpadas fluorescentes no rosto de outros jovens.
O mais recente episódio demonstrativo de características marcadamente conservadoras da sociedade brasileira foi o acompanhamento embevecido de certa espetacularização da ocupação do Complexo Alemão, no Rio de Janeiro.
A classe média não escondeu sua satisfação com os tanques se aproximando do morro. Como disse o jornalista Fernando Barros Silva, “a dramatização meio oficialista e meio ficcional do conflito parece se beneficiar de uma fúria coletiva e sem ressalvas dirigidas aos morros, como quem diz: sobe, invade, explode, arregaça, extermina!”.
Infelizmente, cada vez mais a sociedade brasileira assume ares de crescente conservadorismo.
*Cesar Sanson é pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR.
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